Porto Alegre será a primeira cidade brasileira a ter um prédio projetado pelo português Álvaro Siza, um dos mais respeitados arquitetos da atualidade em todo o mundo, com um currículo de premiações e mais de 100 obras construídas em três continentes. Siza será o responsável pela futura sede da Fundação Iberê Camargo, um espaço a ser erguido junto às margens do Guaíba, na Avenida Padre Cacique, que em seus quatro andares, abrigará um museu com aproximadamente quatro mil obras do artista plástico gaúcho Iberê Camargo, além de disponibilizar para a comunidade biblioteca, salas expositivas, café, auditório e outros espaços.
Fundação Iberê Camargo
Objetivando divulgar a obra do artista plástico gaúcho, Iberê Camargo, a Fundação Iberê Camargo – FIC - foi criada há cinco anos (1995), tendo como seu presidente o empresário Jorge Gerdau Johannpeter. Através de exposições de seu acervo de pinturas, gravuras e desenhos a Fundação busca ampliar o universo de conhecedores da trajetória e da produção de Iberê, além de desenvolver outras atividades como seminários, projetos junto às escolas e cursos de gravura que inserem a FIC no contexto da arte contemporânea.
Maria Coussirat Camargo, viúva do pintor e gravador, é a presidente de honra da Fundação. Parte do acervo da instituição provem de doações feitas por ela e do legado deixado por Iberê. Uma quantidade aproximada de quatro mil obras compõem a entidade que, atualmente, funciona com salas de exposições e administração onde foi a residência e atelier do artista plástico, na Rua Alcebíades Antonio dos Santos, 110, no bairro de Nonoai, em Porto Alegre.
Nova sede da FIC
A nova sede da Fundação Iberê Camargo estará localizada em um terreno na Avenida Padre Cacique, junto ao estuário do Guaíba. Ali será projetado, pelo arquiteto português Álvaro Siza, um prédio de quatro pisos e cinco mil metros quadrados, dividido em uma área museológica e outra para atividades diversas, como auditório, biblioteca, reserva técnica, loja e cafeteria. A previsão de inauguração é em 2002.
O novo prédio da FIC possibilitará a instituição implementar uma série de atividades como o Projeto Escola, cursos de artistas-visitantes, palestras e a divulgação da produção de Iberê Camargo ao longo de sua carreira como pintor e gravador.
Integração prédio - meio ambiente
O novo prédio da Fundação Iberê Camargo com a assinatura de Álvaro Siza será um projeto que também levará em conta a relação com o meio ambiente que o cerca. Para agregar conceitos ambientais a proposta de Siza a Fundação convidou consultores que auxiliarão a FIC. Assim, a instituição busca melhor compreender e colaborar na proposta que leva a frente o nome de Siza. Estarão sendo consultadas diversas autoridades para a discussão de especificidades, que vão desde como guardar uma obra de arte, qual o tamanho ideal no prédio para um auditório, até como trabalhar arte-educação dentro da edificação. Isto tudo, somando-se a questões igualmente relevantes, ligadas diretamente, ao meio ambiente, como por exemplo, a tinta a ser usada nas paredes, as luzes, o tipo de refrigeração até qual o destino da água usada no prédio.
Desta maneira, para que todas estas questões tenham um melhor encaminhamento ou solução, a Fundação Iberê Camargo convidou a colaborarem com o projeto consultores reconhecido nacional e internacionalmente em áreas como museologia, arquitetura, curadoria, meio ambiente e outras.
ficha técnica
Gerenciamento do projeto executivo e arquitetônico Pedro Simch
Gerenciamento de obras
José Canal
Paisagismo e Meio ambiente
José Lutzenberger – Fundação Gaia
Questões culturais
Lorenzo Mammi
Museografia
Margarete Moraes
Design de exposições
Gerardo Vilaseca
Conceito ambiental do prédio
Roberto Teitelroit
Amory Lovin
Rocky Mountain Institute
Sobre Álvaro Siza Vieira
Já foi dito que cada obra de Siza segue um rumo diferente e indeterminado. Aos 67 anos, o mais destacado arquiteto português, traz no currículo as mais importantes premiações mundiais no reconhecimento de seu trabalho iniciado em 1954. Siza é nome presente em grandes operações de restaurações urbanas como da Fábrica de Móveis Vitra (Alemanha); Bairro Chiado em Lisboa; Vila Olímpica em Barcelona; ou ainda na Exposição Universal, em Lisboa, em 1998. O arquiteto português já foi homenageado em mais de quarenta mostras individuais, e suas obras, segundo a crítica, são desterritorializadas para explicar as particularidades do lugar. Sua arquitetura heteromorfa concretiza o ideal contemporâneo de grande arte.
Curriculum Vitae
Álvaro Joaquim de Melo Siza Vieira nasceu em Matosinhos em 1933.
Estudou Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes do Porto entre 1949 e 1955, sendo a sua primeira obra construída em 1954.
Foi colaborador do Prof. Fernando Távora entre 1955 e 1958. Ensinou na ESBAP entre 1966 e 1969; reingressou em 1976 como Professor Assistente de "Construção".
Foi Professor Visitante na Escola Politécnica de Lausanne, na Universidade de Pensilvânia, na Escola de Los Andes em Bogotá, na Graduate School of Design of Harvard University como "Kenzo Tange Visiting Professor"; continua a lecionar na Faculdade de Arquitetura do Porto.
Exerce a profissão na cidade do Porto, sendo autor de numerosos projetos em Portugal, Espanha, França, Holanda, Bélgica, Itália e Alemanha.
Convidado a participar em concursos internacionais, obteve o primeiro lugar em Schlesisches Tor, Kreuzberg, Berlim (já construído), na recuperação do Campo de Marte, Veneza (1985), na remodelação do Cassino e Café Winkler, Salzburg (1986) e no Centro Cultural de La Defensa em Madrid (1988/89).
A Seção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte atribuiu-lhe o Prêmio de Arquitetura do Ano (1982). Recebeu um Prêmio de Arquitetura da Associação de Arquitetos Portugueses (1987).
Em 1988 recebeu a Medalha de Ouro de Arquitetura do Conselho Superior do Colégio de Arquitetos de Madrid, a Medalha de Ouro da Fundação Alvar Aalto, o prêmio Prince of Wales da Harvard University e o Prêmio Europeu de Arquitetura da Comissão das Comunidades Européias/Fundação Mies van der Rohe. Em 1992 foi-lhe atribuído o Prémio Pritzker da Fundação Hyatt de Chicago pelo conjunto da sua obra. Em 1993, recebeu o Prêmio Nacional de Arquitetura atribuído pela Associação dos Arquitetos Portugueses. Em 1994, o Prêmio Dr. H.P. Berlagestichting e o Prêmio Gubbio/Associazione Nazionale Centri Storico-Artistici. Em 1995, a Medalha de Ouro atribuída pela Nara World Architecture Exposition e o Prémio Internacional Architetture di Pietra atribuído pela Fiera di Verona. Em 1996, recebeu o Prêmio Secil de Arquitetura. Em 1997, foi-lhe atribuído o Prêmio Manuel de la Dehesa pela Universidade Menendez Pelayo, em Santander. Em 1998, recebeu o Arnold W. Brunner Memorial Prize pela American Academy of Arts and Letters, de Nova Iorque; o Prêmio IberFAD de Arquitectura do Foment de les Arts Decoratives, de Barcelona; e o Praemium Imperiale pela Japan Art Association, de Tóquio, e a Medalha de Ouro do Círculo de Bellas Artes de Madrid. Em 1999, recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique atribuída pela
Presidência da República Portuguesa, e o Prêmio Leca de Construção'98.
É membro da American Academy of Arts and Science e "Honorary Fellow" do Royal Institute of British Architects, do AIA/American Institute of Architects, da Académie d'Architecture de France e da European Academy of Sciences and Arts.
Foi doutorado "Honoris Causa" pela Universidade de Valência, Escola Politécnica Federal de Lausanne, Universidade de Palermo, Universidade Menendez Pelayo, Universidade Nacional de Engenharia de Lima, Universidade de Coimbra e pela Universidade Lusíada.
Entrevista concedida ao site da Fundação Iberê Camargo – e veiculada no último dia 06 de maio no Universo Online.
COMO O SENHOR DEFINE OU CLASSIFICA SEU TRABALHO ARQUITETÔNICO?
É muito diversificado, referido a edifícios institucionais ou a células de tecido habitacional da cidade, o que se reflete à sua expressão arquitetônica e no seu protagonismo ou dissolução.
QUAIS SÃO OS PROJETOS QUE O SENHOR ESTÁ TRABALHANDO ATUALMENTE?
Recuperação de uma Villa em Vicenza e sete habitações na mesma propriedade. Recuperação e ampliação do Stedelijk Museum, de Amsterdã, e Biblioteca Municipal de Évora.
SOBRE A SEDE DA FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS ASPECTOS DESTE PROJETO?
A sua inserção num lote difícil pela pouca profundidade em relação ao programa, mas por outro lado muito estimulante pela localização. O edifício apresenta-se recortado contra uma escarpa espetacular, enfrentando a largueza do Guaíba.
PARA UMA CIDADE QUAL A IMPORTÂNCIA DE UM PROJETO COMO ESTE?
A importância fundamental reside na potencial influência na vida da cidade, incluindo nisso a sua abertura (participativa) ao intercâmbio cultural sem fronteiras.
COMO DEVE SER UM MUSEU CONTEMPORÂNEO?
Reconhecível como Museu (tipo de edifício com uma história): disponibilizando espaços com proporções de iluminação diversificadas, de clara conformação e abertas a usos não inteiramente previsíveis; dispondo de espaços de utilização pública quotidiana (biblioteca, cafeteria, livraria e espaço comercial, auditório, salas polivalentes).