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Artista que atua nos limites entre diversas linguagens como desenho, fotografia, vídeo, som, entre outras, tem se dedicado a explorar a escultura reposicionando-a em seus sentidos atuais.
A mostra reúne um corpo de trabalhos que toma o próprio ato de olhar como questão. Constituída por obras em materiais como vídeo, madeira, fogo, ouro, bronze, pólvora e papel, conjuga diversos procedimentos e temporalidades que se articulam no sentido de refletir sobre a luz e o modo como a obra surge no espaço expositivo.
Objetos ou situações do cotidiano, são transformados, sobretudo a partir de processos de fundição, gravação e queima. Dispostos frente a frente, justapostos ou emparelhados, tais encontros atritam-se, apagam-se ou incendeiam-se reciprocamente. Desejam produzir visibilidade a partir do que não está à vista, por meio de espelhamentos entre matérias e simbologias, duplicações ou inversões.
Milagre – do latim miraculum refere-se ao ver, ao maravilhar-se, a acontecimentos fora do comum e alheios à ciência – toma da tradição da arte, questões ligadas à sua função, seu sentido cultual, bem como questões ligadas às linguagens. Discutem certo sentido religioso, místico, fenômeno recorrente e determinante no processo constante de construção e atualização da realidade.
Trabalho homônimo a exposição, Milagre revela através do ponto de vista de uma lupa de aumento, o raio de sol que a atravessa e queima a imagem de um louva-a-deus, previamente projetada sobre um papel. O mesmo acontece com a imagem do antebraço do artista. A luz inclinada advinda do projetor no teto, ainda que invisível, converte-se na estrutura do outdoor de madeira instalado no chão.
Já a obra Posse (Sapatos), constitui-se em um par de sapatos em bronze, pretos por fora e polidos por dentro. O polimento interno produz uma luminosidade alaranjada, espelhada, “empoçada” em seu interior. O trabalho se refere à imagem de um religioso no muro das lamentações, a indicar ali, a presença de um corpo que em seu movimento procura rearranjar sua fisicalidade diante da parede.
Em Cena (para Glauber) temos as mãos do artista fundidas em bronze; uma segurando uma vela também em bronze, a outra, protegendo do vento uma chama real que tremula e produz luminosidade em seu entorno.
Cântico dos cânticos (Canticum canticorum) é um díptico disposto no espaço de modo espelhado, em paredes opostas, que traz o mesmo texto escrito, repetido sobre dois papeis diferentes; um em positivo, feito com pólvora queimada e o outro em negativo, aplicado com folha de ouro. Trata-se de fragmentos do texto poético da Bíblia, Cântico dos Cânticos, atribuído a Salomão, escrito em linguagem sensual. O poema fala do amor entre o noivo e sua noiva e constitui-se de uma coletânea de hinos nupciais. Como um cântico longínquo, o trabalho deseja produzir ali a união, ou uma corporificação pelo espelhamento entre ambos, que atravessa o visitante em seu fluxo no ambiente expositivo, entre um desenho e outro, entre o outro e o mesmo refletido.
Sobre o artista
Artista que atua nos limites entre diversas linguagens como desenho, fotografia, vídeo, som, entre outras, Vanderlei Lopes tem se dedicado a explorar a escultura reposicionando-a em seus sentidos atuais. Lida com ideias de transformação e transitoriedade, como em Cavalo, recentemente exposto no octógono da Pinacoteca, em São Paulo, um animal estampado em bronze, preenchido com terra até transbordar, fixado entre o instante em que cai no chão e a iminência de se levantar.
Nascido em Terra Boa – PR (1973) é formado em artes plásticas pela UNESP em 2000. Entre suas principais exposições individuais destacam-se: Monumento, curadoria de Douglas de Freitas, Galeria Athena Contemporânea, 2016; Grilagem, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 2014; Tudo que reluz é ouro, curadoria de Fernanda Pequeno, Galeria Athena Contemporânea, 2014, Rio de Janeiro; Transitorio, Galeria Nueveochenta, Bogotá, Colômbia, 2014; Cavalo, Galeria Marília Razuk, São Paulo, 2013; 7 quedas, Galeria Marília Razuk, São Paulo, 2011; Voo, Maus Hábitos, Porto, Portugal, 2007.
Entre as exposições coletivas: Gold Rush, De Saisset Museum, Santa Clara, CA – EUA, 2016; Uma coleção particular - Arte Contemporânea no Acervo da Pinacoteca, curadoria de José Augusto Ribeiro, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, 2015/2016; Fotos contam fatos, curadoria de Denise Gadelha, Galeria Vermelho, São Paulo, 2015; Realidades – Desenho Contemporâneo Brasileiro, curadoria de Nazareno, SESC-SP, São Paulo, 2011; Les Cartes Blanches du Silo à l’Emsba, curadoria de Wagner Morales, Beaux-Arts de Paris, l`École Nationale Supérieure, Paris, 2009; Loop Videoart Barcelona 2009, curadoria de Wagner Morales, Centre Civic Pati Llimona, Barcelona, 2009; Nova Arte Nova, curadoria de Paulo Venâncio Filho, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, 2008/2009.