Ricardo Ohtake, que foi curador do pavilhão brasileiro na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2010, a convite de Peter Cachola Schmal, diretor do DAM, assina com ele a curadoria desta exposição, que contou ainda com a colaboração do Instituto Tomie Ohtake e de Fernando Serapião (editora Monolito).
A proposta de Schmal é revelar na Europa uma nova geração que, segundo ele, tem todas as condições para retomar a posição privilegiada que a arquitetura brasileira conquistou lá fora em outros tempos. Por isso a seleção reúne só obras construídas, projetadas, a grande maioria, por profissionais entre 25 e 40 anos, realizações raras para a faixa etária, já que arquitetos costumam conquistar maiores desafios mais tardiamente. Para Schmal, esta condição em que os jovens têm oportunidades de fazer projetos importantes, diferentemente da Europa, também revela a potencialidade do país em construir uma nova face de sua arquitetura.
Já Ricardo Ohtake evidencia as alvissareiras perspectivas trazidas pelos jovens arquitetos que, influenciados pelos méritos do modernismo brasileiro, conseguem muitas vezes avançar e criar uma linguagem contemporânea, ao introduzir novos elementos como transparência e leveza, fugindo da repetição tardia do simples caixote tão imposto às novas gerações.
Nove Novos - Neun Neue reúne os escritórios brasileiros Arquitetos Associados (BH), BCMF (BH), Bernardes+Jacobsen (RJ), Carla Juaçaba (RJ), Corsi Hirano (SP), Metro (SP), Nitsche (SP), Rizoma(BH) e Studio Paralelo (POA). O portfólio dos nove escritórios escolhidos abrange residências, se estende para prédios públicos e comerciais e até museus. A exposição dedica um espaço especial a Inhotim, em Minas Gerais, pelo seu caráter único no mundo, ao apresentar inúmeras galerias desenhadas por jovens arquitetos para cada tipo específico de produção artística.
Na mostra, enquanto fotos e plantas ilustram alguns projetos, uma maquete de cada escritório coloca uma obra em evidência. Sobre o Centro Educativo Burle Marx (2006/2009) em Inhotim, Brumadinho, MG, realizado por Arquitetos Associados, os curadores destacam a ousadia da proposta de construir o edifício - com livrarias, estúdios e auditório - quase totalmente no topo de um lago. A linha que divide o exterior e o interior, arquitetura e paisagem, é também um dos pontos altos do projeto, e neste sentido o teto, que funciona também como ponte, captura absolutamente o olhar do visitante. Neste topo, um espelho d´água recebe o trabalho de Yayoi Kusama (1929), 500 bolas de aço flutuam e se movem com o vento (1966).
O Centro Nacional de Tiro Esportivo (2005/2007), concebido pelo BCMF Arquitetos faz parte doComplexo Esportivo de Deodoro, no Rio de Janeiro, também projetado pelo escritório para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Além de, com pequenos ajustes, poder ser usado para as Olimpíadas em 2016, o Conjunto tem contribuído para o desenvolvimento dessa complexa região suburbana, que abrange um bairro militar planejado, uma aglomeração de alta densidade, uma área industrial em meio a bairros de classe média e uma vasta paisagem natural. O Centro de Tiro tem aproximadamente 50.000m2 de área projetada, em um terreno de aproximadamente 150.000m2. Poucos materiais, fortes linhas horizontais e uma grade de madeira predominam nessa instalação localizada em um exuberante vale rodeado de colinas.
Para seu pavilhão temporário, Humanidade (2011/2012), realizado para a Rio+20, no Forte de Copacabana, RJ, Carla Juaçaba ganhou o primeiro arcVisoin Women and Architecture Prize, em março de 2013, em Roma, prêmio que a tornou conhecida na Europa. A construção efêmera propunha um edifício andaime, translúcido, exposto a todas as condições do tempo: luz, calor, chuva, barulho do mar e do vento, propositadamente para colocar o homem na sua condição frágil diante da natureza. Cinco paredes estruturais de 170m x 20 metros de altura, com afastamento de 5,40m entre elas, criou um percurso suspenso na paisagem do Rio de Janeiro.
Oriundo de um concurso público, o Tribunal Regional do Trabalho (2007/2012), em Goiânia, GO, foi vencido por Corsi Hirano Arquitetos em parceria com R.Nishimura, quando os protagonistas tinham de 26 a 29 anos. Em uma área de 210 x 100 metros, a equipe projetou dois volumes distintos, um branco, outro preto, separados por uma praça pública elevada da qual emerge um domo oval, o plenário da câmara. O primeiro volume, o monolito preto e liso, já inaugurado em 2012, para os arquitetos significa a neutralidade do espaço democrático. Durante o dia o elemento é concreto e à noite se torna uma espécie de cristal. A cor escura é resultado de uma pele externa de vidro de silkscreen que ajuda a proteger a edificação da radiação solar. São 6.000 m2 de superfície de vidro composta de painéis modulares.
Na Casa ML (2007/2010) em Porto Feliz, SP, do escritório Jacobsen Arquitetura em parceria com Bernardes Arquitetura, o átrio quadrado, com a dimensão externa aproximada de 30m x 30m, mostra, segundo Peter Schmal, não somente as típicas sofisticação e espacialidade das casas de fim de semana no Brasil, mas também gera uma atmosfera que os europeus não estão acostumados e têm inclusive dificuldade de imaginá-la. De fora, os decks de madeira conferem à estrutura uma aparência mais fechada, e dentro, ao contrário, o espaço se abre em um pátio em forma de peristyle, complementado por um jardim.
Já o que chamou a atenção no projeto do museu do Chocolate/ Nestlé (2009/2011), em Caçapava, SP, do Metro Arquitetos Associados, foi a forte intervenção em uma fábrica construída nos anos 60, além de a proposta possibilitar o fluxo entre o público externo e trabalhadores e tornar simples o percurso num museu com conteúdo interativo. De estrutura metálica, duas torres e passarelas com painéis de vidro laminado com película vermelha, na face sul, e chapa de aço expandida tipo brise, na face norte, marcam a paisagem ao longo de uma das principais rodovias do país (Dutra). A equipe foi responsável também pelo projeto museográfico, que combina espaços de exposição e formas singulares de contemplar a produção da indústria.
O projeto do edifício de escritórios João Moura 1144 (2008/2012), em São Paulo, SP, do Nitsche Arquitetos Associados, tira partido da topografia e da posição estratégica do terreno em relação à cidade: localizado na Rua João Moura, no fundo do vale por onde passa a Av. Sumaré. Na grande avenida o edifício tem presença marcante e a fachada funciona como um grande painel, composto por aberturas e por anteparos coloridos. Pela Rua João Moura o acesso está recuado 10m do alinhamento frontal, o dobro do exigido por lei, garantindo um respiro para rua, sem muros ou grades, que dão para uma praça de uso comum, amplificando o espaço coletivo. Amplas varandas nos andares qualificam e conferem novo aspecto às áreas de trabalho.
A Galeria Lygia Pape (2010/2012), foi concebida pelo Rizoma Arquitetura, a partir de uma demanda da curadoria do Inhotim, MG, para abrigar uma instalação da artista brasileira Lygia Pape, a Ttéia 1 C. A instalação convida o visitante a circular ao seu redor e assim, vai gradualmente se revelando. Por isso o topo do edifício / cubo (hermeticamente fechado, já que abriga uma obra de luz) foi girado em relação a sua base. No interior, a triangulação da fachada também pode ser percebida na circulação que leva à sala principal. Essa circulação é escura e tortuosa, causando desorientação e criando a condição ideal para uma experiência introspectiva. Neste percurso, a percepção espacial muda de visual para sensorial e aproxima o indivíduo da arquitetura.
O entorno singular, característico da periferia das grandes cidades e a necessidade de criar uma sede institucional com investimento limitado foram alguns dos desafios do Studio Paralelo para projetar e vencer o concurso da sede regional do CREA - Conselho de Engenharia e Agronomia (2010/2012), em Campina Grande, na Paraíba. Para fachada do edifício, um único elemento pré-fabricado se repete e envolve o prédio marcando sua presença e integração com a cidade. No interior destaca-se a transparência dos pátios, cobertos por vidros sobre a circulação vertical e totalmente permeáveis sobre o jardim e espelho d'água. Dividido em dois pavimentos, o projeto acomoda no superior as funções administrativas, que se dividem em dois setores interligados por uma passarela. Já no térreo são operadas as funções públicas com sala multiuso de capacidade para até 150 pessoas.