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architectourism ISSN 1982-9930

Estação Ferroviária de Strassbourg. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
Comentários livres e impressões pessoais de viagem sobre a cidade de Bogotá, incluindo visões sobre sua paisagem urbana e a arquitetura de Rogelio Salmona.

english
Free comments and personal impressions of travel on the city of Bogotá, including views on its urban landscape and Rogelio Salmone architecture.

español
Comentarios e impresiones personales de viaje en la ciudad de Bogotá , incluyendo puntos de vista sobre el paisaje urbano y la arquitectura de Rogelio Salmona.


how to quote

FERREIRA, Mauro. Nostalgia de Salmona em Bogotá. Arquiteturismo, São Paulo, ano 09, n. 097.03, Vitruvius, abr. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/09.097/5555>.


Museu de Arte Moderna de Bogotá – MAMBO, acesso. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Em 1972, ainda estudante de arquitetura em São Paulo, um amigo emprestou-me um livro (por via das dúvidas, aviso que o devolvi), pois eu lia desenfreadamente tudo que caía nas mãos por causa da viagem diária de trem até a faculdade, em Mogi das Cruzes. O livro era Cem anos de solidão, de um autor colombiano chamado Gabriel Garcia Márquez e foi como uma revelação, a partir daí tornei-me um leitor inveterado de outros autores latino-americanos como Vargas Llosa, Roa Bastos, Skármeta, Fuentes, Cortázar e  Benedetti.

Museu de Arte Moderna de Bogotá – MAMBO, escadaria. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

O fato é que, naquela época de ditaduras militares por todo o continente, vivíamos de costas para nossos vizinhos que falavam espanhol. Desconhecíamos sua literatura, sua arte, sua arquitetura, mas isso está mudando. As iniciativas inovadoras no campo da arquitetura e do urbanismo colombiano tornaram-se mais conhecidas recentemente pelo sucesso de ações como o Transmilênio, sistema de ônibus criado em Bogotá inspirada na experiência curitibana (corredores de ônibus com estações de integração), o sistema de transporte por teleféricos de Medellín, os grandes equipamentos culturais articulados a parques e ao transporte público, enfim, iniciativas urbanísticas renovadoras que servem de inspiração para as cidades brasileiras.

Museu de Arte Moderna de Bogotá – MAMBO, espaço expositivo. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Museu de Arte Moderna de Bogotá – MAMBO, espaços expositivos articulados pela escadaria. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Além disso, minha infância foi povoada por filmes e gibis de capa e espada, de flibusteiros, de piratas do Caribe, de praias em ilhas paradisíacas e tesouros escondidos. Precisava de alguma coisa mais para querer conhecer a Colômbia? Como ver a Shakira pessoalmente seria difícil, havia ainda a arquitetura de Rogelio Salmona, reconhecido internacionalmente.

Museu de Arte Moderna de Bogotá – MAMBO, vista para pátio aberto ao parque com esculturas. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Entre o museu e o parque, uma grande avenida tamponada. Ao fundo, a torre mais alta do conjunto Las Torres Del Parque
Foto Mauro Ferreira

A Fundação Rogelio Salmona - FRS mantém uma premiação continental de boas práticas arquitetônicas (recentemente ganha pelos brasileiros do escritório paulistano FGMF com o Edifício Projeto Viver). Segundo a FRS, “o prêmio é um reconhecimento de alto nível cultural que busca identificar e divulgar as melhores práticas de arquitetura em cidades latino-americanas e do Caribe através de obras que criam espaços públicos significativos para seus habitantes e que, por sua vez, contribuem com a consolidação de cidades inclusivas com forte sentido de lugar”.

Torres Del Parque. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Torres Del Parque, acessos semi-públicos às torres, com vista dos apartamentos. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Torres Del Parque, calçada e acesso aos edifícios pela rua superior. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Dentre suas atividades, a FRS mantém visitas guiadas à obra do mestre colombiano. Pela internet, articulei a visita guiada e fui recebido com extrema simpatia por Beatriz Vásquez (secretária executiva da FRS) e Diego Ferro, o arquiteto que nos guiou.

Rogelio Salmona faleceu em 2007, deixando um legado exemplar de arquiteto comprometido com a cidade e com a arquitetura de qualidade. Para ele, a arquitetura não era fruto apenas de uma ação estética ou técnica, mas sobretudo uma expressão da cultura, por isso construía os edifícios de forma durável, sólidos, cujo uso, apropriação coletiva e identificação seriam possíveis pelos habitantes das edificações e da própria cidade, como espaços abertos e coletivos. Suas obras tornaram-se uma presença marcante no espaço urbano, simbólicas, algo que pode ser facilmente comprovado nos mapas turísticos, nos livros e materiais de divulgação da cidade, pois se tornaram ícones de Bogotá.

Torres Del Parque, escadarias do parque. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Torres Del Parque, pequenas plazoletas semi-públicas, com acessos aos edifícios e aos serviços existentes no pavimento térreo. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

A visita começou no Museu de Arte Moderna de Bogotá – MAMBO, numa manhã deliciosa para caminhar. A crítica ao edifício é que compete com as obras que abriga, tal a beleza dos espaços expositivos que Salmona criou, de onde se pode avistar o skyline dos cerros orientais que dominam a paisagem bogotana. O prédio, inaugurado em 1985 abriga um bom acervo da arte moderna colombiana. Entre o MAMBO e o parque vizinho ergue-se um trambolho inacabado de concreto que está paralisado na justiça há anos, é uma mostra da incompreensão geral quanto ao uso dos espaços da cidade pelo homem e do papel que a arquitetura e o urbanismo podem ter para melhorar a vida urbana, cerne da obra do colombiano. Como é possível autorizar construir aquilo entre duas obras de Salmona, sem qualquer diálogo urbanístico?

Torres Del Parque, torres em meio ao parque. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Torres Del Parque, uma das torres do conjunto. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Torres Del Parque, plazoletas internas com espelho d´água. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Dali, atravessamos a avenida e adentramos o Parque da Independência, onde Salmona criou talvez sua obra mais emblemática: Las Torres Del Parque, um conjunto habitacional constituído por três grandes blocos verticais e curvos que dominam a paisagem da montanha, cujo acesso pelo parque se dá por uma extensa rua-escadaria também desenhada por ele, de onde vai se divisando o centro da cidade em meio ao arvoredo. As três torres que compõem o conjunto com 294 apartamentos envolvem espaços semipúblicos (a mais alta com 37 pavimentos), pequenos pátios circulares onde estão localizados os serviços comunitários e o comércio local no pavimento térreo, perseguindo a ideia da mescla de usos com a habitação de caráter coletivo, presente nos projetos dos arquitetos alemães da República de Weimar e em conjuntos como o carioca Pedregulho de Afonso Reidy.

Torres Del Parque, térreo do edifício com comércio. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Torres Del Parque, acesso ao edifício de apartamentos. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Impressiona a qualidade e o apuro do detalhamento da construção, financiada pelo Banco Hipotecário colombiano nos anos 1965-70. O uso expressivo do tijolo maciço de cerâmica em suas obras é característica marcante de sua arquitetura, com detalhes impressionantes na paginação, na composição de pisos e paredes, no uso das cores da cerâmica, na modelagem e na qualidade técnica do assentamento. Dali, seguimos para outro edifício habitacional isolado (Edifício El Museo), ainda junto ao parque e ao Museu de Bogotá, inserido num lote irregular de esquina, com o mesmo tipo de implantação: o térreo com comércio dialogando com a rua e a torre com os apartamentos de classe média. Finalmente, fomos até o prédio da Sociedade Colombiana de Arquitetos - SCA, uma espécie de IAB local. Lá fica a sede da FRS, no mesmo local onde ainda funciona seu escritório, sua equipe foi encarregada de finalizar as obras em andamento após sua morte e segue em frente com o seu legado. Trata-se de uma torre de escritórios, com um surpreendente final da visita.

Edifício del Museo. Arquiteto Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

Finda a caminhada, fomos convidados a conhecer o escritório de Salmona, que fica na cobertura adaptada do edifício (como não tinham dinheiro para pagá-lo pelo concurso de projetos, ele recebeu com área construída e adaptou a cobertura para o escritório, por isso o elevador vai até o andar 18, só pela escada se chega aos 19). No térreo, a primeira das surpresas: um painel de Portinari, retirado da demolição de uma moradia bogotana e doado à SCA.

Edifício Sociedad Central de Arquitectos, saguão com painel de Cândido Portinari
Foto Mauro Ferreira

Edifício Sociedad Central de Arquitectos, sala de trabalho do arquiteto, atual sede da Fundação Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

No escritório, levaram-nos à sala do mestre, que está intacta desde sua morte. Parece que o tempo parou e a qualquer momento ele vai reaparecer com sua lapiseira e reassumir sua prancheta. Os livros nas estantes parecem que foram consultados ontem, assim como objetos pessoais esparramados pelo local. Ao fundo, pela janela avista-se a deslumbrante paisagem da cordilheira e da cidade que ele amou e ajudou a construir, encerrando-se a visita com um nostálgico e comovedor panorama da espetacular arquitetura de um dos grandes mestres latino-americanos.

Edifício Sociedad Central de Arquitectos, escritório de Salmona com vista para Torres Del Parque, atual sede da Fundação Rogelio Salmona
Foto Mauro Ferreira

sobre o autor

Mauro Ferreira (Franca, 1952) é arquiteto (FAU Braz Cubas, 1974), doutor em arquitetura (IAUSC-USP) e professor na UNESP de Franca. Atua em sua cidade natal, realizando projetos de arquitetura e planejamento urbano. É ficcionista, com contos e romances publicados. É um dos fundadores e dirigentes do movimento cultural Laboratório das Artes de Franca.

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097.03 viagem de estudo
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