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architectourism ISSN 1982-9930

Vista de Inhotim, foto Michel Gorski, montagem Victor Hugo Mori

abstracts

português
Flanar pela ruas de Auckland, permitir-se descobrir um pedacinho da Nova Zelândia. Uma cidade dinâmica e culturalmente diversa, onde modernidade e tradição coexistem na construção do social e do ambiente urbano.

english
Strolling the streets of Auckland, allow yourself to discover a little piece of New Zealand. A dynamic and culturally diverse city, where tradition and modernity coexist in the construction of the social and the urban environment.


how to quote

MELCHIORS, Lúcia Camargos; WAGNER, César. O flanar na cidade das velas. Um passeio pelas ruas de Auckland, Nova Zelândia. Arquiteturismo, São Paulo, ano 10, n. 113.06, Vitruvius, ago. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/10.113/6158>.


Toda vez que nos deparamos com uma nova cidade, na busca de seus tesouros, escolhemos os caminhos sem muita certeza ou direção. Esse andar pode tanto ser fruto de um roteiro, quanto do puro acaso. Na busca pelo desconhecido, nos deixamos levar como um moderno flâneur, personagem celebrado por Charles Baudelaire que, ao caminhar sem pressa, observava e explorava, com prazer, as ruas da nova Paris do século 19. Com a passagem dos dias, e o conhecimento adquirido, começamos a eleger nossos caminhos preferidos. Cada caminho provoca sensações, aguça sentidos, expõe objetos e espaços. Cada escolha está repleta de significados, memórias e associações que constroem a maneira como percebemos e nos relacionamos com um determinado lugar. Kevin Lynch sabia do que estava falando.

Mount Eden, um dos mais de 50 vulcões que fazem parte da paisagem de Auckland, 2016
Foto Lúcia Melchiors

É com esta abordagem que olhamos para a cidade de Auckland, na Nova Zelândia. E aqui compartilhamos experiências, olhares, vivências e impressões de uma cidade dinâmica e culturalmente diversa, onde modernidade e tradição coexistem na construção do social e do ambiente urbano.

Vista do centro urbano a partir do North Shore, 2016
Foto Lúcia Melchiors

Embora Wellington seja a capital, é Auckland, com seus 1,5 milhões de habitantes − um terço da população do país − a cidade referencial da vida urbana na Nova Zelândia. Situada em um istmo, que separa o mar da Tasmânia do Oceano Pacífico, Auckland tem a água como um elemento recorrente na paisagem. De topografia acentuada, com seus mais de 50 vulcões adormecidos, é quase impossível caminhar pela cidade sem cruzar com pequenas (ou grandes!) subidas e descidas. E, desta forma, a cidade transparece através das vistas que enquadram, constantemente, numa rica relação entre o construído e o natural; o urbano fortemente marcado pela presença da natureza.

Vista a partir da Sky Tower: centro urbano, área portuária ainda ativa e, ao fundo, o Noroeste da cidade
Foto Lúcia Melchiors

Auckland tem a particularidade de revelar uma série de achados nos caminhos que percorremos. A cidade é repleta de passagens de pedestres e pequenas praças que cortam quarteirões, permitindo, assim, percursos variados e novas surpresas nos diversos trajetos para um mesmo lugar: um novo café, uma praça, um acesso à água, uma perspectiva diferente. Flanando, explorando-a e prestando atenção em sua vida urbana, essa se revela nos mais variados detalhes.

Miolos de quarteirão abertos ao público: aumento da permeabilidade urbana e pedestres felizes com mais possibilidades de circulação, 2016
Foto Lúcia Melchiors

Há também um misto de monumentalidade e sutileza na cidade. A Sky Tower marca fortemente a paisagem, servindo como um ponto de referência e visualização. Misturam-se a este novo símbolo da cidade moderna, uma série de detalhes da arquitetura tradicional da cultura Maori − espaços e edifícios sagrados como o Marae e o Wharenui − e da arquitetura colonial inglesa, que produziu habitações em madeira com inúmeros entalhes e detalhes.

Pataka, edificação tradicional Maori (elevada do solo) usada para armazenar comidas e sementes, integrante da fascinante coleção do Auckland War Museum, 2016
Foto Lúcia Melchiors

A arquitetura tradicional da Nova Zelândia é fortemente baseada no uso da madeira. Matéria prima abundante e de fácil manuseio, em uma região onde a mão de obra era escassa. As residências antigas, importadas ou manufaturadas localmente, a partir de catálogos e brochuras, permitiam a combinação de partes e detalhes pré-fabricados, e dividem-se basicamente em três momentos: o Cottage (habitação mais simples, do início da imigração europeia, muitas vezes sem banheiro); a Villa (muito utilizada por volta de 1880-1900 na implantação dos novos subúrbios e caracterizada por possuir um corredor central, telhado de quatro águas, varanda, muitos entalhes em madeira e, posteriormente, uma bay window – Bay Villa); e o Bungalow (bastante popular após a primeira guerra, por volta de 1920, uma arquitetura com influência do Bungalow Americano, menos formal do que as Villas, geralmente com entrada lateral, pórtico e sem um corredor central).

Arquitetura tradicional de madeira: Villas e seus detalhes, 2016
Foto Lúcia Melchiors

A arquitetura contemporânea mantém a ênfase na utilização da madeira e é fortemente baseada na construção seca com elementos pré-fabricados. Os projetos recentes, em sua maioria, buscam uma inserção clara na paisagem, mas respeitam a escala do entorno existente. O Ironbank é um desses exemplos. Com fachadas voltadas para duas ruas o projeto cria uma máscara pré-moldada que se integra à escala da rua Karangahape (rua histórica da cidade), enquanto para a outra via explora uma composição dinâmica de volumes metálicos revestidos em aço cortén.

Ironbank: estrutura metálica e pré-moldados, constantes na arquitetura contemporânea da cidade
Foto Lúcia Melchiors

A Auckland Art Gallery – Toi O Tamaki – é um exemplos de projeto contemporâneo que utiliza a madeira como elemento emblemático. No átrio de acesso, assim como no seu interior, “finas copas de árvores” de madeira industrializada dão identidade ao edifício, buscando conectá-lo tanto a tradição Maori, no uso da madeira como estrutura principal, quanto à paisagem natural do parque onde esta inserido o edifício.

Auckland Art Gallery Toi O Tamaki: o edifício novo é coberto por estruturas de madeira em forma de “copas de árvore”
Foto Lúcia Melchiors

Há também diversos outros exemplos interessantes de re-arquitetura na cidade. O Ponsonby Central e o Victoria Park Market são alguns dos projetos que integram reciclagem de edifícios antigos, arquitetura contemporânea e propostas para aumentar a diversidade urbana.

Victoria Park Market: o conjunto, situado em frente ao Victoria Park, originalmente construído para abrigar o incinerador e descarte de lixo da cidade, foi convertido nas últimas décadas em complexo de artesanato, lojas, escritórios e gastronomia, 2016
Foto Lúcia Melchiors

O espaço público é um espetáculo à parte na cidade. Espaços urbanos qualificados, de excelente manutenção e onde o pedestre é protagonista da ação. No verão, multiplicam-se as possibilidades de uso desses locais: shows e cinemas ao ar livre nos parques, feiras e eventos gratuitos, para diversos gostos eidades.

Aotea Square durante um dos concertos musicais realizados no verão, ao meio-dia, 2016
Foto Lúcia Melchiors

A orla reformulada de Auckland é um exemplo de projeto que prioriza o pedestre e o espaço público como promotor da requalificação urbana. No Wynyard Quarter, projeto ainda em execução, o espaço público já foi concluído e entregue a população – proporcionando gratas experiências na sua vivência – enquanto alguns edifícios comerciais e culturais ainda estarão em obra por mais alguns anos. No Westhaven novos decks compartilhados para caminhada, ciclismo e lazer possibilitam uma reaproximação com á água junto à antiga marinha.

Silo Park, parte do Wynyard Quarter, com sessões de cinema ao ar livre, pequenas feiras e comidinhas nas noites de final de semana durante o verão, 2016
Foto Lúcia Melchiors

Westhaven, decks para lazer construídos sobre a água, 2016
Foto Lúcia Melchiors

Espaços públicos na orla de Wynyard Quarter, 2016
Foto Lúcia Melchiors

The Cloud, 2016
Foto Lúcia Melchiors

Há um forte senso de comunidade e de segurança na cidade. Nas ruas, hortas urbanas e caixas de livros comunitários se misturam a jardins e varandas de casas abertas para o exterior. Sem medo da insegurança urbana, quase inexistente nessa cidade que, embora seja a maior da Nova Zelândia, se apresenta muito como uma pequena vila-urbana. Assim como as históricas que nossos avós contavam sobre as “antigas cidades do interior” aonde não se trancava a porta da rua na hora de dormir. A população possui uma mistura étnica histórica e crescente, com a tradicional imigração europeia (ainda a maior porção da população), Maoris e oriundos das ilhas do pacífico, misturam-se, mais recentemente, com uma forte imigração dos países orientais, especialmente da China.

Hortas urbanas e portas de casas abertas para a rua são constantes na cidade, 2016
Foto Lúcia Melchiors

Muros baixos, varandas convidativas e sapatos do lado de fora: constantes na cidade, 2016
Foto Lúcia Melchiors

O verão em Auckland é marcado pelo som das cigarras e pelos parques, praças e praias cheias de pessoas. Nas praias de Takapuna, Saint Heliers e Kohimarama famílias e grupos de amigos se reúnem para picnics completos, com direito a churrasqueira, cadeiras, mesas, e um lindo por do sol. Além disso, pequena enseadas, trapiches, mirantes e calçadões permitem o contato da população com a água em diversos pontos da cidade.

Esportes náuticos e uso frequente das frias águas de Auckland, 2016
Foto Lúcia Melchiors

A Cidade das Velas, como é carinhosamente conhecida, tem também uma forte ênfase nos esportes náuticos: barcos à vela, ferrys de transporte para as ilhas próximas, cruzeiros, praticantes de remo, kitesurfing e standup são alguns dos usuários frequentes de suas águas. Assim como orcas, leopardos marinhos e manta-raias. Na costa oeste surfistas frequentam as praias selvagens de beleza única e areia escura de Piha e Karekare.

Piha, costa oeste, 2016
Foto Lúcia Melchiors

A Auckland do nosso olhar é um pouquinho de tudo isso. Uma cidade, até pequena em relação a muitas outras, mas rica em oportunidades para aprender sobre diferenças culturais e experiências urbanas. Quem se permitir flanar por suas ruas, se perdendo, observando e descobrindo mais sobre a sua história e cultura terá gratas surpresas no caminho. E isso sem falar das belezas do restante da Nova Zelândia, mas isso é um papo a parte...

Vista a partir do Mount Victoria. Ao fundo o centro urbano, 2016
Foto Lúcia Melchiors

sobre os autores

Lúcia Camargos Melchiors, Arquiteta e Urbanista, apaixonada por fotografia e cidades. Especialista em Patrimônio Cultural e mestre em Planejamento Urbano e Regional. Lecionou nos cursos de arquitetura e urbanismo da UFRGS, UNIVATES e UNIFIN. Atualmente é doutoranda em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR-UFRGS) e leciona no Unitec − Institute of Technology − Auckland, NZ.

César Wagner, professor do Departamento de Arquitetura da Unitec – Institute of Technology, Auckland, Nova Zelândia. Arquiteto e Urbanista / FAU-UFRGS; Mestre em Habitação e Urbanismo / Architectural Association; Doutorando / Propur-UFRGS. Desenvolve pesquisas nas áreas de habitação e desenho urbano, tendo como atual foco de estudo as políticas públicas de intensificação urbana e desenvolvimento sustentável.

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