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architectourism ISSN 1982-9930

Varenna, Itália. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
Ver e experimentar o Museu de Arte do Rio se tornou atividade presente na agenda dos cariocas e turistas que visitam a cidade. Nele, olhares sobre o Rio de Janeiro, sua história e seu presente são construídos. Alguns deles estão aqui apresentados.

english
See and experience the Museu de Arte do Rio has become an activity present in the agenda of cariocas and tourists who visit the city. There, looks about Rio de Janeiro, its history and its present are made. Some of them are presented here.

español
Ver y experimentar el Museu de Arte do Rio se ha convertido en actividad presente en la agenda de los cariocas y turistas En él, miradas sobre el Rio de Janeiro, su historia y su presente se construyen. Algunos de ellos están aquí presentados.


how to quote

VALENTINI JUNIOR, Sandro Vimer. Visões do MAR. Arquiteturismo, São Paulo, ano 11, n. 127.06, Vitruvius, out. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/11.127/6728>.


O Museu de Arte do Rio continua lindo. Pensado como espaço atento às suas vizinhanças, o MAR, mesmo com possíveis imperfeições, responde bem a sua proposição inicial atrelada à “leitura transversal da história da cidade, seu tecido social, sua vida simbólica, conflitos, contradições, desafios e expectativas sociais” (1). As exposições montadas e abertas ao público (que visitei em julho de 2017) oferecem ao visitante materiais suficientes para que, ao deixar o museu, uma reflexão sobre o Rio de Janeiro – e porque não sobre todas nossas cidades – comece a ser produzida em nossas mentes. São provocações necessárias em nosso Brasil versão 2017.

Vista do Morro da Conceição a partir de janela do MAR. A cor avermelhada é decorrente de aplicação sobre o vidro
Foto Sandro Vimer Valentini Junior, julho de 2017

O palacete D. João VI, o lado eclético do MAR e onde são montadas as exposições e depositada a reserva técnica, é percorrido de cima para baixo, como bem sabem os que já o visitaram. Destarte, todavia, somos levados à cobertura do prédio modernista, o outro lado do MAR, e lá nos deparamos com nossa primeira visão: a Guanabara e o refinado e high-tec Museu do Amanhã, projeto de Santiago Calatrava. Os primeiros passos da visita começam atravessando uma passarela que conecta o moderno com o eclético, possivelmente um dos únicos lugares em que encontramos essa harmonia entre duas propostas arquitetônicas tão avessas. Nela, a luz chega avermelhada vinda da janela voltada para o Morro da Conceição, que oferece ao visitante a segunda visão: o outro lado do panorama deslumbrante da Guanabara+Amanhã. Ao mesmo tempo, fazemos a descida entre o moderno e o eclético com vozes que falam palavras indecifráveis, posto que são pronunciadas em outra língua. O caminho, feito no ambiente avermelhado e polifônico, é encerrado no último andar do museu – o primeiro das exposições –, onde está montada a exposição Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena, com curadoria de Sandra Benites, Clarissa Diniz, José Ribamar Bessa e Pablo Lafuente.

Passarela de ligação entre o edifício modernista e o palacete D. João VI com luz avermelhada, Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro
Foto Sandro Vimer Valentini Junior, julho de 2017

Ao visitante, como a mim, deveria chamar a atenção o fato de os textos de apresentação e referências das obras estarem apresentados em português e em tupi guarani. Nossa terceira visão não poderia ser melhor. Ao invés de uma exposição que fetichiza a cultura indígena, Dja Guata Porã traz como objeto os próprios indivíduos e suas histórias marcadas por opressões, violências, humilhações e, sobretudo, resistências. O percurso se organiza a partir de três pontos: primeiro, o cronológico, do contato com o europeu à contemporaneidade; depois, os diversos povos e as diferentes maneiras como ocupam o espaço (se em contextos urbanos ou não, por exemplo); e por fim, o temático: educação, comércio, arte, natureza e mulher – esses pensados com a atuação de Josué Kaingang, Eliane Potiguara, Anari Pataxó, Niara do Sol e Edson Kayapó. Do começo ao fim a exposição coloca o visitante em contato com bens materiais produzidos pelos povos indígenas, entrecruzados com iconografias que trazem para o MAR suas histórias de existência e resistência.

Textos de apresentação da exposição Dja Guata Porã: Rio de Janeiro indígena em português e tupi guarani. Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro
Foto Sandro Vimer Valentini Junior, julho de 2017

Entender a necessidade dessa exposição é exercício fundamental. Nos últimos anos o país vem passando por uma sequência de ataques a todo o arranjo democrático e plural que se pretendeu consolidar desde 1988. Nesse surto reacionário, as populações indígenas sofrem constantemente com ameaças aos seus direitos, desorganização de seus territórios e violências explícitas. Dja Guata Porã é parte da enunciação da história indígena que, em outros lugares, ficaria limitada a dimensão do exótico e do curioso.

A segunda exposição percorrida no museu é Lugares de delírio, contando com curadoria de Tania Rivera, propondo uma reflexão sobre o dissenso, ou o que foge da ideia de comum, de regular. O que está exposto é fruto de um trabalho de financiamento de obras que extrapolou as limitações entre aqueles que fazem parte de programas de saúde mental, e os que não. São obras que fogem do regular e que, portanto, incomodam, perturbam e, em alguns momentos, causam estranhamento. Nossa quarta visão, então, é esta que foge de qualquer senso, seja o bom ou comum, ao mesmo tempo em que questiona “as fronteiras entre normal e patológico, entre arte e vida, entre o museu e o mundo” (2).

A quinta visão vem na continuação do percurso. A exposição O nome do medo, com curadoria de Lisette Lagnado, e obras de Rivane Neuenschwander com Guto Carvalho, articula linguagem, arte e infância no exercício de aflorar em crianças suas intimidades, reveladas na organização em palavras de quais são seus medos. Ao mesmo tempo, propõe às crianças a confecção de capas que fossem capazes de protege-las das ameaças. Surgiram, assim, peças que podem ser vestidas por outras crianças e que estão carregadas de uma realidade cruel transformada em forte poética. Mais que admirar a estética do que está exposto, o visitante deve se colocar em contato com os medos que, para muitos, são estranhos e inimagináveis. Medo de bala perdida, do irmão, de estupro, de morar na rua, medo de bêbado, de tirar notas baixas na escola e repetir o ano. Medos que constroem uma narrativa simples, mas que revela mais uma vez ao visitante histórias de violências – e não há espaço para julgamentos sobre qual medo é mais ou menos relevante.

Chegamos, então, ao primeiro andar do MAR, o último com exposições, e ele está dividido entre Meu mundo teu e a Sala de encontro, espaço que convida o visitante a interagir com a arte exposta. A primeira exposição tem curadoria de Clarissa Diniz e Janaina Melo, e é uma mostra individual de Alexandre Sequeira. O nome, como explicado na apresentação, decorre das relações entre Tayana e Jefferson, crianças que se encontraram pelas relações de Siqueira. O que está exposto é a articulação de “amizades, trocas, narrativas e serviços” (3) que pontilharam a produção de Alexandre Siqueira. Uma visão, nossa sexta, composta de diversos encontros e pessoas, apresentados em fotografias. A sétima visão é a Sala de encontro, com a mostra Dentro, com obras de Carla Guagliardi, Cildo Meireles, Sérgio Sister e Waltercio Caldas. A proposta é que, nessa sala, a arte seja vista por dentro, ou seja, as obras ali expostas permitem e convidam o visitante a interagir com elas. É, ao fim, uma visão marcada por um certo divertimento, um respiro e descanso ao fim do percurso do Museu de Arte do Rio, mas não a última visão.

Praça Mauá tomada próxima a entrada do Museu do Amanhã, com o edifício A Noite, MAR e Morro da Conceição ao fundo
Foto Sandro Vimer Valentini Junior, julho de 2017

Esta é composta pela Praça Mauá, reorganizada, limpa, brilhante, higienizada. Dentro do MAR narrativas outras que aquelas talvez presentes na Praça. Dentro, histórias de preconceitos, violências, opressões e marginalização de sujeitos e artes. Fora, realidades variadas que se cruzam e se homogeneízam na paisagem consumível da nova Praça Mauá. Talvez, antes do Porto Maravilha, pudéssemos encontrar na Praça narrativas não museuficadas de sujeitos marginalizadas vivendo entre às colunas da Perimetral que se erguiam na Praça e na Av. Rodrigues Alves. Hoje, o MAR continua lindo e sustenta as novas dinâmicas que foram impostas na região portuária do Rio – ainda que esse porto e esse MAR não dialoguem com o mar que quebra nas paredes do cais. Como empreendimento âncora do processo de revitalização da região, o museu cumpre bem esse seu outro papel: trouxe novos usos e novos usuários. Foi, entretanto, ofuscado pela luz que a brancura do Amanhã reflete e, sobretudo, pelo entretenimento oferecido ao visitante. Ao que parece, entre oferecer visões sobre nossa realidade social, afim de fomentar reflexões, e oferecer estímulos visuais tecnológicos, mote que sustenta a concepção do Amanhã, a escolha tem pendido para a segunda opção.

Praça Mauá com barracas de feira montadas entre o MAR e o Museu do Amanhã, Rio de Janeiro
Foto Sandro Vimer Valentini Junior, julho de 2017

notas

1
O MAR (texto de abertura). Website do MAR – Museu de Arte do Rio <www.museudeartedorio.org.br/pt-br/o-mar>.

2
RIVERA, Tania. Lugares do delírio (texto curatorial). Website do MAR – Museu de Arte do Rio <www.museudeartedorio.org.br/sites/default/files/texto_curatorial_revisado.pdf>.

3
Meu mundo teu. Mostra individual de Alexandre Sequeira (texto de apresentação da exposição). Website do MAR – Museu de Arte do Rio <http://naestradacomasminas.com.br/museu-de-arte-do-rio-completa-quatro-anos-com-atividades-para-comemorar/>.

sobre o autor

Sandro Vimer Valentini Junior é mestrando em História no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas – IFCH Unicamp – faz parte da linha de pesquisa Cultura e Cidade, desenvolvendo trabalho sobre História do Tempo Presente, História Urbana Contemporânea e História da Arquitetura e Urbanismo Contemporâneo, sob orientação da Prof.ª Livre-docente Silvana B. Rubino.

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