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architectourism ISSN 1982-9930

Residência de D. Odaléa Brando Barbosa, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, tombada pelo Inepac

abstracts

português
André Luiz Joanilho comenta a caótica Atenas contemporânea, que recebe fluxos migratórios de várias regiões do planeta.

english
André Luiz Joanilho comments on chaotic contemporary Athens, which receives migratory flows from various regions of the planet.

español
André Luiz Joanillo comenta la caótica Atenas contemporánea, que recibe flujos migratorios de varias regiones del planeta.


how to quote

JOANILHO, André Luiz. Atenas-Babilônia-Troia-Alexandria.... Arquiteturismo, São Paulo, ano 13, n. 145.01, Vitruvius, abr. 2019 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/13.145/7331>.


Demiurgos acordaram e impuseram destinos. Escreveram torto sobre linhas tortas. Jogaram dados e o acaso se fez História. Quando se acreditava uma sequência de acontecimentos concatenados, explicados e racionalizados, os dados dos Demiurgos turvaram as águas límpidas dos historiadores.

Conquistadores rumam em direção às metrópoles de outrora: conquistadores derrotados. Se aninham onde podem, nos desvãos da racionalidade tecnocrática e avançam, inexoravelmente, pelo continente europeu, instigados pelos dados que foram lançados ao acaso.

O sonho de um futuro racionalizado, ordenado e hierarquizado se desfaz, quando se acorda para as “hordas” de bárbaros vencidos que adentram pela, agora, planejada; pela, agora, limpa; pela, agora, desenvolvida; pela, agora, consciência do planeta; pela, agora, civilizada Europa.

Atenas é o primeiro porto, a primeira porta, a primeira passagem para o norte. Os dados foram novamente lançados e aqueles que eram os colonizados estão vindo em ondas, numa invasão sem batalhas. Derrotados nos seus países, experimentam a sorte dos dados.

A Europa se defende, mas inutilmente. Ela será colonizada por centenas de povos descolonizados. Pode-se ver bárbaros nesta porta da “civilização”. Na aparente caótica cidade de Atenas há uma certa ordem. Lojas árabes, chinesas, paquistanesas, indianas se misturam. O chinês que atravessa a rua correndo, desafiando o sinal de pedestres, passa em frente da “exportadora paquistanesa”.

Romenas vendem flores nas ruas ao lado de africanos tentando “impor” pulseiras étnicas a turistas desatentos, na praça da estação Monasthiraki. Duas quadras abaixo, na rua Ermou, um mercado de quinquilharias se estende pela calçada, alcançando o meio fio (policiais passam impávidos diante das montanhas de troços eletrônicos). Uma pequena loja, na mesma rua, expõe broches soviéticos, búlgaros, húngaros, romenos como se a decadência fosse a única certeza que se cultiva nestas quatro quadras da Ermou.

É neste caos que surgem novas ordens, novas formas de ser, de estar, de viver. Sobre as pedras da cidade antiga, uma outra surge. Aliás, Atenas é um deixar de ser constante. Prédios e casas semiarruinados nos chamam para a brevidade das certezas de uma cidade que sonhou em ser uma metrópole olímpica e agora amarga o preço da empáfia. O estádio olímpico jaz semiabandonado diante de um fervilhante shopping center.

O sonho olímpico se transformou num pesadelo de uma crise econômica que alimenta o jogo de dados. O urbanismo desejado se retraiu na desordem comum. O tráfego parece obedecer à ordem alguma no seu movimento caótico. Mas há: há pressa, muita pressa, é o que se desprende do aparente caos. A ordem existe: há pressa, porque todos têm de se virar com o pouco que têm. Então, cortar uma fila de automóveis à espera da conversão, ou, simplesmente, fazer um retorno proibido numa avenida de movimento intenso, ou ainda, trafegar na faixa exclusiva de ônibus, é quase sempre perdoado. Não se buzina histericamente tentando chamar à racionalidade urbana, pois a ordem é ir depressa para cumprir o que se tem de cumprir, os dados foram lançados.

Atenas é o alerta sonoro e visual de que as civilizações passam; de que as racionalidades terminam; de que a História é um constante jogo. Mas, ela não foi sempre um alerta? As ruínas da Acrópole já não anunciaram que o acaso é a única constante na História? Verdades inscritas nas pedras arruinadas da Ágora servem de curiosidade para turistas que tiram “selfies” abraçados ao busto de Platão.

O riso dos Demiurgos que jogam dados é alto. Mas, de qualquer modo, acreditar na civilização europeia é mais fácil do que a perceber como mero acontecimento. Atenas emana uma lição que a Europa não quer receber, já que ainda é narcisista: acredita em si, acredita que pode ser a única possibilidade de futuro. Porém, ele se gesta nas ruas de Atenas e no momento, para olhos “civilizados”, é uma ameaça. Algo que avança contra crenças e certezas, mas é a História acontecendo, é a História em marcha que obedece aos lances dos dados. Impossível contê-la, impossível contestá-la. É a História imediata e sobre a qual ainda não há uma narrativa para encaixá-la numa presumível racionalidade, conjurando o acaso dos dados jogados. Os desvalidos herdarão essa Terra e poetas evocarão epopeias fantásticas das origens e das gloriosas conquistas dos novos senhores, no meio das ruínas das civilizações findas. Este é o futuro. A cidade está prenha dele. Atenas é maravilhosa.

Cena urbana, Atenas, Grécia
Foto André Luiz Joanilho

sobre o autor

André Luiz Joanilho, doutor em História, é professor aposentado do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina – UEL.

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