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architexts ISSN 1809-6298


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O autor nos apresenta conceituações do termo "sustentável" e discute a coerência, ou não, em classificar arquitetura de sustentável, regional, ou vernacular, nos levando a acompanhar o seu raciocíonio para tentar chegar a uma classificação adequada


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RAMÍREZ PONCE, José Alfonso. Arquitetura regional e sustentável. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 095.04, Vitruvius, abr. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.095/150>.

Antecedentes

A premissa básica é que o conceito da chamada arquitetura regional ou indígena (2), corresponde a uma arquitetura pertencente ao seu lugar. Isto implica, três aspectos; o respeito à regionalidade cultural e social; a adaptação ou regionalização das obras ao meio e em terceiro lugar, a forma e os materiais com que as obras são construídas. Por sua vez, esta arquitetura está formada por duas partes; a autônoma ou vernacular e a apropriada. A agora chamada arquitetura sustentável tem, como principal característica, a utilização racional dos recursos naturais, em especial os energéticos, para sua conservação futura. Isto implica o emprego de materiais de baixo consumo de energia, isto é, materiais primários ou matérias primas; assim como materiais de uma alta eficiência estrutural. Em poucas palavras, a agora chamada arquitetura sustentável não é um conceito novo, mas tão somente é uma parte da tradicional arquitetura regional.

O sustentável

Recordemos que a partir da celebração do primeiro Dia da Terra, em junho de 1970, se mencionou pela primeira vez o conceito de sustentabilidade, que veio a substituir ao de ecologia e que relacionado com o meio e o desenvolvimento apareceu em 1980, na publicação da UCN – Union for the Conservation of Nature – chamada “Estratégia para a conservação do Mundo”. A Comissão Brandt (1977-1983) produziu o documento chamado “Norte-Sul: Um Programa para a sobrevivência”, que continha, entre outros aspectos inéditos, recomendações para a mudança nas políticas do Banco Mundial e do FMI, evidenciando as próximas relações e os interesses que defendem ambas instituições. Em 1987 o Informe Brundtland publicou, Our common future, dizendo: o desenvolvimento sustentável, envolve:

“os caminhos do progresso social, econômico e político que satisfazem as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações de encontrar suas próprias necessidades” (3).

Conceito bastante amplo e pouco preciso, do que todos dizem ainda que não para todos signifique o mesmo. O próprio Grupo dos 7, -G7- por exemplo, em sua reunião em Halifax nos diz: “...a democracia, os direitos humanos, a transparência, a responsabilidade governamental, a proteção ambiental são as bases de um desenvolvimento sustentado” (4). Bases insuficientes, pois parecia como se os fatores econômicos não existissem ou que pudesse se pensar realmente num desenvolvimento efetivo, sem levá-los em conta. Leiam vocês duas opiniões críticas da parcialidade evidente deste enfoque:

“É certamente demagógico sustentar que a miséria latino-americana seja o resultado da deficiente educação, quando há uma série de variáveis de maior importância como, a dívida externa; a corrupção; o protecionismo do primeiro mundo; a falta de poupança interna, a fuga de capitais; a distribuição extremamente desigual da renda; os gastos militares... a dependência da classe política empresarial criolla ante os centros de poder mundiais” (5).

“O conceito desenvolvimento sustentável deve enfatizar o desenvolvimento como incremento de riqueza material, de aumento da qualidade de vida... a sustentabilidade não tem uma única dimensão ambiental, mas inclui uma visão integral do desenvolvimento urbano” (6).

Uma breve digressão. Ao referir-me ao meio ou ao ambiente, não costumo citar as duas palavras juntas, porque dizer “meio ambiente” me parece tautológico, pois as duas palavras em nosso idioma, significam o mesmo. Ambiente de ambiens, “que rodeia, que cerca” e meio, “elemento ou circunstâncias que nos rodeiam”. Em vários idiomas se usa somente uma palavra: environment em inglês, environnement em francês, Umwelt, em alemão, ambiente em italiano, em chinês são duas palavras mas têm significados distintos: huán, “ao redor, redondo” e ging, lugar. Por isto, Fernando Salinas, amigo arquiteto cubano dizia com seu peculiar senso de humor: “Em vez de falar do meio ambiente falemos do ambiente inteiro”. E isto, significa o sentido integral da tão citada ecologia, o estudo das relações do homem, como ser vivo e como pessoa, com seu ambiente natural e social.

A partir deste marco totalizador, desta “visão integral” podemos aproximar-nos a outro conceito, corolário do Sustainable Development; e que agora parece estar na moda, me refiro à arquitetura chamada “sustentável”. A que nos referimos com esta denominação? Se o desenvolvimento sustentável, como vimos, se refere a um desenvolvimento que perdura através do tempo, o que implica um atual uso racional dos recursos naturais, que devemos entender por sustainable architecture?

O termo sustentável, parece-me adequada tradução para falar do desenvolvimento (sustainable development); pois se referem a um desenvolvimento que perdure, que exista para as futuras gerações. A imprecisão se apresenta quando a adjetivação se traslada à arquitetura, então sustainable architecture se converte em uma arquitetura sustentável ou perdurável. Mas se o adjetivo sustentável implica a idéia de sustentar, suster, suportar, então, estaríamos falando também de uma arquitetura que se sustenta, que se sustém. E isto, como todos sabemos, tem a ver com a solidez e a estabilidade, a firmeza – a firmitas vitruviana –; mais que com a relação da arquitetura com o ambiente natural e sua conservação.

Mas antes de analisar os possíveis significados do “sustentável”, temos que registrar uma realidade inevitável, a construção de obras artificiais, a intervenção dos arquitetos dentro de um âmbito natural significa, queiramos ou não, uma alteração da natureza. Em 1992, a Cúpula da Terra realizada no Rio publica a Agenda 21 com seis grandes temas. O relativo aos Assentamentos humanos, registra uma flagrante condenação à industria da construção por sua capacidade destrutiva do ambiente e diz textualmente:

“(a indústria da construção é)… a maior fonte do dano ambiental através da degradação de frágeis zonas ecológicas, da deterioração dos recursos naturais; da contaminação química e da utilização de materiais que são danosos à saúde humana” (7).

Mais claro nem a água. Nossa atividade em sua essência altera, modifica e causa dano ao meio natural. O artificial contra o natural. Nosso fazer prejudica ao entorno e portanto, é necessário ter consciência de que o único que podemos fazer, é tratar de danificar no menor grau possível à natureza (8).

Porém, se nos referimos, além dos termos, ao significado da arquitetura chamada “sustentável”, podemos dizer que é aquela que utiliza de forma responsável e racional os recursos naturais do planeta, em especial, os energéticos, para a preservação das futuras gerações.

E a pergunta é imediata, quais são as características deste suposto novo tipo de arquitetura que, segundo seus apologistas, é uma corrente arquitetônica que não existia até agora e à qual temos que aderir, para estar à “vanguarda”?

Para começar, se se trata do emprego responsável dos recursos do planeta, então temos que falar dos materiais utilizados na construção, dos recursos energéticos necessários para produzi-los e de sua eficiência estrutural, como critérios iniciais. Neste sentido, podemos dividir a produção dos materiais em dois grupos; de baixo e de alto consumo de energia. E resulta que os materiais de baixo consumo de energia ou materiais “responsáveis” –metaforicamente falando-, são a terra, a madeira, o bambu, a pedra, o tijolo e o concreto. Materiais que utilizamos há milênios nas obras arquitetônicas feitas com e sem arquitetos. E por outro lado, os de alto consumo, os “irresponsáveis”, o vidro, o alumínio, o aço e claro, o da moda, o titânio, que necessita somente 80000% de energia para produzi-lo, contra 100% da madeira (9); somente 800 vezes mais!!

O regional

Resulta que as matérias primas ou primárias, com as que construímos durante milênios nossa arquitetura regional e própria ou indígena, são a base e o sustento da assim chamada, arquitetura “sustentável” (10). Dito com outras palavras, a regionalidade e a “sustentabilidade” compreendem idéias de distintas extensões. A primeira abarca à segunda e também, à arquitetura sem arquitetos ou a chamada arquitetura vernacular (11), portanto, a arquitetura regional tem uma maior extensão e um caráter inclusivo, do qual carece a sustentável e a vernacular.

A arquitetura regional compartilha com a sustentável o uso das matérias primárias, com as quais construímos uma arquitetura própria que não existe isolada nem é independente da paisagem natural e artificial.

Mas ademais, a regionalidade implica a inclusão do fator econômico como imprescindível para a realização das obras. Respeito que significa adaptação ao clima, aos ventos, às orientações, à topografia, aos elementos existentes naturais e artificiais, à relação entre os espaços exteriores e interiores. Esta adaptação é o respeito às condições urbanas e ambientais e inclui a adequada solução das necessidades de iluminação, insolação e ventilação, com a conseqüente redução dos custos de construção, operação e manutenção.

É a arquitetura regional, indígena, com ou sem arquitetos, uma arquitetura à serviço do homem, por, para e com o homem.

É uma arquitetura que privilegia o espaço habitável e não suas aparências. É uma arquitetura para as pessoas, os habitantes e não para os arquitetos, seus críticos ou as revistas de arquitetura.

É uma arquitetura que corresponde às condições econômicas de nossos países empobrecidos. Países com insuficientes recursos para satisfazer as demandas espaciais e poder garantir a vida digna de seus habitantes. Uma arquitetura onde a Economia - sobre tudo nas obras públicas - é um de seus princípios reitores. Construir com o menor custo necessário. Fazer o mais e o melhor com o menos.

É uma arquitetura da realidade, do talento e da imaginação acrescidas ainda mais pelas limitações econômicas. Nossa arquitetura não é a arquitetura do esbanjamento, não é muito menos, a materialização da prepotência do discurso oficial, mas seu contrário.

É uma arquitetura onde a economia, a habitabilidade, a diversidade, a desigualdade, a sinceridade, a modernidade, a regionalidade, são seus princípios inevitáveis, guias do arquitetônico em nossos países e em nossos dias.

A redefinição do conceito de uma arquitetura indígena, própria de seu lugar e de seu tempo, isto é, moderna e regional; cujas características sejam o objeto principal de estudo nas escolas de arquitetura e urbanismo, certamente, um pensamento expresso por Luis Barragán:

“na arquitetura popular de qualquer parte do mundo, vemos que é sempre bela e que resolve o problema da vida comunitária. O interessante seria analisar em que consistem essas soluções tão boas, para poder dar na vida contemporânea ao ser humano, essa dose de “sabor” que lhe evite a angústia das cidades modernas. A esta análise deveria orientar-se o estudo do urbanismo e (da arquitetura)… das edificações em todos seus programas” (12)

Conclusões

Por que então resulta agora, que à arquitetura regional, própria, isto é, autônoma e apropriada, à arquitetura responsável e solidária, devemos rebatizá-la como “sustentável”?

Tenho em parte a resposta. Como secular herança colonial, fica a tendência a esperar que as idéias nos cheguem de fora, para geralmente adotá-las acriticamente e atuar em conseqüência. Outra via é entender que as idéias se produzem tanto dentro como fora e que as primeiras costumam corresponder mais a nossa realidade, porque partem precisamente dela.

Fiquemos então com nossa milenar idéia da arquitetura regional e indígena, isto é, própria, autônoma e apropriada e incluamos a idéia do sustentável como uma de suas partes.

Dissemos já que em 1992, a Cúpula da Terra realizada no Rio publica a Agenda 21 com seis grandes temas e que o relativo aos Assentamentos humanos, registra uma flagrante condenação à industria da construção por sua capacidade destrutiva do ambiente.

Para concluir, citemos um resumo das recomendações da Agenda 21:

  • empregar técnicas de construção de uso intensivo da mão de obra.
  • promover as técnicas tradicionais, com recursos regionais.
  • utilizar materiais locais e fontes de construção indígenas
  • melhorar o uso e fabricação de materiais e técnicas construtivas.
  • reutilizar os materiais de construção
  • desalentar o uso de materiais danosos ao ambiente.

Como se poderá ver, a ênfase nos materiais regionais e suas técnicas tradicionais, é o argumento substancial do texto e está relacionado diretamente com nossas obras e projetos, algumas das quais, lhes apresentarei a seguir.

notas

1
Artigo apresentado no Seminário Internacional “Sustentabilidade na Arquitetura”. Córdoba, Argentina, Setembro 2006.

2
A palavra indígena significa, segundo suas raízes latinas; inde (dali) e de genus eris (origem, nascimento, raça); o que é originário dali, de um lugar; o que nasce ali, o que é próprio e pertence a um lugar. Ainda sabemos que comumente não empregamos a palavra como adjetivo, mas como substantivo para nomear a determinadas pessoas e grupos sociais.

3
Tradução minha tomada de STEELE, James. Ecological architecture. London, Thames & Hudson, 2005, p.167. Outra tradução diz: “um desenvolvimento que corresponda com as necessidades das gerações atuais, sem por em perigo as possibilidades das gerações futuras, de satisfazer suas próprias necessidades e optar por seu próprio estilo de vida.” Informe Brundtland. ”Nuestro futuro común” (1987). In RAZA, Werner. Desarrollo sostenible en la periferia neoliberal. México, Plural Editores, 2000, p. 13 e p. 98.

4
CHOMSKY, Noam; DIETERICH, Heinz. La sociedad global. México, J. Mortiz, 1995, p. 101.

5
CHOMSKY, Noam; DIETERICH, Heinz. Op. cit., p. 78

BORJA, Jordi; CASTELLS, Manuel. Local e global. Madri, Taurus, 1997, p. 195.

6
STEELE, James. Op. cit., p. 171. “a major source of environmental damage through the degradation of fragile ecological zones, damage to natural resources, chemical pollution and the use of building materials which are harmful to human health”.

7
Com as matizes obrigadas. A responsabilidade dos projetistas não é a mesma no nível das mega-construções que no nível da maioria das construções.

8
GORDON, James Edward. Structures or Why things don´t fall down. London, Da Capo Press, 1978, p. 319 e 322. O Quadro 6, refere-se à energia necessária para produzir os distintos materiais, quantificada em toneladas de petróleo. Para maior clareza, classifiquei os materiais em dois grupos: de baixo e alto consumo. Também, fiz a conversão considerando a madeira limpa como a unidade (não há dados específicos para a Terra, Pedra, Bambu, mas os supomos de acordo aos do primeiro grupo). Primeiro grupo: Madeira limpa (1) (1); Concreto (4) (25); Tijolo (6) (50). Segundo grupo: Vidro (24), Aço (60) (500); Alumínio (240) (1000); Titânio (800). O Quadro 8 se refere à eficiência estrutural dos materiais em função da energia necessária para produzir um painel resistente à compressão (os dados aparecem no segundo parênteses).

9
Isto com certeza, não exclui o emprego racional e discreto dos materiais industrializados ou de alto consumo energético.

10
A palavra vernacular provem do latim, vernaculus, “indígena, nacional”; por sua vez, de verna, “escravo nascido na casa de seu dono”. De onde vernacular é sinônimo de indígena ou do que é próprio do lugar, mas ademais, implica, o sentido de uma arquitetura imposta ou alienada, própria dos países colonizados, como os nossos. É por este segundo sentido e sua carga ideológica que não simpatizo com o termo. Assim sendo, prefiro seu sinônimo, a palavra indígena, por três razões: sua eufonia comparada, seu resgate como adjetivo, dado que seu uso comum é como substantivo e por fazer-nos esquecer a raiz etimológica e ideológica da primeira.

11
RAMÍREZ PONCE, Alfonso. Guión para un video. México. El día, 27 abr. 1997.

sobre o autor

Alfonso Ramírez Ponce é arquiteto mexicano, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), escritor, conferencista, projetista e construtor de obras de baixo custo, com matérias primas como o tijolo. Assessor da FPAA (1992-2000) e da Fundação Rigoberta Menchú. Ganhador do Prêmio Armando Mestre da República de Cuba. Primeiro prêmio do Concurso de Transferência Tecnológica para a Habitação Popular, organizado pelo CYTED.

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