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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O tema da erudição é antigo, ainda que ficou adormecido durante anos. Mas o erudito como ator ativo do mundo cultural nunca desapareceu, e teve um momento de recuperação quando pensadores como Tafuri decidiram romper com a historiografia tradicional.

english
Erudition is an old topic theme; but it was asleep for years. However, the erudit as an active actor in the cultural world has never disappeared, and had a moment of recovery when thinkers like Tafuri decided to break with the traditional historiography.

español
El tema de la erudicción es antiguo, aunque quedo adormecido por años. Pero el erudito como actor activo de la cultura nunca desapareció y tuvo un momento de recuperación cuando pensadores como Tafuri decidieron romper con la historiografia tradicional.


how to quote

VÁZQUEZ RAMOS, Fernando Guillermo. Sobre a erudição (parte 4/4). As histórias sobre a arquitetura moderna sem erudição, 1980-2010. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 185.00, Vitruvius, out. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.185/5770>.

A historiografia nos anos 1980: o abandono da erudição

Os trabalhos de história da arquitetura dos anos 1980 refletem evidentemente essa visão tafuriana da complexidade, pela qual se aceita que “toda história é inevitavelmente condicionada por um modo de abordá-la”, como afirma Kenneth Frampton (1), autor da mais bem-sucedida história da arquitetura moderna do último quarto do século 20: Modern Architecture: A Critical History (1980). Contudo, e ainda que Frampton (2) garanta que, como muitos outros de sua geração, foi “influenciado pela interpretação marxista da história”, também admite que “mesmo a mais apressada leitura (de seu) texto revelará que nenhum dos métodos tradicionais da análise marxista foi aplicado” (3). Portanto, a finalidade do livro é:

“Viabilizar a leitura do texto de mais de uma maneira. Assim, ele pode ser seguido como um escrito contínuo ou folheado ao acaso. Enquanto a sequência foi organizada pensando no leitor leigo ou sem formação específica, [espero] que uma leitura ocasional sirva para estimular o trabalho de formação universitária e seja útil para o especialista que deseja desvendar um ponto específico” (4).

Kenneth Frmapton: Modern Architecture: A Critical History. Oxford: Oxford University Press, 1980. (1ª edição) [foto divulgação]

É difícil entender como um acadêmico pode imaginar que “uma leitura ocasional” possa ser mais que um passa-tempo, mas essa finalidade, com palavras diferentes, é idêntica à de De Fusco, embora haja neste ao menos um interesse didático, como produto do magisterio, dirigido ao ensino. Assunto comum na Itália, como reiteram outros textos que defendem esse sentido didático, pensamos no livro de Franco Purini (5), L’Architettura didattica, de 1980, por exemplo, que se dirige a estudantes e também ampara e se ampara na “grande pluralidade” da arquitetura dessa década.

Há em todos esses livros um apelo à superficialidade a fim de atingir um maior número de leitores, inclusive leigos ou ainda em formação, como os estudantes ou os amadores. Esquecem esses autores que, com afirmou Aloïs Riegl (6) no inicio do século 20, “o valor histórico [...] nunca poderá ganhar diretamente as massas”. À necessidade de abarcar mais, impõe-se o processo de redução ou mesmo eliminação de conflitos. A narrativa tende a ser dinâmica e linear, nunca “unitária”, como queria Tafuri (7). Iluminam-se aqueles aspectos que dão “cor” e naturalidade à história como um todo autoimplicativo e normalmente permeado por um leitmotiv.(8) As histórias têm princípio, meio e fim: são singelas, mas cativantes. Informam sobre a vida dos heróis e suas façanhas de forma humanizada, e não como foram apresentados pelos historiadores da guerra, Giedion e Pevsner, mas também Hitchcock (9) e Giulio Carlo Argan(10), com seu panegírico a Gropius e à Bauhaus, que ainda falavam em semideuses. Quando não dedicando um grande esforço a apresentar, como defende Frampton (11), o “nível geral de produção, e não o culto das figuras exponenciais da arquitetura”, ainda que tal premissa não se veja totalmente cumprida no livro (12) nem a generalização implique obrigatoriamente uma superação do problema da mitificação das personagens, pois o fato de tirar o foco principal de alguns atores e lançar luz sobre o coro não necessariamente demonstra uma mudança de atitude.

Essa visão, digamos, “contemporânea”, que evita e, teoricamente, supera a visão “moderna” – cuja vitalidade residia na celebração da figura do “gênio” ou do “mestre”, que teve sua origem em Pevsner (e seus Pioneers), mas que se consolidou com obras como a de Peter Blake (13) e que se detecta até em trabalhos recentes como o de William Curtis (14) – foi assumida como consensual, pela academia e pelo público, desde a publicação da história de Frampton e se transformou no caminho oficial das outras histórias escritas em fins do século 20. Histórias como a de Tafuri, que querem ultrapassar essa desmistificação básica, devem assumir que “o crítico que pretenda tornar históricas as experiências da arquitetura contemporânea e que deseje recuperar sua historicidade a partir do passado se encontra em grande parte contra a corrente, numa posição de contestação”. Um historiador nessas condições será certamente um excluido, como de fato acontece hoje com Tafuri, que passou de mais importante historiador do século 20 a um ilustre desconhecido não só do grande público, mas também da academia.

A erudição contestada: a simplicidade e o relato ocasional, a cegueira da historiografia atual

Como o papel de contestação e de esclarecimento, que são propostas típicas da erudição, que exibe suas carências e contradições e que deve demonstrar sua “complexidade e sua fragmentação” (15), pode ser reduzido a uma fórmula de “leitura ocasional” ou a livro de texto?

Ainda temos o apelo ao “permeável”, ao “fluido”, às “redes”, ao “inclusivo” e a outras tantas palavras que tendem a relativizar a arquitetura e sua definição, abrindo possibilidades de interpretação mais ou menos relacionadas ao ponto de vista do autor, seja este conceitual ou filosófico, com no caso de Frampton, que defende sua visão Escola de Frankfurt, (16) ou interpretativo, como no caso de Curtis (17), com seu “interesse pela autenticidade” e sua intenção de “transmitir o caráter da boa construção” e das “qualidades duradoiras”.

A historiografia atual tende a colocar todo o trabalho dos historiadores do passado num mesmo saco, como podemos ver na afirmação de Jean-Louis Cohen, em seu The Future of Architecture Since 1889 (18):

“De Giedion a Tafuri e Frampton, os discursos sobre a história da arquitetura demonstram que a suposta autonomia ou objetividade dos seus autores é quase uma ficção. Muitos desses livros são frutos da encomenda por determinado arquiteto – no caso de Giedion, por Le Corbusier e Walter Gropius – ou refletem uma posição intelectual desenvolvida em contato próximo com arquitetos – no caso de Tafuri, com Aldo Rossi e Vittorio Gregotti. Por meio de tais relações, os arquitetos inegavelmente moldaram o pensamento e os textos dos historiadores, às vezes condicionando tendenciosamente suas interpretações”.

Jean-Louis Cohen: The Future of Architecture Since 1889: A worldwide history. Londres, Nova York: Phaidon, 2012. (1ª edição) [Foto divulgação]

Pensamos ter conseguido expor aqui que essa afirmação de Cohen é inadmissível e que pensar dessa maneira “inegavelmente” prejudica o entendimento do trabalho dos historiadores mencionados e invalida o entendimento do que eles pretendiam defender e afirmar. Seria prudente empreender um trabalho sobre a historiografia e a forma de fazer história antes de enfrentar um estudo histórico da arquitetura. Ainda que não seja comum, alguns historiadores o fizeram: pelo menos Zevi e Tafuri (19). Situar o pensamento e as intenções de um autor é ato inicial e fundamental para entender o que se lê quando se estuda história. E é também um trabalho de erudição, pois, sem ela, escapa-nos discernimento da mensagem oculta no texto.

Afirmar que autores como Giedion trabalharam por “encomenda” de arquitetos como Le Corbusier ou Gropius é um insulto à inteligência do leitor e uma omissão grave da relevância histórica do papel do historiador; nesse caso, nada menos que o respeitabilíssimo Secretário Geral do CIAM (20). Alem de ser um destacado discípulo de Heinrich Wölfflin, Giedion deu suporte teórico e conceitual à vertente cubista e racionalista do movimento moderno, assim como à recuperação do sentido histórico dessa modernidade entendida como uma “nova tradição”, no seu influente Space, Time and Architecture: the growth of a new tradition.

Além da reviravolta que suas ideias sobre um novo entendimento da monumentalidade (21) imprimiram na formulação de um urbanismo capaz de superar os entraves do urbanismo funcionalista da Carta de Atenas (1933). Não podemos afirmar que Giedion foi como foi e quem foi porque existiu Walter Gropius, mas certamente podemos afirmar que Walter Gropius e a Bauhaus foram apreciados e aceitos como berço da arquitetura moderna pela pena de Giedion; baste lembrar a antológica comparação entre o edifício da Bauhaus e a pintura L’Arlésienne, de Picasso (22), que abriu o caminho para a interpretação e a explicação de uma nova espacialidade – a do espaço fluido –, impulsionada pela arquitetura moderna e que, até aquele momento (1941), não tinha sido bem explicada.

Da mesma forma, é absurdo dizer que um pensador da qualidade e da profundidade de um Tafuri é um espelho que “reflete” a ação de qualquer arquiteto, ainda que o arquiteto seja um Aldo Rossi; até porque o próprio Tafuri (23) declarou qual era sua função como historiador marxista:

“Pode até acontecer que existam muitas tarefas específicas para a arquitectura. A nós interessa sobretudo saber por que é que até hoje a cultura de inspiração marxista, com extremo cuidado e com uma obstinação digna de melhor causa, nunca negou ou encobriu culposamente esta simples verdade: que, tal como não pode existir uma Economia política de classe, mas uma crítica de classe à Economia política, também não é possível criar uma estética, uma arte, uma arquitectura de classe, mas apenas uma crítica de classe à estética, à arte, à arquitectura, à cidade.

Uma crítica marxista coerente da ideologia arquitectónica e urbanística apenas pode desmistificar realidades contingentes e históricas, de modo algum objectivas ou universais, que se ocupam por detrás das categorias unificantes dos termos arte, arquitectura, cidade: reconhecendo outrossim os novos níveis atingidos pelo desenvolvimento capitalista, e com os quais os movimentos de classe são chamados a confrontar-se”.

Se acreditamos que o interesse de Tafuri era realmente desenvolver uma “crítica de classe” à arquitetura e à cidade a partir de uma óptica marxista, como poderíamos pensar que essa premissa se encaixa no pressuposto rossiano de que L'architettura della città (1966) tem um significado preciso, que o próprio Rossi (24) insiste em lembrar no seu “Prefácio à segunda edição italiana”:

“Considerar a cidade como arquitetura significa reconhecer a importância da construção da arquitetura como disciplina dotada de uma própria e determinada autonomia (não, evidentemente, autônoma num sentido abstrato) a qual, precisamente na cidade, constitui o fato urbano preeminente que, através do todos aqueles processos [que dominavam o debate da cultura arquitetônica nos anos 1960] unem o passado com o presente”.

Evidentemente, na sua vasta erudição, Tarufi podia incluir em suas pesquisas aspectos das propostas rossianas, das de Gregotti ou de outros tantos intellectuels e pensadores, homme de lettres, membros da intelligentsia ou outros eruditos, mas seu trabalho sempre se guiou pela metodologia marxista, como forma de verificação da realidade de um ponto de vista de classe (no caso, a classe operária) e pelo pensamento dialético que tendia a desmistificar a construção da realidade por uma insistente crítica à ideologia. Uma crítica histórica que dissolve mitos impotentes e ineficazes que, como miragens, “permitem a sobrevivência de ‘esperanças projectistas’ anacrônicas” (25).

A erudição de Tafuri – como, aliás, toda erudição – não está a serviço da simplificação nem da informação, pois a história nada informa. Não é didática nem narrativa e, sobretudo, não é reflexo dessa ou daquela atividade de projeto específica. A erudição impede que a pesquisa se esvazie em miudezas desse tipo, pois a visão panorâmica e abrangente – holística, se se quer – não admitem que o erudito se perca no pontual ou no evidente. Por isso, certamente, a produção histórico-crítica de Manfredo Tafuri não é uma narrativa sobre heróis, mestres, estilos ou movimentos, que não são outra coisa que “nuvens anestesiantes”. É um trabalho intelectual, erudito, que só pretende, como expôs na Introdução de seu último livro, Ricerca del Rinascimento: Principi, citta, architetti (1992), “ampliar – com os instrumentos outorgados à história – o alcance dos interrogantes que atuam em sentido crítico na cultura arquitetônica atual”(26).

Manfredo Tafuri: Ricerca del Rinascimento: Principi, citta, architetti. Turin: Giulio Einaudi, 1992. (1a edição) [Foto divulgação]

À guisa de conclusão

Após estas reflexões sobre a prática ancestral da erudição e a situação da história da arquitetura moderna no século 20, percebemos que é possível situar três momentos em que tendências específicas do pensamento arquitetônico se consolidaram e resultaram em “histórias” concretas, ou, pelo menos, em formas diferenciadas de abordagem da história. Como vimos reiterando em todo este ensaio, pensamos que a história nada informa: embora nela se guardem tantas informações, ela própria não é fonte de informações, pois não é a informação que faz a história, e sim o historiador, que a constrói usando como tijolos as informações que pode recolher aqui e ali. E, ainda, não são esses tijolos, como informação bruta ou comentada, que fazem a história, pois o historiador precisa levantar seu edifício com eles, e, uma vez unidos pela argamassa da crítica e da postura do historiador, a forma que alcançam ultrapassará a importância do elemento base que a sustenta. No entanto, sem informação histórica, isto é, sem documentos e referências, não temos história, e ainda, a história não pode desinformar ou informar erradamente. Assim, necessitamos entender não só o tipo de informação que temos em mãos e como ela é tratada, mas também a postura do historiador, sua visão de mundo, que lhe permite ver a realidade de uma forma particular. E ainda tudo isso pouco importaria, se não fôssemos capazes de entender o momento histórico, o núcleo temporal a partir do qual o historiador pode ver esse mundo (o seu e o antigo) e perceber as possibilidades de um mundo novo (o futuro).

Que fazer frente a uma história que nada nos informa? Como atuar dentro de uma conjuntura temporal concreta que permite ver o mundo de uma ou de várias formas específicas, mas sempre historicamente determinadas? Para que e para quem trabalham o historiador, o arquiteto, o artista?

Essas perguntas só têm respostas circunstanciadas, referidas a momentos concretos da história humana. Não há resposta eterna ou essencial que possa conter verdades inquestionáveis sobre situações do pensamento humano. Os historiadores que abordamos neste ensaio foram todos eles filhos diletos de sua respectiva época, inclusive os que convivem conosco hoje e dos quais discrepamos tanto. Justamente por sua qualidade de espectadores privilegiados do tempo, esses homens nos permitem verificar o andamento de uma forma de ver o mundo – a erudição – e como em suas nuances o mundo se nos revela de forma incrivelmente aberta.

O repúdio à história e à tradição por parte do intelectual do movimento moderno, subordinando à produção, à industria e ao progresso, motores do capitalismo no fim do século 19 e princípios do 20, deflagrou um processo de revisão da própria história e de seu valor na forma de pensar e fazer arquitetura. A história teve um papel exemplificador, ou pela ausência – de fato, uma presença contestada –, ou pela identificação com as formas produzidas pela arquitetura no mundo pós-industrial. No meio desse processo, um ponto culminante de questionamento crítico que equilibra a balança, sem contudo ser determinante de solução nenhuma.

A postura perante a erudição é um parâmetro que facilmente evidencia a relação que vai do afastamento ao achatamento da tradição na história da arquitetura moderna e contemporânea. O abandono da erudição no período de entre guerras, substituída, como vimos, pela adoção de princípios capazes de explicar o mundo, debilitou os aspectos críticos aos quais a erudição está ligada, e, junto com eles, foram-se também os aspectos éticos, subjugados por uma falsa moralidade que impulsionava a ruptura com modelos historicamente consagrados, especialmente aqueles ligados à forma – os estilos.

A situação do segundo pós-guerra mudou o sentido dessa forma de ser como resultado da contestação ao modelo de progresso depois do desastre moral e físico da guerra, materializado não só na destruição de cidades e na massacre de povos na Europa, mas sobretudo no extermínio nuclear de Hiroshima e Nagasaki. O holocausto nuclear, somado ao holocausto judeu e ao ódio desatado pelo fascismo ou contra ele formam o choque civilizatório e cultural que desenhou a geração do pós-guerra. Nascidos nos anos 1930-40, os jovens dos anos 1960-70 questionaram o mundo e se opuseram à versão selvagem do capitalismo de Estado.

Esse jovens rejeitaram a visão mistificadora e heroica do movimento moderno criada no pré-guerra e buscaram os meios para entender o novo mundo que estava em formação. A erudição foi a atitude adequada que lhes permitiu voltar aos documentos e à pesquisa histórica propriamente dita, questionando o modelo historiográfico das escolas e dos mestres que reduzia o passado a uma sucessão de fatos destinados a justificar o presente. Sem essa volta ao documento, sem a erudição como ferramenta do esclarecimento e a crítica como papel de tornesol, não teria sido possível o questionamento ético da função da história e do historiador.

Mas o tempo não para, e, na sequência dessa revolução contra a ideia dominante de progresso – aquele construído sem compromisso cultural como a sociedade –, que fez necessário, como contestação, o surgimento de uma percepção positiva da tradição, adveio um momento de achatamento da história, agora acometida por um cansaço moral produto da sobrecarga de responsabilidades que o enfrentamento do problema da história abria para o erudito.

Nesse novo ponto de virada da história, o historiador abandona o pathos da pesquisa, cujo ponto focal é a crítica, para aceitar que nada pode contra a construção do mundo (capitalista) e, portanto, que só resta a integração acrítica, que se trona didática e informativa. A erudição é novamente relegada a um plano inoperante, criticada pelo muito que demanda não só do historiador, mas principalmente do leitor, que nos tempos que correm se vê despreparado para enfrentar requisições complexas e contraditórias.

A luta entre esclarecimento e informação, entre crítica e didática, entre tradição e lembrança deixa os defensores da erudição, como forma elevada do saber, na retaguarda de um mundo praticamente dominado por textos brevíssimos. A forma do achatamento da história que já haviam constatado nos anos 1980 autores como Fredric Jameson, Lyotard ou Vattimo, se aprofunda nos 1990 e hoje alcança dimensões colossais nas redes sociais. Nunca estivemos tão interconectados e com tanta informação a nossa disposição de forma rápida (ainda que não segura ou confiável) e usável. Resta saber se um mundo afogado em dados é um mundo compreensível ou só um mundo confuso que impõe a redução como única forma de sobrevivência: a humanidade, certamente, não se reduz a 140 caracteres.

notas

NE – Este texto é a quarta e última das quatro partes que compõem o trabalho completo enviado pelo autor. As partes são as seguintes:

VÁZQUEZ RAMOS, Fernando Guillermo. Sobre a erudição (parte 1/4). Manfredo Tafuri e a historiografia da arquitetura moderna. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 182.06, Vitruvius, jul. 2015 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.182/5621>.

VÁZQUEZ RAMOS, Fernando Guillermo. Sobre a erudição (parte 2/4). As primeiras histórias sobre a arquitetura moderna. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 183.06, Vitruvius, ago. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.183/5659>.

VÁZQUEZ RAMOS, Fernando Guillermo. Sobre a erudição (parte 3/4). As histórias da arquitetura moderna, dos anos 1960-1970. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 184.07, Vitruvius, set. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.184/5746>.

VÁZQUEZ RAMOS, Fernando Guillermo. Sobre a erudição (parte 4/4). As histórias sobre a arquitetura moderna sem erudição, 1980-2010. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 185., Vitruvius, out. 2015 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.185/5770>.

1
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003[1980], p. 7.

2
Ibidem p. 10.

3
Idem.

“De outro lado, é inegável que minha afinidade com a teoria critica da Escola de Frankfurt influenciou minha visão de todo o período e proporcionou-me aguda consciência do lado escuro do Iluminismo, que, em nome de uma razão insensata, levou o homem a uma situação em que ele começa a ser tão alienado de sua produção como do mundo natural”.

4
Idem, grifos nossos.

5
PURINI, Franco. La arquitectura didáctica. Valencia: Colegio Oficial de Aparejadores y Arquitectos Técnicos de Murcia/Galería-librería Yerba de Murcia, 1984[1980].

6
RIEGL, Aloïs. El culto moderno a los monumentos: caracteres y origen. Madri: La Balsa de la Medusa, 1987[1903], p. 62.

7
TAFURI, Fernando. Projecto e utopia: arquitectura e desenvolvimento do capitalismo. Lisboa: Presença, 1985[1973], p. 13.

8
“Assim como, de fato, todas as Histórias da arquitetura moderna publicadas nos países anglo-saxões e germânicos [até 1980] são quase exclusivamente recontos e elogios ao funcionalismo”. RAGON, Michel. Historia mundial de la arquitectura y el urbanismo modernos. Barcelona: Destino, 1979[1971]. Tomo 1: Ideologías y pioneros 1800-1910.

A influência teórica do funcionalismo foi enorme, pelo menos até os anos 1960, quando, como outros tantos paradigmas, foi amplamente questionada não só por historiadores, críticos e teóricos, mas também por arquitetos. Sobre a importância do funcionalismo até finais dos anos 1950, ver De Zurko (1970) e Mumford (2000); para uma crítica ao funcionalismo nos anos 1960, ver os trabalhos dos arquitetos do Team 10: Montaner (2009) e Risselada (2011). Tafuri desenvolve sua crítica ao funcionalismo em quase todos os seus trabalhos sobre a arquitetura moderna, desde Teorie e storia dell'architettura (1977) até Architettura contemporanea (1982), texto que escreve com Dal Co.

9
Pensamos aí em seu The International Style: Architectures since 1922. Ver HITCHCOCK, Henry-Rusell; JOHNSON, Philip. El estilo internacional: arquitectura desde 1922. Valencia: Colegio Oficial de Aparejadores y Arquitectos Técnicos de Murcia/Galería-librería Yerba de Murcia, 1984[1932].

10
ARGAN, Giulio Carlo. Walter Gropius y el Bauhaus. Buenos Aires: Nueva Visión, 1975[1951].

11
FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fonte, 2003[1980], p. 8.

12
Neste caso é só ver o nome dos capítulos, entre os quais encontramos: “Mies van de Rohe e a importância do fato, 1921-33” (p. 193), ou “Le Corbusier e a Ville Radieuse, 1928-46” (p. 215).

13
BLAKE, Peter. The Master Builders: Le Corbusier, Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright. 3rd ed. Nova York/Londres: Norton & Comp., 1996[1960].

14
No “Prefácio à primeira edição”, William Curtis se defende por continuar acreditando nos edifícios e nos artistas que têm qualidade diferenciada: “Não peço desculpas por me concentrar em edifícios de alta qualidade visual e intelectual: uma tradição se forma a partir de uma sequência desses pontos culminantes, que transmitem seus descobrimentos a seus seguidores inferiores”. Ainda que seu livro tenha sido concebido em fins da década de 1970 e escrito entre 1980 e 1981 (p. 8), o que justificaria essa defesa tardia da qualidade do gênio e da importância do monumento?. Outro livro preocupado com obras e artistas, mas sem a seriedade intelectual de Curtis, é o de Peter Gössel e Gabriele Leuthäuser (2001), Arquitetura no século 20.

15
TAFURI, Manfredo. Teorías e historia de la arquitectura: hacia uma nueva concepción del espacio arquitectónico. 2. ed. Barcelona: Laia, 1977a[1970], p. 12.

16
Cf. nota 73.

17
CURTIS, William J. R. La arquitectura moderna desde 1900. 3. ed. Londres/Nova York: Phaidon, 2006[1981], p. 7-8.

18
COHEN, Jean-Louis. O futuro da arquitetura desde 1889: Uma história mundial. São Paulo: Cosac & Naify, 2013[2012], p. 15, grifo nosso.

19
No caso de Zevi (1954, p. 623-702), nos referimos à extensa bibliografia comentada de sua Storia dell’architettura moderns; no de Tafuri (1979, p. 179 et seq.), especialmente ao capítulo 4, mas também aos capítulos 5 e 6 de sua Teorie e storia dell'architettura.

20
Foi Secretário Geral desde a fundação dos CIAMs, em 1928, até 1956. Para entender a importância central da figura de Giedion no panorama internacional e na consolidação da arquitetura moderna pelos trabalhos dos CIAMs, ver MUMFORD, Eric Paul. Defining Urban Design: CIAM architects and the formation of a discipline, 1937-69. New Haven: Yale University Press, 2009 e MUMFORD, Eric Paul. The CIAM Discourse on Urbanism: 1928 – 1960. Cambridge, Mass.: MIT Press, 2000.

21
Referimo-nos a “Nine Points on Monumentality”, redigido com Josep Lluís Sert e Fernand Léger e publicado na Harvard Architecture Review em 1943.

22
GIEDION, Siegfrid. Space, Time and Architecture: The growth of the new tradition. 2. ed. Cambridge: The Harvard University Press, 1949[1941], p. 426-427.

23
TAFURI, Manfredo. Projecto e utopia: arquitectura e desenvolvimento do capitalismo. Lisboa: Presença, 1985[1973], p. 121, grifo nosso.

24
ROSSI, Aldo. La arquitectura de la ciudad. 6. ed. Barcelona: Gustavo Gili, 1982[1966], p. 41.

25
TAFURI, Manfredo. Projecto e utopia: arquitectura e desenvolvimento do capitalismo. Lisboa: Presença, 1985[1973], p. 122.

26
TAFURI, Manfredo. Sobre el Renacimiento: principios, ciudades, arquitectos. Madri: Cátedra, 1995, p. 9.

sobre o autor

Fernando Guillermo Vázquez Ramos é Professor do Curso e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da USJT. Líder do grupo de pesquisa Arquitetura e Cidade: Representações. Doutor (Univ. Politécnica de Madrid, 1992); Magister (Inst. de Estética y Teoria de las Artes de Madrid, 1990); Técnico em Urbanismo (Inst. Nacional de Administración Pública de Madrid, 1988); Arquiteto (Univ. Nacional de Buenos Aires, 1979).

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