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architexts ISSN 1809-6298


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Este artigo propõe investigar as estratégias de adaptação climática utilizadas pelo arquiteto Severiano Porto em seus projetos amazônicos, em especial, sistemas construtivos com madeira, via integração de tecnologias e processos digitais.


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HENRIQUES, Gonçalo Castro. Severiano Porto. Sintaxe e processo, que futuro(s)? Arquitextos, São Paulo, ano 17, n. 198.03, Vitruvius, nov. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.198/6303>.

1. Introdução

Severiano Porto é um arquiteto de referência e premiado, que está associado à aplicação do conceito de regionalismo crítico. Apesar de inúmeras distinções a sua obra está em grande parte abandonada. Diversos trabalhos acadêmicos destacam a aplicação de técnicas e materiais locais na sua obra. A maioria destes autores destaca a linguagem formal - sintaxe - que propõe como alternativa ao modernismo e à arquitetura genérica indiferenciada. Estando os materiais e as técnicas utilizadas por Severiano datados no tempo, há o problema de como estes poderão ser aplicadas em novos projetos. Argumenta-se, que mais do que mimetizar a forma ou estilo deste arquiteto, será útil codificar o seu processo operativo. No seu processo este autor utiliza estratégias de adaptação do edifício ao contexto.

Este artigo propõe investigar as estratégias de adaptação utilizadas por este arquiteto. Assim serão avaliadas determinadas obras indagando como o desempenho é melhorado. Um dos problemas das análises de desempenho é tradicionalmente exigirem conhecimentos e técnicas especializadas. As estratégias de adaptação de Severiano incluem a utilização de sistemas construtivos com materiais locais como a madeira. Utilizando as suas propostas geometrias e materiais não standard recorrendo apenas às técnicas tradicionais estes princípios podem ter uma aplicação limitada com o aumento dos custos de produção. Argumenta-se que através da integração de tecnologias e processos digitais será possível desenvolver estratégias de adaptação, expandido a sintaxe e os processos utilizados por Severiano Porto. Serão identificadas possibilidades de como a integração do digital pode suportar o desenvolvimento de estratégias de adaptação, recorrendo a exemplos análogos. Finamente será destacado o trabalho do LAMO – laboratório de fabricação digital da FAU UFRJ. Este laboratório propõe uma nova metodologia de integração entre as ferramentas e os processos digitais (1) participando na fabricação e construção da primeira wiki-house (2) na América Latina. São assim sugeridas novas possibilidades para que a obra de Severiano possa ser estudada, procurando novas pistas de como expandir o se legado no futuro.

Esta pesquisa aborda o contributo arquitetônico de Severiano Porto pensando como este poderá ser transmitido e utilizado no futuro. Este arquiteto recebeu inúmeras distinções que reforçam a pertinência da sua obra. A sua obra está associada ao regionalismo crítico e desperta interesse tanto no Brasil como no exterior. Serão identificadas e datadas as suas principais obras de acordo com pesquisas anteriores de outros autores. Serão elaboradas algumas considerações de síntese sobre a sua obra. É utilizado um formato de pesquisa científico, identificado um problema e apontando hipóteses para o solucionar operativamente. O problema é a dificuldade de transmitir o seu legado, para o qual são identificadas diferentes possibilidades de o resolver utilizando os meios digitais.

Sintaxe: regionalismo crítico e modernismo

O regionalismo crítico é um conceito desenvolvido por Keneth Frampton nos ano 1980 (3). Este conceito procurava ser uma alternativa ao fenómeno de globalização que surgiu com o advento da arquitetura modernista no pós-guerra europeu. Surgiu como uma reação à massificação tecnológica da arquitetura que nas suas propostas de “tábua rasa” menosprezava contributos e tradições locais. O regionalismo crítico reclamou uma maior atenção à arquitetura vernacular de cada lugar e as suas tradições construtivas e culturais, procurando uma conciliação entre a cultura universal e local. A arquitetura modernista teve um grande desenvolvimento e aplicação no Brasil como referem autores clássicos como Nestor Goulart Reis Filho (4), Yves Bruand (5), Paulo Santos (6) ou Hugo Segawa (7). Embora o período áureo do modernista no Brasil esteja associado ao período entre os anos 1940 e 1960, o seu impacto no país de acordo com estes autores foi profundo e é tem-se prolongado no tempo.

A arquitetura de Severiano Porto é construída sobretudo entre os anos 60 e até ao final dos anos 80. Severiano teve uma educação de acordo com os princípios modernistas, mas na sua mudança para a Amazónia demostrou uma atenção especial pelo contexto local. É pelo fato de ter traduzido arquitetonicamente essa preocupação que é associado ao regionalismo crítico. O regionalismo crítico teve sobretudo como termo comparativo a arquitetura modernista. Talvez por esta razão os materiais e as técnicas utilizadas e a sua codificação estilísticas tenham sido destacadas como uma reação. Devido à herança modernista a sua obra foi valorizada positivamente por recorrer à tradição material e construtiva, mas foram menosprezados outros contributos mais operativos dos seus projetos.

Existem diferentes possibilidades para divulgar a obra de Severiano. Existe um acervo com informação sobre os seus projetos na UFRJ (8). No entanto apesar deste arquiteto ser estudado com frequência pela linguagem e sintaxe arquitetônica utilizada é menos abordado o processo por ele aplicado. Severiano utiliza estratégias de adaptação da arquitetura ao contexto que poderão ser aplicáveis no futuro.

Severiano Porto, Centro Ambiental Balbina, 1983-1988
Imagens divulgação [Acervo Severiano Porto / NPD UFRJ]

Importância histórica e principais obras

Mário Severiano Porto nasceu na Uberlândia (Estado de Minas Gerais) em 1930. Em 1956 graduou-se em Arquitetura pela Universidade do Brasil (atual UFRJ). O seu trabalho foi premiado inúmeras vezes ao longo dos anos: entre 1965-83, teve 8 projetos premiados pelo IAB-RJ; em 1985 recebeu Prémio Universidade Buenos Aires, tendo recebido o Doutoramento Honoris Causa pela UFRJ em 1985, como refere Jhones (9). A importunância desta distinção honorífica é destacada por Elizabete Rodrigues de Campos (10). Alguns autores refém o impacto da sua obra e o reconhecimento internacional que obteve como Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima (11).

Segundo os autores atrás referidos, o período mais ativo da sua obra é entre o final dos anos 1960 e os anos 1990. Entre as suas obras destacam as seguintes: Estádio Vivaldo Lima (1965), restaurante Chapéu de Palha (1967), Superintendência Zona Franca Manaus (1971), Casa Severiano Porto (1971), Clube do Trabalhador e Escola Música SESI (1977), casa Robert Schuster (1978), Campus da Universidade do Amazonas (1970-80), Pousada Ilha Silves (1979-83), Centro Proteção Ambiental Balbina (1983-88) e Aldeia Infantil SOS (1985-97). Segundo Sergio Hespanha (12) Severiano é destacado pelo seu lado tectónico mas é menosprezada a preocupação social que evidencia. Destaca que a adequação geográfica de Severiano além da componente física inclui também as relações humanas e preocupações sociais.

2. Estratégias de adaptação e integração digital

Severiano Porto utiliza estratégias passivas para conseguir uma arquitetura mais adaptada ao contexto. Serão referidos exemplos destas estratégias passivas para melhorar o desempenho climático. Serão destacadas vantagens da aplicação destas estratégias e dificuldades que existem na sua implementação. Serão formuladas hipóteses de como estas limitações poderão ser ultrapassadas com recurso a meios digitais, recorrendo a exemplos.

A integração digital em projeto afetada não só as ferramentas, como os processos em todas as fases de projeto (13). Não sendo o objetivo principal deste artigo demonstrar esta realidade serão identificadas situações específicas em que a integração digital poderá prolongar a aplicação do legado de Severiano. Nomeadamente é sugerido como o desempenho climático poderá beneficiar da simulação digital, assim como a utilização de sistemas construtivos em madeira personalizados podem beneficiar da fabricação digital.

Adequação e desempenho climático

Mirian Keiko Ito Rovo e Beatriz Santos Oliveira (14) destacam na obra de Severiano a utilização de estratégias de adaptação em todas as escalas de projeto. Esta capacidade de adaptação presente em projeto leva as autoras a classificar a arquitetura de Severiano como regionalismo ecoeficiente. Demonstram existir esta atitude holística e ecoeficiente no projeto Aldeia infantil SOS. Aludem à ecologia tal como definida por Haeckel, ou seja ecologia como economia de meios que permite uma boa adaptação local. Diferenciam a preocupação com a ecologia de uma busca estilística do que é autóctone salientando a importância das estratégias de adaptação em diferentes escalas de projeto. A ecologia começa na preocupação social do projeto aldeia SOS, na inserção no terreno, na articulação de funções e volumes, de espaços comuns e inclui o projeto das habitações, assim como sistema construtivo e geometria de adequação geográfica. A investigação destas autoras mostra a importância ética de trabalho do arquiteto nas diferentes fases do projeto. Identificam como o desempenho pode ser melhorado em geral referindo em particular alguns aspetos do desempenho climático.

Existem no entanto menos investigações que avaliem diretamente o desempenho climático dos seus edifícios. Letícia de Oliveira Neves (15) analisa e avalia o desempenho das estratégias de ventilação natural aplicadas por Severiano em três obras. Estas obras são: a) Campus Universidade Amazonas; b) Sede Superintendência zona franca Manaus; c) Aldeias infantis Balbina SOS. Estas obras, além de características particulares apresentam também sistemas construtivos diferentes sendo a primeira de aço e concreto, a segunda concreto e a terceira de alvenaria e madeira.

Para avaliar o desempenho dos processos de ventilação natural utilizados a autora recorreu como metodologia à análise qualitativa e quantitativa destes edifícios. A análise quantitativa consistiu na recolha de dados do projeto (plantas, cortes, alçados), entrevistas e consulta ao acervo do arquiteto. Completou esta análise depois com um estudo com base em medições climáticas nos diferentes edifícios estudados. Estas medições foram efetuadas seguindo recomendações de Mahoney e os resultados comparadas com os valores climáticos de referência para a localização geográfica estudada (Amazonas) da ASHRAE – American Society Heating, Refrigeration and Air Conditioning Engineers.

Neves estudou o desempenho de três edifícios para verificar em que medida as soluções de severiano aumentam o conforto do usuário. Estudou os processos de ventilação natural que Severiano utiliza para diminuir a temperatura e a humidade do ar, aumentando o conforto ambiental dos usuários. Nos diferentes projetos conclui que existe uma atitude atenta às condicionantes arquitetônicas do lugar, como topografia, orientação e disposição dos edifícios no terreno, considerando ventos dominantes e na distribuição dos espaços interiores. Verificou que estes edifícios possuem uma geometria que os protege da radiação solar e da chuva frequente, assim como um sistema de aberturas que permite melhorar a ventilação natural. A ventilação natural é controlada passivamente através da localização, dimensionamento e do tipo de aberturas. Encontrou no entanto dificuldades do arquiteto em verificar e testar ideias empíricas de ventilação do ar, como por exemplo a utilização do efeito chaminé, baseado em diferenças de temperatura.

Severiano Porto, estratégias de ventilação natural e linguagem com referências contextuais da Amazônia, Aldeia SOS em Manaus (1983-95)
Imagens divulgação [NEVES, L.O.]

O controlo térmico está associado a modelos matemáticos complexos, que tradicionalmente não são do domínio da arquitetura. No entanto a falta de acesso a informação sobre térmica limita a atuação dos arquitetos nesta área. Na sua investigação Neves avaliou as estratégias de ventilação natural utilizadas por Severiano e detetou dificuldade de implementação do efeito chaminé. Outra das dificuldades está relacionada como a geometria das aberturas e dos espaços. Existem atualmente ferramentas de simulação que podem ser utilizadas num estágio inicial de projeto para facilitar a previsão e sugerir novas possibilidades de como solucionar estes problemas. Estas ferramentas utilizam modelos digitais (Programas como Energy+, Daysim ou Ecotect) e analógicos (túnel de vento) para analisar e avaliar soluções. Embora estes modelos possam facilitar a previsão e geração de soluções alternativas, exigem no entanto uma nova atitude colaborativa entre especialistas de diferentes áreas, para evoluir soluções e para validar testes de simulação que não existiam quando estes projetos foram construídos.

Sistema construtivo e fabricação digital

Embora Severiano utilize diversos sistemas construtivos, segundo alguns dos autores analisados, as suas estratégias de adaptação ao local são mais efetivas quando utiliza sistemas construtivos de madeira. Entre as suas obras que utilizam sistema construtivo de madeira (ainda que não exclusivamente, sendo por vezes sistemas mistos) são o centro ambiental Balbina SOS, a casa do Arquiteto, a casa Robert Schuster, o restaurante Chapéu Palha e a Aldeia SOS. Estando este artigo focado em aspetos mais operativos, não é de descurar a importância do aspeto linguístico para a integração cultural e social das obras de Severiano Porto. As construções em madeira fazem referência às construções autóctones dos indígenas e caboclos e nesse sentido identificam-se mais com o contexto cultural da Amazónia. Apesar dos sistemas construtivos em madeira serem destacados na sua obra, hoje há algumas limitações à construção em madeira. Nesse sentido será agora analisadas as limitações e as novas possibilidades atuais da construção em madeira, identificando potencialidades futuras.

Severiano Porto, Casa Robert Schuster, Manaus, 1978, desenvolvendo sistema construtivo em madeira
Imagens divulgação [Acervo Severiano Porto]

Dificuldades e oportunidades construção em madeira

Segundo Hugo Segawa (16) a construção no Brasil em madeira é desvalorizada por estar associada à construção rural anterior ao modernismo de concreto armado e à correspondente ascensão social. Segundo este autor existe também falta visão de políticos e dirigentes. Nos EUA é muito valorizado o arquétipo da construção original de madeira o que não acontece no Brasil. Alguns sistemas construtivos vernaculares como a construção em madeira e a construção com adobe são utilizados desde os ano 1930 no Brasil. Segawa refere exemplos dos 80’ deste tipo de construções no capítulo “Os materiais da natureza e a natureza dos materiais”. Refere que há questões ambientais da exploração da madeira no Brasil que limitam a utilização de madeira no país, apesar de esta ser exportada massivamente.

Houve outros arquitetos que desenvolveram sistemas construtivos em madeira, incorporando antigos saberes, como José Zanine e Lúcio Costa (3ª Casa Thiago Mello, Amazonas 1987-88). Um dos problemas da construção em madeira identificado por Lúcio Costa nos anos 80’ foi a necessidade de testar encaixes e soluções construtivas no local, o que traz problemas de fiscalização. O problema da fiscalização é a dificuldade de prever qual a solução a adotar no licenciamento, estando a solução dependente de testes no local. Para ultrapassar este problema Lúcio Costa utilizou modelos análogos à escala para testar e avaliar soluções antes da obra. Outra dificuldade de implementar e generalizar o sistema construtivo que Severiano Porto utilizou é a questão de exigir mão-de-obra qualificada local. Argumenta-se que com a fabricação digital é possível ultrapassar este problema, baixando o custo e permitindo personalização.

Atualmente a construção com madeira e derivados tem vindo a despertar interesse em diversos países pela sua natureza ambiental. O menor impacto da sua construção no meio natural, a questão de ser biodegradável e o conforto térmico são algumas das vantagens destacadas. Neste particular a sua utilização só será sustentável se a sua extração e plantação forem planejadas e controladas. Sendo o Brasil uma dos países mundiais com maior produção de madeira e possuindo infraestruturas tecnológicas desenvolvidas a utilização da madeira na construção é reduzida, nomeadamente em edifícios pré-fabricados. Esta reduzida aplicação está associada mais a questões culturais e políticas do que técnicas (17).

Instant House, estudo de geração e fabricação digitais aplicados à construção de arquitetura para situações de emergência, MIT, EUA, 2005
Imagens divulgação [Larry Sass/ MIT]

Da produção em série à produção em massa diferenciada

A produção em série limitou o desenvolvimento de soluções personalizadas. No entanto as ferramentas digitais oferecem a possibilidade de produzir soluções personalizadas com um maior grau de variação, sem aumentar o custo. Tal é possível encurtando o processo produtivo com a introdução de processos e ferramentas digitais na conceção, simulação e fabricação digital (CAD-CAE-CAM). Ao encurtar o processo construtivo é conseguida uma maior diversidade de soluções associadas aos sistemas paramétricos. Outros dos aspetos é a montagem em fábrica de edifícios. Tal permite controlar melhor a produção, melhores acabamentos e menores custos de montagem no local.

Durante o processo produtivo é também possível a realização de protótipos análogos em diversas escales até à escala real. A realização de modelos em diversas escalas permite testar e antever as soluções antes de estas serem executadas. Permite também que os encaixes e pré-montagens finais sejam efetuados em fábrica.

Os processos de fabricação têm sido utilizados para desenvolver soluções para problemas de habitação em massa. Existem alguns exemplos como o projeto Instant House e Casa Nova Orleães desenvolvidos pelo MIT (18). Existem também exemplos desta pesquisa na América latina como projeto Casa Generativa uma parceria entre universidades liderada por Rodrigo Garcia Alvarado e Benamy Turkienicz (19), ou o Projeto Ekó House projeto multi-disciplinar, coordenado na arquitetura por José Ripper Kós, que representou o Brasil no Solar Decathlon de 2012 (20).

Fabricação digital, exemplos de projetos colaborativos desenvolvidos na América do Sul. “Casa Generativa”, de Alvarado e Turkienicz, 2010; Éko House, universidades e parceiros brasileiros, concurso Solar Decathlon, 2012
Fotos divulgação [ALVARADO, R.G.; TURKIENICZ, B.; KÓS, J.R.; FAGUNDES, T.C.]

O autor deste artigo é professor na UFRJ onde foi reforçar a aposta na integração digital através do LAMO, Laboratório de fabricação digital. É vice-coordenador do LAMO dirigido pelo Prof. Andrés Passaro. Um dos primeiros trabalhos foi a construção da primeira wiki-house da América latina. O projeto da WikiHouse (Casa Revista) foi desenvolvido durante a tese final de graduação pela Clarice Rohde sendo foi depois fabricado digitalmente e montado no lugar pelo LAMO e por uma equipe de alunos voluntários.

Projeto Wiki-House/ Casa Revista, montagem e construção LAMO-UFRJ, Março 2015
Fotos divulgação [Clarice Rohde/LAMO]

Conclusão e perspetivas futuras

Foram sugeridas algumas possibilidades de expandir o legado de Severiano Porto utilizando os meios digitais em diferentes fazes de projeto, sendo neste caso destacada a aplicação na simulação e na fabricação digital. Estas possibilidades permitem alargar estratégias de adaptação utilizadas pelo arquiteto em mais casos. Outros exemplos da aplicação dos meios digitais poderia ser o desenvolvimento de gramáticas da forma que codifiquem a linguagem do arquiteto. Nesse caso será importante avaliar o desempenho das soluções relativamente a diferentes aspetos. Também poderão ser instalados mecanismos ativos de controlo de condições ambientais, mas dado o caráter social os mecanismos de adaptação passiva serão mais fáceis de aplicar.

No entanto como referido só a integração das diversas fases com os meios digitais poderá encurtar o processo e aumentar as possibilidades de escolha. Nomeadamente na fase generativa (CAD) de simulação (CAE) e fabrico (CAM). Este é um aspeto destacado na procura de soluções eficientes e ecológicas como referem Kós e Fagundes no artigo acima citado. Esta modificação tecnológica implica redesenhar o processo de projeto, para que este seja multidisciplinar, mais inclusivo e inclua diferentes especialidades e especialistas. Neste aspeto o LAMO pretende expandir a tradição, inovando.

notas

1
PASSARO, Andrés; HENRIQUES, Gonçalo Castro; "Abrigos Sensíveis, do método ao conceito, superando a instrumentalização", XIX Congresso Ibero-Americano de Gráfica Digital, Informação de Projeto para a interação, Alice T. Pereira e Regiane Pupo (eds), Blucher Publishing, Florianópolis UFSC, Novembro 2015, pp. 94-100, DOI 10.5151/despro-sigradi2015-30155. Ver também https://vimeo.com/126453671

2
PASSARO, Andrés; ROHDE, Clarice. Casa Revista: arquitetura de fonte aberta. XIX Congresso Ibero-Americano de Gráfica Digital. In PEREIRA, Alice T.; PUPO, Regiane (Org.), Florianópolis, Blucher Publishing/UFSC, nov. 2015, p. 70-76 <www.proceedings.blucher.com.br/article-details/casa-revista-arquitetura-de-fonte-aberta-22301>

3
FRAMPTON, Keneth. Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture of Resistance. In FOSTER, Hal (Org.). Postmodern Culture. London, Pluto Press, 1983.

4
REIS Filho, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo, Perspectiva, 1978.

5
BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo, Perspectiva, 1981.

6
SANTOS, Paulo. Quatro séculos de arquitetura. Rio de Janeiro, IAB, 1981.

7
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo, Edusp, 1999.

8
JHONES, Keyce. Severiano Mário Porto. Homenagem ao arquiteto e preservação da memória de sua obra. Drops, São Paulo, ano 14, n. 078.01, Vitruvius, mar. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/14.078/5077>.

9
Idem, ibidem.

10
RODRIGUES DE CAMPOS, Elizabete. A arquitetura brasileira de Severiano Mário Porto. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 043.08, Vitruvius, dez. 2003 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.043/631>.

11
LIMA, Adson Cristiano Bozzi Ramatis. Architecture d’Hier: o sequestro da arquitetura brasileira dos anos 1980 pela revista AA. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 104.04, Vitruvius, jan. 2009. <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.104/83>.

12
HESPANHA, Sérgio Augusto Menezes. Severiano Porto. Entre o regional e o moderno. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 105.05, Vitruvius, fev. 2009 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.105/76>.

13
Sobre a integração digital escrevem Oxman, Kolarevic, Mitchell, Celani entre outros. Sobre a problemática do digital no Brasil e em Portugal ver: HENRIQUES, Gonçalo Castro; BUENO, Ernesto. Geometrias Complexas e Desenho Paramétrico. Drops, São Paulo, ano 10, n. 030.08, Vitruvius, fev. 2010 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.030/2109>.

14
ROVO, Mirian Keiko Ito; SANTOS OLIVEIRA, Beatriz. Por um regionalismo eco-eficiente: a obra de Severiano Mário Porto no Amazonas. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 047.04, Vitruvius, abr. 2004 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.047/594>.

15
NEVES, Letícia de Oliveira. Arquitetura bioclimática e a obra de Severiano Porto: estratégias de ventilação natural. Dissertação de mestrado. São Carlos, Escola Engenharia de São Carlos, USP, 2006.

16
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil / Anos 80. São Paulo, Projeto, 1988.

17
A este respeito, ver: VALLE Ivan M. R. do; INO, Akemi; FOLZ, Rosana Rita; CALLIL, João. Pré-fabricação na construção em madeira. Revista da Madeira n.133, dez. 2012 <www.remade.com.br/br/revistadamadeira_materia.php?num=1632>.

18
Sobre Digital Design Fabrication Group, liderado por Larry Sass no MIT, ver: Design Fabrication Group <http://ddf.mit.edu>

19
ALVARADO, Rodrigo Garcia; TURKIENICZ Benamy. Generative House: Exploration of Digital Fabrication and Generative System for Low-Cost Housing in Southern Brazil, SIGraDi 2010. Proceedings of the 14th Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics, Bogotá, Colombia, November 17-19, 2010, p. 384-387 < http://cumincad.scix.net/cgi-bin/works/Show?sigradi2010_384>. Ver também: Blog Casa Generativa <http://casagenerativa.blogspot.pt>.

20
KÓS, José Ripper; FAGUNDES, Thêmis da Cruz. Tecnologias para integração e colaboração: o projeto da casa solar brasileira. Proceedings do XIV Congresso Ibero-americano de Gráfica Digital. Bogotá, Colômbia, 2010, p. 268-271.

sobre o autor

Gonçalo Castro Henriques é arquiteto, pesquisador e professor sobre a integração de processos generativos (Design algorítmico, paramétrico e scripting) com simulação e manufatura digital (CAD-CAE-CAM). Vice-coordenador do laboratório de fabricação LAMO/UFRJ. Doutor Europeu (FAUTL-Lisboa), Mestre (ESARQ-UIC, Barcelona) Arquiteto (ESAP-Porto).

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