Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Jorge Coli comenta sua experiência no Facebook, que vetou uma pintura de Gustave Courbet, uma imagem erótica relativamente comportada diante de outras mais cruas que pululam na internet.

how to quote

COLI, Jorge. Erotismo em tempos de cólera e boçalidade. Drops, São Paulo, ano 18, n. 120.04, Vitruvius, set. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.120/6703>.


Na semana passada, fui suspenso por três dias do Facebook porque postei um nu de Gustave Courbet. Uma jovem, do umbigo para cima, braços levantados, apoia-se num galho florido. Minha punição se abateu por obra de algum robô puritano.

A pose valoriza os seios. Depois dos três dias de castigo, pus, por troça, tarjas sobre os mamilos e postei de novo. O robô não se escandalizou e deixou passar.

Decerto, ele não leu o livro clássico sobre o tema, "O Nu", de Sir Kenneth Clark. Nele há uma clara distinção: existe "naked" (traduzido como nudez) e "nude" (nu). O nu é artístico, a nudez é banal e, no pior dos casos, pornográfica. O livro lembra que no mais idealizado dos nus permanece sempre algo de erótico. Mas nega que isso funcione no sentido inverso: uma imagem apenas pornográfica não conteria o menor resíduo artístico.

O nu é um gênero constante e antigo nas artes plásticas. A criação clássica, mediterrânea, fundou-se na beleza do corpo humano. No entanto, se a confortável e nítida distinção entre "arte" e "obscenidade" acomoda a moral, ela não satisfaz a verdade das coisas.

Clark retoma a velha afirmação a respeito da dificuldade própria ao nu fotográfico: por causa de seu "realismo", ele resistiria à idealização. Isto revela apenas uma concepção estreita que confina a arte ao idealizado.

O Facebook mistura arte e pornografia, e nisso está mais certo do que parece. Ao assinalar o conservadorismo de nosso tempo, mostra que sua irrealidade é esquizofrênica. Enquanto as imagens eróticas mais cruas estão disponíveis na internet, enquanto a pornografia continua sendo, e de longe, o tema mais buscado, seios não podem aparecer no Facebook. Artísticos ou não.

Hoje, as artes exploram não apenas o nu, mas suas inflexões sexuais, abandonando o álibi da idealização. Por coincidência, visitei duas mostras em que o nu é o eixo. Estão em São Paulo, uma na Galeria Fortes D'Aloia & Gabriel, outra na Galeria Tato. Ambas expõem nus masculinos.

Nos museus, o número de mulheres sem roupa é bem maior do que o de homens despidos, fato que os movimentos feministas vêm denunciando. Mas a virilidade exposta predominou ao menos em dois momentos cruciais: na Grécia antiga e no Renascimento florentino.

A sensibilidade sobre o nu masculino mudou. Abandonou a beleza espiritual para se sexualizar. O Apolo do Belvedere ou o Davi de Michelangelo foram vinculados à cultura gay. Ou seja, inseriram-se num nicho de específico erotismo perturbado por preconceitos. As obras tornam-se, nessa perspectiva, bem mais pobres.

As duas exposições em São Paulo vinculam-se à cultura gay, ou queer, se se quiser. São, no entanto, muito mais complexas do que isso. A Fortes propõe um paralelo entre Robert Mapplethorpe e Alair Gomes, até 7/10.

Para o primeiro, os processos construtivos, seja na preparação em estúdio, seja na escolha cuidada dos enquadramentos, significam o domínio do fotógrafo sobre a imagem, e sua capacidade de impô-la, por desafio ou por cumplicidade. Há uma redução à vontade artística e à soberania do autor que está visível, por assim dizer, em cada obra.

Alair Gomes situa-se, ao contrário, do lado de fora. Transforma o ato voyeur em arte elevada. Não "possui" as imagens, no sentido de que um espírito pode possuir um corpo, como em Mapplethorpe. Ele as contempla com uma comoção um pouco adoradora.

Aqueles jovens das praias são deuses, investidos pela poesia, pela beleza e pela juventude. Estão no intangível mundo que lhes pertence e merecem devoção. Classicismo do desejo transfigurando-se em pura beleza.

A galeria Tato expõe até 30/9 obras de Francisco Hurtz. O núcleo essencial de sua criação são desenhos firmes, despojados e nítidos, traçados pelo contorno. Os corpos tornam-se delicadas épuras, pequenas, situando-se entre o signo e a representação. Possuem algo do ideograma.

Perfeitos como modelos para tatuagens, espalharam-se pelo Brasil e fora dele como marca orgulhosa de identidade sexual. É uma arte militante, provocadora, muito original e sugestiva. Num paradoxo, sugere alguma coisa de inocente.

Não é plausível, hoje, reencontrar o olhar dos gregos e dos florentinos diante do nu viril e fazer predominar energia, força e beleza sobre as implicações eróticas. Nosso olhar sexualizou-se sem remédio. Graças a isso, a questão tornou-se outra.

Mistura arte e ética: trata-se de proteger e estimular toda percepção que ultrapasse as reações de superfície, vencendo o obscurantismo boçal de suas eternas inimigas: as hostilidades morais e pudicas.

nota

NE – publicação original do artigo: COLI, Jorge. Mesmo com imagens eróticas mais cruas na internet, Facebook veta seios. Folha de S.Paulo, São Paulo, 17 set. 2017.

sobre o autor

Jorge Coli é professor titular e diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, Campinas SP, Brasil.

biblioteca tempos temerários

Tempos Temerários é um projeto de Abilio Guerra e Giovanni Pirelli, produzido pela equipe do Marieta (portal Vitruvius + Irmãos Guerra Filmes + produtora Cactus), que visa ser um momento de debate sobre temas da atualidade, como um laboratório permanente para pesquisar técnicas, ações e ideias de resistência e transformação politica, social e cultural.

ADFAUPA, Diretoria Colegiada. Dia(spora) de arquitetos. Drops, São Paulo, ano 18, n. 123.07, Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.123/6815>.

BRUM, Eliane. Gays e crianças como moeda eleitoral. El País, Madri, 18 set. 2017 <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/18/opinion/1505755907_773105.html>.

COLI, Jorge. Erotismo em tempos de cólera e boçalidade. Drops, São Paulo, ano 18, n. 120.04, Vitruvius, set. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.120/6703>.

COLI, Jorge. Por moralismo torpe, pessoas decidem eliminar a reflexão e neutralizar a arte. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.06, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6734>.

COLI, Jorge. Toda nudez será castigada. Drops, São Paulo, ano 18, n. 122.02, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.122/6756>.

GUERRA, Abilio. As imagens e a palavra de Deus no gospel brasileiro. Sobre o musical Terremoto Santo, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 190.02, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.190/6733>.

FONSECA, Ricardo Marcelo. Um ano de ataques contra as universidades públicas brasileiras. Nota do reitor da UFPR. Drops, São Paulo, ano 18, n. 123.02, Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.123/6800>.

GUERRA, Abilio. Notícias dos tempos temerários. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 189.04, Vitruvius, set. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.189/6706>.

LIRA, José. Tempos sombrios. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.01, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6713>.

LUZ, Afonso. Lygia Clark: todo bicho tem articulações. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.03, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6719>.

LUZ, Afonso. Trolagem institucional. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 190.01, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.190/6718>.

MARTINS, Carlos A. Ferreira. Quem quer acabar com a universidade pública? Drops, São Paulo, ano 18, n. 123.04, Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.123/6805>.

MEDEIROS, Afonso. Sobre o ataque do MBL à exposição Queermuseu em Porto Alegre. Drops, São Paulo, ano 18, n. 122.08, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.122/6786>.

MIYADA, Paulo. Carta ao prefeito de São Paulo. Sobre o nu no MAM-SP. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.02, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6714>.

PINHEIRO-MACHADO, Rosana. A nova direita conservadora não despreza o conhecimento. Carta Capital, São Paulo, 10 out. 2017 <https://www.cartacapital.com.br/politica/a-nova-direita-conservadora-nao-despreza-o-conhecimento>.

TIBURI, Marcia. Como seria o julgamento de Lula se estivéssemos em uma democracia. Drops, São Paulo, ano 18, n. 124.03, Vitruvius, jan. 2018 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.124/6836>.

TIBURI, Marcia. Sobre os últimos acontecimentos. A arte, a alma, os inquisidores. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.05, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6732>.

TOURINHO, Emmanuel Zagury. Agressão à liberdade de expressão. Nota oficial da UFPA. Drops, São Paulo, ano 18, n. 122.09, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.122/6787>.

 

comments

120.04 censura
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

120

120.01 coletivo

Goma oficina

Horizontalidade, troca e aprendizagem contínua

Maria Cau Levy and Vitor Pena

120.02 homenagem

Parabéns, papai

Ana Paula Bruno

120.03 crítica

Um olhar sobre Exodus de Rem Koolhaas

Emílio Bertholdo Neto

120.05 urbanização

Definitivamente, Brasília não é uma cloaca!

Concordando com Milton Hatoum

Aldo Paviani

120.06 cidade

O retorno dos criativos

A Galeria Metrópole e os edifícios multifuncionais

Emílio Bertholdo Neto

120.07 política

Sobre a corrupção no Primeiro Mundo: isto existe?

Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima

120.08 premio

RCR Arquitectes

Premio Pritzker, o que lo improbable suceda en el espacio

Humberto González Ortiz

120.09 urbanização

A Rocinha não precisa e não quer banho de loja, quer e merece muito mais!

Luiz Carlos Toledo

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided