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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
É urgente que os tomadores de decisões tenham uma real compreensão do papel da biodiversidade urbana para comunidades saudáveis, seguras, sustentáveis e resilientes

english
It is urgent that our decision makers have a real understanding of the role of urban biodiversity for healthy, safe, sustainable and resilient communities

how to quote

HERZOG, Cecilia P.. Conectando as magníficas paisagens do Rio de Janeiro. Minha Cidade, São Paulo, ano 13, n. 145.06, Vitruvius, ago. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/13.145/4445>.



As paisagens da cidade do Rio de Janeiro, uma cidade com 6, 3 milhões de habitantes, são realmente impressionantes e únicas. É o resultado de cinco séculos de interações entre o homem e a natureza. Na semana passada a Unesco elegeu parte da cidade como Patrimônio Cultural do Mundo.

É muito significativo que a maioria das imagens premiadas tenha os maciços cobertos por Mata Atlântica com alta biodiversidade que se regenerou dos impactos causados por séculos de exploração de recursos naturais e de práticas de agricultura que tinham eliminado a cobertura vegetal nativa (1). Na verdade as florestas estão fragmentadas, cercadas por densa ocupação urbana e sob pressão de expansão que repete os mesmo enganos feitos no passado. As áreas urbanizadas ocupam prioritariamente as terras mais baixas, onde lagoas oceânicas e brejos foram aterrados com o desmonte de muitos morros. O Parque do Flamengo (um dos locais eleitos) é um enorme aterro com 1,2 Km², onde o paisagista Roberto Burle Marx, reconhecido mundialmente, foi o responsável pelos magníficos jardins.

No maciço da Tijuca, onde se situa o Cristo Redentor que olha sobre a cidade, plantações de café substituíram as florestas e depois foram abandonadas deixando uma paisagem seca coberta por gramíneas. No século XIX suas encostas foram parcialmente replantadas para restaurar as fontes de água, com a regeneração natural que ocorreu em vastas áreas dos dois maiores maciços da cidade: Tijuca e Pedra Branca. Ambos se tornaram áreas protegidas. O Parque Nacional da Tijuca é um dos locais eleitos pela Unesco. Nos últimos 25 anos, o bem sucedido programa da Secretaria do Meio Ambiente “Mutirão Reflorestamento”, efetivamente replantou árvores com intuito de conter deslizamentos, muitos próximos a favelas. Trata-se de um programa sócio-ecológico porque emprega e capacita moradores das comunidades locais para o plantio e monitoramente, que acabam se tornando guardiões da floresta.

O verde se submete ao cinza

Apesar da natureza estar quase sempre presente em nossas belas vistas, as áreas urbanizadas são altamente impermeáveis e cinzas, especialmente na Zona Norte onde não há quase nenhum remanescente de área verde, nem mesmo praças públicas. A cidade tem ambientes extremamente diversificados, com florestas luxuriantes e belos parques contrastando com ruas áridas, quentes e barulhentas onde a maioria da população vive. A maior parte do tempo faz muito calor. Por exemplo, hoje é inverno e a temperatura no meio do dia é de 29°C. Moro perto da floresta, onde é bastante agradável com muitas árvores, pássaros e insetos. Espécies nativas e exóticas invasoras estão presentes e deveriam ser permanentemente manejadas. A biodiversidade abunda especialmente perto dos remanescentes dos ecossistemas florestais. Na verdade, se deixar as janelas abertas de manhã macacos-prego (Cebus apella) entram no meu apartamento. Muitos moradores os alimentam, portanto retornam atrás de comida fácil e não apropriada para eles. Ao mesmo tempo, se eu descer um quarteirão, o engarrafamento é constante, as temperaturas são mais elevadas e as árvores das ruas estão velhas, sob intensa pressão em situações inadequadas, muitas estão morrendo e não estão sendo repostas.

As pessoas valorizam os morros com as florestas e as praias principalmente para recreação, para caminhar, andar de bicicleta ou apenas para contemplar. Não estou certa de como reconhecem e valorizam os serviços ecossistêmicos (ou ambientais, como são mais conhecidos) prestados pelas florestas e pelas árvores urbanas. Existe uma enorme oportunidade para pesquisar sobre ecologia urbana no Brasil, mas ainda não há educação formal nos campos de ecologia urbana e planejamento urbano/regional da paisagem. Biodiversidade urbana e as relações pessoas-natureza também ainda não são preocupações presentes na maioria das cidades brasileira, onde nos últimos 20 anos shopping centers e jardins cosméticos com tendências globalizadas localizados em condomínios fechados têm se tornado as áreas de lazer de grande parte das cidades, substituindo os espaços públicos abertos onde o encontro com diversidade social acontece.

Natureza urbana não é uma prioridade para os tomadores de decisão do Rio de Janeiro

Para os tomadores de decisões do Rio de Janeiro a natureza urbana não é uma prioridade. Existe uma falta de compreensão do papel da biodiversidade para a qualidade de vida em uma cidade saudável. As áreas urbanizadas estão sujeitas a enchentes e deslizamentos devido às mudanças históricas do uso do solo e da cobertura vegetal. A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos irão ocorrer nos próximos anos e estão levando a uma rápida expansão urbana que segue os mesmos padrões de transformação dos remanescentes de áreas alagáveis localizados nas baixadas de Jacarepaguá e Guaratiba. Áreas alagadas estão sendo aterradas para dar lugar a estradas (para carros e BRT’s) e para o processo especulativo do mercado imobiliário. O último remanescente de manguezal legalmente protegido (Reserva Biológica de Guaratiba) está sob ameaça de desaparecer pelo excesso de salinidade, devido à nova estrada que foi construída com técnicas tradicionais de engenharia que interferem nos fluxos hidrológicos, que estão causando enchentes mais freqüentes e recorrentes nas áreas residenciais do outro lado da estrada, segundo seus moradores. Outras estradas estão sendo projetadas e construídas sem o devido entendimento da ecologia das paisagens, e seus processos e fluxos, com a eliminação da biodiversidade e alteração na dinâmica das águas.

Planejando corredores verdes

Por outro lado a Secretaria do Meio Ambiente da Cidade (SMAC) está trabalhando em um novo plano de Corredores Verdes para reconectar os fragmentos florestais e tentar conter danos ecológicos irreversíveis nas áreas de expansão urbana. Celso Junius, coordenador do Mosaico Carioca, junto com 20 especialista de 8 departamentos da cidade constituíram um Grupo de Trabalho que desenvolveu a proposta inicial para os Corredores Verdes (2). A Secretaria do Meio Ambiente fez um excelente trabalho com o mapeamento dos remanescentes de ecossistemas de Mata Atlântica da cidade e de disponibilizá-los amplamente na internet, onde é possível emitir relatórios de acordo com os diversos interesses (3). O “Sigfloresta” é uma ferramenta importante para monitorar de forma efetiva a cobertura vegetal e está sendo usada para desenvolver o plano dos Corredores Verdes.

Projeto que mimetiza a natureza nas cidades

O Inverde (4) está colaborando de forma voluntária, para desenvolver mais detalhadamente o plano de infraestrutura verde, focando inicialmente na baixada de Jacarepaguá. A bacia hidrográfica local é vulnerável à elevação do nível do mar, com a maior parte de suas áreas não tendo mais do que 1 metro acima do nível do mar atual. As áreas alagáveis e as áreas baixas estão sendo aterradas e os seus rios e córregos retificados e canalizados pelo sistema de macrodrenagem, que também é do século XX, quando se tinha a pretensão de controlar as forças da natureza.

Pierre Martin, paisagista formado na França (sócio do escritório Embya) e eu estamos comprometidos a contribuir para incrementar o relatório final dos “Corredores Verdes Olímpicos”, os quais irão conectar os fragmentos protegidos pelos maciços da Pedra Branca e da Tijuca através da Baixada de Jacarepaguá. O objetivo é aprofundar e ilustrar as propostas na escala da bacia hidrográfica e local para uma melhor compreensão do imenso potencial que existe ao se mudar para o novo paradigma sócio-ecológico que mimetiza a natureza na cidade, e de planejar a paisagem urbana para que tenha alto desempenho em diversas funções: para as águas, a biodiversidade e as pessoas.

Nós do Inverde, também acreditamos que educação e conscientização das pessoas é fundamental para que possamos obter suporte para a proposta. Nós promovemos e gravamos uma palestra aberta ao público de maio de 2012, a qual em breve estará disponível no Youtube. Nós também coorganizamos um seminário com a Secretaria do Meio Ambiente da Cidade e o Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro durante a Rio+20. Foi um evento oficial focado em especialistas e cientistas para trabalhar em conjunto para aprimorar o plano com base em ciência. Estamos todos comprometidos a dar andamento a esse plano de forma contínua, com mais pesquisas em ecologia urbana para melhor compreender os processos e fluxos abióticos e bióticos, bem como as relações sócio-ecológicas. A idéia não é fazer uma “maquiagem verde” (greenwashing) para a expansão urbana, mas mudar para um novo processo de planejamento transdisciplinar e para desenvolver métodos de projeto que incorporem conhecimentos científicos sócio-ecológicos.

Fernando Chacel

Existem exemplos locais de restauração ecológica que foram projetados por Fernando Chacel, o paisagista pioneiro com uma visão sistêmica. Ele planejou e projetou parques “estado-da-arte” ao longo das lagoas de Jacarepaguá, a baixada que sofre pressão de expansão urbana onde se localizou a Rio+20. Ele começou a projetar a recuperação dos corredores marginais das lagoas na década de 1980 até ficar doente em 2009 (infelizmente, faleceu no ano passado). Ele recompôs paisagens degradadas, reintroduzindo com grande beleza ecossistemas nativos e respeitando a sua fitosociologia. Ele trabalhou com equipes multidisciplinares.

Seu legado deve ser reconhecido e servir de inspiração para os novos profissionais: ele desenvolveu a teoria da “ecogênese”, onde foi aprender com a natureza para restaurar e proteger os manguezais, restingas e florestas paludosas de baixada. Seu livro Paisagismo e ecogênese (5) deveria estar disponível em todas as escolas brasileiras que ensinam sobre o tema.

O potencial verde do Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro tem um enorme potencial para ser uma das cidades mais verdes do mundo, não apenas em mitigação de gases efeito estufa e em coleta e disposição de resíduos sólidos (dois alvos prioritários dessa administração).

A infraestrutura verde na escala urbana é espetacular e deveria ser preservada e aprimorada através da conexão dos remanescentes florestais, para que possam fazer a troca de material genético de fauna e flora, além de oferecer mobilidade multimodal, sistêmica, limpa, confortável e segura para as pessoas, principalmente para pedestres e bicicletas.

É urgente que os tomadores de decisões tenham uma real compreensão do papel da biodiversidade urbana para comunidades saudáveis, seguras, sustentáveis e resilientes. A natureza urbana pode oferecer inúmeros serviços ecossistêmicos onde as pessoas vivem, trabalham e se divertem: ao longo das ruas, em canais renaturalizados, em tetos e quintais, em parques e praças projetados para ter alto desempenho sócio-ecológico com plantio intensivo de árvores nativas (não palmeiras!).

notas

NE
Original publication: HERZOG, Cecilia. Connecting the Wonderful Landscapes of Rio de Janeiro. In The Nature of Cities – A collective blog on cities as ecological spaces. Posted on July 10, 2012 <www.thenatureofcities.com/2012/07/10/green-corridors-in-rio>.

1
Rio de Janeiro: Carioca Landscapes between the Mountain and the Sea. In website da Unesco <http://whc.unesco.org/en/list/1100/>.

2
Corredores verdes – relatório final. In website Mosaico Carioca <http://mosaico-carioca.blogspot.com.br/search?updated-max=2012-05-23T22:41:00-03:00&max-results=3>

3
Florestas do Rio. In website da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro <http://sigfloresta.rio.rj.gov.br.

4
Instituto de Pesquisas em Infraestrutura Verde e Ecologia Urbana – Inverde <http://inverde.wordpress.com>.

5
CHACEL, Fernando Magalhães. Paisagismo e ecogênese. Rio de Janeiro, Fraiha, 2001.

sobre a autora

Cecilia Herzog é paisagista urbana e mestre em urbanismo, presidente co-fundadora do INVERDE Instituto de Estudos, Pesquisas e Projetos em Infraestrutura Verde e Ecologia Urbana. Pesquisadora independente com foco em como as cidades podem se tornar sustentáveis e resilientes com a reintrodução de biodiversidade nativa em áreas urbanizadas para fornecer inúmeros serviços ecossistêmicos onde as pessoas vivem, trabalham e se divertem. Dentre outros projetos, Cecilia colabora voluntariamente com a Secretaria do Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro (SMAC) no desenvolvimento do plano de Corredores Verdes (Mosaico Carioca).

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