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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
O artigo descreve a análise da paisagem que circunda a Igreja da Candelária, situada na cidade do Rio de Janeiro. Esse estudo é o resultado da releitura do artigo produzido em 2006 na disciplina de Arquitetura da Paisagem, no Curso de Mestrado da UFRJ.

english
The article describes the analysis of the landscape surrounding the Church of the Candelaria, located in the city of Rio de Janeiro. This study is the result of a re-reading of the article produced in 2006 in Landscape Architecture, at the UFRJ Master's C

español
El artículo describe el análisis del paisaje que rodea la iglesia de la Candelaria, que se encuentra en Río de Janeiro. Este estudio es el resultado de volver a leer el artículo publicado en 2006 en máster de la UFRJ.

how to quote

MILEIB RAMIRES, Giovana. O Largo da Candelária. Minha Cidade, São Paulo, ano 18, n. 205.03, Vitruvius, ago. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/17.204/6586>.


Largo da Candelária
Foto Giovana Mileib Ramires, 2017


A área de estudo se situa na cidade do Rio de Janeiro, capital do estado do Rio de Janeiro. O local propriamente dito está localizado no centro da cidade, próximo ao litoral que é conformado pela Baía de Guanabara e engloba em torno de doze quadras que circundam a Igreja da Candelária.

Área de estudo: 01. Praça XV; 02. Rua 1º de Março; 03. Igreja da Candelária; 04. Casa França Brasil; 05. Prédios dos Correios; 06. Centro Cultural Banco do Brasil; 07. Centro Cultural dos Correios; 08. Avenida Perimetral; 9. Avenida Presidente Vargas
Foto divulgação [Manipulação sobre Google Maps]

Durante o desenvolvimento da disciplina, alguns textos e livros foram lidos e de alguma forma ajudaram na construção dessa análise. Silvio Soares Macedo (1), Aldo Rossi (2), e Ethel Pinheiro Santana e Vera Regina Tângari (3) e se incluem nessa lista de autores que deram um embasamento teórico para a formulação desse artigo.

História e transformação da paisagem

A área de estudo, por se localizar no centro do Rio de Janeiro, possui uma história antiga que se confunde um pouco com o início da evolução urbana da cidade. O que se propõe aqui é fazer um breve panorama histórico da área em questão através de uma cronologia (4) da construção de suas arquiteturas e dos fatos que marcaram e/ou influenciaram a evolução da paisagem desse lugar. Um ponto importante a ser destacado é o caso da Avenida Perimetral que por muitos anos fez parte da paisagem do Largo da Candelária e que após a aprovação do projeto Porto Maravilha foi retirada (a demolição se deu em etapas no período entre novembro de 2013 e julho de 2014), mudando drasticamente a composição espacial do local, incluindo as visadas que se tem agora do mar e principalmente a liberação de um grande espaço vazio como podemos conferir adiante.

Cronologia das edificações do Largo da Candelária e seu entorno (5)

Praça XV, local do Cais Pharoux, antigo porto do Rio de Janeiro
Foto Giovana Mileib Ramires, 2006

Rua 1º de Março, trilha no século 17, se torna local predileto dos mercadores e, no século 18, já era uma das ruas de mais movimento na cidade. A partir dela, várias outras ruas surgiram
Foto Giovana Mileib Ramires, 2006

Igreja da Candelária, construção com início em 1778 e conclusão em 1898
Foto Giovana Mileib Ramires, 2006

Casa França Brasil, edificação inaugurada em 1820 (funcionava uma espécie de bolsa de valores), passou por vários usos até se transformar na atual instituição em 1990
Foto Abilio Guerra, 2017

Prédios dos Correios, construção com início em 1875 e conclusão em 1877
Foto Giovana Mileib Ramires, 2006

CCBB, construído entre 1880 e 1906, abrigou a Associação Comercial do Rio de Janeiro e depois diretoria e agências bancária do Banco do Brasil, até se tornar a instituição atual
Foto Abilio Guerra, 2017

Centro Cultural dos Correios, construção do início do século 20
Foto Giovana Mileib Ramires, 2006

Avenida Perimetral, executada na década de 1960 para ligar as zonas sul e norte da cidade
Foto Giovana Mileib Ramires, 2006

Estrutura morfológica básica

A área em questão se estrutura em cima de um traçado ortogonal e seus lotes se apresentam basicamente de três formas (o lote colonial, o lote “tipo quadra”, e o lote com dimensões intermediárias aos citados anteriormente) gerando em conseqüência disso, seis tipos morfológicos.

Planta com traçado ortogonal [Planta da autora sobre base cadastral de arquivo eletrônico da Prefeitura da Cidade do Rio]

No primeiro tipo, em conseqüência da herança do período colonial, temos os sobrados que ocupam todo o lote e variam entre 1 a 4 pavimentos. No segundo tipo podemos observar os edifícios que ocupam praticamente toda a quadra ou grande parte dela, como é o caso do CCBB, o edifício dos Correios, e a Igreja da Candelária. No terceiro e quarto tipo, em função do lote de dimensões intermediárias, o que podemos perceber é uma influência da era do Plano Agache, onde os pátios de iluminação, às vezes situados dentro do próprio prédio às vezes no centro da quadra, compartilhados por todos os edifícios eram muito utilizados. O quinto e sexto tipos também são conseqüentes do lote que chamamos de intermediário, sendo que no primeiro podemos observar edificações com gabaritos elevados e no segundo, edificações com números de pavimentos bem menores. É interessante destacar a variação que o terceiro, quarto e quinto tipos têm quando estes podem se apresentar com pilotis, na sua grande maioria, como mostrou a figura, e também sem o pilotis, como acontece em alguns casos.

Após fazermos o desenho esquemático de figura x fundo da área, podemos perceber como o adensamento é grande, sendo as implantações na sua maioria com taxas elevadas de ocupação da área do lote. É interessante compararmos o desenho esquemático da figura x fundo, onde se destaca o que é construído, com o desenho esquemático do fundo x figura, onde se destaca o que é área livre, para se ter uma melhor compreensão desse adensamento.

À esquerda, planta figura x fundo; à direita, planta fundo x figura [Plantas da autora sobre base cadastral de arquivo eletrônico da Prefeitura da Cidade do Ri]

Aspectos funcionais

É de se esperar que em uma área central vá se encontrar uma variedade grande de usos, e a área em estudo não foge a essa observação. Apesar de se ter uma maioria de edifícios onde o seu uso é empresarial (bancos, escritórios e empresas) encontram-se vários outros usos, e entre eles podemos destacar o uso cultural e o institucional.

Planta de usos [Planta da autora sobre base cadastral de arquivo eletrônico da Prefeitura da Cidade do Rio]

Até o presente momento, muito se falou dos espaços construídos, conformados principalmente pelos edifícios, seus usos e seus aspectos formais, e nada se falou até aqui dos espaços não construídos ou espaços livres como sendo “todos aqueles não contidos entre paredes e tetos dos edifícios construídos pela sociedade para sua moradia” (6), que se fazem tão importantes quanto os espaços construídos dentro do complexo esquema da paisagem urbana. Podemos dizer que nesse caso especificamente da área em estudo, os espaços não construídos se conformam principalmente pelas calçadas ou pelas vias onde os veículos circulam, caracterizando esses espaços como sendo de circulação na sua maioria, mas que não os impede de apresentarem outras funções. Se observarmos o esquema de figura x fundo apresentado anteriormente, podemos identificar uma hierarquia dos espaços livres. Essa hierarquia (baseada na dimensão desses espaços) se confunde um pouco com a hierarquia viária, pois como no esquema viário, temos o Largo da Candelária como sendo o espaço que mais se destaca e abaixo dele temos as demais vias que possuem um nível hierárquico bem inferior, com exceção da Rua Primeiro de Março, se comparado às vias que conformam o largo. Não podemos deixar de falar nos espaços livres privados que, apesar de não serem tão freqüentes no local, participam do esquema de espaços livres da área. Nesse tópico é de grande importância comparar como era o esquema viário antes e após a retirada da Av. Perimetral. A imagem das duas plantas mostra nitidamente a grande mudança espacial que se gerou ao retirar o elevado, e a primeira observação que se faz é que o espaço que antes privilegiava a passagem de carros agora se abre ao uso dos pedestres.

Sistema viário antes da retirada do elevado [Planta da autora sobre base cadastral de arquivo eletrônico da Prefeitura da Cidade do Rio]

Sistema Viário após a retirada do elevado [Planta da autora sobre base cadastral de arquivo eletrônico da Prefeitura da Cidade do Rio]

Espaços livres e o desenho da paisagem

O Largo da Candelária é configurado por vias de nível metropolitano, que captam e distribuem todo o fluxo da Av. Presidente Vargas. Sua função, até por configurar um sistema de vias, é basicamente de circulação de veículos e pedestres. Por conseqüência desse espaço livre que estamos analisando ser um largo, uma outra função se apresenta: de destacar a Igreja da Candelária. Esse destaque, se intensificou após a retirada da Av. Perimetral, pois abriu novas visadas que antes eram impossibilitadas pela presença do elevado além de ter criado uma relação do pedestre com o mar antes bem restritiva.

Planta do Largo da Candelária antes da retirada da Avenida Perimetral [Planta da autora sobre base cadastral de arquivo eletrônico da Prefeitura da Cidade do Rio]

Foto tirada em frente ao Chafariz com vista para onde se situava a Avenida Perimetral
Foto Giovana Mileib Ramires, 2017

Foto panorâmica tirada na área onde se erguia a Av. Perimetral com vista para a Igreja da Candelária
Foto Giovana Mileib Ramires, 2017

Banner exposto no local comparando o antes e depois da retirada da Avenida Perimetral
Foto Giovana Mileib Ramires, 2017

Ao observar o Largo da Candelária em diferentes dias da semana, podemos dizer que ele se configura como um espaço transitório, isso porque percebemos uma característica de sazonalidade muito presente nesse espaço. Essa sazonalidade ou transitoriedade existe porque a função da circulação só é predominante durante a semana, quando o fluxo de carros é incrivelmente maior que o do final de semana. Analisando o Largo somente nos dias durante a semana, podemos dizer que a relação que ele apresenta com seu entorno é de total independência, isso porque a sua principal função que é a de circulação, independe do que acontece nos prédios à sua volta. Carros e pessoas vão e vem sem se relacionar, na grande maioria das vezes, com as construções que ali se encontram. Essa verdade muda de figura quando analisamos o espaço do Largo no final de semana. Percebe-se, de alguma forma, uma relação mesmo que esporádica, do Largo com a Igreja quando há algum evento acontecendo no seu interior, isso porque as pessoas que irão usar o interior da Igreja da Candelária, irão fazer uso também do seu espaço exterior, utilizando assim a área do Largo. Levando em consideração a relação formal, podemos dizer que a dependência do espaço com o entorno existe, pois apesar do Largo se configurar a partir das vias que o estruturam, os prédios construídos ao seu redor têm um papel importantíssimo para a sua conformação. Em outras palavras, é a massa de edifícios construída que dá forma ao Largo, sem ela a percepção desse espaço não se faz.

Largo da Candelária
Foto Giovana Mileib Ramires, 2017

Esses prédios, que são tão importantes para a conformação do Largo, se apresentam com alinhamento contínuo, ou seja, não há afastamento lateral entre um e outro, gerando uma sensação de uma grande fachada contínua, tratada muitas vezes com vidro ou outros materiais, e com a presença constante de pilotis, como mostra a imagem de alguns prédios situados ao redor do Largo.

Fachadas dos prédios do Largo da Candelária
Foto Giovana Mileib Ramires, 2006

Em função do Projeto Porto Maravilha, o Veículo Leve sobre Trilhos – VLT foi incorporado à Av. Rio Branco e esta via sofreu algumas mudanças na sua pavimentação e mobiliário como a colocação dos trilhos e pontos do VLT.

Nova Pavimentação de parte da Avenida Rio Branco
Foto Giovana Mileib Ramires, 2017

Pontos do VLT
Foto Giovana Mileib Ramires, 2017

Em relação ao mobiliário do Largo e a implementação do Porto Maravilha, o que podemos perceber é que algumas coisas permaneceram e outras foram inseridas principalmente no local onde foi retirado o elevado. No local situado nos arredores de onde se erguia o elevado foi inserida uma grande quantidade de bancos de diferentes desenhos, como podemos conferir nas figuras.

Um elemento que se destaca muito, seja pela sua localização, seja pela sua dimensão, é o chafariz situado em frente à Igreja da Candelária.

Chafariz do Largo da Candelária
Foto Giovana Mileib Ramires, 2006

A vegetação que encontramos no Largo se faz principalmente através de árvores pontuais que se distribuem ao longo de algumas calçadas, e na parte posterior da Igreja.

Por essa escassez de vegetação e pela dimensão desse espaço, a presença de luz é muito intensa, e essa combinação (pouca vegetação, muita luz) nos traz uma sensação de aridez do lugar. Essa aridez se faz ainda mais presente no espaço onde existia a Av. Perimetral e hoje se apresenta como um grande espaço para circulação de pedestres. Apesar de se ter inúmeras opções de assentos, esses por muitas vezes estão vazios por causa da falta de vegetação e consequentemente de sombra ocasionando assim um desconforto às pessoas que transitam por ali.

Escassez de vegetação da área recém-criada
Foto Giovana Mileib Ramires, 2017

Conclusão

O Largo da Candelária e seu entorno, tem uma diversidade muito grande. Essa diversidade do lugar estudado é a conseqüência de estar inserido em uma área antiga da cidade que já passou por várias mudanças e ondas de modernização, e apresenta uma paisagem com características diversas que representam cada época específica de sua história.

notas

1
MACEDO, Silvio Soares. Espaços livres. Paisagem e Ambiente: Ensaios, São Paulo, n. 7, jun. 1995, p. 15-56; MACEDO, Silvio Soares. Produção da paisagem urbana contemporânea brasileira no final do século 20. Paisagem e Ambiente: Ensaios, São Paulo, n. 14, dez. 2001, p.143-170.

2
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. Tradução Eduardo Brandão. 2a edição. São Paulo, Martins Fontes, 2001.

3
SANTANA, Ethel Pinheiro; TÂNGARI, Vera Regina. Espaço Arquitetônico x Apropriação: Estudo de Caso no Centro do Rio de Janeiro – Largo da Carioca e Rua Uruguaiana. Paisagem e Ambiente: Ensaios, São Paulo, n. 17, 2003, p. 7-39.

4
As fontes dos textos explicativos da linha cronológica estão relacionadas com os sites referenciados no final do artigo.

5
Artigos e websites consultados para esse subcapítulo: CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO <www.centrodacidade.com.br>; PORTAL VITRUVIUS. Concurso de Idéias para projeto de tratamento acústico e paisagístico do Elevado da Perimetral. Projetos, São Paulo, ano 05, n. 049.01, Vitruvius, jan. 2005 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.049/2442>; PORTAL VITRUVIUS. Rudimentos. Ou: paralisia do movimento urbano. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 163.01, Vitruvius, jul. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.163/5246>; PORTO MARAVILHA <http://portomaravilha.com.br>; SEGRE, Roberto. Rio de Janeiro Metropolitano: añoranzas de la “Cidade Maravilhosa”. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 046.01, Vitruvius, mar. 2004 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.046/599>; ALEXEI MARCILIO (website) <www.marcilio.com>; WIKIPEDIA, verbete Porto Maravilha <https://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_Maravilha>.

6
MACEDO, Silvio. Espaços livres (op. cit.), p. 16.

sobre a autora

Giovana Mileib Ramires possui graduação em Arquitetura e Urbanismo (Faculdades Metodistas Integradas Isabela Hendrix, 2000), especialização em Revitalização Urbana e Arquitetônica pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003) e mestrado em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008).

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