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my city ISSN 1982-9922

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Alagoas comemorou, em 2017, os 200 anos de emancipação da Capitania de Pernambuco. Após 128 anos de governo republicano, quais memórias urbanas do período monárquico anterior permanecem na capital Maceió? Três praças centrais contam parte dessas memórias.

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TOLEDO, Alexandre Márcio. Praças imperiais de Maceió. Memórias urbanas. Minha Cidade, São Paulo, ano 18, n. 210.04, Vitruvius, jan. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/18.210/6835>.


Monarquistas alagoanos no monumento a D. Pedro II, em 15 de novembro de 2017
Foto Alexandre Márcio Toledo


Alagoas comemorou, em 2017, os 200 anos de emancipação da Capitania de Pernambuco, promulgada por meio de Decreto Régio de D. João VI, em 16 de setembro de 1817, logo após a Revolução Pernambucana. Depois da Independência do Brasil, proclamada pelo Imperador D. Pedro I, em 1822, o território alagoano foi palco da Confederação do Equador, em 1824, que também envolveu outras províncias da atual região Nordeste. A então província de Alagoas manteve relações mais próximas com o Imperador D. Pedro II, o qual a visitou entre dezembro de 1859 e janeiro de 1860.

Após 128 anos de governo republicano, instituído pelo golpe militar de 15 de setembro de 1889, no Rio de Janeiro, pelo militar alagoano Marechal Deodoro da Fonseca, quais as memórias urbanas que permaneceram do período monárquico anterior em Maceió, capital da então província de Alagoas?

Apresentam-se as três praças centrais com referências iconográficas ao período monárquico que contam parte dessas memórias: Praça D. Pedro II e praça Visconde de Sinimbu, no Centro da cidade e, praça Dois Leões, no bairro portuário contíguo de Jaraguá, relacionando os fatos aos dois imperadores, D. Pedro I e D. Pedro II, e ao visconde de Sinimbu, político alagoano ilustre que conviveu diretamente com D. Pedro II.

Praça D. Pedro II

Vista geral da praça D. Pedro II, Palacete Barão de Jaraguá ao fundo, 1930
Foto divulgação [Fotos antigas de Maceió]

A praça D. Pedro II, antigo Largo do Pelourinho e depois praça da Matriz (1), situada entre as rua 02 de dezembro e rua do Imperador, apresenta referências mais marcantes desse período, por ter hospedado a Família Imperial e sua comitiva no palacete do Barão de Jaraguá, no final de dezembro de 1859 e início de 1860, por ocasião da visita da família Imperial a Maceió (2), para inauguração da Nova Matriz (atual Catedral Metropolitana) – projeto do arquiteto francês Auguste Henrique Vitor Grandjean de Montigny, integrante da missão artística trazida ao Brasil por D. João VI, em 1816. Ambos os edifícios estão situados nessa praça.

Vista geral da praça D. Pedro II, Catedral Metropolitana ao fundo, 1950
Foto divulgação [Fotos antigas de Maceió]

Numa das laterais central da praça, encontra-se o monumento à D. Pedro II, que consiste num conjunto em mármore formado pelo busto do imperador sobre um grande fuste canelado, que repousa sobre um pedestal octogonal, assentado em base circular em três degraus. Importado de Lisboa, e instalado em 1961, contém homenagens e registro do episódio nas faces laterais do pedestal e na base do fuste (3). É, possivelmente, o monumento público mais antigo de Maceió.

Monumento ao Imperador D. Pedro II, no Centro de Maceió
Foto Alexandre Márcio Toledo

A praça original encontra-se bastante descaracterizada pelo estacionamento cercada por grades da Assembleia Legislativa, que ocupa boa parte da área da praça. Moradores de rua e mendigos apropriam-se da outra parte da praça, usufruindo da sombra dos oitizeiros e dos bancos de concreto, sobretudo à noite e nos finais de semana. Apenas no horário comercial, coincidindo com o período de funcionamento da Biblioteca Pública Estadual, instalada no antigo Palacete do Barão de Jaraguá, a praça apresenta certa vitalidade.

O monumento a D. Pedro II encontra-se em precárias condições de preservação, devido à ação do tempo e de agentes agressivos como apodrecimento dos frutos das árvores e excrementos de pássaros, além de algumas pichações. As inscrições nas faces laterais, esculpidas em baixo relevo da base da estátua se encontram ilegíveis.

Inscrição no monumento ao Imperador D. Pedro II: “Aqui estou por longos anos, oh viajante, lembrando a viagem até aqui do excelso Pedro, elevando o nome dele às alturas”
Foto Alexandre Márcio Toledo

O Imperador D. Pedro II (1825-1891) – Defensor Perpétuo do Brasil (4), é bem reverenciado pela historiografia alagoana, por sua participação efetiva em fatos importantes da história da Província, sobretudo pela proximidade com o político e diplomata alagoano Visconde de Sinimbu, e sua visita à Alagoas, de dezembro de 1859 a janeiro de 1860.

Além do busto de mármore em sua homenagem nessa praça, a Colônia Militar Leopoldina, atual município de Colônia Leopoldina, e a Vila Isabel, atual município de Maragogi, ambos situados no norte de Alagoas, homenageavam suas duas filhas, as princesas Leopoldina e Isabel, respectivamente, e há várias referências nos acervos museológicos alagoanos a seu respeito.

Praça Visconde de Sinimbu

A praça Visconde de Sinimbu, antiga Redenção (1892) e depois Euclides Malta (1912), situada na lateral do início da rua do Imperador, artéria pela qual passou a comitiva real, após desembarque no trapiche do cais de Jaraguá (5), em dezembro de 1859, apresenta referência iconográfica ao Visconde de Sinimbu.

Vista geral da praça Visconde de Sinimbu
Foto divulgação [Fotos antigas de Maceió]

No centro de uma das laterais da porção maior da praça, encontra-se o monumento ao Visconde de Sinimbú, que consiste numa escultura de corpo inteiro em bronze sobre pedestal, apoiada em base de pedra.

A praça encontra-se bastante descaracterizada, com canteiros sem vegetação, árvores cortadas e não replantadas, bancos quebrados e brinquedos em concreto armado danificados. É parcialmente ocupada pelos estudantes da Escola Técnica de Música que funciona no espaço Cultural da Universidade Federal de Alagoas, situada numa das quadras laterais; e também por usuários de transporte público, que aguardam nos dois pontos de ônibus situados nas laterais da mesma. À noite e finais de semana é ocupada por moradores de rua e mendigos.

Monumento ao Visconde de Sinimbu
Foto Alexandre Márcio Toledo

O pedestal do monumento encontra-se em péssimas condições de preservação, devido às pichações frequentes e atos de vandalismos, promovidos por moradores de rua e manifestantes do Movimento dos Sem Terra – MST que frequentemente acampam na praça, devido à presença da sede do Incra na mesma (6).

João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu (1810-1906), o visconde de Sinimbu, nasceu em São Miguel dos Campos – AL, era meio irmão do barão de São Miguel dos Campos e do Barão de Jequiá e da baronesa consorte de Atalaia. Formou-se em Direito em Olinda e foi presidente das províncias de Alagoas, Sergipe, Bahia e Rio Grande do Sul; ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, da Justiça e das Relações Exteriores e primeiro-ministro do Brasil (27º Gabinete – 1878-1880).

Monumento ao Visconde de Sinimbu
Foto Alexandre Márcio Toledo

Há apenas essa homenagem nessa praça de Maceió a esse ilustre político alagoano do Império, além de existirem poucas referências nos acervos museológicos alagoanos a seu respeito. A família do Visconde desempenhou papel importante contra os interesses dos monarcas do Brasil, na Revolução Pernambucana, de 1817, e na Confederação do Equador, de 1824. Porém, depois ocupou papel de destaque no baronato alagoano.

Praça Dois Leões

A Praça Dois Leões, antiga praça General Alberto Lavenère, situa-se entre as ruas Sá e Albuquerque e Barão de Alagoas, no bairro histórico de Jaraguá, contíguo ao Centro. O nome atual decorre da presença de quatro esculturas de animais em bronze, dentre eles um leão e uma pantera, inseridos na remodelação da praça em 1918, pelo pintor Rosalvo Ribeiro (7).

Vista geral da praça Dois Leões
Foto divulgação [Fotos antigas de Maceió]

No centro da praça, por ocasião do Centenário da Independência do Brasil, substituiu-se a estátua da Liberdade pelo obelisco comemorativo com homenagem a D. Pedro I, na base.

Obelisco Centenário da Independência com homenagem a D. Pedro I, na praça Dois Leões
Foto Alexandre Márcio Toledo

A praça é pouca ocupada por usuários locais, devido ao bairro passar por uma fase de transição, com a relocação da favela dos pescadores pela Prefeitura, que se situava nas proximidades. A área circunvizinha apresenta uso diversificado: institucional, Gabinete do Prefeito; cultural, Museu da Imagem do Som e sede do Iphan; e de comércio e serviços; porém, vários edifícios próximos encontram-se desocupados. Nos finais de semana, há movimento na igreja N. Sra. do Povo e nas casas de eventos que promovem festas de casamento.

O obelisco se encontra em boas condições de preservação e recebeu pintura recente, contudo a jardineira não apresenta nenhuma vegetação e a iluminação do monumento é precária. As bases em mármores das quatro estátuas de animais encontram-se depredadas.

Obelisco Centenário da Independência com homenagem a D. Pedro I, na praça Dois Leões
Foto Alexandre Márcio Toledo

O Imperador D. Pedro I (1789-1834) – o Libertador, o Rei Soldado (8), é pouco reverenciado na historiografia alagoana, apesar de sua participação efetiva em fatos importantes da história do Brasil e da província de Alagoas, como na Constituinte de 1822, da qual participaram cinco deputados alagoanos, na Confederação do Equador de 1824, que envolveu a família do visconde de Sinimbu, e da Cabanada Selvagem, em 1831-1835, que envolveu os índios do povoado de Jacuípe (9).

Há apenas uma singela homenagem nessa praça de Maceió e uma vila faz alusão ao nome de sua segunda esposa, Imperatriz D. Amélia, atual União dos Palmares, além de existirem poucas referências nos acervos museológicos alagoanos a seu respeito. Bem que essa praça poderia passar a se chamar D. Pedro I ou da Independência.

Notas finais

Em 17 de novembro de 1889, a família Imperial partiu para o exílio europeu no Paquete Alagoas e jogou garrafas ao mar com mensagens de despedida ao passar pelo litoral norte da Província. Uma delas foi encontrada em Maragogi.

Por ocasião dos 200 anos da emancipação política de Alagoas, a Regional AL do Movimento Monárquico Brasileiro reconhece essa imensa lacuna com a memória do período monárquico e desenvolve ações para preservação e conservação dessas três praças, as quais passam por sérios problemas de manutenção, devido à apropriação pela população urbana marginalizada, que inibe a presença de outros usuários e turistas, sobretudo no período da noite e nos finais de semana.

Apresentaram-se à municipalidade propostas de realização de eventos regulares para essas praças, com encenação artística e contação de histórias do período monárquico, na temporada turística, que vai de setembro a março.

A atual praça Dois Leões seria palco, todo primeiro sábado de cada mês, à celebração da Proclamação da Independência por D. Pedro I, com a banda da Polícia Militar cantando o Hino da Independência e personagens da época.

No segundo sábado de cada mês, aconteceria a Caminhada Cultural: Praças Imperiais, que consiste num percurso de seis quilômetros a pé passando pelas três praças.

A praça Visconde de Sinimbu seria palco, todo penúltimo sábado de cada mês, das Memórias de Ana Lins Vieira, que contaria a história da saga da família Cansanção de Sinimbu, entre as duas revoluções que sacudiram o reino Unido e o 1º Reinado e culminou com a titulação nobiliárquica de quatro de seus membros.

A praça D. Pedro II seria palco, todo último sábado de cada mês, à celebração da visita do Imperador D. Pedro II à Maceió, com cantata do Te Deum na Catedral, pelo coro da Ufal, e representação teatral de personagens que integraram a comitiva imperial.

Espera-se que o projeto se viabilize e se integre ao roteiro cultural e turístico da capital alagoana.

notas

1
TICIANELI, Edberto. História da Praça D. Pedro II. Maceió, História de Alagoas, jul. 2015.

2
DUARTE, Abelardo. Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina nas Alagoas. Maceió, Imprensa Oficial Graciliano ramos, 2010; TJÄDER, Rogerio da Silva. Sua Majestade Imperial D. Thereza Christina Maria de Bourbon e Bragança. Valença, R.S.T., 2014.

3
QUINTELLA, Ivvy Pessôa. No olho da rua: arte urbana em Maceió. Maceió, Edufal, 2014.

4
ASSUMPÇÃO, Mauricio Torres. A história do Brasil nas ruas de Paris. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2014; SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.

5
DUARTE, Abelardo. Op. cit.

6
ACIOLI, João Victor; BARROS, Jobinson. MST desocupa Praça Sinimbu após um ano e cinco meses. Tribuna União, Maceió, 31 maio 2012 <www.tribunauniao.com.br/noticias/ver/23481/MST+desocupa+Pra%C3%A7a+Sinimbu+ap%C3%B3s+um+ano+e+cinco+meses>.

7
QUINTELLA, Ivvy Pessôa. Op. cit.

8
REZUTTI, Paulo. D. Pedro: a história não contada. São Paulo, LeYa, 2015.

9
QUEIROZ, Álvaro. Episódios da história das Alagoas. Maceió, A.Q. da Silva, 2017; BRANDÃO, Moreno. História de Alagoas seguido de o Baixo São Francisco o rio e o vale. Maceió, Edufal, 2015; PINTO, Geoselia da Silva. História de Alagoas. Maceió, Sergasa, 1979.

sobre o autor

Alexandre Márcio Toledo é arquiteto pela Ufal (1985), mestre em arquitetura (PROPAR/UFRS, 2001) e doutor em engenharia civil (PPGEC/UFSC 2006). Professor da Ufal, desde 1995, lotado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, na qual lidera o Grupo de Estudos em Projeto de Arquitetura (gEPA), desde 2006. Comissário da Regional Alagoas do Círculo Monárquico Brasileiro, desde 2017.

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