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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Ensaio sobre espaços compartilhados no contexto produtivo, enredados em torno das lógicas de apropriação de práticas sociais na dimensão do trabalho e suas distinções tipológicas e atuação no ambiente denominado coworking.

english
Essay about shared spaces in the productive context, entangled around the logics of appropriation of social practices in the dimension of work and its typological distinctions and performance in the environment called coworking.

español
Ensayo sobre espacios compartidos en el contexto productivo, enredados en torno a las lógicas de apropiación de prácticas sociales en la dimensión del trabajo y sus distinciones tipológicas y actuación en el ambiente denominado coworking.

how to quote

BARBOSA, Thiago Aviles; SANTOS JR, Sérgio Antonio dos. Descortinando o coworking como espaço de trabalho. Minha Cidade, São Paulo, ano 19, n. 219.03, Vitruvius, out. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/19.219/7145>.


Google Campus/SP, sala do silêncio
Foto Thiago Aviles Barbosa e Sérgio Antônio dos Santos Júnior (2017)


Este ensaio resulta de uma reflexão acerca de espaços colaborativos e de compartilhamento no contexto produtivo. São estudos de caso enredados em torno das lógicas de apropriação de práticas sociais do lugar do homem na dimensão do trabalho e suas distinções tipológicas, pela maneira como atua nesse ambiente denominado coworking.

Falar nessas práticas é remeter a desdobramentos culturais contemporâneos, constituído em torno daquilo que François Ascher (1) chama de Terceira Revolução Urbana Moderna, animada por eventos que exigem a Co-presença e a qualidade móvel/efêmera dos lugares. Trata-se, por isso mesmo, de uma preocupação em poder escolher o lugar e o momento de sua atividade e, ao mesmo tempo, uma resposta a incerteza de uma vida cotidiana menos rotineira, composta de minieventos e do aumento de incertezas, que acarretaram a difusão dos modos de agir e relacionar-se, inclusive com o espaço, na concepção de que tudo e todos são transitórios. Testemunha ocular das mudanças do momento (1946-2009), este sociólogo e urbanista teria inventado o neologismo Sociedade do Hipertexto para caracterizar a realidade social e cultural em que vivia, no final do século 20 e início do 21. O termo alude à consciência de que a produção das vidas humana no meio urbano, em sua terceira fase, por ele classificada como cognitiva, “se apropria, produz e vende conhecimento de informações e procedimentos”, enquanto moeda desmaterializada de troca. Se, para o autor, a primeira fase dessas revoluções urbanas modernas – a agrícola – propiciou os assentamentos; a segunda – industrial – ordenou tempo e espaço; esta terceira – cognitiva, parece causar um desajuste e/ou um deslocamento ao originalmente proposto as anteriores, um significado outro, tanto cronológico quanto de uso da materialidade. Desse modo, passa a ser possível caracterizar um viés de modernidade da vida cotidiana contemporânea, não apenas como objetos e signos ancorados em tipologias para abrigar o trabalho que os constituíram, mas, também, como consciência crítica ao tempo dos pensamentos e das ações comportamentais, concomitante ao tempo de uso, produção e produto, das espacialidades.

Em termos espaciais, o coworking pode abrigar profissionais de diferentes áreas, os quais não estão fixos na rigidez do programa arquitetônico, como comumente acontece na área da saúde, que requer uma espacialidade própria, como consultórios médicos, dentistas, veterinários, entre outros. Já no campo das ciências humanas e sociais, em alguns casos por exemplo, como atendimento psicanalítico, encontro com clientes interessados em publicidade e propaganda, para construir e reformar, referem-se a uma modalidade de trabalho que são menos tangíveis – que se dá no campo das ideias, pela troca de informações e conhecimentos – e, também, são mais flexíveis por esta capacidade de se adequar a diferentes ambientes, tendo como possibilidade a ampliação da rede de relações e contatos por compartilhar o mesmo espaço-tempo. Sob essa perspectiva, não fica difícil intuir dois postos de observação específicos: o primeiro, diz respeito à primazia dos espaços de convívio e lazer, possivelmente o elemento mais importante desse tipo de programa arquitetônico e de seu ato de projetar; o segundo, verte-se sobre um desafio para a profissão do arquiteto, que quase sempre cumpriu um papel de definidor do agenciamento espacial e dos usos que estes deveriam abrigar. Enquanto prerrogativa, até mesmo contraditória, da profissão, torna-se uma tarefa difícil traduzir em espaços adequados o ato de habitar lugares desprogramados.

Lançando mão desse tipo de estratégia teórico-metodológico, cabe destacar que as definições e conceituações anteriores não se deram de forma especulativa, mas de um amplo processo de revisão bibliográfica. À luz dessa consideração, fundamental nesta investigação foi a pesquisa bibliométrica feita por Paloma FragaMedina e EditeKrawulski, sobre o coworking “como modalidade e espaço de trabalho” (2). Nesse estudo, as autoras destacam que, “ainda se sabe pouco sobre o coworking no contexto nacional brasileiro como um todo, principalmente em regiões e contextos com características socioeconômicas e culturais distintas dos grandes centros urbanos”; deixando claro a entrada às veementes necessidades de pesquisa acerca do tema, sobretudo em arquitetura e urbanismo. Iniciamos nossa pesquisa pela própria acepção da palavra coworking, que de acordo com Juliana Maria Moreira Soares e PatríciaSaltorato (3), utilizada pela primeira vez por Brad Neuberg em 2005 para descrever “um espaço de trabalho compartilhado”, na ocasião, por freelancers de São Francisco, nos Estados Unidos. Neuberg expõe que “o ambiente apresentava particularidades através de atividades relacionadas ao convívio do usuário”, espaços desprogramados, bicicletário (este relacionado à questão urbano-social inserido no programa) e café.

Para redigir tais considerações, adotamos como método a estruturação por estudos de caso que, de acordo com Robert K. Yin (4), visa responder questões do tipo como e por que, em situações onde o investigador tem pouco controle do que está sendo pesquisado e cujo os limites não estão totalmente definidos por estarem inseridos no contexto da vida real sob a égide de fenômenos contemporâneos.

Os levantamentos dos dados a seguir foram realizados in loco e em três etapas: a princípio, verificamos edifícios que são vendidos como coworking, mas não apresentaram distinção das tipologias tradicionais do setor de serviços; desta seleção, emerge aqueles que mais se aproximam de seus conceitos e definições; por fim, e quase que ao acaso, selecionamos um exemplo daquilo que não é, mas atua como se fosse, um edifício projetado para ser coworking.

As aparências enganam? Evidências e respostas pela apropriação dos usos

É evidente que o comércio imobiliário vem gradativamente gerando silogismos sobre o fenômeno do coworking. Este raciocínio se escora, sobretudo, na comercialização do abstrato – a modalidade – ao invés do espaço projetado. Seguindo as recomendações anteriormente previstas, para este estudo de caso, selecionamos um local pouco distante de um dos grandes centros urbanos, mais especificamente da Metrópole Paulistana, para verificação e correspondência de como essa colagem conceitual foi aplicada.

O coworking Easy 2 Work está localizado na cidade de Jundiaí, se intitula o primeiro espaço da categoria na cidade, como descrito em seu website, “agindo como um escritório flexível, de localização privilegiada, apto de fornecer convívio, network e criatividade entre os usuários, através de um ambiente acolhedor e dinâmico” (5).

Easy 2 Work
Foto Thiago Aviles Barbosa e Sérgio Antônio dos Santos Júnior (2017)

De fato, as informações por eles conferidas são verídicas, sobretudo, nos termos de “agir como um escritório flexível”, trata-se, portanto, da tipificação da modalidade. Entretanto, exaltamos aqui as prerrogativas do espaço, que se apresenta em uma sala particular de um edifício empresarial e deixa de lado a questão social do convívio e a falta de conectividade com a cidade. Este fator se relaciona ao edifício como um todo, verificamos que ele dispunha de um bicicletário, hoje os suportes para bicicletas foram adaptados para dar lugar à uma vaga a mais no estacionamento. Enquanto isso, o café presente no térreo se volta para dentro do prédio, se tornando pouco convidativo. Ora, não seriam estas questões que difere os espaços coworking?

Identificados, como potencialidade de publicidade e propaganda, que edifícios híbridos e multifuncionais, buscam o apelo compulsivo à venda do espaço e encontram refúgio na denominação coworking, enquanto marca, pois vende melhor ao usuário do que salas compartilhadas por tempo. É desta maneira que o edifício empresarial se apropria da designação de um espaço compartilhado para ser comercialmente mais atraente ao usuário, essa apropriação especulativa tem ganhado força entre o recente modelo arquitetônico denominado coworking.

Easy 2 Work, croqui
Elaboração Thiago Aviles Barbosa e Sérgio Antônio dos Santos Júnior (2017)

Se esta modalidade de trabalho reflete os modos e estilos de vida contemporânea, ela também alimenta um flamígero e nocivo agente do espaço urbano – a especulação imobiliária – que está contida em inúmeras esferas; seja no mercado imobiliário, construtoras e até mesmo no consumidor refém da marca. Este sistema outorga a urbanização – edifício-cidade – às adaptações espaciais, enquanto sua essência, não ecoa na realidade urbana.

As aparências confirmam? A definição de “estar adequado” por desprogramação – “des-programar-ações”

O sentido de Metrópole, por si, oferece ampla variação tipológica e espacial de diversos setores, especialmente, o de serviços. Em nossos levantamentos na metrópole paulistana, identificamos o edifício do Google Campus SP (6), que segundo o próprio website oferece espaço para empreendedores com infraestrutura compartilhada e intuito de fornecer um ambiente que permita a socialização colaborativa, onde incubadoras, profissionais liberais, autônomos se conectam, compartilham, aprendem e desenvolvem ideias, aguçando a criatividade através de áreas lúdicas e de dinamismo emancipado.

Google Campus, croqui
Elaboração Thiago Aviles Barbosa e Sérgio Antônio dos Santos Júnior (2017)

Em visita técnica do autor, observou-se que o edifício dispõe singelos programas que se distribuem por escadas e elevadores, mirantes ligados à contemplação ou ao lúdico e áreas privadas constituem-se de uma pequena parcela do edifício destinado ao Google. Já nas áreas públicas, o maior percentual deste prédio, cultiva ambientes temáticos que intuem códigos de conduta, pela forma lúdica apontada na decoração que remete ao jogo vaca amarela, satirizando o uso de vacas e panelas penduradas no forro, como uma forma subjetiva e até mesmo educada de garantir o silêncio sem que seja um requerimento formal; no mesmo salão, cabines telefônicas para o uso do celular garantem o silêncio. A maior parte da área pública dos outros pavimentos, sugere que o efeito desprogramado se torne programação de situações múltiplas, ligadas a habitabilidade momentânea, pela simples impossibilidade de abrigar programas à espera de acontecimentos imprevisíveis, improvisações e ocupações de ações espontâneas.

Google Campus/SP, sala do silêncio
Foto Thiago Aviles Barbosa e Sérgio Antônio dos Santos Júnior (2017)

Google Campus, croqui
Elaboração Thiago Aviles Barbosa e Sérgio Antônio dos Santos Júnior (2017)

A opção de ambientes integrados permite oportunidades adaptativas e interativas com o espaço – trabalhar em uma mesa do café pela manhã, no terraço após o almoço e na sala do silêncio pela tarde. Essa reflexão é uma resposta à monotonia imposta por condições padrões de trabalho, referimo-nos explicitamente as estações fixas de trabalho, que, por sua vez, podem causar insatisfação profissional.

As aparências convergem! Adaptação análogas do entre-função

Explicitadas as duas vertentes anteriores, não fica difícil reconhecer que é nessa última que se insere a sociedade do hipertexto pela des-necessidade do espaço específico. Ao observarmos as franquias do Starbucks Café esses locais operam indiretamente no cotidiano das cidades como um falso coworking, não pelo fato de não atenderem as necessidades de um espaço propriamente dito, mas sim pela questão de não terem a intenção de ser estes espaços. Maquinalmente, estes locais encontram-se num preceito de entre-função articulando seu espaço – de uma cafeteria e do encontro –, que se abre a possibilidade de atender essa dimensão virtual do trabalho, modelando seu uso a uma ocasião oportuna e de forma involuntária.

Contemplar o vigor dessas práticas sociais parece remeter a desdobramentos contemporâneos, entretanto, Bruno Moriset (7), nos recorda que, desde meados do século 20, algumas cafeterias foram mais atuantes como ponto de encontro e de reuniões para negócios, do que cumprindo sua função primária, a comercialização do café.

Se, portanto, o contexto histórico-social não se confunde mais como práticas de uma modalidade contemporânea, ela abre espaço para análise modernizadora do uso do edificado. Com base nessas ponderações, a questão chave para a procura desse tipo de estabelecimento, se deve em função da barganha pelo uso do sinal Wi-Fi, o acesso ao espaço virtual, esta troca entre cliente e loja acontece ao comprar qualquer produto, a qual se renova em um determinado período. Outro elemento determinante é que seu horário de funcionamento não se limita ao período comercial e, alguns, funcionam 24 horas. Aqui, fica evidente que essa modalidade não está ancorada no espaço-tempo, logo, ela também não é exclusiva desse estabelecimento, mas nele encontra refúgio pela flexibilidade tipológica de sua função secundária, o encontro.

Starbucks, alameda Santos/SP, croqui
Elaboração Thiago Aviles Barbosa e Sérgio Antônio dos Santos Júnior (2018)

O edifício do Starbucks deste estudo, se localiza na alameda Santos próximo da avenida Paulista, estação Trianon-Masp, na cidade de São Paulo, com acesso relativamente prático através de metrô, ônibus e ciclovias. O local se articula com a região em que está inserido, atraindo usuários seja direta ou ocasionalmente, fornecendo, também, mediação e suporte à escritórios e edifícios empresariais do entorno, seja para reuniões mais reservadas ou apenas para descontração, atrelado ao design regional modern (8). Esta reflexão nos permite considerá-lo um espaço que está entre-funções, concatenando, portanto, a cafeteria a um coworking e o coworking como deriva da cafeteria.

Starbucks, alameda Santos SP, sala de reunião
Foto Thiago Aviles Barbosa e Sérgio Antônio dos Santos Júnior (2017)

Considerações finais

A fim de melhor aquilatar entre o diverso e o semelhante, esta reflexão não teve por objetivo esgotar de modo enciclopédico a listagem de todos os coworking da região metropolitana de São Paulo, mas refletir sobre a diversidade tipológica que o mercado oferece para abrigar esta modalidade de trabalho. De fato, é possível estabelecer uma relação biunívoca de espaço-tempo nos três estudos de caso apresentados, onde, os mesmos, cumprem os preceitos da modalidade, sobretudo na categoria: tempo, mas se nos concentrarmos nas adaptações que o mercado oferece, frente aquilo que foi projetado e construído para ser um coworking, perceberemos que a maioria encontrar-se-á fora do universo das referências do espaço.

notas

1
ASCHER, François. Os novos princípios do urbanismo. Coleção RG bolso. São Paulo, Romano Guerra, 2010, p. 67-69.

2
MEDINA, Paloma Fraga; KRAWULSKI, Edite. Coworking como modalidade e espaço de trabalho: uma análise bibliométrica. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho. São Paulo, Volume 18, n. 2, 2015, p. 181-190 <http://www.revistas.usp.br/cpst/article/view/125804>.

3
SOARES, Juliana Maria Moreira; SALTORATO, Patrícia. Coworking, uma forma de organização de trabalho: conceitos e práticas na cidade de São Paulo. AtoZ: novas práticas em informação e conhecimento, n. 4, vol. 2. Curitiba, UFPR, 2015, p. 61-73 <http://dx.doi.org/10.5380/atoz.v4i2.42337>.

4
YIN, Robert K. Estudo de caso. Planejamento e métodos. 2ª edição. Porto Alegre, Bookman, 2001.

5
Localizado na sala 102 do Edifício Uffizi, está relativamente próximo às localidades de serviço de grande influência e importância dentro da cidade de Jundiaí (fórum, bibliotecas, cartórios, comércio, entre outros). Por estar contido na zona central, o deslocamento em prol de outros usos ocorre de maneira eficiente, porém a procura pelo local é fraca, seja devido à proposta (infraestrutura projetual); conforme visto in loco, de cinco estações de trabalho disponíveis, apenas 2 estão locadas.

6
Composto de seis pavimentos, o edifício está situado na zona central da cidade de São Paulo, permitindo-o usufruir e compor seu entorno, se encaixando na infraestrutura da malha urbana da região. A proximidade com as avenidas: Paulista, 23 de Maio e Vergueiro, favorece o deslocamento de interesses empresariais, culturais, serviços e lazer, por corredores de ligação e, também interage facilmente com o sistema de ônibus e metrô, permitindo fácil acesso ao local, que por sua vez fica a 1,5 km do Masp; 1,5 km do Parque do Ibirapuera e 1,3 km do Centro Cultural São Paulo, justificando essa diversidade de interesses. Google for startups Campus São Paulo <https://www.campus.co/sao-paulo/pt>.

7
MORISET, Bruno. Building new places of the creative economy. The rise of coworking spaces. In 2nd geography of innovation international conference 2014. Utrecht, Utrecht University, 2015, p. 1-25 <https://halshs.archives-ouvertes.fr/halshs-00914075/document>.

8
Tipologia de design vendida pela franquia aos seus estabelecimentos, busca manter um padrão, garantindo a identidade da marca. Coffeehouse. Design das lojas <https://www.starbucks.com.br/coffeehouse/store-design>.

sobre os autores

Thiago Aviles Barbosa é arquiteto e urbanista pela Universidade Paulista – Unip.

Sérgio Antônio dos Santos Júnior é professor e pesquisador adjunto na Universidade Paulista e Anhanguera. doutorando em Arquitetura e Urbanismo, área de concentração: Projeto, Espaço e Cultura, pela Universidade de São Paulo, mestre em Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Urbanismo Moderno e Contemporâneo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, graduado em Turismo e em Arquitetura e Urbanismo.

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