Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

projects ISSN 2595-4245


abstracts

português
Neste quinto e último artigo da série sobre projetos brasileiros selecionados para o Prêmio Rogelio Salmona 2014, Mauro Calliari visitou a Praça Victor Civita, das arquitetas Adriana Blay Levisky e Anna Julia Dietzsch, na Zona Sul de São Paulo.

how to quote

CALLIARI, Mauro. Praça Victor Civita. Um espaço público de qualidade numa antiga área degradada. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 166.02, Vitruvius, out. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.166/5354>.


[projeto]

Dos espaços brasileiros selecionados pelo Prêmio Salmona, a Praça Victor Civita é o mais singular. Afinal, a praça de 14 mil metros quadrados foi construída na área de um antigo incinerador de lixo e é um caso exemplar de recuperação urbana de áreas degradadas. Além disso, ela foi criada e é gerida pela iniciativa privada, em um formato de Parceria Público-Privado, ainda raro no Brasil.

Calçada e gradil da Praça Civita na Rua Sumidouro
Foto Mauro Calliari

O resultado é um belo espaço público, aconchegante, agradável, com uma programação intensa e que traz à tona as questões atualíssimas da recuperação ambiental e da boa gestão.

O entorno da praça
Foto Mauro Calliari

Histórico

Entre 1946 e 1989 funcionou o Incinerador de Pinheiros, que queimou durante décadas o lixo da região oeste.

O deck de madeira
Foto Mauro Calliari

Em 1998, a Editora Abril instalou-se em um prédio em frente a essa área e, em 2001, assinou o protocolo de intenções coma prefeitura para a conversão do espaço em uma praça, que homenageasse o fundador da empresa.

A Praça só ficou pronta em 2008, após um processo que envolveu negociações com a Subprefeitura de Pinheiros, diretrizes para o uso da área em solo contaminado pela Cetesb, especificação de materiais pelo IPT e uma série de exigências.

O deck sendo usado por frequentadores num sábado
Foto Mauro Calliari

A praça em funcionamento

A praça funciona. Em 2013, ela teve mais de 95 mil visitantes, o equivalente à freqüência de parques em bairro, como o Severo Gomes, na Granja Julieta. É quase metade do que tem o Parque Buenos Aires, em Higienópolis (1).

Uma performance - Dom Quixote e Sancho Pança fazem malabarismos
Foto Mauro Calliari

O projeto (2) das arquitetas Adriana Blay Levisky e Anna Julia Dietzsch (3) e do paisagista Benedito Abbud foi premiado várias vezes nos últimos anos e basta estar lá para entender o porquê. A contaminação por cinzas e metais pesados, resultado da queima do lixo, obrigou a construção elevada para evitar o acesso direto ao solo, o que foi resolvido por meio de um grande deck, que cruza a praça e se abre para os diferentes espaços criados, como os bancos inesperados, o teatro e os canteiros.

Em todo o lugar, a presença da madeira torna o espaço muito acolhedor. Os 140 eventos no ano funcionam como atrativo extra e foram responsáveis por quase um terço dos visitantes, que encontram uma linda arquibancada e uma pequena concha acústica.

O antigo incinerador em seu novo uso
Foto Mauro Calliari

A presença do antigo incinerador é um lembrete poderoso do conceito de sustentabilidade que a praça adotou. O museu, localizado dentro dele, traz um bom histórico dos usos anteriores e abriga exposições.

Sim, às vezes convive-se com um cheiro desagradável que vem do Rio Pinheiros e de uma estação de tratamento de água, mas isso deveria funcionar como um lembrete adicional para cuidarmos melhor de nossas águas...

Mural informativo sobre o difícil processo de reconversão do espaço contaminado
Foto Mauro Calliari

Ligação com o entorno

A idéia de praça normalmente está associada à de centralidade. A Praça Victor Civita é uma exceção à regra. Ela é quase um lote na Rua Sumidouro, gradeada e com apenas duas entradas, guardadas, sem ligação com o lado oposto da quadra, apesar de a ligação constar do acordo firmado inicialmente. Mesmo estando muito próxima da movimentadíssima Estação Pinheiros da CPTM e do Metrô, a Praça não fica exatamente na rota dos pedestres.

PPP – um bom jeito de viabilizar o que não seria possível

A PPP – Parceria Público-Privado – é um instrumento ainda pouco utilizado no Brasil para alavancar projetos. Nesse formato, a responsabilidade do poder público é garantir que os interesses da população estejam preservados.

O interior do museu
Foto Mauro Calliari

As PPP’s suscitam algumas críticas localizadas. O geógrafo britânico David Harvey, por exemplo, que esteve recentemente em São Paulo, sugere que poucas PPP’s trabalham para o desenvolvimento do que é público (4).

Nesse caso, além de pesquisa com moradores da região para a definição do conceito da praça, o processo foi acompanhado de perto pelo poder público, em reuniões de alinhamento, trocas de informação, aprovação de projetos etc.

Instalação artística no museu
Foto Mauro Calliari

Para a gestão da praça, foi criada uma Oscip – Amigos da Praça Victor Civita que hoje tem nove apoiadores: Gerdau, Abril, CCR, Grupo Petrópolis, Claro, Verdeescola, Itau, Levisky Arquitetos Associados e Sabesp. A veiculação dessas marcas no local é surpreendentemente discreta.

Assim como na Highline, de Nova Iorque, em que a maior parte das despesas de manutenção são bancadas pela ONG Friends of the Highline, na Praça Victor Civita, é esta associação que faz manutenção da praça e banca os R$ 1,5 milhões de despesas anuais.

Canteiros e o deck
Foto Mauro Calliari

Será que em outro modelo de gestão, a praça teria o mesmo sucesso?

Provavelmente, não. Os eventos têm ligação com os patrocinadores e talvez nem acontecessem em outro contexto. Pensando bem, talvez nem a praça tivesse sido criada se não fosse por esse modelo. Dado o número de prioridades com que a subprefeitura tem que lidar, dificilmente haveria recursos e energia para um projeto tão especial (5).

Detalhe da captação de água e canteiros
Foto Mauro Calliari

 

notas

NA – O autor escreve a convite do Vitruvius e, apesar de ter sido funcionário da Editora Abril, não teve nenhuma relação com o projeto da Praça Victor Civita.

NE – Este é o último de uma série de cinco artigos, publicados mensalmente, sobre os cinco projetos brasileiros selecionados para a primeira edição do Prêmio Rogelio Salmona, criado pela fundação leva o nome do arquiteto colombiano, morto em 2003, para reconhecer projetos latino-americanos que contemplam arquiteturas que geram espaços abertos /coletivos. Os projetos escolhidos do Brasil são os seguintes: Parque da Juventude, Terminal da Lapa, Praça Victor Civita, Escola Projeto Viver (vencedor geral), em São Paulo; e Terminal Digital do Ensino, em São Caetano. Além de focar seu interesse na criação, o prêmio prioriza projetos testados por pelo menos cinco anos, o que justifica o período temporal entre os anos 2000 e 2008 dos projetos selecionados. O júri do Prêmio Rogelio Salmona 2014 foi composto por Silvia Arango (Região Andina), Fernando Diez (Região Cone Sul), Ruth Verde Zein (Região Brasil), Louise Noelle Gras (Região México, América Central e Caribe) e Hiroshi Naito. Os artigos publicados são os seguintes:

CALLIARI, Mauro. O Parque da Juventude. O poder da ressignificação. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 162.03, Vitruvius, jun. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.162/5213>.

CALLIARI, Mauro. Terminal de ônibus da Lapa. Arquiteturizando a infraestrutura. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 163.03, Vitruvius, jul. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.163/5252>.

CALLIARI, Mauro. Espaço Viver Melhor – Projeto Viver. A criação de um espaço de uso coletivo a partir de uma escola. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 164.01, Vitruvius, ago. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.164/5265>.

CALLIARI, Mauro. Terminal Digital do Ensino, São Caetano do Sul. Um prédio que conversa com a cidade. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 164.01, Vitruvius, set. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.165/5303>.

CALLIARI, Mauro. Praça Victor Civita. Um espaço público de qualidade numa antiga área degradada. Projetos, São Paulo, ano 14, n. 163.02, Vitruvius, out. 2014 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.166/5354>.

1
Estudo da Rede Nossa São Paulo sobre freqüência de parques em S.Paulo, 2013 <www.nossasaopaulo.org.br/portal/files/EstudoParques.pdf>.

2
Publicação anterior do projeto no portal Vitruvius: PORTAL VITRUVIUS. Praça Victor Civita – Museu Aberto da Sustentabilidade. Projetos, São Paulo, ano 09, n. 106.03, Vitruvius, out. 2009 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/09.106/2983>.

3
Ver entrevista com arquiteta: GUERRA, Abilio; SILVA, Aline Alcântara. Conversa com Anna Julia Dietzsch. Praça Victor Civita – Museu Aberto da Sustentabilidade. Projetos, São Paulo, ano 11, n. 126.03, Vitruvius, jun. 2011 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.126/3946>.

4
HARVEY, David. Entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, 30 nov. 2014.

5
Fontes consultadas: LAREDO, Roberta. Construindo o espaço público contemporâneo: o caso da praça Victor Civita. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU Mackenzie, 2014; Relatório de atividades 2013 Praça Victor Civita.

sobre o autor

Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor de organizações.

comments

166.02 prêmio salmona
abstracts
how to quote

languages

original: português

source

São Paulo SP Brasil

share

166

166.01

Sede Administrativa da Câmara Municipal de Porto Alegre

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided