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reviews online ISSN 2175-6694


abstracts

português
A suburbanização, modelo de crescimento das cidades marcado pela baixa densidade e pela descontinuidade urbana, dominou o século 20. No começo do século 21, muitas são as críticas a esse modelo – principalmente por sua dependência do automóvel individual.

english
Suburban sprawl is an urban growth model characterized by low density and urban discontinuity that dominated the 20th century. At the beginning of the 21st century, there is much criticism to it - mostly due to its automobile dependency.

español
La dispersión urbana, modelo de crecimiento de las ciudades marcado por la baja densidad y por la discontinuidad urbana, dominó el siglo 20. En el principio del siglo 21 muchas son las críticas a ese modelo, principalmente por su dependencia del automóvel

how to quote

JACOB, Priscila Pimentel. Suburbanização. Origem, desenvolvimento, difusão, crítica e possíveis soluções. Resenhas Online, São Paulo, ano 15, n. 175.03, Vitruvius, jul. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/16.175/6115>.


Benjamin Ross, norte-americano, 65, é cientista ambiental e defensor da expansão dos transportes públicos de massa para a redução dos automóveis individuais que circulam pelas cidades. Como presidente do Action Committee for Transit de Maryland (EUA), defendeu o projeto da Purple Line. Trata-se de uma linha de trem de 26 km que conectará os subúrbios de Washington à malha de transporte público existente. Durante o período que atuou no comitê, observou que os obstáculos ao projeto eram os conflitos entre o interesse público e o direito particular de propriedade. Como cientista e ativista, Ross decidiu estudar a origem do problema: o espraiamento suburbano (suburban sprawl). O livro Dead End: Suburban Sprawl and the Rebirth of American Urbanism resulta dessa pesquisa.

O espraiamento suburbano – ou suburbanização – é o crescimento das cidades para áreas isoladas, com baixa densidade populacional, zoneamento de uso único e dependência do carro para a garantia da mobilidade urbana. A suburbanização é típica das cidades norte-americanas, mas já se difundiu pelo mundo. No Brasil, condomínios de casas afastados do centro das grandes cidades – como os AlphaVilles – são exemplos desse modelo de expansão urbana.

O texto apresenta uma historiografia crítica dos subúrbios: origens conceituais, adaptação, difusão, crítica e soluções. Ross atribui a origem dos subúrbios à utopia socialista do francês Charles Fourier (1772-1837) – os falanstérios. Inconformado com as transformações urbanas que a Revolução Industrial provocava, Fourier propôs comunidades rurais autossuficientes baseadas no cooperativismo e na harmonia sociais. Nos Estados Unidos, Brook Farm, fundada em 1840 por um grupo de intelectuais que incluía Ralph Waldo Emerson, Nathaniel Hawthorne e Henry David Thoreau, foi umas das comunidades que tentaram concretizar essa utopia. Contudo, como aponta Ross, tais comunidades sobreviveram pouco tempo: a maioria durou poucos meses e as bem sucedidas, alguns anos – Brook Farm foi extinta em 1846.

Os falanstérios sumiram, mas a fuga da cidade para o campo permaneceu como utopia, de acordo com Ross. O advento do trem possibilitou as viagens diárias para os centros urbanos e, consequentemente, surgiram pequenas colônias de casas individuais próximas a estações nos arredores das cidades. A solução se mostrou rentável para as companhias urbanizadoras e desejável pelas classes médias. Para manter o alto padrão das áreas suburbanas, normas rigorosas eram impostas aos moradores e reforçadas pelos vizinhos – elas previam desde a manutenção regular de jardins à proibição de moradores negros. Posteriormente, essas normas de padronização dos subúrbios culminariam nos códigos de zoneamento.

Para Ross, a fuga da classe média alta para os subúrbios, agravou a segregação social urbana. As pessoas de diferentes classes sociais não moravam mais na mesma cidade, não usavam mais os mesmos meios de transporte e não se encontravam na rua com a mesma frequência de antes. A liberdade de circulação proporcionada pelo automóvel particular contribuiu ainda mais para a difusão dos subúrbios e para a estratificação social das cidades.

A cidade-jardim de Ebenezer Howard (1850-1928), proposta em 1898, e o movimento City Beautiful (iniciado entre 1890 e 1900) influenciaram os novos projetos de subúrbios, conforme defende o autor. A cidade-jardim propunha a substituição das cidades densas por pequenas comunidades bucólicas, autônomas, para a população ideal de 30 mil habitantes e sem divisão da propriedade – a propriedade da terra seria comum. O movimento City Beautiful pregava o embelezamento da cidade pela monumentalidade e pelo classicismo.

Ross aponta ainda que a construção de moradias populares nos Estados Unidos, iniciada em 1934, foi regulada para não competir com o mercado imobiliário. Só poderiam ser construídas em áreas decadentes dos centros das cidades, reservando as áreas livres e valorizadas para os empreendimentos privados e, ao melhorarem suas condições, os moradores desses apartamentos populares eram obrigados a desocupar o imóvel. Assim, a oferta estatal não apresentava nenhuma ameaça para a iniciativa privada.

Imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, intensificou-se a construção de subúrbios nos Estados Unidos, conforme relata o autor. Só Levittown, construída nos arredores de New York entre 1947 e 1951, oferecia 17.400 casas unifamiliares para a nova classe média. Com a explosão dos subúrbios, o automóvel virou uma necessidade e grandes áreas urbanas converteram-se em vias, rodovias, viadutos, estacionamentos e garagens. A indústria automobilística movimentava a economia norte-americana e a suburbanização da cidade garantia a demanda pelo carro.

De acordo com Ross, a priorização de investimento nos subúrbios fez com que os centros das cidades ficassem cada vez mais decadentes e abandonados. Para contornar essa situação, surgiu o urban renewal com o Housing Act de 1954. A intenção era de promover reformas urbanas nos centros das cidades para atrair de volta a classe média. Com isso, áreas consideradas degradadas – que iam desde favelas a bairros perfeitamente funcionais da classe trabalhadora – foram reformadas, não para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes originais, mas para substituí-los por membros da classe média. Esse processo é conhecido como gentrificação

Apesar da popularização dos subúrbios, Ross mostra que houve quem percebesse e se incomodasse com suas consequências negativas. Artistas, radicais políticos, jovens e boêmios viam os subúrbios como símbolo do conformismo da classe média. Para eles, as cidades pós-industriais eram vivas, humanas e agregadoras enquanto os subúrbios eram tediosos, massificados e socialmente mortos. Exemplo dessa manifestação é a música Little Boxes (1962) escrita e composta por Malvina Reynolds.

De acordo com o autor, não demorou muito para que surgisse um modelo de suburbanização para a classe operária. A criação de parques industriais fora das cidades gerou uma demanda por trabalhadores. Já a gentrificação expulsou as populações mais pobres dos centros. Consequentemente, surgiu um novo tipo de subúrbio: casas geminadas e apartamentos nos arredores remanescentes das cidades. Distantes das estações de trens, ônibus e comércio, os moradores dessas habitações populares também passaram a depender do automóvel para realizarem suas tarefas diárias.

Outro aspecto da suburbanização destacado por Ross é o movimento conhecido pelo acrônimo NIMBY (“not in my backyard”, traduzido para o português como “não no meu quintal”), surgido na década de 1970. Ele caracteriza-se pela rejeição, por parte dos moradores de uma determinada área, a qualquer intervenção urbana em seus arredores. Assim, propostas que promoveriam o benefício coletivo – como a expansão de linhas de trem - passaram a ser barradas pela resistência de moradores. Esse movimento lançou mão de duas ferramentas de convencimento: a preservação do patrimônio cultural e a preservação da natureza. Qualquer construção antiga era vista como monumento, ainda que não tivesse valor histórico, artístico ou cultural significativo. Qualquer área verde, ainda que degradada, era defendida como indispensável à qualidade da vida.

A construção de inúmeras autoestradas para conectar esses retalhos de cidade afugentou o pedestre e aumentou ainda mais a demanda por automóveis, segundo o autor. Assim, ao invés de oferecer o deslocamento rápido e confortável que pregavam, essas autoestradas urbanas ficaram cada vez mais congestionadas e lentas. Para fugir do tráfego intenso, escritórios empresariais migraram dos centros para os subúrbios, levando consigo os empregos. Ao acompanhar seus empregos, os trabalhadores da classe média dessas empresas compravam imóveis caros com financiamentos de longo prazo. Em 2008, estourou a bolha imobiliária nos Estados Unidos e os subúrbios mais afastados do centro foram os mais afetados.

Com o tempo, aponta Ross, os problemas decorrentes do espraiamento suburbano ficaram mais claros para os planejadores urbanos. O automóvel individual deixou de ser visto como a melhor solução para a mobilidade urbana. Os centros revitalizados e gentrificados inspiraram um movimento de revalorização de bairros antigos por aqueles que não apreciavam a proposta dos subúrbios. Em 1993, alguns arquitetos preocupados com a ocupação dispersa das cidades fundaram o Congresso do Novo Urbanismo. Ele rechaça os pressupostos e doutrinas que levaram à suburbanização da cidade e defende cidades compactas, caminháveis e com usos mistos para uma mesma área. A ideia de crescimento inteligente (smart growth) das cidades ganhou mais adeptos tanto por preocupações com a qualidade ambiental quanto com a justiça social.

Ao final do livro, Ross defende que os problemas decorrentes do espraiamento suburbano podem ser contornados. Ele propõe o adensamento urbano e a expansão do transporte coletivo para os subúrbios. O autor cita as renovações urbanas de Portland (cidade do estado de Oregon) como exemplares e acredita que a Purple Line em Washington D.C. promoverá a integração dos subúrbios ao centro da cidade. Ainda em tom otimista, o autor acredita que as habitações populares densas dentro da cidade, além de promoverem uma democratização, podem ser empreendimentos mais lucrativos para incorporadores imobiliários do que os subúrbios. Isso porque elas ocupam a terra mais racionalmente e sem desperdício tanto de área quanto de infraestrutura urbana.

O livro é singular por apontar uma origem tão inusitada e aparentemente controversa para a suburbanização: a utopia socialista de Fourier. A narrativa historiográfica de Ross mostra como uma utopia social pode ser totalmente desvinculada de seu viés ideológico e transformada em algo formalmente semelhante, mas essencialmente diferente. Semelhantes em seu aspecto formal, tanto os falanstérios quanto os subúrbios se caracterizam por uma baixa densidade populacional e pela presença de grandes áreas verdes. Diferentes em sua essência, enquanto os falanstérios propunham uma vida comunal socialmente harmônica e sem a divisão de propriedade, os subúrbios incorporam a lógica fundiária capitalista da propriedade privada extremada. Extremada porque o direito de propriedade extrapola os limites do terreno e alcança áreas vizinhas com o movimento NIMBY.

Outro aspecto a destacar no texto é o seu fecho otimista. Muitas são as críticas ao espraiamento suburbano, mas poucos autores arriscam a tecer soluções para o problema. Ross propõe soluções como o adensamento urbano, a expansão do transporte coletivo e a substituição dos estacionamentos de superfície por garagens subterrâneas. Ainda é cedo para dizer se as medidas propostas por Ross são, de fato, eficientes. Ele apresenta alguns exemplos de sucesso, mas ainda são poucos e a maioria é de uma única cidade, Portland. Pode ser que o futuro prove o contrário, mas os argumentos e exemplos usados pelo autor são convincentes.

Apesar de envolvente e difícil de discordar da narrativa, em alguns trechos o livro exagera em sua militância. Um desses momentos é quando identifica os subúrbios como um movimento político da direita. Como o próprio autor argumentara anteriormente, as ideologias podem ser alteradas dentro de um mesmo modelo de configuração urbana. Além disso, Ross parece depositar muita confiança no transporte coletivo suburbano como elemento transformador. A confiança é tão grande que, em alguns momentos, parece ingenuidade. Um exemplo disso é acreditar que os norte-americanos votarão mais com a expansão do transporte coletivo ao citar um estudo que aponta o maior comparecimento eleitoral entre usuários de trem do que motoristas de automóveis individuais. Contudo, essa militância não supera as qualidades da obra. Dead End: Suburban Sprawl and the Rebirth of American Urbanism é um livro que traz uma nova forma de entender o espraiamento urbano e de pensar o futuro das cidades.

sobre a autora

Priscila Pimentel Jacob é arquiteta e urbanista pelo Centro Universitário de Brasília (2010); licenciada em letras pela Universidade de Brasília (2010); especialista em análise ambiental e desenvolvimento sustentável Centro Universitário de Brasília (2015); e mestranda em desenvolvimento sustentável pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília.

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resenha do livro

Dead end

Dead end

Suburban sprawl and the rebirth of American urbanism

Benjamin Ross

2014

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