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português
Vilanova Artigas. Casas Paulistas é uma reflexão sobre a obra de Artigas, centrada nas casas, construídas ou não, entre 1940 e 1981. Ricamente ilustrada, oferece uma proposta de revisão da visão historiográfica tradicional sobre o arquiteto.

english
Vilanova Artigas. Casas Paulistas, consideration on Artigas's oeuvre, centered on the houses, built or not between 1940 and 1981. Abundantly illustrated, it offers a proposal to revise the traditional historiographical view about the architect’s work.

español
Vilanova Artigas. Casas Paulistas es una reflexión sobre la obra de Artigas, centrada en las casas, construidas o no, entre 1940 y 1981. Ricamente ilustrado, ofrece una propuesta de revisión de la visión historiográfica tradicional sobre el arquitecto.

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VÁZQUEZ RAMOS, Fernando Guillermo. Ao sul da colina: a casa paulista. A obra de Vilanova Artigas na visão de Marcio Cotrim. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 199.03, Vitruvius, jul. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.199/7052>.


João Batista Vilanova Artigas é figura importante na construção da arquitetura moderna. Deveríamos acrescentar, como é comum, os adjetivos paulista e mesmo brasileira, mas resistimos a fazê-lo, pois reforçaríamos o entendimento de que essas arquiteturas (a paulista ou a brasileira) são uma parte diferente da arquitetura moderna como um todo. Já faz quase 50 anos que Oriol Bohigas se levantou “contra uma arquitetura adjetivada”, e, ainda que não pelas mesmas razões que o brilhante arquiteto e crítico (que também poderíamos adjetivar como espanhol ou, mais especificamente, como catalão, mas é justamente o que não queremos aqui), pensamos que a adjetivação não deve ser usada no sentido de afirmar diferenças, pois isso nos parece apequenado. Não porque não sejam evidentes na arquitetura de Vilanova Artigas as características próprias da situação histórica que lhe tocou viver, a de conceber e produzir arquitetura na São Paulo e no Brasil dos anos 1940-1970 – uma arquitetura que dependia de técnicas construtivas específicas e do uso de materiais também determinados pela situação produtiva do país. Culturalmente atrelado a correntes de pensamento dominantes, entre elas a situação da Guerra Fria e os posicionamentos políticos possíveis (à esquerda ou à direita), então submetidos às informações recebidas pelos meios acessíveis na época, num mundo que ainda não estava globalizado e interconectado.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Contudo, a arquitetura moderna não é um fenômeno regional e menos ainda local. Já desde sua origem, partiu como manifestação internacional; era global avant la lettre. Seus protagonistas se empenharam muito em propagar as ideias do movimento moderno por todo o mundo, desde os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna – CIAM, fundados em 1928, até a montagem da União Internacional de Arquitetos – UIA, nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Incluiríamos nesse esforço as viagens internacionais de muitos de seus representantes mais notáveis, como Frank Lloyd Wright e Le Corbusier (antes da Guerra), e a diáspora de arquitetos europeus tanto no entre guerras como depois de 1939 e ainda depois de 1945. Certamente, a diáspora não foi uma ação intencional, mas motivada por uma tragédia horrível que impactou o mundo todo, mas o efeito de difusão, divulgação e adaptação da arquitetura moderna feitas por europeus fora da Europa ajudou a consolidá-la para além dos reduzidos limites do continente.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

A mistura das caraterísticas locais – as brasileiras, por exemplo, ainda que o Brasil a que se refere o adjetivo seja bem menor que o país propriamente dito (1) – com as formas de entender e de fazer arquitetura que se constituíram na complexa situação cultural, social, política e tecnológica da Europa do primeiro quartel do século 20 – e aqui devemos incluir tanto as experiências de Frank Lloyd Wright como as das vanguardas russas, que trabalharam freneticamente imediatamente depois da Revolução de Outubro – foram múltiplas e enriqueceram o que hoje conhecemos como arquitetura moderna. Uma manifestação cultural que percorreu não só diferentes pontos do planeta, mas também diferentes épocas, marcadas por condicionantes muito variadas, desde fins do século 19 até quase fins do seguinte.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Voltando a Artigas, dizíamos de sua importância nessa arquitetura moderna cuja construção foi internacional, e por essa razão deve ser considerada dentro do amplo fluxo criativo desse movimento cultural. Nesse caso, estar dentro significa fazer parte não só como herdeiro de uma tradição – a da arquitetura moderna, que formalmente remonta aos estertores do século 19 –, mas também como inovador e promotor de uma forma particular de entender e produzir arquitetura nesse legado. Como afirma Marcio Cotrim (p. 38-39), Artigas não incorpora os mecanismos usados pelos arquitetos modernos que o precederam, mas adapta “a lógica implícita no procedimento de resolução da problemática arquitetônica [que esses arquitetos desenvolveram] condicionada pelo meio físico-cultural” onde viveu. A adaptação não é sintática ou normativa, mas analítica e especulativa. Admite a referência, mas adequando-a às condicionantes específicas que lhe são dadas.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Esse é o trabalho que Marcio Cotrim se propõe analisar no esplêndido Vilanova Artigas: casas paulistas. Veja-se que a adjetivação não se aplica à arquitetura, mas às casas. Uma diferença sutil, mas muito significativa para o entendimento do trabalho de Artigas como um digno representante da construção de um movimento amplo que se estendeu pelo Ocidente num curto prazo de 20 anos (1910-30), adaptando-se rapidamente às necessidades e às circunstâncias locais. São obras circunstanciadas que, por sua vez, percorreram novamente o mundo, engendrando outra série de influências e desdobramentos, num fluxo enriquecido e enriquecedor de experiências.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

No texto de Cotrim, são as casas paulistas que estão sendo estudadas – seria melhor dizer pensadas – nesse trabalho consistente e rigoroso (metodológico e conceitual). As casas concentram a densidade propositiva do arquiteto (Artigas) e também a do crítico (Cotrim). São o cerne de uma questão mais ampla, que envolve a arquitetura como um todo – não só a paulista (adjetivo das casas) –, num entendimento da forma como a sociedade se propôs viver, habitar.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Como aponta Cotrim, a construção dessa sociedade que se expande rumo ao sudoeste na ampliação territorial da metrópole paulistana deve ser pensada arquitetonicamente, ainda que nem sempre se construa dessa forma, pois é sabido que a cidade foi feita de incertezas e descasos muito além da arquitetura. Mas os arquitetos que acompanharam esse crescimento e essa construção, como Artigas, foram obrigados a pensar nas melhores formas de construí-la e habitá-la. Por isso é tão importante a casa paulista que Cotrim nos apresenta. Não porque tenha de fato construído a cidade (o que evidentemente não fez), mas porque a pensou de um modo diferente. Assim, por um lado, Cotrim identifica a possibilidade de delimitar uma nova dimensão tipológica na obra de Artigas (o que é em si uma façanha, porque já há uma importante sedimentação do entendimento de como funcionam as casas de Artigas), e, por outro, propõe uma aproximação estética dos aspectos materiais e técnicos que o arquiteto experimentou em seus mais de quarenta anos de trabalho profissional.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

A casa concentra o conhecimento arquitetônico do arquiteto. Ela se apresenta como receptáculo da experiência, assim como da experimentação. Resolve-se como resultado de uma tradição, que, no caso de Artigas, Cotrim associa ao trabalho de vários arquitetos do panorama internacional da época, de Frank Lloyd Wright e Le Corbusier (já apontado por outros autores) a Marcel Breuer, Richard Neutra e Rudolph Schindler. Também a seus colegas locais, que foram importantes na construção de sua proposta pessoal, como Oswaldo Bratke e Oscar Niemeyer. E, entre esses extremos (o internacional e o nacional), Cotrim nos apresenta os imigrantes, também muito importantes, destacando Rino Levi, Giancarlo Palanti, Victor Reif, Lucjan Korngold, Charles Bosworth e Bernard Rudofsky.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
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Não que o trabalho desses arquitetos, cujas influências são perceptíveis, determine a obra de Artigas, mas é nesse caldo de ideias que ele desenvolve sua própria experiência concepcional. É a partir desse magma que a experimentação individual o leva a desenvolver formas e procedimentos de cunho pessoal que passam a caracterizar e identificar sua obra, tornando-a uma referência para as gerações futuras.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Na excelente e erudita apresentação do livro, Fernando Alvarez Prozorovich e Abilio Guerra situam esse posicionamento no fluxo da arquitetura moderna, quando advertem que Cotrim não cai na cilada das influências determinantes, das filiações e linhagens de sangue, da genealogia. Pelo contrário, inteligentemente, apresenta um Artigas que está pensando o futuro ao mesmo tempo em que entende e respeita o passado. Assim, a obra que projeta (construída ou não) se constitui como resultado da elaboração de uma tradição internacional e substrato de continuidade na obra de seus alunos, sempre renovada, e não copiada. Cotrim não entra nesse tema, mas pensamos ainda que, justamente por esse valor de consolidação de uma maneira pessoal de entender e fazer arquitetura moderna, a obra de Artigas se transformou em objeto de pesquisa e reflexão de arquitetos que, anos depois de sua morte (a geração que se forma na FAU USP nos anos 1990, por exemplo), retomaram a pesquisa sobre a casa paulista do ponto onde ele a deixou nos anos 1970. Embora não no campo da prática projetual, Cotrim segue esse caminho.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Seu livro não foge só da simplificação historiográfica apontada pelos apresentadores, mas também da aproximação hagiográfica a que tende inexoravelmente parte da historiografia da arquitetura, aos feitos dos grandes nomes e à incrível construção da história apenas por meio de sua ação. Mas não devemos entender erroneamente a aproximação proposta. Não é que não se considere a genialidade de Artigas como um diferencial importante na construção da arquitetura moderna, mas o fato de o autor constantemente situá-lo historicamente revela o entendimento dos processos pelos quais passou para chegar ao que fez. A mediação das obras ajuda nesse sentido, pois só há a concepção de uma arquitetura possível dentro dos parâmetros sociais, culturais, econômicos e técnicos que coloca o momento histórico.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Ainda assim, é importante lembrar que o arquiteto não extrai da sociedade a mesma experiência que outros – matemáticos, por exemplo (2) –, por isso a produção arquitetônica não é o resultado simples e direto da manifestação da sociedade (a busca estéril das “correlações”, apontada por Ulpiano de Meneses), mas uma interpretação mediada pelo arquiteto, como artista e como cidadão. O mérito do trabalho de Artigas está justamente em ter conseguido conformar a matéria formada (no sentido que Pierre Francastel dá a esse conceito) de modo a exprimir o pathos da época e ainda propor uma possibilidade de futuro (utópico, certamente), cuja realidade concreta foi possível construir num momento em que ainda não era possível reproduzi-la socialmente. Como aponta Cotrim citando o próprio Artigas, suas casas foram projetadas para um grupo de amigos, conhecidos e intelectuais que “compreenderam a necessidade de mudar a estrutura social de sua família e viver num espaço diferenciado em relação àquele com que se poluía a cidade de São Paulo” (p. 62).

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Foge à hagiografia também porque se concentra nas obras. Parafraseando novamente a Francastel, um enfoque teórico da arte deveria começar sempre pelas obras concretas, para extrair delas os dados de uma realidade implícita em seu interior, que não é necessariamente a realidade social, política ou econômica e nem sequer a realidade técnica da própria obra; deveria informar sobre princípios ou regras que nos ajudassem a entender o caráter sistêmico da produção de um artista. Cotrim realiza esse trabalho de pesquisa e chega ao que denomina “novas camadas interpretativas” (p. 270). Entre comparações, sobreposições e separações, estabelece “os critérios gerais dos projetos” estudados. “A revisão – afirma – buscou principalmente identificar a presença dos componentes primordiais da arquitetura residencial de Artigas e segui-los de forma que indicassem evidenciadas tanto sua diversificação como sua continuidade” (p. 270). Ou, em outras palavras, “a estrita análise direta de obras de arte devidamente selecionadas em função de seu particularismo e tendo em conta sua influência ulterior” (3).

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
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Assim, o texto aponta uma experiência teórica – e não apenas historiográfica – da arquitetura apoiada em farto material documental apresentando um grande número de desenhos originais (muitos inéditos) dos projetos em pauta e complementando a discussão com desenhos próprios, que elucidam vários dos pontos abordados, um material imprescindível para se compreenderem as articulações conceituais do trabalho. As obras surgem robustecidas pelo material iconográfico, e o texto sustenta a compreensão que tem delas o autor, o que nos leva a ver esse livro como resultado de uma abordagem filológica.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
Imagem divulgação [Romano Guerra Editora]

Gustavo Rocha-Peixoto afirma que a história da arte (e a da arquitetura) pertence a uma tradição diferente da que sustenta a história social (4). Ainda que ambas se valham de documentos, a história da arte derivaria da filologia porque “se interessa por textos [ou obras, no caso da arquitetura] que têm um valor artístico, ou lógico-cognitivo permanente”, enquanto os textos da história social já perderam seu valor social e não têm valor estético, portanto, sua significação é estritamente pretérita. “A arquitetura sempre exerceu sobre seus observadores algum tipo de fascínio, provocou algum tipo de fruição estética, apesar das diferenças de valores ente as eras” (5), e, embora se entenda que se trata de obras do passado, continuam a nos emocionar ainda hoje. A perplexidade que nos causa evidencia seu valor presente, ainda que nossas emoções sejam diferentes das que sentiram nossos antepassados. O livro de Marcio Cotrim tem essa característica de obra de filologia que, sustentada no entendimento e na aproximação às obras, nos permite entender uma época, as quatro ou cinco décadas que levaram à construção de um Brasil moderno, berço de uma arquitetura de alta qualidade formal e técnica que pretendia albergar uma sociedade democrática.

Páginas do livro Vilanova Artigas: Casa Paulistas, de Marcio Cotrim
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notas

1
Seria, digamos, um Brasil reduzido, que, entre 1930-60, se constituiria apenas por Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Foi nessas cidades que começaram a funcionar as primeiras escolas de arquitetura e onde os arquitetos não só se formavam, mas trabalhavam majoritariamente. Durante os anos 1970, apareceram também em Salvador, Recife, Brasília, Curitiba e Belém, ampliando o leque de escolas e de locais de trabalho para os anos 1980, mas já em outras perspectivas culturais, sociais e sobretudo políticas.

2
FRANCASTEL, Pierre. Sociologia del Arte. Buenos Aires, Emecé, 1972, p. 13.

3
Idem, ibidem, p. 13.

4
ROCHA-PEIXOTO, Gustavo. A estratégia da aranha. Rio de Janeiro, Rio Book’s, 2013, p. 87.

5
Idem, ibidem, p. 91.

sobre o autor

Fernando Guillermo Vázquez Ramos é professor adjunto no programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da USJT. Coeditor da revista arq.urb. Doutor (Univ. Politécnica de Madrid, 1992); Magister (Inst. de Estética y Teoria de las Artes, Madri, 1990); Técnico em Urbanismo (Inst. Nac. de Adm. Pública, Madri 1988); Arquiteto (Univ. de Buenos Aires, 1979).

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Vilanova Artigas

Vilanova Artigas

Casas paulistas 1967-1981

Marcio Cotrim

2017

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