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reviews online ISSN 2175-6694


abstracts

português
O livro do arquiteto italiano Franco Panzini trata da história da arquitetura paisagística desde as origens até o final do século XX e é uma obra muito completa e documentada, obrigatória para os que se dedicam aos jardins e às paisagens.

english
The Italian architect Franco Panzini wrote the history of landscape architecture from the beginning to the end of the twentieth century. It is a very complete and documented work, obligatory for those who are dedicated to gardens and landscapes.

español
El libro del italiano Franco Panzini se ocupa de la historia de la arquitectura paisajística desde los orígenes hasta finales del siglo XX y es una obra muy completa y documentada, obligatoria para los que se dedican a los jardines y los paisajes.

how to quote

SAKATA, Francine. Panzini e os parques urbanos. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 193.06, Vitruvius, jan. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/18.193/6850>.


O livro do arquiteto italiano Franco Panzini trata da história da arquitetura paisagística desde as origens até o final do século 20 e foi primeiro publicado na Itália. A edição brasileira foi “aperfeiçoada e ampliada”, ganhou prefácio de Guilherme Mazza Dourado e é dedicada a Fernando Chacel.  Para aqueles que estudam a história da arquitetura paisagística, a obra de Panzini se equipara ao livro de Geoffrey e Susan Jellicoe, El Paisaje del Hombre, de 1975, com edição da Gustavo Gili de 1995. Ambos são detalhados, cronológicos e claros;  a obra de Jellicoe tem imagens maiores e melhores, mas não há versão em português. O texto de Panzini é mais fluido para o leitor e ele cobre o final do século 20.

A história dos jardins e dos parques públicos surge pelo capítulo 8 e esta resenha trata deste tema, dentro da obra de Franco Panzini. A construção dos parques é apresentada como uma construção coletiva: o autor vai somando os acontecimentos na França, na Inglaterra, no Oriente, na Alemanha, nos Estados Unidos e no Brasil, que contribuíram para a construção do pensamento e do patrimônio paisagístico universal.

Parque de Versailles
Foto Toucan Wings [Wikimedia Commons]

Nos séculos 16 e 17, na Itália e na França, os grandes jardins se tornaram, para a elite, lugares de trocas sociais, de festas cenarizadas, dos conchavos e das intrigas. Prova disso foi o confisco do palácio de Vaux-le-Vicomte por Luís XIV (1661) e a construção de Versailles. A ideia do jardim como elemento para a representação do poder de seu proprietário e de um Estado inteiro se estendeu a toda Europa, mesmo à Inglaterra.

Mas a Inglaterra rejeitou o estilo geométrico dos jardins italianos e franceses e, no cenário dos latifúndios, foi forjado um novo estilo paisagístico, no qual os parques constituíam uma metáfora da individualidade britânica. Um exemplo é a residência de campo construída em  1725, em Chiswick, nos arredores de Londres, com um grande jardim ao redor da mansão, com caminhos serpenteantes, bosques de aspecto natural, tanques, obeliscos e pequenos templos. A imagem que se buscava era a do campo antigo e idealizado. As etapas de visitação do jardim eram repletas de citações poéticas e históricas: aqui, um templo grego; mais à frente, um pagode chinês.

Panzini escreve que para os proprietários rurais das classes elevadas, as paisagens campestres se tornaram “recursos cênicos nos quais a nação era apresentada como uma nova Roma republicana a caminho da grandeza imperial. Com uma genial inversão da perspectiva histórica, os fragmentos das épocas antigas presentes nos parques não se referiam ao passado, mas ao futuro; eram metáforas do destino da Inglaterra”.

Nesta época, as terras públicas, os commons, foram cercadas e muitos camponeses se mudaram para as cidades, de forma que havia muitas propriedades a modelar e muitas fortunas disponíveis para isto.  O paisagista Lancelot Brown desenhou tantos parques e resolveu tantas situações difíceis de lagos e morros e ganhou o apelido “Capability Brown”.  A técnica de Brown, segundo o historiador, “consistia em valorizar o que já estava presente no ambiente sobre o qual intervinha e do qual, seguindo uma estética de formas suaves, eliminava o que considerava elementos dissonantes. Depois de sua intervenção, a topografia resultava num conjunto dinâmico de concavidades e convexidades, com matas de ritmo sinuoso, fossos serpenteantes, cascatas, laguinhos acomodados com cuidado em suaves depressões cobertas pela relva e pequenas arquiteturas que se refletiam nos espelhos d´água. Para enfatizar o senso de profundidade das vistas, ele se servia de grupos de arvoredos de espécies autóctones sempre plantados de forma alternada, enquanto para obter efeitos ornamentais específicos, usou exemplares isolados de espécies exóticas”. Esta visão ainda persiste, livre da ornamentação. O Parque do Ibirapuera (1940) foi concebido nestes termos. Muitos parques de hoje são simplificações desta postura.

William Chambers, no Kew Gardens (1761), buscou jardins com mais efeitos que os de Capability Brown. Convencido que os jardins orientais suscitavam efeitos nos visitantes: sedutores, tenebrosos ou agradáveis, ele criou sequencias de vistas que fossem capazes de criar impressões. A busca pelas sequencias de vistas que provoquem sensações e surpresas nos visitantes é ainda hoje objetivo de muitos trabalhos de arquitetura paisagística.

No século 18, ao lado do nascimento de um novo estilo, nasceu esta nova categoria: o jardim público que, de início, eram jardins particulares, usados de modo relativamente coletivo. Em algumas cidades europeias, a partir do final do século 16, foi se desenvolvendo o hábito de passear por jardins aristocráticos, abertos às camadas urbanas emergentes, ansiosas por reproduzir modos sociais da elite. As avenidas arborizadas, ou boulevares, são desta época e foram feitos na Espanha, na Itália, na França e nas cidades espanholas. O passeio público do Rio de Janeiro (século 17) deriva deste movimento e se prestava a embelezar a cidade nos moldes europeus, como um caminho para o passeio da elite local, com vestidos e casacas pesadas, sob o sol dos trópicos, com vista para o mar.

O meio urbano não tinha a ver com os campos ingleses mas o estilo paisagístico romântico e naturalista das propriedades rurais foi transposto para as cidades em residências urbanas, praças e parques. O Regents Park, projetado por John Nash, foi o primeiro parque de grandes dimensões a fazer o casamento do estilo inglês com o parque urbano e, mais, com a comercialização das ricas habitações que foram locadas no entorno da área verde.

Regents Park, Londre, arquiteto John Nash
Foto Sheila Madhvani [Wikimedia Commons]

Em Paris, entre 1853 e 1870, o Barão de Haussmann dirigiu um colossal plano de renovação urbana que teve como marca registrada a criação de “uma rede hierárquica de espaços verdes, definidos tipologicamente pelas dimensões e funcionalidades em relação ao raio de influência: dois grandes parques destinados a toda a metrópole e situados em quadrantes opostos; parques de dimensões menores nos bairros em formação; pequenos espaços verdes no tradicional centro histórico; e, por fim, arvoredos nas ruas”. O jardim público tornava-se a unidade de construção da cidade.

Adolphe Alphand foi o paisagista encarregado e produziu parques ricamente ornamentados por riachinhos, pedras e grutas moldadas em concreto, pontes ‘de madeira’ também de concreto, quiosques e suportes para cartazes em ferro fundido, etc.  Na cidade, a construção idealizada da natureza era feita com o que havia de mais sofisticado na indústria. Afinal, era também preciso projetar uma imagem de modernização.

Central Park, Nova York, paisagistas Frederick Law-Olmsted e Calvert Vaux
Foto Ed Yourdon [Wikimedia Commons]

Nos Estados Unidos, em 1857, foi aberto o concurso para o projeto do Central Park, vencido por Frederick Law-Olmsted e Calvert Vaux. O Central Park, com sua sucessão de ambientes pitorescos, ornados com fontes, rochas e bosques, e o terreno inteiramente moldado como os campos ingleses, foi um grande sucesso. Apesar das críticas aos custos exorbitantes, o Central Park foi, desde o início, muito frequentado pela população e favoreceu a venda de imóveis de luxo em suas redondezas.

Em Boston, Olmsted foi também responsável por uma sequencia de espaços abertos de várias dimensões, unidos entre si por ruas inseridas na vegetação. A sequencia de áreas verdes foi chamada Emerald Necklace (Colar de Esmeraldas) onde as joias são os parques. Cinco parques foram realizados: Back Bay Fens, Leverett Park, Jamaica Park, Arnold Arboretum e Franklin Park.

Século 20

Para Panzini, o parque moderno com infraestrutura para a prática esportiva e recreativa ao ar livre, como expressão do lazer de massa e não da beleza ideal, foi criação dos alemães. No início do século 10 e especialmente após a I Guerra Mundial, implantou-se um número impressionante de espaços verdes que se ofereciam como lugares para a população socializar em contato com a natureza e sua inesgotável vitalidade. Os Volkspark eram sóbrios, com campos circundados por maciços de árvores de espécies europeias, sem concessões ao exotismo, e abrigavam uma variedade de instalações como campos de atletismo, quadras de tênis, tanques de areia para crianças, pista de patinação, piscina infantil e hortas-jardim. O Amsterdam Bos, o Bosque de Amsterdam, é um parque público na escala regional que evoluiu a partir da experiência dos Volkspark. O século 20 apontava novos ideais para os parques públicos e para as cidades modernas.

Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro. Arquiteto Lúcio Costa e equipe, paisagista Roberto Burle Marx
Foto Nelson Kon

São então apresentas, no livro, as cidades modernas, inclusive Brasília e explica a transição dos modelos clássicos de composição de jardins para os jardins modernos. Entre o final do século 19 e início do 20, entre a tradição e o experimentalismo, houve uma fase de mistura estilística que foi chamada de ecletismo. Um senso nostálgico de retorno à ordem e o nacionalismo que caracterizava o período foram traduzidos na sobreposição de uma profusão de tendências diversas, na colagem de jardins à italiana, à francesa ou à inglesa. Muitas residências de magnatas americanos são revivals de vilas italianas.

Parc de la Creueta del Coll, Barcelona, arquitetos Josep Martorell e David Mackay
Foto Canaan [Wikimedia Commons]

Em 1925, o movimento de buscar transpor os princípios da arte e arquitetura modernas para a composição dos jardins teve impulso com a grande Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes, em Paris. Os jardins uniam os pavilhões e houve um estímulo para o conceito de jardim fosse redefinido. Entre os mestres do paisagismo moderno, está Burle Marx que ganha projeção com os jardins do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, projeto de Lucio Costa e Oscar Niemeyer que contou com a consultoria de Le Corbusier.

Parc La Villette, Pais, arquiteto Bernard Tschumi
Foto Abilio Guerra

Nos Estados Unidos, foi Thomas Church quem primeiro definiu um novo estilo para o desenho dos jardins, vinculado à arte moderna abstrata. Mais tarde aliado a Lawrence Halprin, os dois paisagistas assinaram jardins com linhas sinuosas e quebradas, formas de cores chapadas, manchas de arbustos. Panzini apresenta jardins particulares como exemplo, mas nenhum parque público.

Parc de Bercy, Paris, arquitetos Bernard Huet, Madeleine Ferrand, Jean-Pierre Feugas e Bernard Leroy, paisagista Ian Le Caisne e Philippe Raguin
Foto Francine Sakata

Nos anos 1960 e 1970, os parques públicos foram feitos com “aquele naturalismo que impregnou as propostas verdes dos arquitetos do movimento moderno, prevalecendo uma espécie de novo romantismo na composição dos espaços”. Nas últimas décadas do século 20, os parques voltam a ganhar destaque, com a redescoberta do papel de qualificação cultural que o jardim pode desempenhar. Nos novos parques de Barcelona, como o Parc de la Creueta del Coll (1987) e o Parc Diagonal Mar (2001) e Paris, no Parc de de la Villette (1997), Parc de Bercy (1997) e Parc André Citröen (2001) são experimentadas as novas sintaxes do cenários paisagístico contemporâneo. Panzini não esquece dos parques de Fernando Chacel e Sidney Linhares na Barra da Tijuca que combinam manguezal, dunas e jardins em uma “paisagem complexa, ecologicamente correta e esteticamente agradável", segundo as lições de Burle Marx.

Parc Citroen, Paris, arquiteto Patrick Berger e paisagista Gilles Clement
Foto Abilio Guerra

sobre a autora

Francine Gramacho Sakata é arquiteta e mestre em Estruturas Ambientais Urbanas (FAU USP, 1996 e 2005). Autora de Paisagismo urbano: requalificação e criação de imagens e coautora com Silvio Macedo de Parques urbanos no Brasil. Membro da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas – ABAP. Desenvolve projetos de arquitetura paisagística e arquitetura através da empresa NK&F Arquitetos Associados.

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resenha do livro

Projetar a natureza

Projetar a natureza

Arquitetura da paisagem e dos jardins desde as origens até a época contemporânea

Franco Panzini

2013

193.06 livro
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