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Rádios Pescando na Oca, Guto Lacaz
Foto Edson Kumasaka

Até 1882, passar roupa era uma tarefa que exigia enorme esforço físico, envolvia o contato com fuligem e não eram raras as queimaduras na pele. Criado pelo norte-americano Henry Seeley, o ferro elétrico teve um impacto tão representativo na sociedade que em 1935, quando os eletrodomésticos já eram populares nos Estados Unidos, a criação foi considerada a mais essencial pelas donas de casa do país, superando aparelhos revolucionários, como geladeira e máquina de lavar. Também do final do século XIX, a lâmpada incandescente de Thomas Edison reinou absoluta na iluminação pública e doméstica por décadas. Com o surgimento de modelos mais eficientes, esta velha conhecida vem sumindo do mercado. Desde 2013, bulbos acima de 100W não são fabricados no Brasil e no último dia 1º julho, também foram proibidas a venda e a produção dos de 60W.

Para contar estas e muitas outras histórias de invenções desenvolvidas nos últimos 150 anos, os curadores Marcello Dantas e Agnaldo Farias selecionaram aproximadamente 35 obras de cerca de 30 artistas contemporâneos mundiais que interpretaram algumas destas grandes criações, que mudaram a história do mundo e a vida do homem. Com patrocínio do HSBC e apoio do Instituto Goethe, a exposição “Invento | As Revoluções que nos Inventaram”, uma espécie de museu de ciências feito por artistas, será apresentada de 5 de agosto de 4 de outubro de 2015 na Oca, do Parque Ibirapuera, em São Paulo, com entrada franca.

“Ao incorporar as invenções em suas obras, os artistas em geral pensam em desfuncionalizá-las, afastá-las de sua função original para lhes oferecer uma reencarnação de seu sentido social. A verdade da arte não é a mesma da história. As máquinas servem – a arte não está a serviço. Ao inventar coisas, de fato, inventamo-nos”, afirma Marcello Dantas.

Caixas acústicas garimpadas em antiquários na obra de Cardiff

O poder de transformação de inventos como o rádio, o elevador, a máquina de escrever e o carro, é sempre o fio condutor da exposição. Multidisciplinar e interativa, ela terá conteúdos exclusivos sobre a importância histórica de cada criação, além de um catálogo com todo o material da mostra e texto assinado pelo historiador americano Joshua Decter.

Destaques internacionais de "Invento"

“Invento” traz ao Brasil trabalhos icônicos, como Gift (1958, or. 1921) de Man Ray, um ferro de passar com uma linha de pregos afiados, prontos a destruir qualquer roupa com inquietante simetria. Alinhada ao movimento Dada, a obra reflete sobre as formas de aprisionamento estético, doméstico e comportamental de seu tempo.


Obra de Man Ray

Outro exemplo é a guitarra elétrica Bender Distortocaster personalizada por Andy Warhol para Lou Reed, do Velvet Underground, em 1967. Inaugurando a chamada arte pop, ele é o autor da banana em decomposição que estampou a capa do disco de estreia da banda e se tornou seu símbolo.

Caixas acústicas garimpadas em antiquários na obra de Cardiff

Entre os trabalhos desenvolvidos especialmente para “Invento” está Experiment in F#Minor (2013/2015), de Janet Cardiff e George Bures Miller, uma instalação sonora interativa composta por diversos tipos de caixas acústicas, de diferentes épocas, garimpadas em antiquários, que são acionadas pela presença do público. Quanto mais pessoas se aproximam das caixas, mais densidade ganha o som da orquestra, fazendo da ação um processo de criação coletiva.

Máquina de escrever de Damian Ortega Cardiff

O site-specific Crepúsculo (2015), de Christian Boltanski, trará uma instalação com 480 lâmpadas incandescentes que queimarão uma a uma, de hora em hora, até o final da mostra, numa alusão ao fim da comercialização deste tipo de bulbo. Em contraponto a esta obra, está Little Sun, de Olafur Eliasson, uma lâmpada LED a energia solar capaz de fornecer luz por até dez horas, criada pelo artista com o objetivo de favorecer populações que não têm acesso à eletricidade. Como pequenos “sóis particulares”, o dispositivo – que é comercializado on-line e em lojas de arte, subsidiando as vendas a preço de custo em países carentes de energia elétrica – será utilizado por toda a equipe de apoio da exposição como um acessório pessoal.

Julian Opie, responsável pela identidade visual de bandas como U2 e Blur, representa o celular, uma extensão do corpo humano na atualidade. Reproduzindo a silhueta em movimento de um passante, a animação Mechanic(2014) enfoca o ato de caminhar, enquanto se lê ou se assiste a um vídeo na tela do celular.

Obra do artista belga Panamarenko, 1940
Foto divulgação

O surgimento de meios de transporte também tem espaço em “Invento”. De Panamarenko, Raven’s Variable Matrix (2000) revisita o avião Demoiselle, criado por Santos de Dumont. O artista – que, curiosamente, tem medo de voar – faz das invenções alheias a matéria prima para suas próprias, apostando no impossível e em traquitanas que sabidamente não podem funcionar.

Para Leandro Erlich, o elevador não é apenas o meio de transporte mais popular de todos os tempos, mas um ambiente de encontro e surpresas. Em uma das paredes do espaço expositivo, ele apresentará Elevator Pitch (2011), com sua porta que se abre de tempos em tempos, revelando universos a serem desvendados – ou ignorados à espera do próximo.

Obra de Nam June Paik

A televisão e o seu poder sobre as mentes e ambientes marcaram a carreira de Nam June Paik, o “pai da videoarte”. Gertrude Stein (1990), inspirada na escritora modernista americana, é uma escultura em forma de robô construída a partir de aparelhos de TV, discos de vinil e autofalantes, que aborda a interação entre homem e máquina e as possibilidades da inteligência artificial.

Também tratando da TV, mas do ponto de vista da teledifusão, Reverse Television - Portraits of Viewers foi proposto por Bill Viola a uma emissora regional nos Estados Unidos em 1983. Ele criou spots na programação com vídeos de 30 segundos que retratavam pessoas comuns em frente aos seus televisores, como se o sentido da transmissão fosse subitamente invertido.

Damián Ortega está presente em “Invento” com duas obras. A espetacular Materialista, onde ele fragmenta um caminhão de porte real em centenas de pedaços. Em uma segunda obra, imerso em uma comunidade de chimpanzés selvagens na Nigéria, Ortega desenvolveu Mechanism level: Speech. Complex Mechanism / Self-sufficient (1991), uma máquina de escrever artesanal de apenas uma tecla. Identificando pontos de encontro na psique dos primatas e dos homens, o artista localiza no discurso uma forma de síntese, buscando uma possível conciliação entre natureza e cultura.

Na mesma temática está Sanatorium (2011), de Pedro Reyes, que se opõe à solidão do divã na psicanálise, propondo aos visitantes uma experiência terapêutica coletiva. O trabalho é composto por seis ambientes participativos, nos quais o brincar e a conexão com o outro têm papel crucial, inspirado pelo método de Paulo Freire e as terapias de Lygia Clark e Augusto Boal.

Concreto de São Paulo na obra de Julius von Bismarck

Já Clockwork (2014), de Julius von Bismarck, se volta ao processo de produção do concreto armado. Disposto de forma circular, um conjunto de betoneiras funciona alternadamente, cada máquina desfazendo, pouco a pouco, fragmentos de construções de São Paulo, que serão coletados na cidade pelo próprio artista. O concreto vai do seu estado mais sólido ao pó, manifestando a transitoriedade inerente a toda criação.

Artistas rasileiros em "Invento"

“Invento” também reúne obras de diversos artistas brasileiros contemporâneos. Entre eles, o carioca Jarbas Lopes, que se vale da padronização industrial do automóvel para fazer uma provocação bem-humorada à forma como os bens de consumo são encarados na sociedade. Sua escultura O Bem e o Mal Entendido(2006) traz dois Fuscas, um preto e um branco, unidos pelas rodas de forma espelhada, remetendo ao símbolo taoísta yin-yang.

O sonho do consumo aparece mais uma vez em Projeto Care – Ajuda (1999), do paulistano Nelson Leirner. Uma geladeira repleta de refrigerantes remonta a uma prática assistencialista do governo dos Estados Unidos nos anos 1970, que consistia em doar a regiões pobres – como o Nordeste brasileiro – latas com víveres. As latas se tornam um bem-humorado exército de robôs de brinquedo, numa ação e reação de poderio e resistência criativa.

Nascida em São Paulo e radicada em Berlim, Renata Lucas apresenta Barulho de Fundo (2005/2006), um sistema eletrônico de vigilância com monitores que exibem imagens do prédio vazio da Bienal de São Paulo, até que curiosas presenças começam a figurar nas telas, brincando com a certeza de realidade destes registros.

Piano mecânico compacto (2009), criado pelo grupo mineiro O Grivo, hibridiza o som eletrônico e o acústico, o computador e o trabalho artesanal. Sem gabinete, o piano automatizado funciona de forma independente à ação controladora do homem, apostando no poder hipnótico de acompanhar o trabalho da invenção.

O som (e o silêncio) também estão presentes na obra Rádios pescando (1986/2015), do paulista Guto Lacaz. A instalação traz um conjunto de diferentes tipos de rádios colocados em linha para um fim comum e inusitado, a pesca, tendo suas antenas metálicas transformadas em varas.

Os artistas e os inventos

Amyr Klink (Brasil, 1955)Geodésica de Buckminster Fuller (Estados Unidos, 1895-1983)

Andy Warhol (Estados Unidos, 1928-1987)Guitarra elétrica

Bill Viola (Estados Unidos, 1951) Televisão

Christian Boltanski (França, 1944) Lâmpada incandescente

Christian Marclay (Estados Unidos, 1955) Telefone

Damián Ortega (México, 1967) Caminhão e máquina de escrever

Daniel Arsham (Estados Unidos, 1980) Telefone de parede

Daniel Canogar (Espanha, 1964) Raio-X

Douglas Coupland (Canadá, 1961) Encriptação/computação

Guto Lacaz (Brasil, 1948) Rádio

Janet Cardiff e George Bures Miller (Canadá, 1957) Caixa acústica

Jarbas Lopes (Brasil, 1964) Automóvel

José Damasceno (Brasil, 1968) Isopor

Jim Campbell (Estados Unidos, 1956) Lâmpada LED

Julian Opie (Inglaterra, 1958) Celular

Julius von Bismarck (Alemanha, 1983) Concreto armado

Leandro Erlich (Argentina, 1973) Elevador

Man Ray (Estados Unidos, 1890 – 1976, França) Ferro elétrico de passar

Nam June Paik (Coréia do Sul, 1932 – 2006, Estados Unidos) Televisão

Nazareth Pacheco (Brasil, 1961) Aparelho de barbear

Nelson Leirner (Brasil, 1932) Geladeira

O Grivo (grupo criado no Brasil em 1990) Piano automatizado

Olafur Eliasson (Dinamarca, 1967) Energia solar

Panamarenko (Bélgica, 1940) Avião e asa-delta

Paulo Nenflidio (Brasil, 1976) Energia solar

Pedro Reyes (México, 1972) Psicanálise

Pharmacopoeia (criado na Inglaterra em 1998) Cápsulas de remédio

Renata Lucas (Brasil, 1971) Sistemas eletrônicos de vigilância

Takahiro Iwasaki (Japão, 1975) Fita adesiva e escova de dentes

Zilvinas Kempinas (Lituânia, 1969) Ventilador

Invento – as invenções que nos inventaram

happens
from 05/08/2015
to 04/10/2015

opening
4 de agosto, das 19h às 22h (convidados)

where

OCA - Pavilhão Governador Lucas Nogueira Garcez
Parque do Ibirapuera, São Paulo SP Brasil
Portão 3 (carro) ou portão 1 (pedestre)
terça a domingo, das 9h às 17h
(11) 5572.0985

source
Sofia Carvalhosa Comunicação
São Paulo SP Brasil

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