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Colaborador de nomes como Lina Bo Bardi, Rogério Duarte, Gal e Macalé, o legendário tropicalista é agora representado pela Sé
“Já fiz muitas coisas na vida, mas a minha vocação mesmo é a escultura. Minhas obras são feitas com uma massa que eu mesmo criei e muitas vezes uso ferramentas que também foram feitas por mim. Eu acho que a arte é o amor feito visível”.
Mestre Dicinho
Mestre Dicinho (Jequié, 1945), artista que passa a ser representado pela Sé, realiza exposição individual em São Paulo, na sede da galeria, na Vila Modernista de Flávio de Carvalho. Expoente tropicalista e figura destacada da contracultura brasileira, Dicinho irá apresentar uma série de relevos e esculturas com enfoque em suas abstrações e figurações de animais. Mestre Dicinho: Escultórico tropical abstrato animal tem abertura no sábado, 26 de agosto, das 11h às 17h.
Adilson Costa Carvalho, o Mestre Dicinho, é um dos protagonistas da grande revolução cultural da Tropicália, movimento que inovou o panorama artístico brasileiro com a fusão de tradição, vanguarda e cultura pop. A produção visual do artista, extensa e diversa, atravessa pintura, ilustração, escultura, cenografia, figurino e performance. Destacam-se, contudo, as chamadas “esculto-pinturas”, esculturas feitas em uma massa, a Copageti (acrônimo para cola, papel, gesso e tinta), desenvolvida por ele em anos de pesquisa. Posteriormente pintadas, as peças revelam uma estética associada à tropicalidade e à psicodelia, apresentando temáticas distintas que vão de representações figurativas de animas e humanos a elementos da cultura popular e abstrações geométricas. Com mais de 50 anos de produção, Dicinho possui uma poética visual singular, sendo um artista auto-exilado em seu ateliê na cidade de Salvador, mas que segue ativo, produzindo novos trabalhos e vendo sua obra ser redescoberta.
Para o artista, curador e professor Ayrson Heráclito, autor do texto crítico da exposição, Dicinho foi fundamental na construção da visualidade tropicalista. Ele conta, em entrevista a Lisette Lagnado, André Pitol e Yudi Rafael, para o catálogo da mostra A parábola do progresso (Sesc Pompeia, 2022): "A primeira vez que vi o trabalho de Dicinho [...] fiquei impressionado com a maneira como ele articula o tridimensional, a escultura com a superfície pictórica, e a construção de padrões visuais obsessivamente psicodélicos. Ali estava todo um espírito de uma época que eu não tinha vivido".
Entre as décadas de 1960 e 1980, Dicinho trabalhou com figuras de vulto da cultura brasileira, como Lina Bo Bardi, Rogério Duarte, Edinízio Primo, Waly Salomão, Gilberto Gil, Gal Costa, Jards Macalé e José Celso Martinez Corrêa. Ele é o autor da emblemática capa do álbum de Gal de 1969, o mais experimental da cantora. No mesmo ano, participou da execução dos figurinos da montagem de Na selva das cidades, de Brecht, pelo Teatro Oficina, e vestiu Macalé na antológica apresentação de Gotham City, no IV Festival Internacional da Canção. Nos anos seguintes, mergulhou de cabeça na contracultura e, como muitos de sua geração, teve a consciência expandida por alucinógenos, meditação e macrobiótica – prática alimentar a qual é adepto até hoje. Ilustrou publicações "clássicas" da imprensa alternativa como Flor do Mal e Verbo Encantado. Também foi próximo do casal Bardi, que costumava convidá-lo para performar sua coreografia O quebra, ao som de Jimi Hendrix, Rolling Stones e Janis Joplin, na Casa de Vidro, a residência do casal. Em 1983, Lina curou uma mostra de trabalhos do artista no Sesc Pompeia. A renomada arquiteta era grande admiradora de seus bichos escultóricos.
É justamente essa vertente de seu trabalho – ao lado de um conjunto de obras abstratas – que poderá ser vista em Mestre Dicinho: Escultórico tropical abstrato animal, primeira exposição do artista na Sé galeria. Arara, tatu, gato, cavalo, galo, coruja… As esculturas de Mestre Dicinho impressionam pelo humor e a leveza. A estética psicodélica é notável no detalhado acabamento pictórico sobre a superfície das obras, que são feitas utilizando a massa Copageti e ferramentas também criadas por ele. Exemplar é a escultura Cachorro (2019). A peça, que parece saída de um filme de animação dos Beatles, apresenta um divertido cão de "pele" verde texturizada, com rabo e pescoço espiralados e patinhas curvas que simulam com perfeição o passo do bicho.
As abstações estabelecem diálogo não apenas com os grandes mestres modernos estudados com dedicação pelo artista, mas também com sua própria produção figurativa, já que há algo de geométrico e abstrato na estruturação de seus animais. Cores puras e formas orgânicas também são elementos presentes em toda sua obra. "A obra do Mestre Dicinho está completamente fora de qualquer outro registro de visualidade, sobretudo, na tradição tridimensional da arte brasileira", pondera Heráclito. "Acho que ele pode contribuir muito na formação das novas gerações e é um nome canônico para pensar a diversidade da arte contemporânera no Brasil."
Serviço
Mestre Dicinho: Escultórico tropical abstrato animal
Abertura: 26 de agosto, 11h às 17h
Visitação até 21 de outubro
Terça a sexta, 12h às 19h
Sábado, 12h às 17h
Sé
Alameda Lorena, 1257, casa 2
Vila Modernista - Jardim Paulista - São Paulo
Sobre o artista
Mestre Dicinho (Jequié, 1945) vive e trabalha em Salvador. Participou de exposições nacionais e internacionais, com destaque para a mostra individual Dicinho - Animais, curada por Lina Bo Bardi (Sesc Pompeia, São Paulo, 1983). Sua obra foi revisitada na exposição A todo vapor, durante a III Bienal da Bahia, curada por Ayrson Heráclito (Salvador, 2014) e integrou as coletivas Histórias afro-atlânticas, curada por Adriano Pedrosa, Ayrson Heráclito, Hélio Menezes, Lilia Moritz Schwarcz e Tomás Toledo (Museu de Arte de São Paulo, 2018); Home Stories: 100 Years, 20 Visionary Interiors (Vitra Design Museum, Weil am Rhein, Alemanha, 2020) e A parábola do progresso, curada por Lisette Lagnado, André Pitol e Yudi Rafael (Sesc Pompeia, São Paulo, 2022-2023). Os trabalhos de Dicinho estão presentes nos acervos do Instituto Bardi, do Museu de Arte Moderna da Bahia e do Instituto Inhotim.
Sobre a Sé
Fundada em 2014 pela artista Maria Montero, a Sé é uma galeria de arte localizada em duas casas na Vila Modernista de Flávio de Carvalho, no bairro Jardim Paulista, em São Paulo. A galeria representa 16 artistas brasileiros com sólida trajetória institucional ou acadêmica. A maioria deles inaugurou seu diálogo com o mercado por meio da Sé. A origem do projeto remonta a 2011, quando Maria fundou o espaço de arte Phosphorus. Voltado à experimentação, estava localizado em um casarão na primeira rua de São Paulo. Após um programa contínuo de exposições e residências, ela fundou a Sé no mesmo edifício. A galeria funcionou por seis anos no centro histórico da cidade até a sua transferência para a Vila Modernista. A Sé surgiu em um momento de revisão do modus operandi da arte contemporânea. Atua em colaboração e parceria com os artistas representados, privilegiando o acompanhamento crítico e a realização de projetos institucionais. Muito além do comércio, a Sé foca na gestão de carreira de seus artistas, observando suas singularidades e buscando uma atuação social, através da proposta de estratégias individuais para cada produção. A galeria também tem como objetivo formar novos públicos para artistas e obras que expressam uma visão conceitual e processual da arte contemporânea. A Sé participa de importantes feiras nacionais e internacionais como Arco Madrid, Frieze New York e Liste Basel.