Obra reúne registros documentais e históricos sobre a arquitetura de Brasília

"Cidade é a expressão palpável da humana necessidade de contato, comunicação, organização e troca". Em suas pranchetas, Lucio Costa traduziu em traço a sua concepção de urbe. O resultado foi Brasília, bem como as suas superquadras. Mais do que uma forma de organização do espaço, elas representam uma nova forma de habitá-lo.

No dia 04 de março de 2021 o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) apresentou ao público a 2ª edição de uma das principais referências sobre o Conjunto Urbanístico do Brasília: o livro A invenção da Superquadra. A exposição aconteceu dentro do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (IV Enanparq).

Revisitando um clássico

A publicação teve a sua primeira edição lançada em 2009 e reimpressa em 2010, por ocasião do cinquentenário da cidade. Foi baseada na pesquisa dos professores Matheus Gorovitz e Marcílio Mendes Ferreira, da Universidade de Brasília.

Com mais de 500 páginas, o livro inovou ao divulgar registros documentais e históricos até então fora do alcance do público. Desenhos técnicos e informações sobre os primeiros prédios de apartamentos da cidade foram apresentados em uma linguagem acessível tanto a especialistas quanto a leigos. Devido à importância do material, o volume se tornou referência entre arquitetos e pesquisadores, teve alta procura e ficou esgotado por anos.

Em 2018, diante da importância atribuída à obra e à iminência dos 60 anos da capital, o Iphan iniciou o trabalho de reeditar o conteúdo. "A princípio, o objetivo era somente reimprimir a edição original. Porém, a riqueza do material levou a equipe a ampliá-lo e melhorá-lo por meio da tradução para o inglês, novas fotografias e um novo projeto gráfico", explica o superintendente do instituto no Distrito Federal, Saulo Diniz.

O processo foi conduzido em partes, respeitando a pesquisa original dos autores. Embora Marcílio Mendes Ferreira já seja falecido, o professor Gorovitz esteve em contato constante com a equipe responsável. O resultado foi uma obra que é ao mesmo tempo atualizada e fiel aos estudos originais, disponibilizados aos técnicos do Iphan durante a reedição.

Revisão, ampliação e aprimoramento

Um dos diferenciais da segunda edição é o registro do passar dos anos. As fotografias das superquadras foram atualizadas; legislações obsoletas, suprimidas; e, os textos originais, revisados, bem como desenhos técnicos.

O novo volume também possui acréscimos importantes. Entre eles, estão a biografia dos entrevistados, a correção de desenhos e a inclusão de projetos que constavam na pesquisa original dos professores, mas cuja ausência de informações pontuais não permitiu sua inclusão na primeira edição.

Dentro dos capítulos, é apresentada a planta da superquadra, com a definição do arruamento, do cinturão verde, dos equipamentos e da disposição dos blocos. Em seguida, é apresentada uma tipologia (um determinado padrão de edifício) presente naquela quadra. Há, ainda, fichas e desenhos técnicos sobre todos os prédios apresentados. Ao todo, são mais de 70 edificações descritas ao longo do livro. Existem, ainda, textos de Lucio Costa e de outros arquitetos, bem como entrevistas com outros profissionais que atuaram na construção de Brasília.

A revisão e a ampliação do conteúdo levaram a uma mudança no formato da publicação. "Como o livro original já era volumoso e a tradução expandiu o conteúdo, alteramos o formato e a diagramação, com o objetivo de evitar que a publicação crescesse demais. Também fizemos mudanças no tipo e na gramatura de papel, na capa e no encadernamento, de modo a tornar a leitura mais confortável, e, o livro, mais durável", explica Laura Camargo, arquiteta do Iphan e uma das coordenadoras do projeto.

A nova edição tem uma tiragem de 1700 exemplares. Eles serão distribuídos conforme um plano elaborado pelo Iphan, incluindo o envio para instituições de ensino, governamentais e uma reserva técnica para distribuição ao público em geral.