América, cidade e natureza
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América, cidade e natureza
Maria Isabel Villac (Org.)
Paulo Mendes da Rocha
Coleção Estúdio Aberto
Estação Liberdade, São Paulo SP Brasil; Estação Liberdade, 2012
CDD 720.981 R575a
edition: português
paperback
272 p
20,5 x 20,5 x 1,7 cm
750 g
illustrated
B&W
photos
drawings
ISBN
978-85-7448-197-5
(arquitetura moderna)
about the book
Paulo Mendes da Rocha nos abre seu estúdio em vários tempos e momentos, e um dos pontos altos desta obra inaugural da coleção Estúdio Aberto são os depoimentos à professora de arquitetura Maria Isabel Villac, em recortes que vão de 1995 a 2012. Gentilmente o arquiteto nos permite uma pesquisa em seus arquivos: croquis, maquetes, plantas e fotos permeiam a edição.
Estruturalmente, o livro se divide em Depoimentos, Entrevistas, Aulas, Memórias de projetos, encerrando-se com uma seção mais ensaística, “Sobre projetos e discursos”. Uma cronologia fecha o volume.
Há uma saudável insistência de Paulo Mendes da Rocha em temas de nossa cultura e suas circunstâncias, que exigem uma revisão crítica do colonialismo e revelam quão pouco avançamos em questões de importância fundamental para saldar uma dívida civilizatória inerente ao processo de modernização e desenvolvimento.
Os temas abordados são abrangentes: formação e influências; os principais projetos, como o conjunto residencial de Guarulhos, a Baía de Vitória, o MuBE, a reforma da Pinacoteca. O arquiteto também fala de seus colegas de profissão, Artigas, Niemeyer e sua linguagem primordial, as escolhas de Álvaro Siza e a afinidade com Luigi Snozzi, e nos faz compartilhar seu fascínio pela arquitetura e pela cidade.
Trechos
“A cara de São Paulo é a Cracolândia, mesmo, e todos os seus derivados. Afinal de contas, aquilo se dá na porta da cidade inaugurada quando o grande sucesso das comunicações, da distribuição das riquezas, do café e do mercado era a ferrovia. Ora, quando nós precisamos da mesma ferrovia para o transporte interurbano, pois como em todo lugar do mundo você viaja em trens de 300 quilômetros por hora, nós abandonamos tudo isso, e esse lugar, porque está vazio, é onde estão os desamparados, desgraçados, alijados do plano econômico que nós montamos estupidamente aqui. Portanto, aquilo é a cara de São Paulo e não a cara deles.” [p. 87]
“A maior parte das cidades são uma herança de um passado amargo que privou dos benefícios da cidade a maior parte dos indivíduos. Isso desemboca nas casas na periferia e em uma apreciação meramente técnica da arquitetura, quando o principal valor deveria ser o do lugar, o do espaço em que se encontram os edifícios. Para que as cidades tenham vida, as pessoas têm que viver nelas, não utilizá-las apenas por algumas horas. Os políticos deveriam compreender isso. Uma cidade é o que há de mais caro no mundo. É caríssimo construí-la, mas custa muito também fazê-la mal. Ao ter que escolher, é melhor fazer as cidades para todos os cidadãos. Só assim estes a levarão em conta e contribuirão para mantê-la.” [p. 91]
“Imaginemos a favela, que é onde se revela melhor nosso quadro de extraordinárias contradições. Ela é a mais monumental expressão da urbanização do nosso meio. O desamparo com que nós temos contemplado tudo isso, imaginando que a cidade tenha que ser qualquer coisa que não possa abrigar essas pessoas, acaba condenando-as definitivamente à marginalidade. Esse é um erro estúpido. Habitação popular só tem sentido no coração da cidade, porque é aí que está o melhor transporte público, a comunicação fácil, os hospitais, as escolas e o trabalho. Veja a contradição: quem está bem estabelecido na vida e mora nas áreas mais centrais, gasta menos roupa do que o desgraçado que deve se deslocar loucamente e subir barrancos inacreditáveis.” [p. 97-98].
about the author
Maria Isabel Villac
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela FAU Mackenzie, doutora em Teoria e História da Arquitetura pela Universitat Politecnica de Catalunya, pesquisadora e professoras dos cursos de graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie.
Paulo Mendes da Rocha
Formou-se em arquitetura e urbanismo na Universidade Mackenzie, em São Paulo. Professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Recebeu diversas premiações, entre elas o Prêmio Pritzker em 2006.