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Reencantamento da cidade

Reencantamento da cidade

Miudezas geográficas e devaneio

Eduardo Yázigi

San Rocco, São Paulo DF; 1ª edição, 2013

edition: português
paperback
380 p
16 x 23 cm
500 g
illustrated
B&W
fullcolor
photos
ISBN 978-85-366-3309-1

Reencantamento da cidade

about the book

De nada adianta o Brasil possuir hotéis requintados, se ao abrir a porta o turista se desencanta com favelas, patrimônio histórico e artístico em abandono, arquitetura sem caráter e o espaço público mais displicente do Ocidente – sem falar dos tiroteios! O autor tem afirmado que, em relação ao que foi no passado, o Brasil é o país mais enfeado do planeta nos últimos setenta anos. Além disso, as mídias já insistem numa nova síndrome crescente: a do “Transtorno explosivo intermitente”, bem conhecida dos habitantes dos grandes centros urbanos, sobretudo no trânsito. Grande parte do desencanto vem da cidade muito mal resolvida. Nem os mais ricos estão a salvo: não há quem possa evitar a cidade. Como o psicólogo James Hillman já denunciou num livro seu: essa síndrome estressante é a mais nova doença do divã.

Nos tempos que correm, as melhores intervenções de renovação urbana indicam a necessidade de enaltecer os ambientes de negócio e de turismo. Um valor a ser realmente concretizado, mas é preciso ter em conta, sobretudo o cotidiano do residente. Resultado da negligência: aumenta-se ainda mais a dualidade espacial. Enquanto o turista passa alguns dias num lugar, o morador tem de aguentar a vida inteira no mesmo local, ou outros para onde possa se mudar. É imperioso pensar o espaço banal com uma seriedade jamais ensaiada.

Incontáveis cidades do mundo vão perdendo a graça, até mesmo as clássicas; mas a nostra culpa brasileira é mais avassaladora por causa de nosso estouvado modo de entender o desenvolvimento, o espaço e a vida pública. Este livro se equilibra com um pé na filosofia de vida urbana, com linguagem bastante simples, e subsídios que ajudem a moralizar seu espaço e a noção de planejamento.

Lá se foi quase um século desde que Max Weber denunciou, 16 vezes ao longo de sua obra, o desencantamento do mundo devido à perda da magia e da religião. Com todo respeito ao insigne sociólogo alemão, este seu “do mundo” não se aplica ao Brasil: contraditoriamente não perdemos nem magia, nem religião – hoje mais fortes do que nunca, até sendo exportadas e, no entanto o desencantamento de seu espaço é chocante.

Precisamos nos conscientizar de que a cidade é também nossa casa e que o prazer cotidiano pode ser poetizado sem grandes investimentos. Lembremo-nos: os maiores elogios ao Brasil, como os de Stefan Zweig em seu livro Brasil, País de Futuro, se referem a um tempo de pura singeleza, sem lantejoulas e paetês.

Capítulos abordados

O sentido da vida. Quem nasceu depois do avanço do desencantamento não pode sentir saudade do encanto que jamais conheceu; por outra mão, de nada vale uma volta ao passado se os dados do mundo atual são radicalmente diferentes. É hora de olharmos para frente e para o alto, repensar a cidade com todos os desafios que se apresentam. Mas um novo olhar que terá de se agarrar num questionamento básico: vivemos para construir cidades ou as construímos para nelas viver? Pareceu-me então que a melhor introdução teria de provocar o leitor desde um ponto de vista que bem poucos refletem. A maioria vive numa espécie sonambulismo sobre vias asfaltadas e elementos urbanos de baixo significado. Então, nada mais instigante do que iniciar com a clássica questão sobre O sentido da vida; não com doutrinas religiosas, mas aquelas reveladoras de sendas que a Mecânica Quântica apresenta sobre o metafísico – destino inevitável onde Física, Matemática e Química, principalmente, se encontram. Nada mais do que breves revelações cosmológicas que mais parecem pertencer ao campo da magia!

Formas de encantamento. Nesta sequência uma ordem capitular a guisa de ensaio, procurando sistematizar as grandes categorias de encantamento - das intangíveis àquelas que têm a ver com a concretude do espaço urbano. Encantamentos e desencantamentos num processo histórico e dialético. Aí, como não podia deixar de ser, a obra teve de enveredar, sobretudo pelas trilhas da Psicologia Social, já que o encantamento é tributário de nossos sentidos e psiquismos.

Revelação do vazio & eloqüência do silêncio. Neste capítulo uma abordagem sui generis, calcada numa breve teorização sobre o vazio e o silêncio. Aqui é feita uma sistematização das diferentes formas de vazio que podem existir numa cidade. Ambos os conceitos entram como pano de fundo a ser investido na reorganização da vida nas cidades, forçadas a viver num “inferno de tralhas e estrondos” que invadem a vida no espaço público e fazem a percepção gangrenar. São dois reveses que permitem resolver parte da questão urbanística, mas não sem antes equacionar a tão pervertida relação público-privado no Brasil.

Massificação e qualidade. O grande e lúcido historiador Fernand Braudel já se inquietava, há mais de meio século, acerca de como garantir qualidade numa sociedade massificada. Não há quem hoje não sinta que, tocante a esta questão, permanecemos bem longe de ter equacionado, ou pelo menos iniciado caminhos promissores. As clássicas teorias sobre cidade carecem de incorporar, nos infindáveis problemas que as afligem, o uso do espaço urbano pelas massas e as novas concepções que possam privilegiá-las, a começar pelos arrabaldes do olvido, diminuindo a dualidade espacial.

Suavização do cotidiano. Na falta de cidades confortáveis, aconchegantes e funcionais, acabamos preferindo poltrona & televisão, ou uma piscina quem tem. A casa é a priori o lócus de um mundo minimamente pensado para nossa vida prática e nossos devaneios. Conquanto válido, corremos o risco real de nos amarguramos, pois ninguém pode evitar os suplícios da cidade e seu grito de socorro. Existem governos e sociedades organizadas com papéis a serem cumpridos! Este capítulo vaga então sobre fatores do cotidiano passiveis de serem poetizados. Não com querubins ou adereços carnavalescos, mas com dignificação do espaço e o que nele existe.

Valores territoriais Dois grandes autores, mais ou menos do tempo de Weber, já faziam apologia sobre a importância da relação entre o cotidiano banal e as grandes estruturas que o definem. Estaríamos equivocados do ponto de vista estratégico se nossa preocupação ficasse unicamente centrada nas altas políticas. Esses autores são Berger e Agnes Heller. Quem não consegue refletir sobre o cotidiano banal à porta da casa fica sem elementos para entender e agir nas estruturas por ele responsáveis. Se a sociedade não se organizar efetivamente pela defesa de seu esteio espacial, as forças do mercado decidirão sozinhas com opções que poderão nos amargar a vida y ahi te quiero ver! Portanto, cotidiano banal e política de altas esferas são inseparáveis. Desgraçadamente o país é cada vez mais dominado pela cultura do pocotó – cujo pensamento também foi sistematizado nesta obra.

Procura-se um elenco Como o reencantamento da cidade não deixa de ser uma procura pelo refinamento de todas as formas materiais reportadas aos habitantes, infelizmente isto não é lide que esteja ao alcance de todos, sobretudo os que estão dando seus primeiros passos de cidadania. Se assim não fosse já teríamos avançado muito neste campo. Profissionais afins e várias personalidades são conclamadas a detonar um processo reencantamento, expandindo-o ao máximo possível. Objetivo: promover comunicação de massa em vista da qualidade, e definir estratégias de governo e de gerenciamento urbano; ampliando a consciência ambientalista.

Trilhas políticas iniciais. Por fim uma discussão sobre as necessárias frentes estratégicas a serem conduzidas, com implicações em todos os níveis de poder. Aqui dois fenômenos se mostraram inevitáveis de serem muito bem revistos. O primeiro tocante ao nível cultural dos que legislam e governam a cidade; o segundo, reverter o suposto equívoco de que não há recursos para melhor qualificação da cidade. Conforme documentado, nada além do ano de 2010, uma astronômica soma de 85 bilhões de reais foi desviada do erário pela corrupção. A argumentação deste capítulo advoga ainda pelo fim da hipocrisia que domina todos os códigos jurídicos, questionando o próprio sentido da democracia.

A necessidade de disseminação de novos valores urbanos a ser liderada pela Educação nacional não é vista como uma cartilha a mais a ser esquecida em montanhas de documentos. Na medida em que o texto defende que somente o conceito de patrimônio ambiental urbano é capaz de dar conta do reencantamento do território, e que ambiente é relação, este cuidado a mais com a cidade dever ser incorporado no âmbito já existente do conceito de meio ambiente, hoje excessivamente limitado aos bens naturais. Por esta razão, em Anexo ao livro, cerca de vinte e cindo páginas são dedicadas ao entendimento da moderna conceituação de patrimônio ambiental que o autor detalha.

about the author

Eduardo Yázigi
Graduado em História (USP, 1966), mestre em planejamento urbano (Universidade de Paris, 1969), doutor em planejamento urbano e regional (Universidade de Paris, 1972), livre docente em planejamento urbano (USP, 1997). Professor da FFLCH USP.

how to quote

YáZIGI, Eduardo. Reencantamento da cidade. Miudezas geográficas e devaneio. São Paulo DF, San Rocco, 2013.

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