Utopia
Utopia
A história de uma ideia
Gregory Claeys
Edições Sesc SP, São Paulo; 1ª edição, 2013
translator: Pedro Barros
edition: english
paperback
224 p
19,7 x 25 x 2,5 cm
1000 g
ISBN
978-85-7995-042-1
about the book
Seria a história do pensamento uma história das utopias? Esta é a pergunta que o livro Utopia: a história de uma ideia do professor e pesquisador de história do pensamento político da Royal Holloway (Universidade de Londres), Gregory Claeys, suscita ao longo de suas 224 páginas de estudo historiográfico e iconográfico, sobre o conceito de utopia no sistema de pensamento da civilização ocidental. Lançado no Brasil pelas Edições Sesc São Paulo, a pesquisa é uma incursão ao entendimento da utopia, suas derivações, desvios e silêncios desde a Era Clássica até uma possível morte ou ruptura dos ideários utópicos nas sociedades contemporâneas.
Partindo de autores e pensadores da filosofia, da história, da literatura, da política e das ciências, o trabalho transdisciplinar encontra-se no limiar de uma genealogia, que busca em referências textuais e iconográficas o seu apoio metodológico. Em 15 capítulos e 206 ilustrações, Claeys aposta em uma tese panorâmica, para compreender – à luz das continuidades e descontinuidades – como os movimentos do pensamento, da política e das artes em geral discursaram sobre as aspirações por um mundo melhor – até mesmo perfeito – ao longo de toda a história.
No capítulo introdutório, “A busca da utopia”, delineia-se um cenário de conceitualização da palavra, para um entendimento das investigações posteriores. Ao propor como ponto de partida uma relação do conceito com a temporalidade, Claeys sugere que a utopia “(...) é uma variação de um presente ideal, de um passado ideal e de um futuro ideal, e da relação entre os três”. Seu fundamento encontra ressonância não apenas nos pensamentos míticos, imaginários e religiosos, mas também, na relação do processo real, material e dialético da História.
Com múltiplas possibilidades de definições, a utopia pode ser descrita, a priori, como: ideais positivos de sociedades melhoradas; seus opostos satíricos negativos, às vezes chamados de anti-utopias ou distopias; vários mitos de paraíso, era de ouro e “ilhas dos abençoados”, e retratos de pessoas primitivas vivendo em um estado natural; robinsonadas (ficções de sobrevivência) ou naufrágios; viagens imaginárias para a Lua e outros pontos do espaço; e constituições planejadas, cidades-modelo e várias outras visões de melhoria.
A gênese do pensamento utópico
Em sua origem – enquanto potência para a laicização do conceito na Modernidade – podemos citar como primeiras aparições da utopia, os mitos da criação e da vida ou a dimensão histórica especulativa como no dilúvio destruidor descrito na Epopeia de Gilgamesh (c. 2000 a.C); nas imagens da Odisséia de Homero (c. século IX a.C), que idealizam uma vida na polis ou na cidade-estado; na Arcádia, citada na Eneida, de Virgilio, durante o período romano, ou ainda, na fixação pelo cristianismo medieval, pelas personagens de Adão e Eva e o paraíso do Jardim do Éden.
Se durante muito tempo, o utópico esteve associado com as eras dos mitos e das religiões, onde os deuses e as forças da natureza mantinham o controle sobre a humanidade, é a partir do período renascentista, com a publicação em 1516 da Utopia de Thomas More, que o conceito ressoa no pensamento racional cientifico, possibilitando aos homens o controle e poder de seus destinos. Nesta virada epistemológica ou de pensamento, encontra-se a forte presença das ciências e das políticas modernas, e adiante, da influência do positivismo de Augusto Comte como precursor de nossos desejos pela sociedade ideal.
Denominada de a “última fase”, a Utopia Constitucional ou Institucional atinge seu apogeu na Modernidade com o Liberalismo ou as revoluções burguesas. Desconstruindo a ideia corrente de que o Liberalismo seja uma anti-utopia – por teoricamente corresponder à condição humana – o autor aponta que esta “arte de governar”, nasce pensada em uma opulência universal e em uma democracia idealizada, ora retratada como um “fim da história”, ora baseada na soberania popular como uma alternativa aos poderes monárquicos, aristocráticos e plutocráticos. Influencia ainda, o reconhecimento tardio da ineficiência do liberalismo, que culminou, em formas específicas de governos de Estado, em uma junção do socialismo com o liberalismo.
“Em sua forma mais extrema, esses elementos foram concebidos como utópicos quando combinados na fantasia de um mercado não regulado que viesse à substituição da soberania nacional por um regime de corporações multinacionais quase onipotentes, impondo uma estratégia econômica, política e cultural de globalização sobre a população mundial”, sintetiza Gregory Claeys sobre o destino das representações democráticas e liberais no ocidente.
Destacam-se os capítulos seguintes como “Revolução e Iluminismo – América, França e Mundos Refeitos”, “Utopias como comunidades – Dos Shakers aos hippies”, “A segunda era da revolução – Socialismo, comunismo e anarquismo”, “Inventando o progresso – Racionalismo, tecnologia e modernidade como utopia” e o inevitável surgimento da literatura distópica e os horrores de idealizações nos regimes totalitários e pós-totalitários.
No último capítulo de conclusão, “Paraíso Perdido”, Gregory Claeys propõe uma leitura histórica e filosófica do conceito de utopia pós queda do Muro de Berlim, face às incertezas sobre o destino da humanidade e a dificuldade atual de encontrar uma possibilidade de fuga às decadências políticas, sociais e econômicas.
Distante de um niilismo, o autor sugere que a busca do “Paraíso Perdido” contemporâneo sustenta-se, por um lado, em discurso de fé (religioso) e o segundo, seculariza a boa ordenação da sociedade, onde os pecadores e os santos terão seus espaços de acomodações, longe dos ideários de uma Nova Jerusalém, de um Eldorado ou das teorias de Adam Smith e Karl Marx. Um mundo onde os antigos ideais utópicos podem servir como reflexão sobre “o que evitar no presente”, mas que, acima de qualquer “juízo final” e suspeita, recoloque a questão da utopia em um espaço da alteridade: Seria o olhar para a história das utopias, uma maneira de criarmos um mundo inteiramente nosso?
about the author
Gregory Claeys
Professor da história do pensamento político na Royal Holloway. Escreveu e organizou inúmeros livros, incluindo "The utopia reader", "Utopia: The search for the ideal society in the west" e "The Cambridge companion to utopian literature".