Tenho tido a felicidade de poder desenhar espaços urbanos e vê-los concretizados na forma de “cartões postais” em várias cidades brasileiras: São Paulo, Belém, Salvador, São Luís.
Até a constatação do uso efetivo do espaço dentro das expectativas embutidas nas linhas do projeto e na intenção da criação do espaço, há uma grande expectativa: será que o cenário sustentará o enredo?Foi assim, por exemplo, quando vi as lavadeiras do Abaeté lavando a roupa nos tanques da Casa das Lavadeiras, doze anos depois da inauguração, e ouvir de uma delas que lava roupa na Lagoa desde menina, “mas agora, depois deste projeto, ficou muito melhor!”
Porém, uma grande emoção me foi proporcionada há pouco tempo.
No Parque do Forte, em Macapá, tive a oportunidade de realizar um projeto de grande escala, no entorno da Fortaleza de São José, a beira do Rio Amazonas.
A área havia sido indevidamente ocupada, seja por um clube recreativo para militares em área de remanescente arqueológico, seja por um vasto estacionamento asfaltado ocupando toda a área que felizmente havia sido poupada da urbanização.As restrições exigidas pelos órgãos reguladores do Patrimônio Histórico fizeram com que o projeto adotasse um desenho bastante contido nos espaços de escala monumental para que não fossem criados elementos que pudessem competir com o principal: o forte.
Porém, um espaço significativo, estrategicamente localizado, pode ser utilizado para implantação de uma área de recreação infantil. E a esse desenho nos dedicamos muito, sempre imaginando como as crianças iriam fazer uso dos elementos que para eles criamos. O tema da água foi desenvolvido através de elementos lúdicos e o uso da cor animou o espaço.
Neste caso, confesso: a recompensa excedeu às expectativas.
Seis meses depois da abertura deste parque para o público, estando eu em São Luís do Maranhão, compartilhando a beira da piscina do hotel com uma família, deu-se o início de prosa com a indefectível pergunta:
– De onde você é? Perguntou-me o pai.
– Eu sou de São Paulo. E você?
– Eu sou de Macapá.
– De Macapá? E veja só, eu sou quase cidadã macapense.
– Como assim?
– Você conhece o Parque do Forte? Pois fui eu quem fez o projeto.
De imediato, o pai virou-se para a piscina e chamando o garoto:
– Venha aqui, meu filho, venha conhecer quem fez o lugar bonito! E virando-se para mim: – É assim que o lugar é conhecido.Não sei se haverá alguma outra oportunidade para emoção igual.
sobre o autor
Rosa Grena Kliass é arquiteta paisagista. Entre suas mais importantes obras estão a Reurbanização do Vale do Anhangabaú e o Parque da Juventude, em São Paulo; o Parque do Abaeté e o Parque de Esculturas do MAM-Bahia, em Salvador; o Parque Mangal das Garças e o Projeto Feliz Luzitânia, em Belém; e o Parque do Forte – Complexo Fortaleza de São José, em Macapá.