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architectourism ISSN 1982-9930

São Paulo. Foto Nelson Kon

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No artigo Flanar por São Paulo podemos aprender que procurar inscrições dispersas pela cidade de São Paulo pode ser uma forma divertida de se conhecer aspectos desconhecidos da cidade


how to quote

BATAGLIESI, Rogerio. Flanar por São Paulo. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 001.05, Vitruvius, mar. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.001/1306>.


Flanar por SP tem se tornado uma tarefa bastante árdua. Por vários motivos. Alguns deles de caráter macro e outros micro. São Paulo, à partir do pós-guerra, como várias grandes cidades do mundo subdesenvolvido, tratou seus valores urbanos de maneira bastante displicente para ser educado. No nível macro, pelo absoluto desprezo dos aspectos físicos do seu sítio de implantação. Legislações voltadas para interesses privados aliadas a uma visão de curto alcance fizeram com que uma massa de construções inexpressivas e desordenadas mascarasse a caracterização geográfica geral do lugar – do espigão da Paulista, das calhas dos rios Tietê e Pinheiros, dos vales, das visuais, das várzeas, dos rios... Isso tudo, foi engolido de forma voraz e sem escrúpulos, deixando para as futuras gerações (administrações?) a responsabilidade pela salvação de nosso patrimônio ambiental. A ausência de gabaritos, regras para ocupação, preservação de perspectivas, deixaram que o Privado se apropriasse do privilégio Público da fruição do espaço público.

Expansão da mancha urbana de forma desordenada, aliada ao traçado (?) irracional e sem qualquer resquício de harmonia, transporte público insuficiente, somam-se e contribuem para o transito caótico e exasperação e saturação da população. No nível micro, a situação não apresenta redenção. Nossa paisagem foi contaminada em larga escala pelo loteamento implacável (ou seria placável?) de todo espaço passível de suportar publicidade, falta de elementos iconográficos e ambientais, postes e fiações, pichações tribais, calçadas aptas a dar trabalho infindável aos ortopedistas, e... Por ai vai. Destes apontamentos, óbvios, emergem no mínimo duas questões: Por que então vivemos aqui? Por que gostamos deste lugar? Na primeira questão, a resposta direta (e óbvia!) é; porque aqui nascemos, e/ou porque aqui viemos buscar sustento.

Toda vez que se fez um bairro ou um conjunto de casas, abriu-se um boteco, padaria ou restaurante; uma quadra de futebol ou uma loja de brinquedos antigos; uma quermesse ou um evento cultural acadêmico; algo de muito rico soma-se ao vocabulário intersticial e interpessoal que une as pessoas. Muitas vezes em grupos, tribos reunidas por essa unidade de ”vizinhança” Esses grupos constituem história e memória. Com exceção àquela parte da população voltada exclusivamente a acumulação ou aquelas que se encontram no desespero da sobrevivência – a resultante do processo, podemos de chamar de Cultura Urbana. A abertura das referências da uma cidade para o visitante de “dentro” ou de “fora”, é um ingrediente saboroso para que se entenda e se goste desta cidade. Alguns exemplos de como referências micro podem propiciar petiscos de prazer é a referência de fatos e/ou explicações sobre construções, locais, fatos, plantas, etc.

Exemplos: A placa existente na Rua Fradique Coutinho junto a livraria da Vila que conta peripécias do Meneguetti, o assaltante que amedrontava (abrilhantava?) São Paulo na década de 50. O “Gato dos Telhados” era exímio e romântico na sua função de fora da lei. O que ocorria é que o Meneghetti era um verdadeiro ídolo, principalmente no Bexiga, onde boa parte da minha família morava.Na hora da despedida noturna, sempre havia um: “Siette attenti al Meneghetti...” que era um misto de advertência e troça sobre o grande evento que seria e deparar-se com o “Rei dos Ladrões”! A comparação com os criminosos de hoje não deve ser levada em conta por ser nefastamente incomparável.

Um outro caso á ser anotado é a identificação de árvores, principalmente aquelas, que fizeram parte de nossa história, e hoje ninguém conhece. Como é o caso do Pau Brasil. Pouquíssima gente reconhece esta magnífica Cesalpinia (ou Caesalpinia para os botânicos), apesar dela ter sido comum a ponto de batizar nosso país.

O Ipê Amarelo, árvore símbolo do Brasil, deveria ser identificado e com referência às épocas de florada, para que aspectos naturais e até corriqueiros gerassem conhecimento e afeição.

Estes são exemplos de simplicidade e singularidade que podem começar a fazer diferença na construção de nossa identidade.Nas próximas edições pretendo flanar pelas ruas de São Paulo que tem um tratamento diferenciado.A localização do Pau Brasil é na rua Zaparas (Alto de Pinheiros.Livraria da Vila fica na rua Fradique Coutinho (Vila Madalena).

sobre o autor

Rogerio Batagliesi é arquiteto.

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