Caminhar por entre as ruínas da Fazenda Ipanema é como voltar no tempo. Para ser mais precisa, aos séculos 18 e 19. Foi durante uma viagem à cidade de Araçoiaba da Serra SP que descobri o marco histórico da metalurgia brasileira, reconhecido pela Associação Brasileira de Metais – ABM e pela Sociedade Americana de Metais – ASM. Criada por Dom João VI, a Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema representava progresso e tecnologia para o país e hoje é a Fazenda Ipanema que reconta a história (1).
Para acessar a Fazenda Ipanema é necessário percorrer uma estrada de terra cercada por densa vegetação da Mata Atlântica. Se tiver sorte, conseguirá avistar algumas aves e répteis pelo caminho.
A Fazenda está cravada na Floresta Nacional de Ipanema, que possui uma área de 5.069,73 ha, abrangendo os municípios paulistas de Araçoiaba da Serra, Capela do Alto e Iperó (municípios situados na Região de Sorocaba). A vastidão da área é proporcional à diversidade que a Floresta abriga. Em números, são 69 espécies de mamíferos, 343 espécies de aves, 27 espécies de répteis, 36 espécies de anfíbios e 37 espécies de peixes (2). A Floresta é uma Unidade de Conservação Federal, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
Dentre as três trilhas por Zonas Primitivas (Afonso Sardinha, Forno de Cal e Pedra Santa), a paisagem construída em ruínas se mistura à natureza que vai se revelando cada vez mais viva ao passo que os visitantes desvelam o lugar. Logo no início do passeio, a Casa da Guarda foi construída inicialmente por taipa de pedra e possui dois andares, chamando a atenção por seu imponente pórtico e diferentes usos: já foi depósito de minério e prisão comum e militar.
No segundo andar da Casa da Guarda, é possível ter uma linda vista para a represa Hedberg. O acesso aos andares é feito por uma escada helicoidal metálica. É incontornável falar sobre as sensações ao visitar as edificações da Fazenda Ipanema. Em cada canto imaginamos a força de trabalho que ali foi empregada, momentos de sofrimento e dor na prisão e a frustração pelo fim da Fábrica. Esse misto de sensações e visões fazem da visita ao local uma experiência inesquecível.
A exploração no Sítio Histórico prossegue pela maior edificação do espaço: a Casa das Armas Brancas, espaço de fabricação e depósito de armas, inclusive as utilizadas na Guerra do Paraguai. Cercada por pontes, o prédio abriga máquinas e ferramentas da época, a maioria de origem europeia.
Os impressionantes Altos Fornos geminados, construídos pelo sueco Ludwig Wilhelm Varnhagen, revolucionaram a ferro e fogo a história da siderurgia brasileira.
Há também o alto forno construído pelo Coronel Mursa, esse nunca utilizado.
Repleta de atrações, ainda é possível visitar o primeiro Cemitério Protestante do país. Entre tijolos, cimento e muito verde, os visitantes vislumbram a retomada do verde, convidando-nos a questionar a efemeridade do domínio do homem sobre a natureza.
notas
1
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Histórico da Flona de Ipanema. Brasília, s.d. <http://www.icmbio.gov.br/flonaipanema/quem-somos/historico-da-flona-de-ipanema.html>.
2
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Floresta Nacional de Ipanema. Brasília, s.d. <http://www.icmbio.gov.br/flonaipanema/floresta-nacional-de-ipanema.html>.
sobre a autora
Bianca Siqueira Martins Domingos é doutoranda em Planejamento Urbano e Regional na Universidade do Vale do Paraíba – Univap e mestre em Desenvolvimento, Tecnologias e Sociedade pela Universidade Federal de Itajubá – Unifei. Docente e coordenadora de Relações Institucionais e do Serviço Eletrônico de Editoração de Revistas no Centro Universitário Teresa D’Ávila – Unifatea.