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Houve uma abordagem democrática sobre o caso de Higienópolis?

28/05/2011

Houve uma abordagem democrática sobre o caso de Higienópolis?

Corinto Luis Ribeiro

São Paulo SP Brasil

Recentemente, em um reality show da True TV, apareceu em um episódio uma jovem e diligente delegada de polícia em ação, durante a madrugada, se propondo a ajudar às prostitutas e travestis na luta contra os cafetões; mostra sua investigação que levou à prisão os possíveis mandantes do assassinato de um travesti. Isto tudo aconteceu e foi filmado na Avenida Indianópolis, zona exclusivamente residencial. As prostitutas e travestis, a partir da tarde, ocupam a via, inclusive ao lado da Escola Estadual Professor Alberto Levy, com nádegas e seios à mostra e a venda de bebida alcoólica corre solta em vans e motos. Em nenhum momento a referida delegada aludiu qualquer comentário sobre a segurança dos moradores, contribuintes de alto valor do IPTU por suas casas, que cumprem perfeitamente a função social designada para a área, defronte há o comércio de sexo. Suas crianças, diuturnamente, estão expostas aos gracejos, rebolados e apelos das profissionais da carne. Que atitude hipócrita é essa que permite a prostituição em frente às nossas moradias e não permite que isto ocorra em bordéis?

Caso como morador de Indianópolis, vá reclamar da atitude lasciva, imoral das prostitutas e travestis, vou ser acusado de “elitista, preconceituoso, povo-fóbico” e outros tantos adjetivos com que as patrulhas da ideologia do politicamente correto se armam.Ora, a definição moderna de democracia é o governo da maioria, preservado os direitos das minorias da “tirania das maiorias”. Por outro lado, Jane Jacobs em livro já resenhado neste Vitruvius, mostra a importância do sentimento de solidariedade ao bairro, e o mal causado por um sucesso que extrapola e gera movimento maior aos limites da vizinhança.

Posto isto, vamos considerar o caso de Higienópolis e sua estação de metrô. Como transporteiro, me causa estranheza a eleição da Praça Buenos Aires para uma estação de Metrô: a distância da Estação Mackenzie (cerca de 650 m) é muito menor que a média da rede e implica em tempo maior de trajeto, comprometendo a capacidade final do sistema. Por outro lado, os pólos de atração do bairro são o campus da FAAP, o Estádio do Pacaembu e o complexo hospitalar Samaritano, o que me faria optar por uma estação na região da Praça Armando Della Croce, atendendo a FAAP, a Av. Higienópolis e a uma distância segura para atender o Estádio do Pacaembu com espaço para que se controle os ânimos. Outra opção seria uma saída na Rua Alagoas com a Praça Charles Miller. Seria possível usar a encosta junto à Praça Esther Mesquita para o acesso Higienópolis, sem prejuízo ao verde. O Hospital das Clínicas é mais próximo da já existente Estação Santa Cecília.

Formaria um corredor universitário de alto nível: PUC, FAAP, Mackenzie, fomentando uma capacidade de interação entre os alunos de valor inimaginável. A localização proposta implica na demolição de um edifício residencial, cujos moradores, com certeza, serão expulsos do bairro, pois adquiriram seus imóveis em outras condições econômicas, a maioria ainda quando estavam em atividade econômicas e hoje estão aposentados; do supermercado que atende o bairro, vai criar um pólo de passagem na principal praça do bairro, descaracterizando seu uso.

Porém, em nenhum dos artigos sobre a estação que estiveram em destaque na mídia considerou esses aspectos, mas apenas o fato de que uma senhora se referiu ao público indesejado de drogados, moradores de rua e desajustados sociais – que existem em todas as áreas servidas por metrô, porque o usam para se deslocar através das áreas da cidade, além dos camelôs, carrocinhas de cachorro quente (muita delas com também serviço de fornecimento de drogas), exceto na Avenida Paulista que tem, por conta do seu valor emblemático, uma fiscalização maior durante o dia (a noite, até cozinheiro de yakissoba se instala perto do Objetivo/Gazeta).

O tópico da discussão, da indignação do movimento, com direito a sotaque francês e cuia de chimarrão (muito paulistano) foi o uso do adjetivo diferenciada para qualificar o tipo de gente com que a moradora se preocupava.

Quantos que protestaram efetivamente tem alguma coisa a fazer em Higienópolis? Parece o caso do Cine Belas Artes: muito abaixo assinados, muitos artigos, mas público pagante para garantir sua permanência, nada!

Antes de tudo, temos que nos conscientizar que o transporte é um bem escasso e limitado e estamos chegando ao seu limite. Não é possível um sujeito viver em São Miguel Paulista e trabalhar em Alphaville e achar um absurdo que leva mais de uma hora no percurso por trem. São 60 km, no mínimo, de distância. Ou o sujeito muda para Barueri ou então procura outro emprego. Para isto, deveria haver uma bolsa de comutação de moradias, facilitando a localização do indivíduo da oportunidade de trabalho.

Depois, Metrô é transporte de massa e de alta densidade, não é feito para percurso de três ou quatro estações, mas de grandes distâncias. Há de se haver a intermodalidade, até forçada.

Agora vou contra um Dogma de Jaime Lerner: corredores de ônibus são limitados. A partir de um determinado volume, tem que ser substituídos por tramways. Tomando o corredor Ibirapuera, por exemplo, a maioria das linhas, a partir do início da Avenida Ibirapuera (coincidentemente, antigo leito do tramway de Santo Amaro) são coincidentes até o Terminal João Dias (salvo engano). Uma fila contínua de ônibus se forma e aí acontece o seguinte: o primeiro ônibus para por, digamos, 30 s. Os ônibus que o acompanham atrás esperam por 30 s parados. O segundo ônibus então avança e para por 30 s. O terceiro ônibus, até agora, já está a um minuto parado ociosamente. O quarto ônibus partirá com 1min30s de tempo ocioso, o quinto com 2min e assim por diante. Multiplique-se pelo número de paradas, que são 14 no trecho Ibirapuera João Dias, e o quarto ônibus terá 28min ociosos. Isto se o primeiro veículo não “empacotar” com outro grupo, aumentando cada vez mais o ciclo de ociosidade. Com o tramway é possível substituir em uma única operação os quatro ônibus e garantir que não haja tempo de espera ociosa nos pontos em operação normal, através de métodos de condução automatizada similares aos da linha 4 do metrô, inclusive priorizando a abertura dos semáforos para que não tenha que aguardar.

Ônibus em operação circular ligando áreas vizinhas. O pessoal de Indianópolis, já citado anteriormente, não tem transporte público para chegar ao Parque do Ibirapuera, Vila Mariana; todas as linhas que passam pelo bairro estão de passagem, ligando outros bairros. Desta forma, o uso do veículo individual é forçado.

Priorizar a sincronização dos semáforos. A General Motors dotou a ilha de Manhattan de semáforos sincronizados em 1950. Não é possível, com o avanço dos microprocessadores que os semáforos de São Paulo só se sincronizem em onda vermelha. Podem verificar: o semáforo seguinte sempre se fecha.

E em lugares ermos, onde o tempo da transversal, pelo baixo volume, é controlado por calendário já que o intervalo é tão grande? Nestes casos, para se evitar um assalto, fura-se o sinal, com risco físico de uma colisão. Um sensor já foi desenvolvido, bem como o software que o controla (conheço pessoalmente quem o fez), mas nunca o vi instalado. A sincronização e fluidez das vias é uma revitalização da capacidade viária e, mais que os veículos particulares, o transporte público é que se beneficia.

E agora a heresia máxima: o transporte privado, dito individual, é o mais justo socialmente, pois o usuário paga por tudo, a utilização da via, através do IPVA, o investimento em equipamentos (o veículo), os custos de manutenção, de operação, de prevenção. Não estou defendendo essa como a única e principal modalidade de transporte, mas demonstrar que não devemos execrar o automóvel como a Hidra de Lerdos. Em certas situações, o transporte individual é necessário e imprescindível: compras de supermercado, chegadas de aeroporto, de rodoviárias, etc. Há duas maneiras de atendimento, táxi ou veículo próprio. Por uma distorção perversa da planilha tarifária, o táxi em São Paulo é um dos mais caros do mundo, e os motoristas auferir seus vencimentos com uma ociosidade enorme, vide as filas no final da Avenida Jornalista Roberto Marinho, junto à Vila Santa Catarina. Então, ainda é mais barato usar o veículo próprio para tais deslocamentos, com a ajuda de vizinhos e amigos. Outra situação recorrente do transporte individual é o fato de que as escolas públicas não terem qualidade, que faz com que as famílias escolham as escolas particulares por tantas razões, mas dificilmente pela facilidade de transporte; por outro lado, a falta de segurança pública afasta os adolescentes do transportes públicos, suprindo seus deslocamentos com o automóvel da família.

Poderia me alongar ainda mais, porém acho que o ponto que gostaria de demonstrar já está explícito: criticar a moradora de Higienópolis, em sua democrática e republicana ação de dar sua opinião é tão ou mais preconceituoso que o termo que ela usou. Se ela falhou na argumentação – e ela falou como leiga, houve falha também de quem a entrevistou que não solicitou mais detalhes para tornar clara a reportagem; do editor que, em nome da audiência da notícia, a publica sem responsabilidade para com as repercussões da matéria; do mentor do Churrascão de Gente Diferenciada, que utilizou a expressão completamente fora do contexto e ao perceber o tamanho do imbróglio, como Poncio Pilatos, lavou as mãos; e dessa mania das mídias de indagar ao “popular” sobre tudo: da vitória do futebol à crise nuclear no Japão.

Temos que restaurar a cidade, antes de tudo, aos seus moradores, e depois solucionar o problema dos trabalhadores, dos estudantes, dos flaneurs, dos consumistas, que antes de qualquer coisa, já estão na primeira categoria.

resposta do editor

Prezado Sr. Corinto Luis Ribeiro, agradecemos o envio da mensagem. Gostaria de fazer alguns comentários a respeito de sua longa mensagem.

1. O artigo que publicamos sobre o assunto, de Renato Anelli (1), é respeitoso e ponderado, considerando os fatores envolvidos de forma não preconceituosa. Entendemos que sua mensagem não tem relação direta com o que foi publicado pelo portal Vitruvius.

2. Sua argumentação sobrepõe temas diversos – comércio informal, prostituição, movimentos sociais, mídia etc. – às questões referentes à mobilidade urbana, o que a enfraquece de sobremaneira, pois são questões concernentes a especialistas outros, que não arquitetos e urbanistas.

3. Na condição de” transporteiro”, como se auto-define, sabe que a distância entre as estações Higienólis-Mackenzie e Angélica é equivalente à existente entre as estações Trianon-Masp e Consolação na linha verde. E a estação Higienólis-Mackenzie fará a conexão com a linha amarela, tal como ocorre com a estação Consolação. A demanda está garantida pelas pesquisas de origem-destino, e a estação Angélica se justifica também por estabelecer a conexão entre modais distintos (metrô-ônibus).

4. Em uma sociedade democrática há espaço para todos se manifestarem: uma senhora reclama pacificamente da presença de pessoas que ela não gostaria de ver por perto, jovens protestam pacificamente contra uma visão que entendem particularista e preconceituosa, o Sr. Corinto Luis Ribeiro protesta por escrito, igualmente de forma pacífica, contra os jovens que são – em sua opinião – preconceituosos. Trata-se, como toda democracia, de um enfrentamento de opiniões e pontos de vista. E a quem se sentiu ofendido moralmente, cabe o recurso das ações judiciárias.

5. Por fim, me dou o direito a manifestar uma opinião. Entendo que uma afirmação sua – “o transporte privado, dito individual, é o mais justo socialmente, pois o usuário paga por tudo, a utilização da via, através do IPVA, o investimento em equipamentos (o veículo), os custos de manutenção, de operação, de prevenção” – é um argumento inaceitável sobre vários pontos de vista. Restrinjo-me ao mais óbvio: nem de longe é verdade que o “usuário paga por tudo”, pois ele não paga pelos problemas de saúde pública gerados pela poluição (do ar e sonora), pelos serviços de socorro feitos por ambulâncias, pela constante ampliação da infra-estrutura (pontes, viadutos, túneis etc.), pela deseconomia produzida pelos congestionamentos-monstro. Quem paga tudo isso somos todos nós, inclusive os pedestres – tanto os que o são por convicção, como aqueles que não têm recursos para automóvel, táxi, metrô, ônibus ou bicicleta. Com seu sapato gasto ou havaiana velha, este último paga tanto como os que pagam IPVA e altos IPTU.

6. Ou seja, precisamos debater a sério a mobilidade urbana, sem escamotear os argumentos, sem colocar nossos interesses privados à frente do interesse coletivo.

nota

1
ANELLI, Renato. O metrô em Higienópolis. Algo de novo no velho debate da mobilidade urbana. Minha Cidade, São Paulo, n. 11.130, Vitruvius, maio 2011 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.130/3903>.

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