O Castelo de Bellver foi construído em um terreno elevado com 112 metros acima do mar, por volta de 1300 como refúgio de proteção ao rei Jaime II em caso de ataque à Palma de Maiorca. Possui a planta circular e quatro torres orientadas para os pontos cardeais. O arquiteto do rei, Pere-Salvà, autor do projeto do Palácio Real de La Almudaina (em frente à Catedral de Maiorca), conseguiu elaborar um castelo único na história, mesclando dois partidos arquitetônicos antagônicos. Pelo lado externo, um tambor maciço de pedra com poucas seteiras, dentro dos princípios da defesa militar. No pátio circular interno, concebeu um requintado edifício gótico com predominância dos vazios sobre os cheios, coberto por abóbadas ogivais de aresta, demonstrando seu talento como arquiteto palaciano.
No ponto de acesso projetou uma torre Albarrã com 33 metros (torre destacada pelo lado externo da muralha interligada por um passadiço elevado) de origem árabe, de grande eficácia para flanquear o lado mais vulnerável. Maiorca tinha sido tomada dos mulçumanos pelo pai do monarca construtor.
O Castelo concebido para a defesa de artilharia mecânica (neurobalística) foi se adaptando nos séculos seguintes para a artilharia de fogo (pirobalística). Na açoteia (laje da cobertura) foram retirados os merlões e ameias e no piso térreo, construídas baterias em forma lobular junto ao fosso. Sua tipologia medieval-circular ainda serviu de modelo durante o período felipino nos fortes de Tenerife da época do engenheiro-mor do reino Leonardo Turriano, e nos fortes do Bugio em Lisboa e São Marcelo em Salvador.
sobre o autor
Victor Hugo Mori é arquiteto do Iphan São Paulo desde 1987. Autor de Arquitetura militar: um panorama histórico a partir do Porto de Santos (Imesp/Funceb, 2003) e organizador de Patrimônio: atualizando o debate (Iphan/Dersa, 2006).