Em 1981 o Condephaat e o IAB promoveram o curso sobre Patrimônio Urbanístico no auditório do prédio da Bienal com o arquiteto italiano Pier Luigi Cervellati, onde tive o privilégio de ser aluno. O curso centrou foco no projeto coordenado por Cervellati em 1969 – Piano urbanístico di salvaguardia, restauro e risanamento del centro storico – e o PEEP – Piano per l’Edilizia Economica e Popolare.
O professor Ulpiano Menezes já se manifestou afirmando que os cursos de 1974 na FAU USP, com a presença de Varine-de-Bohan, e o de 1981, com Pier Luigi Cervellati, foram os responsáveis por revolucionar o que até então se pensava sobre a preservação do patrimônio. Pela primeira vez no Brasil surgiu o conceito de proteção do patrimônio urbano e conservação social.
A continuidade governamental de Bolonha, administrada por décadas pelo Partido Comunista, permitiu a implementação do plano com ênfase na habitação popular no interior do centro histórico, com ampla participação dos moradores. Outra inovação introduzida por Cervellati e Leonardo Benevolo foi a aplicação do conceito de tipologia arquitetônica, então empregado como instrumento analítico, como critério de restauro ou ripristino tipológico. As intervenções se iniciaram nos bairros de San Leonardo e Solferino.
Estive logo a seguir em Bolonha para conhecer a área de San Leonardo. Passados quarenta anos, retornei recentemente a Bolonha para rever a localidade. Os edifícios restaurados e os novos reconstruídos “tipologicamente” nos vazios urbanos estão mimetizados. Quase não se percebe as diferenças sutis dos poucos elementos decorativos simplificados em concreto pré-fabricado. O envelhecimento natural dos edifícios homogeneizou o conjunto urbanístico, que era o objetivo do critério tipológico.
sobre o autor
Victor Hugo Mori é arquiteto do Iphan São Paulo desde 1987. Autor de Arquitetura militar: um panorama histórico a partir do Porto de Santos (Imesp/Funceb, 2003) e organizador de Patrimônio: atualizando o debate (Iphan/Dersa, 2006).