A cultura e a gente nacionais foram os interesses maiores do intelectual brasileiro Mário de Andrade, que, por suas viagens etnográficas, tornou-se conhecido pelo epíteto autoatribuído de Turista Aprendiz.
Em 1927, o poeta e fotógrafo percorreu o Norte do país, no que descreveu como “Viagem pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia, e pelo Marajó até dizer chega”, durante o trajeto, fez registros fotográficos e escritos sobre a região.
O conjunto das fotografias representa o homem, a paisagem, arquitetura e cultura dos locais visitados, nele, contudo, é possível destacar aquelas voltadas para o universo do trabalho e do trabalhador distantes dos grandes centros urbanos do período, a saber, São Paulo e Rio de Janeiro, servindo como instrumento de conhecimento para os modos de vida e trabalho de então nos interiores do país.
As fotografias demonstram também o empenho do escritor em transmitir, por meio de elementos plásticos, aquilo que é retratado, fundindo a informação ao valor artístico, além de registrar cada imagem com títulos e legendas que as expliquem ou esclareçam, aliando, dessa forma, a ação do turista-etnógrafo à do fotógrafo-poeta.
Nesta exposição, estes títulos e legendas são apresentados em etiquetas identificatórias, tendo sido reproduzidos conforme a grafia e paragrafação das inscrições de Mário de Andrade no verso das ampliações originais, além das anotações sobre local, data e dados técnicos da captura da imagem, como iluminação, hora e abertura do diafragma.
As ampliações de época, em preto e branco ou viragem sépia, foram realizadas em suporte de dimensões que variam de 3,7 x 6,1 cm a 12,0 x 16,7 cm. Para a presente mostra, foram realizadas novas ampliações a partir do registro digital das originais, que foram tratadas uniformemente em preto e branco com dimensões de 20,0 x 30,0 cm e 30,0 x 40 cm.
Além das fotografias realizadas na viagem ao Norte do país, foram selecionadas algumas realizadas no Nordeste e uma no interior de São Paulo, datadas de 1927 a 1929.
As 60 fotos expostas apresentam dois aspectos de interesse cultural: o trabalho e o registro de suas práticas – unificados na imagem formulada pela pesquisa etnográfica e artística de Mario de Andrade, documentação esta fundamental para o conhecimento de parte importante das práticas e do viver da nação nos inícios do século XX.
nota
NE
Texto curatorial da exposição Mário de Andrade: etnógrafo-fotógrafo-poeta.
sobre a autora
Adrienne Firmo é a curadora da exposição Mário de Andrade: etnógrafo-fotógrafo-poeta, Caixa Cultural São Paulo, de 23 de março a 5 de maio de 2013.