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interview ISSN 2175-6708

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GUERRA, Abilio; et. al. Pesquisa e pós-graduação: desafios e perspectivas. Webinar do VII Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo organizado pelo PPGAU Mackenzie. Entrevista, São Paulo, ano 23, n. 092.01, Vitruvius, out. 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/23.092/8617>.


Nadia Somekh, Marcos Carrilho, Angélica Benatti Alvim, Fernando de Mello Franco, Ana Gabriela Godinho Lima, Luiz Guilherme Rivera de Castro, Catherine Otondo, Abilio Guerra e Eunice Abascal
Foto divulgação

A mesa preparatória do VII Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo – VII Enanparq – organizada pelo Programa de Pós-graduação da FAU Mackenzie tem como principal objetivo discutir alguns temas que são comuns aos programas brasileiros similares, tanto no âmbito institucional como acadêmico, em especial no entrelaçamento entre o fomento à pesquisa e o debate sobre o conceito de inovação na perspectiva de nossa área.

O conhecimento gerado no interior da universidade só se justifica quando incorporado às demandas de grupos organizados ou não, por meio da gestão pública ou iniciativas sociais. Importante destacar que tal incorporação pode ocorrer de forma imediata e direta, mas também de forma mediata e indireta, situações com temporalidades diversas e variadas.

Quando tal debate se desenvolve no interior da sociedade, através das aplicações práticas do desenvolvimento do conhecimento humano, se evidenciam os aspectos éticos e morais presentes na relação umbilical entre ciência e tecnologia. O desenvolvimento da física pode levar à melhoria das telecomunicações, dando vigor a uma sociedade democrática, mas também pode estruturar redes de vigilância digital voltadas para uma sociedade totalitária. Desenvolvimentos técnicos e tecnológicos antípodas para um mesmo desenvolvimento científico.

Estamos diante de uma distinção clássica entre ciência e tecnologia. A primeira avança a passos lentos e incertos, onde o êxito e o fracasso são parceiros inseparáveis durante o processo, e em que as conquistas abrem perspectivas diversificadas e imprecisas. Ao contrário, a segunda – entendida como o conhecimento e o domínio da técnica – visa a aplicação prática imediata. Em termos ideais, a ciência possibilita a tecnologia; a tecnologia dá sentido à ciência.

No interior das pesquisas em Ciências Sociais – ou das chamadas Ciências Sociais Aplicadas, em que nos incluímos – é inescapável a discussão sobre questões éticas e morais, que fazem parte do próprio âmbito do objeto de estudo (os valores, normas e regras ditadas pelas moralidades sociais em debate e/ou entrechoque) e dos métodos e teorias adotada pelos pesquisadores (as opções, visões e perspectivas que orientam objetivos e procedimentos).

Algumas áreas da ciência justificaram a suspensão da discussão ética-moral com o argumento que suas investigações partem da Natureza e só lá na frente se encontram com a Sociedade. O sentimento trágico experimentado pelos cientistas reunidos em Los Alamos ao verem as fotos de Hiroshima e Nagasaki escancaram o quanto é inaceitável tal suspensão – ou alienação, para sermos mais precisos.

Mas as transformações ocorridas nas sociedades humanas nas décadas recentes deixam tais questões ainda mais complexas. Mesmo que seja possível imaginar um conjunto de direitos humanos abstratos como objetivo final, a multiplicação de vozes identitárias se emparelhou à tradicional luta de classes, destampando uma cornucópia de desejos, vontades e interesses motivadas por ignomínias e violências de toda ordem praticadas por grupos sociais dominantes. As vozes silenciadas de mulheres, homossexuais, populações negras e povos originários,– as chamadas “minorias” – agora reverberam pelo tecido social, amparadas pela dor e pelo conhecimento.

A complexidade da nova situação vai além. Os novos grupos de ação direta que se disseminaram pelo mundo trouxeram de volta um valor soterrado pelo tempo: o bem comum. Não se trata mais de defender o público em seu embate histórico contra o privado. O bem comum é um valor difuso, que extravasa o círculo estrito da sociedade tradicional, traz para dentro do debate direitos complexos e difusos, alguns no âmbito social – memória, patrimônio, infraestrutura, alimentação, saúde etc. –, outros a este transcendente – preservação do meio ambiente e de paisagens naturais e antrópicas em especial.

Visões de mundo até há pouco tidas como anacrônicas são reabilitadas e se tornam ativas nas discussões sobre o futuro do planeta. O pensamento ameríndio descrito pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, que entende o homem como parte de uma complexa rede de entes naturais, é colocado, pelos filósofos Antonio Negri e Michael Hardt, como um dos vetores do pensamento contemporâneo revolucionário ao negar à humanidade autonomia em relação à Natureza. Somos parte ativa e passiva do meio ambiente.

Tais questões estão presentes nas pesquisas e nos debates acadêmicos. Em nossa escola e em nosso programa de pós-graduação – como em todas e escolas e programas de pós-graduação de nosso país – se conversa cotidianamente sobre tópicos como patrimônio, gênero e meio ambiente ao se discutir sobre quaisquer temas que merecem a atenção e o projeto do arquiteto. Contudo, para que essas questões se tornem presentes de forma vigorosa e ativa em nossas pesquisas é fundamental a equação de problemas inerentes ao fomento e à inovação.

A inovação em nossa área de conhecimento não se restringe a inovação tecnológica ou desenvolvimento técnico. Mesmo que estes estejam sempre presentes, o aporte de conhecimento humano é o diferencial. São muitas as novas tecnologias sociais que tornam possível a equação de problemas que se estendem ao longo do tempo. Nestes casos, o grande desafio de pesquisa é detectar as emergências de novas modalidades de arranjos sociais para que se lhe deem teoria e método. Uma nova posição encarnada por intelectuais: a de mediação entre saberes.

Para exemplificar, podemos mencionar os movimentos sociais de moradia, que ocuparam e adaptaram às suas necessidades edifícios abandonados, arruinados e obsoletos, contando com eficaz gestão coletiva, com suportes especializados nas áreas de arquitetura, direito, educação e cultura. Outro bom exemplo se apresenta na atuação de grupos de ação direta, que transformaram em realidade o Parque Augusta. O estudo sistemático destes e de outros exemplos são essenciais para lhes dar universalidade e visibilidade.

Por fim, como se sabe, não há pesquisa acadêmico-científica sem recursos humanos e financeiros. A segunda modalidade é cada vez mais escassa nas áreas de Ciências Humanas em geral, escassez quase sempre motivada pelo entendimento restrito e inadequado do que seja inovação. A atuação em bloco de nossa área deveria aprofundar o entendimento mais largo do conceito de inovação, relacionando-o aos âmbitos do dever ético e das necessidades coletivas, tanto as imediatas como as difusas no tempo e no espaço. Negligenciar essa luta implicará na diminuição constante das áreas merecedoras de fomento.

Tendo nossa produção acadêmica como material de discussão, as três mesas que se seguem visam apresentar de forma sintética situações concretas onde se revelam potenciais no desenvolvimento de pesquisas, o debate interno e a propagação dos temas pelo universo da graduação (onde, por seu turno, nascem outros tantos temas que vão ser incorporados pela pós-graduação) e sua disseminação pela sociedade via estratégias de difusão do conhecimento.

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