O Centro Histórico de Fortaleza como hoje se apresenta é resultado de 274 anos de história. Ao longo deste período, as sucessivas transformações urbanas decorrentes da expansão da cidade modificaram suas ruas, sua arquitetura e até seu perfil natural. Neste espaço urbano, intervenções modernas e prédios antigos se articulam oferecendo uma viva documentação da história fortalezense.
O conjunto arquitetônico que se alinha em torno da Avenida João Moreira é parte integrante de uma área com grande potencial arquitetônico, paisagístico e urbano e sugere, pelo seu desenho, e baseado em conceitos atuais de preservação, a criação de um "Corredor Cultural".
A área reúne boa parte – mas não todas – das edificações originais da cidade, a começar pela Forte de N. Sr.ª de Assunção – edifício que relembra o nascimento da cidade às margens do riacho Pajeú e a partir da sua implantação. Ao lado do Forte, e parte do seu terreno de defesa no eixo da linha da costa, está o Passeio Público. Fruto do embelezamento que a cidade sofreu no final do século XIX, o Passeio registra um pouco da história da organização social da cidade. Sua riqueza paisagística pode ser reforçado pelas visuais do mar que ela proporciona ao Centro. Apesar de ter passado por um recente processo de restauração, que poderia estimular o turismo na área, o Passeio encontra-se subutilizado pela população de Fortaleza. Ainda próximo se situa a Antiga Cadeia Pública onde sedia-se atualmente o Centro de Atividades Turísticas do Estado do Ceará – que desenvolve o comércio do artesanato local além de estimular o turismo na área histórica.
Neste eixo também implantam-se a Santa Casa de Misericórdia, os edifícios da Antiga Sociedade União Cearense e da Associação Comercial – prédios de grande valor histórico, arquitetônico e sentimental para a cidade.
Como ponto de fuga final desta seqüência, teríamos a Praça Castro Carreira em torno da qual se situam os galpões da REFFSA e a Estação João Felipe. A Praça Castro Carreira funciona hoje como um terminal de ônibus que compromete a paisagem e a unidade dos edifícios relacionados a Estrada de Ferro (Estação João Felipe e armazéns), mas apresenta grande potencial para reconversão do seu uso, principalmente a partir da instalação de uma estação do Metrô nas suas proximidades.
Com relação ao uso do espaço urbano no perímetro delimitado, percebe-se durante o dia ainda certa atividade, porém nenhuma que estimule o convívio social ou a memória da cidade, mas que incentivam a degradação urbana da área e contribuam de forma direta para o enfraquecimento do turismo e do uso residencial nesse espaço. A descaracterização de parte do seu acervo arquitetônico encontra-se hoje consolidada, deixando claro a necessidade de iniciativas dos governos municipal, estadual e mesmo federal que promovam o resgate de referências sociais, culturais e arquitetônicas como ponto de partida para um processo de renovação que respeite a memória da cidade.
sobre o autor
Sabrina Studart Fontenele é arquiteta. O presente texto foi extraído de seu trabalho de graduação.