Presidente Prudente é uma cidade nova e sua formação foi apoiada nas operações de venda de terras dos coronéis Manoel Goulart e José Soares Marcondes. A área central da cidade (antiga Vila Goulart) se tornou, de início, foco centralizador dos negócios prudentinos como também das residências das famílias mais abastadas da cidade.
Na década de 1970 houve reafirmação do centro. Nas décadas de 60/70/80, a área central atingiu preços mais altos, onde o solo já se aproximava de suscitar renda de monopólio. Aliado a esta situação, a partir da década de 1970 e, especialmente, de 1976, a cidade conheceu um crescimento territorial urbano sem precedentes. A partir de meados da década de 1980, podemos notar o surgimento de ‘novas centralidades’.
Na área central de Presidente Prudente, iniciaram-se processos de esvaziamento, diminuindo o número de usuários e de residências. Imóveis centrais de comércio e serviços desocupados apresentaram um crescimento de mais de 23%. As avenidas que circundam o centro sofreram alterações através da padronização de usos. Os shoppings propiciaram uma concentração de atividades comerciais e de serviços.
Presidente Prudente de 1973 a 1981 apresentou mudanças na política municipal urbana, as quais se tornaram extremamente favoráveis à reprodução do capital, e que é permitido verificar que pessoas de segmentos sociais mais altos se beneficiaram com as novas políticas administrativas. Essas mudanças referem-se a aumento de impostos urbanos (Predial Urbano, Territorial Urbano e Cadastro Imobiliário) e ampliação do perímetro urbano (proliferação de loteamentos).
O aumento dos impostos urbanos provocou uma política de distribuição do espaço ainda mais seletiva, expulsando os proprietários urbanos de menor poder aquisitivo. Assim, os terrenos que ocupavam pior localização deixavam de ter esta característica e começavam a suscitar, além da renda absoluta, renda diferencial para seus proprietários.
A força preponderante da estruturação do espaço intra-urbano foi constituída pelas classes de mais alta renda através do controle sobre o espaço e sobre o sistema de locomoção, inclusive no desenvolvimento dos subcentros e no declínio do centro principal.
Diversos condomínios horizontais foram criados na cidade nos últimos trinta anos, visando a população de mais alto poder econômico. Entretanto, pode-se notar que as localizações desses condomínios estão na região sudoeste da cidade, com grande proximidade física. Esta tendência é confirmada por Villaça (1998, 335):
“o padrão de segregação destacado não é aquele que se dá em bairros segregados dispersos, mas o que se concretiza de acordo com as grandes regiões segregadas da cidade, onde os bairros das camadas de mais alta renda se aproximam uns dos outros. Com o tempo, os bairros residenciais das elites vão se aglutinando numa mesma região da cidade [grifos do autor]”.
Analisando a questão de bairros e condomínios residenciais em alguns países, Castells (1983) comenta que em estudos sobre subúrbios nos Estados Unidos, Walter Martin observou a predominância da “classe média”, uma certa homogeneidade social e migração seletiva; considerando “segmentos deslocados” da estrutura social. Comenta também (1983) que Bennet Berger, em pesquisa sobre subúrbios na Califórnia/EUA, concluiu que o modo de vida proposto como suburbano é o modelo de comportamento da “classe média americana” e que o subúrbio não tem especificidade social.
Ao contrário do que foi comprovado nos Estados Unidos, Castells (1983) cita um estudo feito por Ledrut em Toulouse/França, onde foi constatado uma heterogeneidade e não isolamento social. Assim como Paul Clerc em pesquisa na França verificou que os conjuntos habitacionais demonstraram uma diferença social muito pequena se comparados às áreas vizinhas.
Na cidade de São Paulo é possível confirmar a segregação sócio-econômica facilmente. Em relação a Presidente Prudente, pode-se também verificar a grande segregação social que ocorre. O processo de urbanização da cidade demonstra essa visão e a determinação das diferentes rendas fundiárias incorporadas permite revelar os processos que atuam direcionando a estruturação urbana.
notas
CASTELLS, Manuel. A Questão Urbana. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.
VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo, FAPESP/Lincoln Institute/Studio Nobel, 1998.
sobre o autor
Sibila Corral de Arêa Leão Honda é arquiteta e urbanista (FAU-Mackenzie), mestre em arquitetura e urbanismo (FAU-Mackenzie), professora de arquitetura na FAU-UNIGRAN.