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my city ISSN 1982-9922

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BELTRÃO, Lícia; PRETTO, Nelson . Inundação de imagens. Poluição visual em Salvador. Minha Cidade, São Paulo, ano 05, n. 054.01, Vitruvius, jan. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/05.054/1987>.


Damiana, Catarina e Mariana, esculturas de Eliana Kértesz
Foto Nelson Pretto


Avenida Centenário, Salvador
Foto Nelson Pretto

Avenida Centenário, Salvador
Foto Nelson Pretto

Canal no meio da Avenida Centenário, Salvador
Foto Nelson Pretto

Avenida cortando o Bairro Canela, Salvador
Foto Nelson Pretto

Publicidade na Avenida Garibaldi, Salvador
Foto Nelson Pretto

Novo outdoor na Avenida Garibaldi, Salvador
Foto Nelson Pretto

 

Passeando pelas cidades, somos afetados pelas marcas, pelos vestígios do vivido, do experimentado por tantos passantes... Passeando pelas cidades, podemos nos deparar com a exuberância, com o paradoxo, com o vício, com a alegria, com a riqueza, com o horror, com a desolação, com a miséria, com a ternura... Com um conjunto disso e daquilo. Um conjunto que vai compondo e ampliando o nosso universo de letras, números, sons e imagens. Aspetos pitorescos e particulares caracterizam cada conjunto, tornam cada um especial e concorrem para que vejamos as cidades e nos vejamos nelas. Lugares distintos e singulares se impõem. Lugares distintos e singulares se nos impõem.

O mundo alucinado da velocidade, o mundo alucinado do “não temos tempo”, do “não temos tempo mais para nada”, muitas vezes, não nos permite ver as cidades. Não permite que nos vejamos nas cidades. Ali, onde tudo acontece – ou tem que acontecer – nas tais frações de segundos que os físicos já denominam de nano-segundos, a milionésima parte de um segundo... Ali, onde tudo acontece engendrado pela nano-tecnologia, aquela tecnologia tão pequenininha que nem sequer enxergamos, mas que vai determinando o funcionamento desse, daquele, daqueloutro fato do cotidiano das cidades. Uma tecnologia que, por ser invisível, parece até não existir!

Passeando por nossa cidade, São Salvador da Bahia, com olhos abertos e lentos, com tempo disponível pra tudo, apreciamos parte dela. Construída em cima de morros e colinas, debruçada sobre a estonteante Baía de Todos os Santos, parece escrever um dos sentidos traduzidos pelo poeta: Terra da felicidade! Seus belos vales, hoje atravessados por diferentes avenidas, concorrem para que se tenha uma cidade mais ligeira, uma cidade de bairros mais vizinhos. Ocupadas por carros que ultrapassam a centena, em cada nano-segundo, indo e vindo, as avenidas foram ocupadas também por generosos canteiros centrais.

Homens de boa vontade, de percepção sensível, mais vulneráveis ao encantamento, dizem que a primavera ali é constante. Eles são vistos tanto na histórica avenida Centenário, projetada por Diógenes Rebouças, como na Paralela, que dessa nasceu distante, por conseguinte, isolada. Mas não isolada das imagens e das letras que acometidas do fenômeno conhecido como gigantografia, se acomodam em outdoors, que crescem, que se espicham, nas encostas dessa e das outras avenidas, anunciando a moda, gritando o preço, dizendo o prazo, apressando o tempo, encurtando o espaço, mudando a paisagem. Alterando, definitivamente, o espaço urbano.

E como é longo esse espaço e como é curta a corrente de opinião sobre o seu modo de ocupação, vozes imperativas, cravadas de sentidos desleais ditam: construam-se mobiliários, registrem e enfatizem o que se faz necessário para manipular consciências. E os outdoors nascem e.. proliferam-se. Alguns, ganham luzes e neons!

A cidade cede à pressão da voz, do comércio, do consumo, da cifra (do vil metal?!). Não satisfeitos com mobiliários que já nasceram urbanos, negócios com o nosso espaço livre são feitos e... eis que começam a surgir, como do nada, em uma geração quase espontânea, nos belos canteiros centrais, especialmente nos canteiros da avenida Garibaldi, mais outdoors, agora com feição do que se concebe provisório em razão do Natal, com a tendência de se tornar permanente... Porque festa e data especial, na Bahia, é o que não falta! O Natal de Salvador é da empresa de telefonia móvel, do banco e do que mais chegar (e pagar!!!). Vale a pena arrecadar um pouco mais de impostos e ocupar de forma tão vergonhosa o solo da nossa cidade e nossas mentes e espíritos tão leves nessa época?!

Pensamos que essa outra tecnologia (macro-tecnologia?!), devagarinho, tende a se incorporar e fazer parte do nosso cenário urbano, do nosso imaginário também. O que é pior! Essa perspectiva alucinada de tudo ser visto e mostrado, de forma constante e permanente traz para o centro das discussões as profundas transformações em torno das concepções de cultura que estamos vivenciando. Junto com as imagens das tvs (das emissoras e dos “sorria você está sendo filmado”!), os outdoors parecem comandar o espetáculo! Se assim o é, cria-se um imaginário planetário que vai construindo um real ou uma espécie de “autenticação do real”, como diz a pesquisadora paulista Stella Senra.

Um real que se impõe e que nos impõe um jeito de ser, de viver e, principalmente, um jeito consumidor de viver. 2005 jeitos de viver, de viver o Natal!

Que Damiana, Catarina e Mariana, as simpáticas e leves garotas do canteiro de Ondina, criadas por Eliana Kértesz, continuem mostrando um outro jeito de ser, de estar e viver.

sobre os autores

Licia Beltrão é professora da Faculdade de Educação da UFBA e da Universidade Catóilica de Salvador. Mestre em Educação pela UFBA

Nelson Pretto é professor e diretor da Faculdade de Educação da UFBA. Doutor em Comunicação pela USP.

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054.01 Salvador BA Brasil
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