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my city ISSN 1982-9922

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O Novo Urbanismo, iniciado nos EUA na década de 1950 e introduzido no Brasil nos anos 1970, é a base conceitual de três bairros planejados no estado de São Paulo, Alphaville, Riviera de São Lourenço e Vila Flora.

how to quote

RODRIGUEZ, Karina Diógenes. Bairros planejados em São Paulo. Tendências urbanas contemporâneas. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 186.04, Vitruvius, jan. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.186/5902>.


Anuncio de Alphaville vinculado em jornal de circulação diária
Foto divulgação


O presente artigo trata da análise de três bairros planejados no estado de São Paulo – Alphaville, Riviera de São Lourenço e Vila Flora – com base nas tendências do desenvolvimento urbano contemporâneo que teve início nos Estados Unidos da América na década de 1950 através do movimento do Novo Urbanismo (NU) e chegaram ao Brasil a partir da década de 1970. Os modelos de cidades contemporâneas buscam uma maior qualidade de vida urbana para os seus habitantes através da implantação de núcleos urbanos densos, compactos, com diversificação de tipos de usos do solo, infraestrutura que privilegia o pedestre, amplamente conectados por uma rede de mobilidade eficiente, espaços livres de qualidade – ruas, praças, parques – que propiciem o uso de diversos públicos e a gestão participativa da comunidade.

Histórico

Até aproximadamente 1900, as cidades se desenvolviam em torno de núcleos urbanos centrais tradicionais, com praça, igreja, cemitério, moradia, escola, hospital, comércio e serviço, a uma distância possível de ser percorrida pelo pedestre. Na década de 1910 houve crescimento e popularização da indústria automobilística nos EUA. Em paralelo às políticas públicas para o barateamento do automóvel particular. Com a chegada do veículo de passeio individual a valor acessível e a construção de sistema de autoestradas, os investimentos para ampliação das linhas de transporte público diminuíram. Muitas das cidades concebidas durante o século 20 foram de modo geral inspiradas pelo movimento Moderno concebidas em setores monofuncionais e com a malha urbana mais espraiada, exigindo grandes deslocamentos rotineiros tanto de pessoas quanto de cargas. Atividades como a moradia, o trabalho e o lazer em sua maior parte estão separadas espacialmente. O crescimento urbano sem planejamento produziu cidades com espaços urbanos inseguros e com difícil mobilidade.

No início da década de 1980 aproximadamente, surgiu nos EUA um movimento que estuda e trabalha com desenho e planejamento urbanos, o qual se auto denominou New Urbanism (Novo Urbanismo). O movimento articulava a conexão e adequação da malha urbana ao deslocamento prioritariamente do pedestre, promovendo a diversidade de atividade em relação aos usos do solo urbano e, quando necessário, para maiores distâncias e deslocamentos regionais, priorizando o uso do transporte público. Desde seu início, o movimento tem exercido diversas influências: no desenvolvimento do setor imobiliário, na concepção do planejamento urbano, nos condicionantes legais do uso e ocupação do solo urbano pela municipalidade, tanto dentro quanto fora dos EUA.

O entendimento internacional em relação aos parâmetros urbanos atuais é de que a opção atual mais viável é a cidade compacta, na qual existe otimização da infraestrutura, aumento da densidade de modo planejado, uso diversificado do solo urbano, eficiência energética, uso racional da água, redução da poluição e um sistema eficiente de mobilidade urbana.

Há uma maior possibilidade de interação social na cidade compacta devido à maior valorização da quantidade e qualidade dos espaços de uso público, bem como de evitar que as vias se tornem não apenas local de passagem, mas também local de estar, através do incentivo do uso misto do solo urbano em uma cidade densa. Todos esses atributos urbanos propiciam uma maior convivência social e, consequentemente, uma maior sensação de segurança, já que há maior quantidade e diversidade de gente nas ruas.

A circulação de pessoas e cargas é a atividade que interliga as demais do tecido urbano. Por isso, devem ser pensados corredores de transporte público que contenham estações de paradas acessíveis ao pedestre. Com elementos urbanos que tornam as cidades mais densas e compactas e que privilegiam o pedestre, o ciclista e o transporte público, existiria uma dependência menor do automóvel particular. Os bairros planejados como unidade de vizinhança, além de terem uso do solo urbano diversificado com residências e postos de trabalho/estudo, devem ter equipamentos cívicos e institucionais – de educação, saúde, bem como áreas verdes distribuídas de forma homogênea.

O setor imobiliário e a cidade mantêm um relação de interdependência, e elementos como a legislação urbana ambiental, os incentivos fiscais e políticos, a segurança dos espaços livres de uso público urbanos são norteadores da qualidade do crescimento e desenvolvimento das cidades e suas construções. Os setores da indústria da construção civil e o imobiliário devem estar conscientes da complexidade por trás da construção as cidades sustentáveis ansiadas pela população atual, bem como de sua parcela de importância no comprometimento da construção das cidades mais aprazíveis de se viver. Nesse cenário se dá a construção de bairros e comunidades planejadas, quer sejam em novos territórios contíguos à cidade existente ou em requalificação de territórios abandonados e sem qualidade inseridos na malha urbana consolidada.

Muitas vezes, os diversos atores sociais, sejam eles os moradores compradores, poder público, ou a iniciativa privada (empreendedores, vendedores), que estão inseridos na construção de modelos de morar na atualidade, têm em mente como um modelo ideal uma casa ampla inserida em grande lote com recuos de frente, fundo e laterais generosos, vegetação exuberante ao alcance dos olhos e comércio e serviços que atendam às pequenas necessidades diárias próximos. Entretanto, a realidade atual do preço da terra nas cidades não permite esse modelo mental de morar, que é ideal para a maior parte da população. Assim, os atores sociais vão acabam por criar modelos reduzidos deste padrão ideal.

Bairros Planejados em São Paulo

Alphaville situado no município de Barueri, Região Metropolitana de São Paulo – RMSP seu início data de 1973 com 500 hectares e o projeto é dos engenheiros Yojiro Takaoka e Renato Albuquerque, figura 1 (foto aérea) abaixo. Trata-se do primeiro empreendimento imobiliário brasileiro a incorporar ao conceito de negócio uma associação de moradores e proprietários com o objetivo de gerenciar e operar os espaços livres de uso público do empreendimento. Anteriormente, as associações de moradores surgiam como tentativa de solucionar problemas locais comuns aos moradores.

Foto aérea do Alphavile Barueri, Alameda Rio Negro
Foto divulgação [Website Alphaville]

Uma parcela da população de maior poder aquisitivo, na busca por uma melhor e mais saudável qualidade de vida urbana, viu nesses empreendimentos a materialização do seu sonho de morar. Como percebemos ao observar a figura 2 abaixo, em anuncio vinculado em jornal de circulação no ano 1976 da Construtora Albuquerque Takaoka no qual se buscava vender os lotes de Alphaville como uma solução para a deterioração urbana que as cidades começavam a apresentar naquela época, oferecendo o retorno da convivência com as áreas verdes, das brincadeiras de crianças nas ruas – em outras palavras, uma melhor qualidade de vida aos moradores.

Anuncio vinculado em jornal de circulação diária
Imagem divulgação [Jornal O Estado de São Paulo, 4/12/1976]

Riviera de São Lourenço se situa no município de Bertioga, Região da Baixada Santista com uma área de 885 hectares, projeto dos arquitetos e urbanistas Benno Perelmutter e Oswaldo Correa Gonçalves. Seu início data de 1983. Trata-se de um bairro aberto como percebemos ao observar a figura 3, apresenta abaixo a foto aérea do empreendimento que tem, por meio da associação de moradores forte e consolidada, serviços como segurança urbana, gerenciamento da infraestrutura (saneamento básico: esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos), gestão das áreas de preservação ambiental.

Vista aérea da Riviera de São Lourenço
Foto divulgação [Website Riviera de São Lourenço]

Em ambos os casos, Alphaville e Riviera, a associação de moradores atua como complementar ao poder público. Se a prefeitura não pode ou não quer prover serviços básicos ao empreendimento, as associações surgem devido à necessidade de assumir o papel de gerir serviços públicos, e não por vontade de substituir ou limitar a ação do poder público. Com o crescente caos das cidades, os empreendimentos planejados, além de suprir as demandas de infraestruturas não ofertadas pelo poder público à associação de moradores, também atua frente ao fomento de eventos comunitários na natureza político, religiosa, esportista e social.

Vila Flora, foi um projeto destinado primeiramente à baixa renda, em 1999, com área de 80 hectares. Como observa-se na figura 4 (foto área da área central) abaixo. O projeto possui o seguinte programa de necessidades: condomínios residenciais de casas e apartamentos, escola, igreja, centro comercial, clube, equipamentos públicos, praças, parques infantis e associação de moradores atuante. De autoria do arquiteto e urbanista Luciano Borghesi e desenvolvido pela Rossi Residencial situado no município de Sumaré. Foi um dos difusores do modelo de comunidade rica em urbanidade e mais complexa. Em empreendimentos dessa natureza, os espaços de uso comum são o principal atrativo, e não mais a unidade habitacional (casa, apartamento). Para oferecer empreendimentos dessa natureza a um público que não era de alto padrão, foram necessárias algumas modificações no modelo de empreendimento planejado concebido até então. Romper com o ideário da casa unifamiliar implantada de forma solta em um amplo lote foi o principal rompimento.

Vista aérea da região central do empreendimento Vila Flora, Sumaré
Foto divulgação [Página Facebook da Associação de Moradores da Villa Flora]

Considerações finais

Os bairros planejados brasileiros têm utilizado dois instrumentos principais para nortear sua implantação e crescimento: a Carta do Novo Urbanismo na tentativa de combater o planejamento suburbano monofuncional, espraiado, de baixa densidade, as cidades dormitórios, bem como os subúrbios residenciais voltados prioritariamente às classes de média e de alta renda da população.

Com Alphaville, Albuquerque e Takaoka criaram a associação de proprietários e moradores com o objetivo de viabilizar a manutenção dos espaços livres de uso público do empreendimento. Essa ação agregou valor imobiliário ao empreendimento. Esse modelo inspirado nas associações de proprietários americanas e antes ainda inspirado nas cidades jardins de Howard foi difundido em empreendimentos semelhantes em todo o Brasil, através de associações de moradores e proprietários que gerenciam socialmente os espaços de uso coletivo do empreendimento.

Entretanto, somente após a consolidação do ideário do movimento do NU a discussão a respeito do fomento da vida em comunidade e a maior diversidade e qualidade dos espaços urbanos vieram a ser o centro da atenção de planejadores e empreendedores. A ideia de morar, trabalhar e ter lazer em um mesmo território passou a ser um dos destaques dos novos projetos urbanos planejados privados, mesmo que não empregassem os conceitos formais defendidos pelo movimento americano do NU.

Com base na análise desses empreendimentos planejados mais contemporâneos e no ideário do movimento americano do NU, percebe-se que o grande mérito do movimento para o urbanismo promovido pela iniciativa privada: suscitar discussão sobre a produção de empreendimentos com usos múltiplos e qualidade dos espaços públicos, trazendo-os cada vez mais próximos à realidade da cidade tradicional.

Entretanto, há também críticas ao movimento do NU, assim como houve ao Movimento Moderno, em que eram impostas regras formais rígidas. Nos empreendimentos americanos influenciados pelo NU, a arquitetura parece falsa devido a não corresponder ao gosto, cultura e estilo de diferentes moradores, mas a um padrão formal rígido imposto pelo movimento. Com isso, pode-se dizer que há a criação de cenários elitistas destinados a uma pequena parcela da sociedade de poder aquisitivo maior que vê nestes empreendimentos uma forma de representação social que os diferencia dos demais habitantes da cidade.

 Ao longo dos últimos anos tem crescido a atração do setor imobiliário brasileiro na constituição e crescimento territórios planejados. Existem diversos estudos, pesquisas e projetos em planejamento e em implantação seguindo esse viés de urbanização. Entretanto, ainda há carência de definição sobre o que de fato se caracteriza como bairro planejado, tanto pelo poder público (não há legislação pertinente), quanto pela inciativa privada.

A ausência de uma delimitação clara entre as áreas urbanas e as áreas rurais, causam um espraiamento sem planejamento do tecido urbano muitas vezes invadindo as margens dos recursos hídricos, causando devastação dos recursos naturais. O aumento das manchas urbanas das cidades acarreta a maior dependência do automóvel e em consequência um maior gasto de recursos energéticos. As ações realizadas pelo poder público e pela inciativa privada (setor imobiliário) na construção de empreendimentos residenciais no formato de bairros-jardins com baixa densidade e monofuncionais, e no formato de condomínios fechados com diversas atividades de lazer no seu interior.

Estes empreendimentos residenciais são muitas vezes responsáveis pela ausência de coesão no tecido urbano das cidades.  Tendo em vista todo este cenário explanado concluímos que os territórios planejados brasileiros planejados e implantados ainda precisam de muito trabalho para atingir os parâmetros que caracterizam a urbanidade prevista na Carta para o Novo Urbanismo.

referências bibliográficas

CALTHORPE, Peter. The Next American Metropolis: Ecology, Community and the American Dream. Nova York: Princeton Architectural Press, 1993.

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo, WMF Martins Fontes, 2011.

LEITE, Carlos. Conceitos e tendências do desenvolvimento urbano. In CAVALCANTE, Felipe (org.). Comunidades planejadas. Maceió, Viva Editora, 2014, p. 10-23.

MACEDO, Adilson Costa. A Carta do Novo Urbanismo norte-americano. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 082.03, Vitruvius, mar. 2007 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.082/262>.

MÍTICA NETO, Hélio. A evolução recente das urbanizações planejadas pela inciativa privada. In CAVALCANTE, Felipe (org.). Comunidades planejadas. Maceió, Viva Editora, 2014, p. 24-39.

sobre a autora

Karina Diógenes Rodriguez é arquiteta e mestranda no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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