O restauro da Catedral da Sé, afora as tarefas específicas de recuperação de seus elementos artísticos agregados, enfrentou duas ordens de questões.
A primeira, de ataque a problemas de deterioração e desestabilização física: movimentação estrutural, fissuras, infiltração de água, ataque de insetos xilófagos nas partes de madeira, deterioração de caixilhos e vitrais, entre outros.
A segunda, de complementação das diversas partes não executadas do projeto original do arquiteto Maximiliano Hehl, de 1912, bem como de adaptação interna para o cumprimento de novas funções, além das religiosas.
O estudo inicial propunha a construção dos torreões e agulhas não executados em cristal translúcido, em azul profundo, com iluminação interna, distinguindo-se como intervenção contemporânea, que resgataria apenas a volumetria original, agregando ao edifício novas características como referência urbana.
No entender da Cúria Metropolitana, esta solução não atenderia à expectativa de ter-se a Catedral acabada tal como projetada originalmente, o que pressupunha contar com uma base documental consistente que, desde 1954, não era encontrada. O achado ocasional de cópias de esboços do projeto, cobertas pelo entulho existente sob o Coro, permitiu o desenvolvimento de um trabalho de interpretação da concepção inicial de todos aqueles elementos, á luz da linguagem utilizada nas partes construídas, para a produção dos desenhos de sua complexa geometria e a escolha dos métodos construtivo-estruturais contemporaneamente adequados à sua execução.
O imenso acervo artístico de esculturas, talhas, mosaicos, mobiliário, utensílios e paramentos da Catedral, incluindo o rico e diversificado trabalho de cantaria de pedra lavrada e esculpida, com todos os seus componentes dotados de intenção e significado religiosos, ensejaram a proposta de inventário e identificação de todos eles. O objetivo seria o de criar roteiros de visitação interna e externa, nas coberturas inclusive, no bojo de projeto museológico que transmitisse à população e aos visitantes em geral, o conhecimento assim acumulado sobre a Catedral, a antiga Matriz colonial demolida e substituída pela Sé e o papel exercido pelas duas na formação do centro histórico paulistano, utilizando também o topo de uma das torres como mirante, a 360 graus, da paisagem urbana de São Paulo.
Em futuro próximo, com suporte em prospecções arqueológicas na Praça da Sé e entorno imediato, poderia ser revelado e assinalado em sua pavimentação, o traçado do arruamento do antigo centro e, eventualmente, a exibição dos vestígios porventura existentes, evidenciando para qualquer observador a diferença de escala e configuração entre os espaços da aldeia rústica do passado e os da metrópole que sobre ela foi erguida.
ficha técnica
Nome da Obra
Catedral da Sé
Localização
Praça da Sé / São Paulo / Brasil
Superfície do terreno
5.300m²
Superfície construída
6.700m²
Projeto e coordenação geral de restauro e adaptação:
Autor
Arquiteto Paulo de Mello Bastos
Colaboradores
Arquiteto Nelson Xavier, coordenadorArquitetos Tiago Angelini Morgero e Pedro Henrique de C. Rodrigues, assistentes
Catalogação do acervo e consultoria museológica
Expomus Exposições, Museus, Projetos Culturais Ltda.
Museóloga Maria Ignez Mantovani Franco
Projeto de consolidação estrutural e novas estruturas
Engenheiro Henrique Dinis
Projeto de luminotecnia
Arquiteto Carlos Bertolucci
Restauro de elementos artísticos agregados
Restaurador
Júlio Moraes
Resgate e diagnóstico, limpeza do acervo
Antonio Carlos Dorta e Lindalva Jacinto Tabenez
Restauração de mármores e bronzes
Claudemir Ignácio
Restauro de obras de arte em geral
Ana Paula Jacinto Tabanez
Restauro de elementos de madeira
Gildásio Pereira dos Santos
Restauro de vitrais
Atelier Artístico Sarasa
Restauro de elementos de cobre da cobertura
Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia SA
Coordenação e execução geral das obras
Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia AS
Eng. Responsável: Ronaldo Ritti
Coordenação geral de obras
Eng. Responsável: Maria Aparecida Soukef Nasser
Produção e montagem de peças em GRC
Faccio Stonelite Ind. e Com. Ltda.
Responsável Bruno Angelo Faccio
Execução de novas coberturas de cobre
N.Didini Engenharia & Construção Ltda
Responsável: Eng. Nilton Didini Coelho
Consultoria de GRC
Prof. Dr. Fernando Barth
Universidade Federal de Santa Catarina
Consultoria de pátina do cobre
Eng. Químico Prof. Héctor Varela Diaz / Chile
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo