Arquitetando a paisagem
Reconstruir a paisagem e reconectar o mar, sobretudo visualmente. São os objetivos estratégicos visados por esta proposta de qualificação urbanística, paisagística e ecológica da antiga instalação aeroportuária e seu entorno. Uma intenção em conformidade com os planos urbanísticos de desenvolvimento, recuperação e reestruturação de Atenas.
O destino da vida dos homens inseparável do futuro da cidade.
Mar da Manhã
Hei de deter-me aqui. Também eu contemplarei um pouco a natureza.
Do mar da manhã e do céu inube
azuis brilhantes, e margem amarela; tudo
belo e grandiosamente iluminado.
Hei de deter-me aqui. E me enganar que os vejo
(em verdade os vi por um momento ao deter-me)
e não também aqui minhas fantasias,
minhas recordações, as imagens do prazer.
Konstantinos Kaváfis 1915
Estruturando o território de intervenção dois eixos, como a construção de um gesto, delineiam os caminhos, os limites e as apropriações do conjunto.
Um, o Caminho da Terra e o outro o Caminho do Mar. Duas realidades tão arraigadas no imaginário Grego desde os mais remotos tempos.
Anexadas ao Caminho da Terra, verdadeira esplanada, maiores (Praça da Terra, Hellas e Europa) e pequenas praças (Praça da Mutação, Harmonia, Ritmo, Graça e Equilíbrio) desenham as ocupações e enquadram as atividades.
Da esplanada olhando o mar, o Caminho da Terra, seqüência de pisos com as colorações das treze províncias helênicas, será o caminho de todos os povos, que com delicadeza e deslumbramento passeiam como se fosse ali toda a Grécia.
No percurso, cores, cheiros e festejos alegram a luz do dia os passeios folgados e mais tarde noturnas sensações. Com o sol que nos aquece, passeios divertidos pelos pequenos bosques. Caminhos sensoriais pelas cores e cheiros. Do alarido das crianças, brinquedos a girar. Nossos avós com histórias a contar. Ao entardecer as luzes dos olhares cintilam ante a chamada de atrações. À noite, o jantar tranqüilo nas pequenas praças refletindo as águas de oásis existentes.
Ao passear pela esplanada, sensores disparam sons de aviões decolando, quais relâmpagos fugazes, nos despertam para a memória do lugar, nas suas preexistências.
Dos pilaretes da estrutura de sustentação dos quebra-sóis, que cobrem o passeio, peças eólicas com efeitos óticos armazenam a energia necessária às lâmpadas do caminho.
O Caminho do Mar, linear percurso da cidade à margem litorânea, atravessa a mata. Praças estrategicamente posicionadas aguardam o merecido e momentâneo repouso dos visitantes. Na medida em que se demore nesses espaços estará à mercê do burburinho das águas correndo e dos pássaros ou até do vento sobre as folhas.
A Paisagem Verde. O projeto propõe uma imensa e acessível área verde com três grandes reservas de água, arquitetando uma nova paisagem que reconstituirá a Flora Ateniense de beira-mar, criando novas dimensões sobre o antigo terreno e suprindo as aspirações de uma geração mais sensível a uma natureza dinâmica e atrativa, na qual encontram-se espaços dedicados ao esporte, à música, ao ócio ou ao devaneio.
Próximos ao Caminho da Terra, no setor urbano, pequenos parques feitos de cores, cheiros, brinquedos e áreas de estar para crianças e idosos.
Na malha urbana, a permeabilidade, a vegetação e a adequação às diretrizes ecológicas são estruturadoras do Projeto Urbano. Novo ecossistema, lugar da vida e da liberdade, são espaços que entretém a vida citadina, engendrando, desdobrando-se e mutiplicando-se em ações, acontecimentos, criações da vida humana.
As praças, espaço da manifestação cívica e apropriação cultural das manifestações mais autênticas e contemporâneas que se realizam nos edifícios que a configuram.
A Praça Hellas, piso em mármore, que se fundamenta e se caracteriza como centro cívico, também popular, lugar do encontro, do falar, da humanidade e de onde a cidade se faz. O olhar compromissado e simultâneo faz do mar a cidade, da mata o mar e da mata a cidade. O olhar e a palavra constituintes do fazer cidade, do cidadão.
Subidas aos céus por balão qual torre. Elemento vertical acessível e prazeroso faz ver. A terra vista do céu.
Objetivando uma nova sintonia entre a cidade e o território, onde a arquitetura será formada pela paisagem, e a paisagem se tornará arquiteturizada.
Nova Topografia. Este novo desenho topográfico suporte de generosa arborização, constitui e marca a identidade e o caráter da intervenção, que se estende no restante do Parque, guardando memórias tectônicas e favorecendo permeabilidades que incorpore diversidade de vegetação e autonomia ecológica. Tal desenho constituirá, sobretudo, uma nova geografia para o deleite do cidadão.
A busca de um ambiente sustentável, ou seja, a incorporação das exigências de sustentabilidade no processo produtivo e social, requer uma eficiência energética, a partir da utilização de tecnologias mais apropriadas, do mesmo modo que a equidade social supõe o ajuste do crescimento aos potenciais de recursos naturais disponíveis e de par com a responsabilidade na tomada de decisões. Além disso, devemos conseguir um equilíbrio nas características intrínsecas da paisagem como suporte geoecológico e sócio-cultural da sustentabilidade.
Na mata, com seus açudes, pássaros e barulhos da natureza. Contemplação e tranqüilidade, momentos recuperadores para o homem do século vinte e um. Tão perto e tão longe da algazarra urbana.
A transformação do ambiente, que no tempo apresentar-se-á casualmente, terá sido modelada para constituir Território, permitir olhares, analogias, metáforas e fantasias, estabelecendo novas referências pela fruição dessa natureza. Uma natureza feita pela mão do homem.
Visitar o Parque, situação táctil em que todos os sentidos serão despertados é um convite ao deleite, à fruição plena, à alegria e ao uso da liberdade, tão cara ao cidadão e tão necessária nas grandes metrópoles. Na Praça de Eventos, os shows das mais variadas tribos e platéias, todos eles para grandes públicos.
Os edifícios limítrofes apóiam as atividades do evento da área central. Na cidade contemporânea, salvo por questões graves de poluição que as faz afastadas, não há equipamentos ou função que devam ser “escondidas” ou alijados da urbe. Assim alguns edifícios como aquele para tratamento de resíduos sólidos, subestação elétrica, etc., com atividades fundamentais ao funcionamento da cidade, também podem e devem atrair olhares e despertar atenções através de um processo e propostas educativas. Incorporá-los, positivamente, ao Parque é uma das diretrizes do projeto.
Implantação do Parque. Na estratégia de realização do Parque assumir-se-á a condição de ”work in progress”, intervenção passo a passo requalificando e beneficiando a área com contemporaneidade para conseguir um todo homogêneo, integro e orgânico, ao fim de um período mais demorado de implantação. A aplicação de novas tecnologias de construção, transportes e comunicação será parte fundamental do projeto. Essa construção paulatina fará com que a população possa acompanhar e participar em todas as etapas a curto, médio e longo prazo a partir do desenvolvimento da natureza autóctone e das edificações.
ficha técnica
Autor
Arquiteto Carlos Dias / Carlos Dias Arquitetos Associados S/C Ltda
Colaboradores
Arquitetos George Gavalas (paisagista), Paulo Amaral, Pedro M. Rivaben de Sales, Suzel Maciel (paisagista)
Equipe
Arquitetas Andrea Santana Freitas e Juliana Corradini Alves; Estudantes Alexandre Grazzini, Igor Dias Rogovschi, Marcelo Pavan Carvalho, Nana Blanaru, Eliana Satie Uematsu
Consultorias
Eng. Civil Mauro Rodrigues Pinto (estrutura)
Arquiteta Sofia Luri Kubo (luminotécnica)
Eng. Agrônoma Efrossini Kallinikou (paisagismo, Grécia)
Dino Vicente (sonorização)
Eng.Shoji Habara (hidráulica)
Eng. Ivan Maglio (meio ambiente)
Eng.Carlos A. de Oliveira (sistema viário)
Designer Felipe Ozores (apresentação)
William Sakuramachi (tradução)