1. Elementos construtivos da paisagem
Praça XV e Praça Mauá
Os trechos em estudo estão situados junto a dois grandes marcos da área central do Rio de Janeiro: as praças XV e Mauá. São áreas representativas, em momentos distintos, no contexto histórico da cidade. A Praça XV foi um dos pontos iniciais de colonização, se expandindo posteriormente para os morros do Castelo, da Conceição, de São Bento, da Gamboa e da Saúde, esses últimos formaram a primeira área portuária da cidade, com trapiches e comércios.
As zonas central e portuária da cidade estão em processo de revitalização, através de intervenções pontuais da prefeitura, como o projeto do Corredor Cultural, Rio Cidade da Av. Rio Branco, e a própria Praça XV, que passou por recuperação paisagística e ampliação, viabilizada pela implantação do Mergulhão. Na zona portuária existe o Plano de Recuperação e Revitalização da Região Portuária - Porto do Rio, que propõe mudanças viárias expressivas, como a implantação de um novo mergulhão para a Praça Mauá, e vias de alta circulação em um Sistema Binário, além da recuperação e revitalização urbanística e paisagística de diversos pontos da região portuária, incluindo os trechos em estudo da Praça Mauá e Av. Rodrigues Alves.
O principal objetivo dessas intervenções pontuais, no Centro e Região Portuária, é restabelecer a identidade do local, recuperando a paisagem degradada para torná-la atrativa para o usuário. Nesse ponto a região portuária se encontra em uma situação crítica, o abandono das atividades industriais e a transferência de grande parte do transporte portuário para o Porto de Sepetiba transformaram a área em um grande vazio, que começa a ser abandonado também pelos moradores, permitindo que a história do bairro, assim como o conjunto de elementos simbólicos que constroem o valor cultural e ambiental da cidade, se percam.
A identificação desses aspectos como partes constitutivas do todo urbano, propiciam uma inserção por parte dos que pensam a cidade de forma a decompor e recompor os ambientes urbanos, entendendo a produção espacial, e destacando na nova paisagem valores históricos agregados a novos, guiando uma proposta de intervenção que também aponte para a preservação, sem que as partes da cidade deixem de dialogar entre si e com suas diversas fases evolutivas. A âncora desse projeto seria o Museu Guggenheim, implantado no Píer Mauá, que transformaria totalmente a dinâmica atual da paisagem, apoiado em projetos auxiliares como o 'Janelas para o Cais', que propõe abrir visadas para o mar entre os armazéns da empresa Docas RJ.
A visão histórica e de defesa da transformação qualitativa da paisagem, baliza e constrói a metodologia de intervenção do objeto de estudo, o centro carioca. Para Lamas, "a ameaça sobre os lugares o tornam um bem raro na cidade" (1), neste sentido a Praça XV e a Praça Mauá, como eixos no processo de construção da identidade da paisagem urbana da cidade se mostram significativos e relevantes.
Os aspectos espaciais, tecnológicos e estéticos (2) identificados hoje nesses ambientes não dialogam positivamente na construção de uma imagem solidificada na paisagem. Nos quesitos espaciais, que se referem às relações público e privado, ambos se colocam como campos abertos exclusivamente a atividades públicas, os usos do espaço livre propriamente dito são de caráter temporário: feiras e eventos culturais. As atividades desenvolvidas no entorno vinculam-se ao semi-público, as instituições, como Polícias Federal e Civil, o Terminal Rodoviário, na verdade a primeira estação rodoviária da cidade, o Terminal Marítimo, na Praça Mauá, a Estação das Barcas e os pontos de conexão rodoviária do Mergulhão e Terminal Menezes Cortes.
O intenso tráfego de veículos nas áreas em estudo remete a questões referentes às diversas formas de impacto ambiental, como o desconforto sonoro e a poluição do ar. As redes de esgoto, drenagem, iluminação precisam dialogar entre modernidade e eficiência, no sentido de conservação da cidade como patrimônio. A costura dessas intervenções constrói um novo desenho urbano e os ambientes, sob uma nova textura, emergem nos aspectos estéticos, evocando o conjunto de elementos simbólicos, trabalhados e valorizados entre os valores culturais, arquitetônicos e ambientais da cidade.
A construção de novos aspectos estéticos para as áreas da Praça Mauá e Praça XV conjuga os aspectos espaciais aos tecnológicos, e na perspectiva de uma nova visibilidade urbana, o desenho é trabalhado através da reestruturação da superestrutura da Av. perimetral, que atravessa estes espaços construindo uma nova paisagem.
Aspectos tecnológicos da perimetral
O projeto da via expressa elevada da Av. Perimetral foi implantado, fruto da febre rodoviarista que marcou os anos 70, para ligar a Av. Brasil ao Aterro do Flamengo, importantes vias de circulação no eixo Norte Sul da cidade, hoje complementado pela Linha Vermelha, que faz a ligação com o Túnel Rebouças. A Av. Perimetral se estende pelos bairros do Caju, Santo Cristo, Saúde e Gamboa, seguindo o traçado da Av. Rodrigues Alves. Como eixo rodoviário a sua eficiência é comprovada, mas enquanto objeto estético de intervenção na paisagem houve questionamentos, que a identificaram como obstáculo à paisagem, que agravaria o processo deterioração dos bairros que a abrigam, e surgiram projetos de substituição da Av. perimetral por estruturas subterrâneas que complementarias a Av. Rodrigues Alves.
No entanto a Av. Perimetral, atualmente, não apresenta tantas características negativas, ela não pode ser responsabilizada por um processo muito mais amplo e longo de degradação dessa área da cidade, podendo, inclusive, ser utilizada como elemento catalisador de sua reestruturação, através da reversão da imagem pejorativa da estrutura. Nesse processo de transformação da Av. Perimetral em um marco urbano, é preciso apreende-la como um todo, e identificar corretamente os impactos ambientais, positivos ou negativos, causados por sua presença na cidade, no intuito de apontar a importância de sua preservação.
Sistema de drenagem existente
O sistema de drenagem das pistas do viaduto é constituído por caixas de ralo com grelhas de ferro fundido posicionadas no lado interno das vias, exceto nos locais onde a sobrelevação do pavimento muda o caimento transversal da pista.
Estas caixas estão espaçadas aproximadamente 40m uma da outra e sempre sobre os pilares do viaduto.
Nestes locais, estão interligadas a tubulações embutidas nos próprios pilares que despejam em caixas de coletas no nível da calçada as quais por intermédio de ramais de ralo, conduzem as águas às galerias de águas pluviais próximas ao viaduto.
Atualmente algumas ligações entre as caixas de ralo e as de coleta, estão comprometidas ou por envelhecimento ou por entupimento. Porém, mais críticos são os despejos dos tubos de queda nas caixas de coleta, que estão entupidas e sem tampas na grande maioria.
Dentro delas, encontram-se todos os tipos de materiais, como plásticos, madeiras, panos, terra, pedras e outros. Isto faz por vezes, que a tubulação de queda não consiga despejar a contento, desta forma os tubos ficam cheios, portanto acarretam alagamentos nas pistas do viaduto nos locais onde isto acontece.
Sistema de iluminação existente
Atualmente os postes se localizam no canteiro central com braços curvos para cima das pistas, causando efeitos de estreitamento da via e poluição visual. O sistema atual do ponto de vista arquitetônico e luminotécnico, está fora das diretrizes pretendidas à área portuária, por suas características ultrapassadas, além de estar fora das tendências de vias e viadutos modernos das grandes metrópoles do mundo.
O arranjo atual não garante a segurança total dos usuários, visto que a via encontra-se na orla marítima, portanto apta a maior desgaste, além de não estimular os usuários a apreciação da avenida como um todo, bem como o valor arquitetônico ao redor e da área portuária.
Descrição sumária da estrutura
A superestrutura dos trechos do viaduto e rampas de acesso, onde se pretende inserir obras de tratamento acústico, é constituída por uma estrutura mista de concreto/aço.
Parte da superestrutura é constituída por uma seção do tipo caixão em concreto, com laje dotada de balanço em suas extremidades e apoiada internamente entre longarinas.
No trecho da rampa de acesso próximo a Praça Mauá a superestrutura empregada é do tipo mista com lajes em concreto apoiadas em longarinas metálicas.
Nas extremidades em balanço as lajes são dotadas de guarda-rodas do tipo barreira lateral com finalidade de impedir a saída dos veículos das pistas.
A mesoestrutura é constituída por pilares em concreto armado com seção transversal retangular variável.
Condições atuais das estruturas
Nas inspeções realizadas, foram detectados visualmente diversos pontos da superestrutura com armaduras expostas e com a camada de cobrimento inteiramente deteriorada, principalmente junto às extremidades em balanço.
O mesmo foi observado em alguns dos pilares ao nível do terreno, ocasionado por uso indevido da área sob o viaduto.
De um modo geral, não foi detectado visualmente nenhum dano grave ao longo da obra. Não foram observadas aberturas de trincas e/ou fissuras de grande porte nem deformações acentuadas.
A estrutura apresenta-se em condições normais de utilização necessitando somente de obras de caráter de conservação, de modo a evitar o processo de degradação.
Diagnóstico de ruídos para a praça mauá e praça xv
A avenida Perimetral, como via de tráfego intenso, pode ser modelada como uma fonte linear de grande comprimento. A atenuação sonora depende de diversos fatores: absorção do ar, divergência geométrica, efeitos do tipo de solo, vento e temperatura.
Para uma fonte linear, em campo livre, podemos admitir uma atenuação da ordem de 3 a 4 dB(A) cada vez que a distância entre a fonte e o receptor é dobrada.
Na Av. Perimetral o ruído emitido pelos veículos que trafegam no elevado atinge diretamente as fachadas dos edifícios, com valores flutuando entre 70 e 90 dB, exceto os armazéns, situados abaixo do nível das pistas.
A Avenida Rodrigues Alves apresenta níveis de pressão sonora flutuando de 85 a 90 dB, com picos de 100 dB, medidos em horário de rush (18:30h), na pista abaixo do viaduto.
Existe uma pequena redução dos níveis de pressão no trecho descoberto (projeção da Av. Perimetral) da via, porque o som não reverbera na superestrutura.
Na Praça Mauá a principal fonte de ruído é o tráfego de veículos nas ruas próximas ao entorno. Os níveis de pressão sonora flutuam de 75 a 83 dB, com picos de 91 dB, medidos em horário de rush (18:30h)
A Praça XV apresenta níveis de ruído, bastante variáveis, dependendo do ponto de medição, são : 65 a 70 dB, próximo ao Paço Imperial e a Estação das Barcas, em torno de 75 dB embaixo do viaduto e cerca de 90 dB, junto das saídas do Mergulhão.
O Mergulhão da Praça XV é um dos pontos críticos da área, além de apresentar ruído excessivamente alto no seu interior, as zonas de transição para entrada e saída apresenta níveis altos que se propagam pela praça. Os níveis de ruído variam entre 80 e 90 dB, com picos de 105 na passagem de veículos pesados no interior da estrutura, e entre 70 e 90dB nas áreas próximas aos acessos.
Outro ponto crítico é o corredor de ruído formado entre os edifícios da Bolsa de Valores e da Maternidade, principalmente devido a altura dos edifícios e ao paralelismo das fachadas.
2. Instalação urbana
A possibilidade da técnica associada à estética
Após investigação dos aspectos constitutivos da paisagem - espaciais, tecnológicos e estéticos - nas três áreas de estudo, emerge o objetivo do estudo, a minimização dos impactos ambientais urbanos causados pelo desconforto acústico.
Tomou-se como premissa uma intervenção que respeitasse o entorno histórico, não competindo, mas sim agregando valores ao ambiente.
A conciliação dos aspectos tecnológicos propostos à dinâmica espacial e estética sintetiza uma metodologia de projeto, que cria a possibilidade de adequação a realidade do elemento acústico-paisagístico proposto.
A intenção objetiva é criar uma estrutura que minimize os problemas acústicos causados pelo intenso tráfego de veículos na região, transformando-o na possibilidade de requalificação da Avenida Perimetral como um marco edificado.
A idéia inicial parte da possibilidade de implantação de um túnel transparente, que isolaria a cidade do ruído, mas em contrapartida criaria uma zona de desconforto acústico muito maior, e concentração de gazes tóxicos no seu interior, além de estruturalmente ser condenado, pois seria uma estrutura muito leve em uma zona de ventos fortes.
A partir da avaliação funcional dos tipos de barreiras acústicas concluiu-se que esta poderia conjugar-se ao sistema de iluminação, solucionando outro ponto deficiente nos ambientes da praça Mauá e Praça XV.
Com esse desafio colocado são propostas soluções que se aplicam tecnicamente e que não disputam com a paisagem como patrimônio, mas sim dialoga com esta, na construção da imagem de uma cidade que (re)-desperta para sua vocação cultural, ou seja, a proposta funciona como uma instalação urbana que marca eixos visuais da cidade.
Na Praça XV as perspectivas que se obtém da Baía de Guanabara e também da passagem através do Paço Imperial, e na Praça Mauá, a barreira conjugada à sua iluminação conduz a perspectiva ao Píer Mauá, atualmente cenário de eventos culturais, e futuramente local de implantação de um equipamento cultural polarizador da área portuária.
Jogos de luz e sombra
A concepção do projeto luminotécnico da perimetral tem como principal objetivo a fundamental mudança das características e efeitos visuais.
No projeto proposto, os postes estão localizados nas laterais, juntamente com o equipamento adotado pelo tratamento acústico.
Os postes deixam de ser apenas mais uma informação do mobiliário urbano e tornam-se pontos ornamentais de interesse visual na área externa, bem como proporcionam uma "liberdade" visual e sensação de amplitude para os que trafegam em suas pistas.
Os postes são ligeiramente inclinados para fora do viaduto, com luminária de alta eficiência luminosa e lâmpada vapor metálico, garantindo que as pistas estejam dentro dos critérios de nível de iluminamento e uniformidade adotada pelas normas brasileiras.
Neste mesmo poste será acoplada uma luminária na parte externa, de modo que todo o perímetro estrutural do viaduto seja iluminado, criando uma iluminação ornamental visível à distância, inclusive por quem trafega pela ponte Rio-Niterói, na orla da Baía de Guanabara e principalmente aos que estejam apreciando a chegada ao Rio de Janeiro pelo Aeroporto Santos Dumont.
A Avenida Perimetral deixará de ser simplesmente uma via iluminada no meio do contexto urbano e será um elemento contínuo e nítido, causando efeito linear a um novo cartão postal da cidade do Rio de Janeiro.
O efeito causará um desenho de luz e destaque, proporcionando uma iluminação multiuso, ou seja, serão efeitos cromáticos diferenciados ou com informações de utilidade pública, como por exemplo: se o perímetro estiver iluminado na cor azul significa que a previsão do tempo é boa, se estiver na cor verde o transito está livre, podendo também criar projetos especiais como iluminação de natal.
Aproveitando o tratamento acústico lateral proposto, será utilizada uma luz embutida para a correção de eventuais sombras causadas por veículos de grande porte.
Entre os pilares da base da Avenida Perimetral, na área da Praça XV, serão instalados postes retilíneos de aço com iluminação difusa, sem proporcionar ofuscamento aos usuários e sem interferir no mobiliário urbano existente.
Os óculos destes mesmos pilares serão valorizados com iluminação de cor amarelada direcionada de baixo para cima para que no período noturno possamos criar a sensação de leveza e transparência, evitando a escuridão gerada pelo posicionamento dos equipamentos hoje existentes. Ainda neste elemento um facho de luz branca, saindo do forro inferior do viaduto, incidirá na direção do óculo criando uma leitura visual de elemento vazado e tornando o ambiente com iluminação de destaque, transformando-o em um cenário.
Será construído um forro irregular com diferentes alturas onde existirá luz indireta (por trás do forro) direcionada na diagonal para cima na cor branca (ou seja vapor metálico) a fim de gerar um teto leve e com diversidade de fachos de luz, criando atmosfera agradável e intimista.
Na entrada do mergulhão serão instalados projetores de uso externo com lâmpada vapor metálico (de luz branca) para a iluminação da parte interna do rebatedor curvo projetado e projetores de uso externo com lâmpada vapor de sódio (de luz amarela) por trás do mesmo proporcionando luz de fundo.
A iluminação atual não integra nem qualifica a área como um todo (perimetral, Praça XV e Praça Mauá) gera luz apenas para fins de arruamento.
A Avenida Perimetral não precisa ter características luminotécnicas similares ao cenário histórico onde se encontra, mas precisa integrar-se com características de um elemento inserido pela evolução natural da cidade sem causar efeitos pejorativos à sua imagem. Deve porém, tornar-se uma via moderna e atual, contribuindo para o embelezamento do segmento do Cais do Porto.
3. Barreira acústica
Permeabilidade visual
Ao longo da Avenida Rodrigues Alves é recomendado o tratamento da face inferior do viaduto com material de absorção acústica para reduzir a reverberação, na pista abaixo do elevado. O material recomendado (manta de lã mineral de alta densidade, protegida por filme plástico) poderá ser instalado sobre o forro de grelha metálica, de acordo com projeto aprovado pelo IPP para a área da Rodrigues Alves.
Entre a Rua Edgard Gordilho e a Praça Mauá será instalado uma barreira acústica ao longo da margem esquerda do elevado (oposta ao mar). No lado direito a barreira deverá ser instalada apenas no trecho situado em frente aos edifícios da Cia. Docas do Rio de Janeiro e Terminal de Passageiros, não havendo necessidade de proteger os demais armazéns porque eles estão abaixo da fonte de ruído.
A barreira deverá ser executada em chapa dupla de policarbonato cristal, com montantes em aço. Para evitar a reflexão do som sobre os motoristas a barreira será inclinada (5%) em relação ao plano ortogonal à pista. A altura será variável, em função dos edifícios a serem protegidos. Quando a altura exigida for superior a 3 metros (além da mureta), estão previstos anteparos laterais, com absorção sonora na face voltada para a pista.
Os anteparos deverão ser executados em chapa metálica, perfurada na face inferior, com miolo de lã mineral protegida por filme plástico.
No trecho da Avenida Perimetral que passa pela Praça Mauá as barreiras sonoras deverão ser interrompidas, pela inexistência de edifícios nas laterais não há necessidade de proteção, então, podemos evitar o fechamento de um importante eixo de visada para o mar, tanto para motoristas, quanto para os usuários da praça. Deverá ser estudada a colocação de barreira sonora para proteção do Mosteiro de São Bento e edificações vizinhas, em função do ruído emitido por eventos no Píer Mauá.
Na Praça XV deverá ser mantido o tratamento (absorção acústica) proposto para a face inferior do viaduto na Avenida Rodrigues Alves e na Praça Mauá, para reduzir a reverberação no nível dos pedestres.
Para atenuar o ruído do Mergulhão da Praça XV, provocado pela reverberação do ruído dos carros, foram projetadas barreiras horizontais. Esses elementos funcionarão como barreira acústica e deverão ser executados em chapa metálica (perfurada na face interna) com miolo em lã mineral de alta densidade protegido por filme plástico.
Internamente o Mergulhão da Praça XV deverá receber tratamento nas paredes laterais e teto, com material de absorção acústica, para reduzir a reverberação. Foram projetados para as paredes painéis de aço galvanizado, perfurado, com miolo de lã mineral de alta densidade protegido por filme plástico. No teto será utilizada manta de lã mineral de alta densidade, protegida por filme plástico sobre forro de grelha metálica, semelhante ao adotado no viaduto.
Ainda na Praça XV serão usadas barreiras acústicas nas duas margens da Av. Perimetral, para minimizar o corredor de ruído existente entre os edifícios da Bolsa de Valores e a Maternidade. Essas barreiras deverão ser instaladas entre a Praça XV e a Avenida Presidente Vargas.
Devido a altura dos edifícios citados, a barreira será dotada de anteparos laterais, com absorção sonora na face voltada para a pista, para reduzir a reverberação sonora, chamados de venezianas acústicas, são elementos vazados, que permitem a livre circulação de ar nas pistas da Avenida Perimetral.
Os anteparos poderão ser executados em chapa metálica, perfurada na face inferior, com miolo de lã mineral protegida por filme plástico.
As barreiras sonoras propostas são equipamentos integrados ao sistema de iluminação pública, em módulos de três metros, fixados por montante em aço, que formam um módulo maior, de trinta metros, fixados nos postes. Em função dos fortes ventos marítimos poderão ser necessários sistemas de fixação auxiliar, a ser dimensionado.
Nos trechos em que a barreira sonora é interrompida, ela tem sua altura escalonada, para que a redução da proteção seja gradual, chegando até a altura de um metro acima da mureta. Esse efeito além de vantagens técnicas facilita a execução do equipamento, além de oferecer um acabamento estético melhor.
Situações e soluções acústicas recorrentes em ambientes urbanos
Barreira acústica: "Barreiras acústicas são projetadas para impedir que o ruído da via de tráfego alcance, de forma não reduzida, uma área a ser protegida" (NBR 14313) (3).
A barreira cria uma zona de sombra acústica, cujos limites espaciais variam em função das dimensões da barreira e de sua posição em relação à fonte sonora e ao receptor. No caso de barreiras de grande comprimento, como, por exemplo, as situadas ao longo das vias de tráfego, podemos desprezar a difração provocada pelas bordas laterais.
Difração: Chama-se difração ao processo físico que permite que o receptor possa ser submetido ao ruído emitido por uma fonte sonora, mesmo quando um anteparo impede a propagação direta.
Absorção sonora: Os materiais porosos e fibrosos permitem que a onda sonora penetre e se propague no seu interior. Após sucessivas reflexões sobre as paredes destes poros, a energia sonora é dissipada sob forma de calor. O poder de absorção de um material é indicado pelo seu coeficiente de absorção sonora (a), que é a relação entre a quantidade de energia sonora absorvida e a incidente, para um determinado material. Os valores de (a) variam de 0 (material totalmente reflexivo) a 1 (material totalmente absorvente).
Campo livre: ocorre quando entre a fonte sonora e o receptor não existe nenhum tipo de obstáculo que modifique o trajeto das ondas sonoras. O nível sonoro percebido pelo ouvinte depende essencialmente da distância entre fonte e receptor. Na prática, mesmo os espaços abertos são limitados pelo plano refletor representado pelo solo. Logo, devemos considerar também o efeito do tipo de solo (coeficiente de absorção) sobre o som.
Campo reverberante: Em um campo reverberante a onda sonora encontra obstáculos, é refletida e permanece por algum tempo no ar. Um bom exemplo de campo sonoro refletido é o de um compartimento de uma habitação. Neste caso, o nível sonoro não depende apenas da distância em relação à fonte, varia também em função das características geométricas do local e dos coeficientes de absorção dos materiais de revestimento das superfícies internas e do mobiliário.
Recuperação e melhorias do sistema de drenagem existente
O procedimento imediato para recuperação deste sistema passa pelas seguintes ações:
- Restauração dos caimentos longitudinais das pistas do viaduto junto as muretas,
- Eliminando depressões e limpando o caminho por onde a águas escorrem superficialmente.
- Limpeza e recuperação das caixas de ralo e das tubulações que estão embutidas nos pilares do elevado,
- Recuperação e limpeza das caixas de coleta junto as bases dos pilares do viaduto,
- Desentupimento dos ramais de ralo que interligam as caixas de coleta à galeria de água pluvial,
- Limpeza das galerias de águas pluviais contíguas ao elevado e,
- Implantação de caixas de ralo onde for constatada a necessidade deste dispositivo, o escoamento deverá ser feito por intermédio de tubulações que se interligarão ao sistema existente.
Carregamentos e condições de fixação dos elementos projetados
Em função do que for projetado para o tratamento acústico deverão ser analisados os seguintes aspectos:
- O dimensionamento estrutural isolado dos elementos projetados para os carregamentos previstos (cargas permanentes e sobrecargas);
- Dimensionamento dos elementos de fixação da estrutura projetada para a ação dos carregamentos previstos;
Análise de estabilidade da estrutura existente do viaduto para o acréscimo de sobrecarga prevista.
Na falta de elementos de projeto da estrutura existente, deverão ser realizados serviços de levantamento cadastral de modo a permitir a análise das condições de estabilidade da estrutura para o acréscimo de carga prevista.
Entendemos que devido ao porte da obra existente, em função do acréscimo de carregamento a que estará sujeito o viaduto, não venha a ocorrer qualquer tipo de impedimento ou necessidade de reforço eventual.
Será necessária a verificação das condições locais para fixação dos elementos da estrutura a ser projetada o que deverá ser o balizador da proposta.
4. A transformação da paisagem e perspectivas futuras
A intenção por trás da idéia
A premissa adotada na construção da idéia parte dos aspectos espaciais, tecnológicos e estéticos, e considera a importância de preservação da paisagem-ambiente das Praça Mauá e Praça XV. O elemento arquitetônico que tratará a iluminação e acústica desses trechos da Avenida Perimetral coaduna a moderna tecnologia construtiva aos valores que tornam a paisagem urbana parte da identidade do lugar.
Tais valores, imateriais e materiais, se associam nessa (re) construção, em que os valores imateriais trabalham a memória dos diversos grupos sociais, ressaltando os aspectos contemplativos do Rio de Janeiro como cidade com vocação para o lazer e a cultura no encontro da diversidade. Já os valores materiais contidos nas informações arquitetônicas e urbanísticas da região, como o Paço Imperial, o Arco do Telles, a 1° Catedral da Cidade, a Estação das Barcas, o Mosteiro de São Bento, os edifícios Rio Branco 1, A Noite, da Polícia Federal e Docas RJ descrevem a paisagem-ambiente e são identificados pelo exercício da leitura da cidade, decodificados e interpretados.
A partir do momento em que se captou os valores contidos nessa paisagem as novas necessidades pretendidas pelos usuários das áreas foram identificadas: a de uma cidade com perspectiva de futuro, moderna em suas tecnologias e serviços, que oferece o melhor para seus usuários espacialmente, tecnologicamente e esteticamente.
O partido permeia o crescimento da cidade primando pelo aumento da qualidade de vida urbana, sem que se perca a identidade local.
Atingiu-se a conjunção desses aspectos - espacial, tecnológico e estético - a partir da compreensão da história impressa na paisagem, observando-se a forma urbana através da sua dinâmica viária, do parcelamento do solo e do entendimento das dinâmicas dos espaços livres e construídos, indo além da caracterização de estilos arquitetônicos, nas ações de preservação e aumento da qualidade do ambiente, destaca-se a importância da transformação da paisagem, mantendo diálogo com as diversas fases evolutivas da cidade.
A idéia de fragmentação atual das áreas das Praças Mauá e XV é costurada no instante em que a cultura torna-se o foco de construção da identidade urbana.
O resultado é a cidade sonhada, fruto de sucessivas mutações ao longo do processo histórico, e que com a implantação dos conceitos de reestruturação e revitalização urbana passa a integrar um contexto global direcionado por tecnologias sem perder suas características locais.
O intuito global é produzir ambientes eminentemente calçados em aspectos culturais onde os acúmulos de informações técnicos e sociais, serão traduzidos em ambientes que irão refletir o lugar cotidiano. A perspectiva é que as partes históricas da cidade do Rio de Janeiro, no caso a Praça Mauá e Praça XV, produzam lugares que primem pelo bem estar coletivo, que se sirva das novas técnicas para distribuir de maneira uniforme seus serviços, permitindo uma qualidade ambiental evolutiva.
notas
1
LAMAS, José M. Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa, Calouste Gulbenkian, 2ª ed., 2000.
2
COELHO, Glauci. “Aspectos da qualidade do espaço marcados na paisagem urbana”. In Direito em Revista / Organizadoras: Maria Guadalupe Piragibe da Fonseca e Rosângela Lunardelli Cavallazzi. Rio de Janeiro, Letra Capital / OAB-RJ / UNIGRANRIO, 2004, p. 169-182.
3
NBR 14313. Barreiras Acústicas para Vias de Tráfego: características construtivas. ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), 1999.
ficha técnica
Paisagismo
Arquiteta Glaucineide Coelho
Acústica
Arquiteta Maria Lygia Alves de Niemeyer
Luminotécnica
Arquiteto José Fábio de S. A. de Sena
Produção gráfica
Estudante de Arquitetura Luisa Beatriz Santos
Design gráfico
Wagner Brasil (maquetes eletrônicas)
Estruturas
Engenheiro Civil Jonh William Moss
Estudos de tráfego
Engenheiro Civil Cláudio Martinelli Murta
Drenagem
Engenheiro Civil Luiz Antônio de Moraes Simões
Pavimentação
Engenheiro Civil Custódio Augusto Soares Júnior
Instalações elétricas
Engenheiro Eletricista Marco Aurélio Guariglia
Meio ambiente
Engenheiro Civil José Augusto Jordão Castro