O Museu Rodin Bahia será implantado no majestoso Palacete Comendador Catharino, em Salvador.
O acervo do grande mestre francês habitará os salões do Palacete e seu belo jardim, enquanto as exposições temporárias ocuparão um novo edifício que será construído.
Convivência é a palavra que melhor expressa o ideário-guia do projeto de arquitetura do Museu Rodin Bahia. Convivência de dois edifícios com diferença de idade de um século: cada um, ao seu tempo, expressando uma técnica e um modo de construir, de morar, de usufruir o espaço. Ambos com personalidade própria, envolvidos por um jardim tropical que os une sem tirar deles o forte caráter, ou mesmo a interessante tensão.
O Palacete deverá receber intervenções delicadas e pontuais, com o objetivo de prepará-lo espacial e tecnicamente para sua nova função. Suas características originais serão mantidas e valorizadas através de atento trabalho de restauro e recuperação. Novos elementos, como equipamentos de climatização e de iluminação serão introduzidos de maneira discreta em seus espaços.
Acrescentamos mais um lance à escadaria existente, abrindo acesso ao belíssimo sótão onde funcionará a administração do Museu. Seus pavimentos principais (o 1º e o 2º pisos) serão dedicados essencialmente à exposição da coleção Rodin, e o pavimento térreo abrigará as atividades educativas e o acolhimento.
Os pontos norteadores de nossa proposta para a inserção de um novo volume construído no terreno, com área similar à do Palacete são: não interferir significativamente nas centenárias árvores do jardim; não competir com a presença dominante da construção histórica; e, sobretudo, se somar ao que lá existe, formando um conjunto articulado e fluido para ser livremente desfrutado pelo visitante.
A necessidade de criar um novo sistema de circulação vertical ágil e eficiente no Palacete nos leva a propor sua implantação na parte posterior da edificação, justamente no centro geométrico de todo o conjunto. Um volume de concreto aparente encaixado no edifício histórico contendo escada e elevador liga os três pavimentos de acesso público.
Deste volume uma lâmina de concreto se estende até o novo bloco, como cobertura para quem caminha no nível do solo e como passarela, a 3,20 m de altura. Penetra na nova construção ou a abraça para buscar um ponto privilegiado de observação da “Porta do Inferno”, obra prima de Rodin. Pelo térreo ou pela passarela é possível acessar o novo edifício por vários pontos, oferecendo diferentes percursos ao visitante e ampliando as relações entre o interior e o exterior.
O novo bloco se implanta numa clareira entre as grandes árvores existentes atrás do palacete, mantém uma distância de respeito e, através de alinhamentos horizontais e verticais, guarda uma relação de escala com o mesmo.
Sua configuração resulta da associação de grandes planos de concreto aparente, vidro e treliças de madeira, destituído de outros elementos, resultando na valorização da riqueza de peças e relevos decorativos do Palacete. Seu núcleo é o salão central, com pé direito duplo e iluminação zenital controlada.
A passarela externa ao caixilho e os mezaninos que o circundam oferecem diversos ângulos para a observação do que ali se expõe. Dali derivam, no térreo e no piso superior, espaços expositivos menores, que o complementam. Este núcleo central também se desdobra, através de um grande pano de vidro, em um pátio externo, que poderá se integrar às áreas expositivas do conjunto.
Na face voltada ao recuo entre os dois blocos, o café e a loja compõem um espaço que se expande por todo o jardim. Um pavimento em subsolo abriga as utilidades, as áreas dos funcionários e as áreas técnicas.
O tratamento dado ao jardim valoriza os caminhos através de um piso modulado de pedra portuguesa por todo o terreno. Neste caminho, obras de Rodin em meio à rica vegetação tropical, leitura à sombra de uma mangueira, simples contemplação ou nada fazer...
Inspiração primeira de todo o projeto, este jardim é o principal apelo à convivência, hoje obrigatória em um museu que assume também a função de um centro de encontro através da arte e da cultura. Encontro dos habitantes da Bahia e de todos os que por ali passarem, cidadãos brasileiros e de todo o planeta.
Convivência tem sido matéria prima brasileira (em um mundo de intolerância) e especialidade da Bahia de Todos os Santos. Neste novo Museu, com a bênção do mestre Rodin.
Este projeto recebeu o segundo premio ex aequo na Categoria B2: Recuperación y puesta en valor, obras de más de 1.000 m2 do Premio Iberoamericano a la mejor intervención en obras que involucren el Patrimonio Edificado 2006.
ficha técnica
Obra
Museu Rodin Bahia
Local
Salvador, Bahia
Data do projeto
2002
Obra
2003/2006
Área do terreno
4850 m²
Área construída
1575m² (edifício existente), 1480m² (edifício novo)
Arquitetura
Brasil Arquitetura - Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz (autores), Cícero Ferraz Cruz (colaborador), Albert Sugai, Bruno Levy, Gabriel R. Grinspum, Rodrigo Izecson Carvalho.
Projeto de Restauro
Brasil Arquitetura
Coordenação de projetos e obra
Gabriel Gonsalves, Jorge Halla, Cláudia Nolasco
Construtora
Consórcio Fertenge Pentágono - Bruno Meneses (obra civil) e Renato Leal (restauro)
Paisagismo
Raul Pereira
Luminotécnica
Reka Iluminação - Ricardo Heder
Estrutura e fundações
Sistema - Wanderlan Paes e Carlos Rezende
Elétrica e hidráulica
Thales de Azevedo
Ar-condicionado
José Rebouças e Hitachi Ar Condicionado
Automação/Sistema de Controle
Procontrol
Incêndio
Carlos Diniz