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DERNTL, Maria Fernanda. Sinais dos tempos. O Museu de Arqueologia de Vila Real. Projetos, São Paulo, ano 10, n. 109.04, Vitruvius, jan. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/10.109/3560>.


O Museu de Arqueologia de Vila Real, inaugurado em 2008, é constituído por um bloco retangular compacto, situado num recanto da sua pequena cidade ao norte de Portugal. Sem alarde, o Museu toca em pontos sensíveis da memória da comunidade. A construção insere-se na chamada Vila Velha, núcleo gerador da cidade medieval e principal sítio arqueológico do centro urbano atual.

O Museu de Arquelogia é parte das intervenções previstas num plano estratégico articulado a um programa mais amplo do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território. O programa Polis, criado em 2000, desenvolve medidas de requalificação urbana e valorização ambiental, em parceria com câmaras municipais, com o propósito de consolidar um sistema urbano nacional mais equilibrado. Em Vila Real, o objetivo é afirmar a importância regional da cidade e estimular um salto de desenvolvimento que lhe permita superar o contexto de estagnação econômica da região de Trás-os-Montes. A iniciativa de construção do Museu de Vila Real almejou contribuir para a requalificação do espaço público da Vila Velha e para a recuperação do patrimônio arqueológico. Parece ter havido também intenção de criar mais um atrativo para permanência do visitante na cidade. Vila Real costuma ser um ponto de parada rápida para turistas que percorrem o circuito do vinho na região do Douro ou se dirigem ao solar de Mateus, uma obra expressiva do Barroco português.

Para se chegar ao Museu de Arqueologia, é preciso deixar o núcleo comercial da cidade e descobrir o caminho até a Vila Velha. Inicialmente, tem-se apenas um vislumbre do edifício do Museu: é a última construção na única rua ali existente, está alinhado aos modestos sobrados locais e tem um revestimento exterior discreto, feito de placas de granito flamejado cinza-claro. O percurso é guiado por placas de pedra granítica aplicadas sobre o piso preexistente, num trajeto que já permite ver vestígios arqueológicos de construções medievais.

O acesso à entrada obriga-nos a contornar o edifício e convida a ver a impressionante paisagem lateral formada por uma abrupta inclinação do relevo que descortina o vale do rio Corgo. Descobre-se também a existência de um passeio, construído junto com o museu, formado por um deque de madeira que desce serpenteando o morro e vai abrindo vistas do vale. Contemplar essa paisagem ajuda a entender o modo como se formou a cidade. No século 12, a intenção de estabelecer uma base para fixação do domínio da monarquia portuguesa na região levou à criação de um núcleo fortificado, a atual Vila Velha. No século 16, a expansão urbana extra-muros já estava avançada, dando origem a um traçado viário alongado e irregular ainda visível no atual centro urbano. A Vila Velha foi sendo abandonada e, no século 19, a muralha foi demolida. A igreja de São Dinis, que remonta ao século 14, permanece ali, assim como o cemitério. Intervir na Vila Velha exigiu lidar com a presença de resquícios e construções de diferentes períodos. O Museu não pretendeu articular os vários  elementos, mas também não deixou de reconhecê-los.

O programa é enxuto: uma biblioteca multimídia, um auditório, um laboratório, uma sala de estudos arqueológicos, escritórios para funcionários e instalações de serviço, ocupando no total 937 m2 . Os espaços internos estão interligados num percurso contínuo, desenvolvido em dois níveis e pontuado pelos espaços de circulação vertical situados no centro e no extremo do edifício.

Logo na entrada do Museu, um trecho remanescente da muralha medieval foi incorporado como pano de fundo para o foyer. Nesse espaço semiaberto, revestido de madeira ipê no teto e nas paredes, o visitante é acolhido antes da visita. Nos espaços interiores, uma pequena gama de materiais de características marcantes apela aos sentidos e enfatiza contrastes entre claros e escuros. Na recepção, situada no pavimento superior, paredes, pisos e tetos são revestidos continuamente por assoalho de bordo, uma madeira de cor clara. O destaque fica para uma abertura lateral, do piso ao teto, que surpreende com um novo ângulo dos arredores da Vila Velha. Também em outras salas as aberturas foram concebidas em função da intenção de revelar determinadas vistas da paisagem e há inscrições nos vidros a respeito daquilo que se vê no exterior.

Nos espaços expositivos, predomina a sobriedade do piso de epóxi preto e das paredes brancas. Optou-se por destacar algumas peças significativas tais como a figura da Nossa Senhora do Desterro que ficava junto a uma das portas da cidade ou a rocha onde foi talhado o padrão para a vara, unidade de medida antes usada em construções. O Museu é também um centro de interpretação de achados arqueológicos. Pretende-se manter uma mostra sempre atualizada de resultados e técnicas dos trabalhos conduzidos no local.

Numa época em que museus de formas espetaculares roubam a cena, o que se encontra em Vila Real é uma construção silenciosa, marcada pela abstração geométrica e pela sensibilidade ao lugar. Nesses aspectos, podem-se ver algumas afinidades com a produção da Escola do Porto. Mas, o autor do projeto, arquiteto António Belém Lima (Vila Real, 1951), pertence já a uma outra geração. Quando se formou pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1979, o pós-modernismo estava em plena difusão. Sua formação teve como referências obras de Álvaro Siza Vieira e Le Corbusier, mas também foi marcada por leituras de Robert Venturi e Colin Rowe. Nos anos 80, Belém Lima e mais cinco colegas estabeleceram em Vila Real o escritório Pioledo (1981-2006). A cidade tornou-se um campo de experimentação para os arquitetos graças a iniciativas do poder municipal e à receptividade do mercado imobiliário. Equipamentos públicos e obras residenciais construídos ali nas últimas décadas acabaram apresentando uma linguagem similar, marcada pelo rigor das formas geométricas simples e pelo predomínio da materialidade. Esses projetos também apresentam certa afinidade com as robustas construções vernaculares de pedra, típicas do norte de Portugal.

Embora a configuração do Museu apresente ecos em outros edifícios recentes dos arredores, seu desafio peculiar foi retomar a Vila Velha como espaço vivo e integrado à cidade. A intervenção gerada pelo Museu mantém tensões e descontinuidades resultantes dos diferentes processos que incidiram naquele espaço, evitando aprisionar sua configuração numa leitura única. O projeto parece criar mais um elo numa cadeia de relações e significados estabelecidos continuamente ao longo do tempo.

dados técnicos do projeto

Área
937 m2

Localização
Rua de Trás-os-Montes, Vila Real

Cliente
Câmara Municipal de Vila Real

Data
2003 (projeto)-2008 (obra)

ficha técnica

Arquitetura
António Belém Lima

Equipe de Arquitetura
Sofia Lourenço, Carla Barros, Bruno Cardoso, Filipe Silva

Engenharia
Norvia Consultores de Engenharia S.A.

Construção
Costa&Carreira Ltda.

Mobiliário
Móbile Ltda.

Fiscalização
CMVR, Antonio Serra, Felisberto Rodrigues

sobre a autora

Maria Fernanda Derntl, arquiteta, mestre e doutora em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo pela FAUUSP, professora adjunta da FAU-UNB.

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109.04 Crítica
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original: português

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Maria Fernanda Derntl
Brasília DF Brasil

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