No dia 15 de dezembro de 2010, Oscar Niemeyer comemora 103 anos. Os seus companheiros da UCI (Universidad de las Ciencias Informáticas) quiseram lhe dedicar este artigo sobre a produção da escultura que ele havia enviado a Fidel Castro como um presente para seu aniversário de 80 anos.Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho (Rio de Janeiro, 1907) é um dos arquitetos contemporâneos mais importantes. Grande defensor e promotor das idéias de Le Corbusier, é considerado um dos mais influentes da arquitetura moderna internacional. Foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado. Sua obra mais completa e significativa foi a cidade de Brasília, capital federal do Brasil, que projetou com seu colega Lúcio Costa e foi declarada pela Unesco como "Patrimônio Artístico da Humanidade".
Amigo incondicional de Cuba e do Comandante Geral Fidel Castro Ruz, o renomado arquiteto sempre quis fazer uma homenagem ao povo cubano, na terra que ele ama e nunca foi capaz de visitar. A primeira ideia veio de um desenho representando um homem enfrentando um monstro com uma bandeira brasileira. Então, em 1990, mudou a concepção para uma bandeira de Cuba e a maquete da escultura fora dada de presente a Fidel. No entanto, naquele momento, não pode sair do Brasil.
A proposta, que representa a resistência da revolução cubana contra a agressão dos EUA imperialista, se assemelha a uma espécie de David contra o gigante Golias e chegou a Cuba pelas mãos da escritora e intelectual brasileira Marilia Guimarães no final de 2005. Marília, que estivera exilada em Cuba em 1969, trouxe a pequena maquete como um presente a Fidel em seu 80º aniversário, e com a tarefa de encontrar um lugar para erigi-la. Naquele momento propõe-se pela primeira vez que a escultura estivesse localizada na Universidade das Ciências Informáticas (UCI).
Certamente o que sensibilizou Oscar Niemeyer em relação a este maravilhoso projeto foi conhecer a decisão de Cuba e seu governo de criar, em março de 2002, um centro de excelência para a formação em larga escala de especialistas na indústria de informática. O Comandante Geral Fidel Castro enviou uma carta datada de 01 de fevereiro de 2006, agradecendo-lhe o presente, reiterando seu interesse em que a escultura estivesse localizado na UCI e expressando a convicção de que "o projeto será um reflexo das idéias que eles compartilham e pelas quais sempre lutaram."
A UCI é um dos maiores centros de investimento do país, com grande importância estratégica para o desenvolvimento da Indústria Cubana de Softwares Informáticos. O Plano Diretor dos Investimentos da UCI foi aprovado em março de 2003, com o objectivo de organizar estrategicamente o crescimento da Cidade Universitária, em uma área que abrange 268 ha.
Em 8 anos, houve alterações de uso nos edifícios do Centro de Exploração Radioeletrônica de Torrens (1964-2002) e se construíram novos. Foram recuperados 44 edifícios e construídos 128 completamente novos, para um total de 242.449 m2 de área construída. Além disso também foram construídas instalações e equipamentos para:
- Energia elétrica, drenagem, abastecimento de água, esgotos e tratamento de esgoto.
- Instalações para a alimentação, cantinas e serviços de saúde.
- Recreação, atividades esportivas e culturais de alunos, professores e trabalhadores.
- Foi projetada e construída infra-estrutura para transmissão de dados, televisão e comunicação, com o intuito de dar a toda a cidade serviço de telefone, dados e rede de televisão.
A cidade universitária da UCI conta com 9300 alunos e mais de 5000 professores, trabalhadores e especialistas em produção, vivendo e trabalhando em suas instalações. São produzidos inúmeros recursos de ensino no âmbito da Universidade.Em janeiro de 2006 houve uma segunda visita de Marilia Guimarães, acompanhada do arquiteto e escultor Jair Rojas Ricardo Ventura, ambos profissionais com larga experiência em obras de Niemeyer. Trabalharam na UCI para rever a possível localização da escultura dentro da universidade e enviaram ao Brasil duas propostas, juntamente com a explicação das dimensões do projeto arquitetônico e urbano da Cidade Universitária. O primeiro estava localizado em um espaço entre os edifícios dos professores universitários, hierarquizando uma praça, e o segundo se localizava no cruzamento dos eixos Norte-Sul e Leste-Oeste, no centro geográfico do campus.
O projeto cresceu e tomou dimensões nunca imaginadas. O entusiasmo do grande arquiteto multiplicou-se e seu gênio criativo e amor infinito por Cuba redimensionaram a ideia:
- A escultura seria localizado em uma praça, projetada por ele, na interseção da estrada norte-sul e leste-oeste;
- A localização da escultura tinha que garantir que a figura que representava o imperialismo estivesse orientada para o norte;
- A escultura devia ser tão pública quanto possível;
- A praça deveria estar habilitada para a realização de eventos;
- A escultura seria construída em aço e praça em concreto.
A variante escolhida para a localização da praça com a escultura, tem as seguintes vantagens:
- Localizado no cruzamento das ruas principais da Cidade Universitária da UCI
- Representa uma continuação da Planície de Esculturas da rua principal. Essa planície é um conjunto de obras ao ar livre em metal e pedra, de 13 artistas da arte cubana contemporânea. Entre eles estão o Prêmio Nacional de Artes Visuais, Osneldo Garcia, Villa e Francisco José René, entre outros;
- Permite o uso de escultura e aumentar a sua transparência, para o conjunto, garantindo a continuidade visual;
- É um local central de encontro da comunidade universitária, apto para desenvolver várias atividades importantes.
A escultura monumental de 11 toneladas e uma altura máxima de 8 metros, tubos e barras feitas em aço de 8 polegadas, apóia-se num espelho d’água de 650 m² que ocupa a parte de uma praça de 19300 m², na intersecção da estrada principal da UCI. Oito torres de 35 metros garantem a iluminação das ruas circundantes e da praça na possível organização de atividades importantes. A capacidade é de 13.500 lugares, tornando-o o maior espaço de reuniões ao ar livre da universidade, e a primeira obra de Oscar Niemeyer em Cuba. Além disso, dois espaços subterrâneos foram concebidos, um com banheiros para visitantes e outro para o sistema de controle das torres de iluminação e de bombeamento e recirculação do volume de água.
A bandeira à frente de um império. Com perfis de aço em formas ovaladas, olhando para o céu, o desenho da escultura é um monstro de boca aberta e um cubano com a bandeira em punho à sua frente. Para a execução das mesmas, forma usadas técnicas de aquecimento e dobra do metal em uma forja, nunca antes utilizados em nosso país para esses fins. Essa é a primeira escultura de Niemeyer iluminada, e foi projetada uma solução de iluminação subaquática com tecnologia LED.
Com relação aos dados construtivo, vemos números impressionantes e desafiadores, incluindo 19 300 m² de pavimentação de concreto e instalação, em apenas cinco dias das torres de iluminação. Em 2007, trabalhou-se simultaneamente sobre a execução da escultura na fábrica Cubana de Aço e também na praça da UCI, e foi inaugurada em 15 de dezembro daquele ano, em homenagem ao centenário de Niemeyer. Complementam esta descrição os seguintes dados:
- terraplanagens: 11 472 m³
- redes elétricas: 4 263 metros
- redes de canalizações: 898 metros
- concreto (superfície da praça): 19 300 m² (2 500 m³)
- concreto estrutural: 645 m³
- concreto das calçadas: 807 m³
- 60 luzes para iluminação subaquática da escultura
- estradas circundantes e de acesso: 3.8 kms
- áreas verdes: 35 127 m²
A aspiração de tornar esse projeto uma realidade reuniu o trabalho de 212 construtores de diferentes especialidades. Junto a eles, designers, fornecedores e investidores zelavam pela execução no prazo correto e pela qualidade das diferentes soluções técnicas. A cerimônia de abertura foi realizada em 28 de janeiro de 2008.
A Praça e a escultura de Oscar Niemeyer mostram os principais recursos artísticos e arquitetônicos que caracterizam a obra deste grande arquiteto. A elipse da praça, o uso da luz na água, o acabamento do concreto cinza rudimentar contrastando com o vermelho da escultura, assim como as linhas curvas de seu perfil, caracterizam este desafio construtivo. "Nós trabalhamos o concreto com ousadia", revelou o arquiteto da delegação cubana, que em dezembro de 2006 levou a Niemeyer a mensagem de cumprimentos do Chefe da Revolução Cubana em seu aniversário de 99 anos. Com essa simples frase que resume o significado de seu trabalho, nós levamos adiante esse desafio com coragem exigida pela magnitude do empreendimento.
Niemeyer hoje está quase completando 103 anos de vida. Basta Brasília, que foi a primeira cidade em sua cabeça, para provar que este grande homem viverá muito mais do que um ser humano neste universo pode esperar. No entanto, muitas vezes se esquece que, talvez, o mais excepcional de Niemeyer é que, junto às cidades e edifícios eternos, ele erigiu um monumento de consciência política com base em uma obsessão: a necessidade de mudar o mundo.
Ele entende que cada um de nós é, acima de tudo, o filho de suas obras, e do vai realizando para as outras pessoas durante o tempo que por aqui estiver.
Em quase três anos após sua inauguração, a praça de Niemeyer na UCI tem sido palco de memoráveis atividades, além de ser um ponto obrigatório para qualquer excursão. Entre os mais importantes estão:
- 28 de janeiro de 2008: Inauguração. Envolvendo todos os alunos e professores universitários, personalidades da cultura nacional e internacional e representantes da Sociedade Cultural José Martí.
- 23 de abril de 2008: jogo simultâneo de xadrez com a presença do Grande Mestre Anatoly Karpov e da participação de conselhos comunitários jogando em 4064 tabuleiros.
- 15 junho de 2009: Realização da maior “Roda de Casino” do mundo (dança de salsa), dedicada aos cinco cubanos antiterroristas presos nos EUA, que envolveu 1027 casais e o concerto da famosa orquestra de Adalberto Álvarez y su Son.
A praça de Oscar Niemeyer e a sua escultura na UCI, continuam sendo uma notícia feliz para ele e para todos os cubanos. Cuba não é apenas o bastião moral do artista, mas faz parte da geografia de seu trabalho. E que trabalho!
sobre os autores
MSC. Sr. Rafael Luis Torralbas Ezpeleta (autor), Diretor Geral de Investimentos "Proyecto Futuro"/ Diretor da Seção de Construção, Câmara de comércio de Cuba
Dr. Juan de las Cuevas Toraya (revisão), historiador da construção