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projects ISSN 2595-4245

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O arquiteto responsável pelo atual projeto de intervenção na Marina da Glória, Rio de Janeiro, explica o partido e suas decisões projetuais em resposta as condições especiais do lugar.

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INDIO DA COSTA, Luiz Eduardo. Marina da Glória. Projetos, São Paulo, ano 13, n. 147.01, Vitruvius, mar. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/13.147/4687>.


A Promenade, grande calçadão que garantirá o acesso público ao complexo da Marina da Glória. [Indio da Costa AUDT]


Breve Histórico

O Parque do Flamengo, criado pelo grupo de trabalho presidido por Lota Macedo Soares e chefiado por Affonso Eduardo Reidy, tendo Roberto Burle Marx e tantos outros nomes de peso, é um marco do urbanismo brasileiro de valor imensurável.

A Marina da Glória, equipamento previsto na Planta Geral do Parque do Flamengo (1), sofreu um processo contínuo de intervenções arquitetônicas que buscavam equipá-la de infraestrutura, para que de fato, cumprisse seu propósito inicial. Prevista na Planta Geral, mas não projetada inicialmente, foi somente em 1976 (menos de dez anos depois do tombamento) que a primeira intervenção na área foi autorizada (2) pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, sendo criadas ali instalações mínimas para a operação de uma marina.

Planta Geral do Parque do Flamengo, 1965. O parque foi tombado antes mesmo de ser concluído e uma série de equipamentos deveriam ser objeto de projetos posteriores. [Indio da Costa AUDT]

Em 1984 (3), apenas cinco anos após ser inaugurada, a União aforou a área para que a Prefeitura pudesse potencializar as atividades náuticas, em regime de concessão. Desde então, concessionários se sucederam no controle da gestão da área tentando em vão, realizar modificações que adequassem a edificação e o entorno às suas demandas operacionais. Esse processo transformou a área em uma colcha de retalhos de intervenções que não viam o todo, apenas suas necessidades imediatas.

Convencidos da necessidade de requalificar área tão importante dentro do Parque do Flamengo, o Iphan atendeu em outubro de 2009 (4) à consulta do Grupo EBX, que assumira a concessão da Marina da Glória, estabelecendo diretrizes para a elaboração de um projeto arquitetônico que fosse capaz de tirá-la da obsolescência, trazê-la aos dias atuais sem, contudo, ferir os princípios paisagísticos e culturais do Parque do Flamengo.

De posse das tais diretrizes, a EBX decidiu realizar no início de 2010, através de carta-convite, um concurso de ideias em âmbito internacional, e assim como eu, vários arquitetos se viram diante deste desafio.

Diretrizes do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

No início do processo do concurso, em reunião realizada na sede do Iphan-Rj, com todos os concorrentes, o Iphan esclarece que:

-O limite de altura a ser respeitado é de 15m em relação ao nível do mar, para que nova edificação não obstrua o cone visual que, a partir do MAM, enquadra o Pão de Açúcar.

- O limite máximo para área de construção de 45.000m², respeitando os 18.000m² “aflorados” do projeto de 1988, de Amaro Machado e Roberto Burle Marx.

- Deve ser assegurado o livre acesso do público ao complexo da Marina da Glória, sendo vedada a possibilidade de cerceamento da área.

- Devem ser previstas áreas para pesca de caniço e píer para remo esportivo;

O Programa

Marinas são, em diversas cidades do mundo, alavancas para revitalização de trechos degradados, e buscam criar atrativos tanto para seus moradores quanto para turistas. Ou seja, melhoram a qualidade de vida local e incrementam a cadeia de turismo. Neste aspecto, a cidade do Rio de Janeiro se encontra muito aquém das “cidades internacionais”.

Para entender melhor este universo e poder propor algo com verdadeiro potencial de sucesso, reunimos em meu escritório diversos especialistas, além de realizar ampla pesquisa de referência. Conhecemos, através da experiência de outras cidades, inúmeros casos de marinas bem sucedidas que trouxeram, além de prosperidade econômica, uma noção de identidade muito forte com a população local. Ficou claro para nós que estas marinas não se limitam a ser meras garagens de barcos e hoje, em cidades como Barcelona, Xangai, San Diego, entre muitas outras, esses espaços são multifuncionais e oferecem além de infraestrutura náutica, atrações culturais que as tornam parte vibrante de suas cidades.

Seguindo sua vocação natural, a Marina da Glória já vinha sendo utilizada para eventos, feiras e shows nos últimos anos, mesmo sem toda a infraestrutura necessária para oferecer tanto um serviço de qualidade quanto para evitar impactos negativos ao parque. Assim, o programa arquitetônico elaborado para este novo projeto foi planejado para atender à demanda atual de eventos, lojas e restaurantes, como também para minimizar os impactos já visíveis do uso não planejado ao longo dos anos.

Conceito

Com pouco mais de um mês para desenvolver a proposta conceitual busquei, além de dados e informações técnicas comuns a todos os processos de concepção de arquitetura, encontrar o que seria o traço emocional de uma obra que se moldasse em um terreno tão especial, fruto de linhas tão cuidadosamente desenhadas.

A forma singular da Enseada da Gloria, tão marcante, parecia distorcer tudo o que se propunha estar em volta. E foi assim que, contrariando a cartilha e os especialistas, desenvolvi uma edificação que se deforma em curva para acompanhar a forma da baía. Não restava dúvida de que esta marina era única, singular, sendo impossível reproduzi-la em outro lugar. Havíamos chegado enfim a uma proposta que nos encantava e, ainda mais, se mostrava adaptada e confortável com sua localização privilegiada.

Imagem conceitual do projeto [Indio da Costa AUDT]

Concurso e apresentação ao Iphan

Munidos de todas essas referências, números e emoção, apresentamos nosso projeto à EBX no dia 07 de Março de 2010. Esse projeto previa 45.000m² de área construção, sendo a maior parte em subsolo, aflorando apenas 18.000m², conforme estabeleciam as diretrizes do Iphan. Distribuíam-se em área de lojas e restaurantes, centro de eventos (exposições indoor e centro de convenções de médio porte) e terminal de turismo náutico.

Em agosto do mesmo ano, depois de um longo processo de escolha, fomos declarados vencedores do concurso. Nossa missão passou a ser então transformar o projeto conceitual rapidamente em um anteprojeto para ser submetido ao Iphan, a fim de conseguir um “Nada a Opor”, ou a chamada “Aprovação Prévia”. Obter essa aprovação seria o reconhecimento de que o projeto poderia seguir em frente, mesmo que devesse ser novamente submetido quando do térmio do processo de projeto, ou seja, em formato de projeto executivo.

Projeto de 2010 - Concurso [Indio da Costa AUDT]

Assim o fizemos em outubro de 2010, e esperamos por sete meses a autorização para continuar. Em reunião, registrado em ata do dia 03 de maio de 2011, o Conselho Consultivo do Iphan aprovou integralmente o anteprojeto, iniciando uma nova fase: tornar técnica e economicamente viável a construção da nova Marina da Glória.

Desenvolvimento do Projeto

Em outubro de 2011, já havíamos enfrentado inúmeros desafios técnicos que mostravam que algumas soluções adotadas no anteprojeto não seriam exequíveis, principalmente por serem inadequadas ao local (no caso dos subsolos). Em paralelo a isso, a má recepção do projeto junto à opinião pública desestimulava o cliente a continuar no processo. Iniciamos juntos ao cliente uma revisão geral do projeto.

O processo de tomada de decisões foi árduo, mas em abril de 2012 havíamos reduzido drasticamente o tamanho do projeto. Esse novo estudo, mesmo sendo muito menor (agora com 20.000m² de área construída), ainda passaria por exaustivo debate ao longo de reuniões preliminares junto aos técnicos do Iphan-RJ. Concluído, foi reapresentado ao mesmo órgão em julho de 2012.

O item que representava o principal impasse entre a viabilidade do projeto e a posição do Iphan era um estacionamento criado na área do antigo Bosque, chamada “Área de Piqueniques”. O Parecer Técnico do Iphan-Rj, além de vetar completamente o estacionamento, recomendou a incorporação de elementos do traçado viário do parque e sugeria a recuperação da área do bosque seguindo como base o Planta Geral de 1965.

A esquerda, o projeto apresentado em 2012. A direita, o projeto, em 2013, incorpora a área de piqueniques [Indio da Costa AUDT]

O anteprojeto de 2013

O anteprojeto de 2013 é inegavelmente fruto deste processo de discussão com diversos órgãos públicos ao longo dos três últimos anos. A evolução do projeto revela claramente o objetivo de equilibrar as expectativas do empreendedor com as expectativas da sociedade para a área em questão. Atendidas as exigências solicitadas pelo Iphan-RJ, o novo anteprojeto seguiu ao Iphan Nacional e conseguiu sua aprovação para a fase de anteprojeto. Para a aprovação definitiva, deverá ser analisadoo Projeto Executivo, que se encontra em desenvolvimento.

Somente agora, com a aprovação prévia do Iphan, o projeto vem sendo divulgado à sociedade. A razão é simples: não faria sentido divulgar um projeto com o qual o Iphan, órgão tutor do patrimônio histórico e artístico nacional, não concordasse. Ainda se seguirão outras aprovações, entre elas, a licença ambiental. Neste processo, o projeto passará obrigatoriamente por uma audiência pública.

É importante destacar que o anteprojeto de 2013:

1. Respeita o limite da cota +15m (em relação ao nível do mar), ficando a construção (de sua soleira até o ponto mais alto da cobertura) com 13,25m. É mais baixa que a estrutura atual (14,30m) e mais baixa também que o Museu de Arte Moderna (16,25m). Se compararmos em cotas absolutas (em relação ao nível do mar), a nova edificação está 5,25m mais baixa do MAM. Além disso, devido a forma da nova edificação, junto a “Área de Piqueniques” o prédio tem apenas 4m de altura;

Situação Atual – Cone Visual a partir do MAM [Indio da Costa AUDT]

Situação Proposta – Cone Visual a partir do MAM [Indio da Costa AUDT]

Situação Proposta – Altura total da construção 13,25m junto ao píer da Marina da Glória [Indio da Costa AUDT]

Situação Proposta – Altura total da construção 4,00m junto a “Área de Piqueniques” [Indio da Costa AUDT]

Situação Proposta – Imagem ilustrativa do trecho construído da “Área de Piqueniques” [Indio da Costa AUDT]

2. Respeita o limite de área construída estabelecido pelo Iphan, se mantendo muito abaixo dos 45.000m², permanecendo agora com 26.000m². Entretanto, a área de projeção da construção é de 14.000m², ou seja, apenas 13,5% da área aforada, e menor do que prevista no projeto de 1988 (5);

3. Abre o complexo da marina ao parque, conforme diretriz do Iphan, garantindo o caráter público da área. Somadas, as novas áreas públicas possuem 50.350m² (quase 50% da área aforada);

Situação Proposta – Áreas abertas ao público e expansão da ciclovia. 50530m² de novas áreas públicas e 47,5% da área aflorada (105890m²) [Indio da Costa AUDT]

4. Irá construir a parte nunca executada da “Área de Piqueniques”, situada dentro da área aforada, com cerca de 10.000m², de modo a concluir a obra que fora interrompida na década de 60 em razão da implantação do “horto provisório”, local para as mudas que durante anos alimentaram o plantio do parque;

Atendendo exigência do IPHAN-RJ, a “Área de Piqueniques” (aprox. 10.000m²) a ser construída e devolvida ao parque. [Indio da Costa AUDT]

A “Área de Piqueniques”, situada dentro da área Aforada, nunca chegou a ser construída, devido a implantação do Horto Provisório, que deveria alimentar de mudas o plantio do parque. [Indio da Costa AUDT]

5. A ampliação da ciclovia, em 1km, do aterro até a ponta da enseada permitirá ao carioca desfrutar de uma área até hoje restrita ao público;

6. Prevê que a Esplanada de Eventos ao Ar Livre, atualmente uma imensa área asfaltada seja gramada, e salvo quando estiver cedida a um evento, será aberta ao público;

7. Preserva a área de pesca de caniço;

8. A utilização de cobertura vegetal (gramado) nas coberturas promove importante integração visual com a paisagem do parque. No anteprojeto de 2010 apenas o centro de eventos era coberto com gramado;

Imagem aérea da proposta [Indio da Costa AUDT]

9.  projeto paisagístico, de autoria de Haru Ono, do escritório Burle Marx, está integrando os jardins do projeto aos jardins do parque, resgatando sempre que possível as linhas originais e a filosofia de plantio;

10. As áreas da Promenade e da Praça do Nível Píer da Marina são grandes calçadões com tratamento paisagístico totalmente novo, com mosaicos em pedra portuguesa, também desenhados por Haru Ono. A área do Píer, com 4.500m², é atualmente uma grande garagem de barcos e passará a ser uma grande praça aberta ao público, o elo maior entre a população e a enseada da glória;

11. Com a criação do Centro de Eventos, diversos shows e feiras que hoje são montadas de forma improvisada na área externa, passarão a ter um lugar que oferece não só infraestrutura completa, como também minimizará os impactos visuais e acústicos em relação ao parque;

Integração visual do projeto com o parque [Indio da Costa AUDT]

12. O Centro de Convenções – de médio porte – é na verdade um espaço multifuncional que pode abrigar convenções, seminários, palestras, mas não pretende substituir os já existentes Centro de Convenções da Cidade Nova, ou muito menos o Rio Centro, pelo simples fato de ser muito menor. Entretanto, sua proximidade ao aeroporto Santos Dumont e o centro da cidade, dotará o Rio de Janeiro de uma vantagem competitiva ímpar em relação a outras cidades que investem em turismo de negócios;

13. A área de lojas está sendo ampliada em sua capacidade atual principalmente com o objetivo de oferecer mais restaurantes, já que esse é um atrativo bastante positivo para qualquer área que pretenda ser revitalizada (exemplos não faltam, como áreas como Porto Madero ou Barcelona);

14. A vocação náutica da área de lojas é inegável, pois transformá-la em um centro de compras e serviços não faria sentido, uma vez que a Marina da Glória está, em parte, isolada do tecido urbano. Ou seja, é difícil imaginar que alguém vá a Marina da Glória comprar algo que pode encontrar na esquina. Mas para o turismo náutico, velejadores ou esportistas, a marina deve ser dotada de todas as conveniências;

15. Os conflitos entre pedestres/ciclistas e automóveis na entrada da marina foi resolvido, assim como os veículos de serviço também não cruzam com os pedestres;

Passagem de público sem conflito com automóveis [Indio da Costa AUDT]

Passagem de público sem conflitos com automóveis [Indio da Costa AUDT]

A passarela sobre o acesso viário se utiliza do repertório arquitetônico das demais passarelas do parque [Indio da Costa AUDT]

16. A capacidade náutica da marina será ampliada, podendo chegar a pouco mais de 400 vagas molhadas, além vagas secas para barcos a vela de até 5m.

Conclusão e próximos passos

A Marina da Glória, mesmo sob gestão privada, continuará a ser um bem da população carioca, embora nos últimos 30 anos este patrimônio, absurdamente, tenha permanecido fechado aos seus cidadãos.

Os investimentos privados, a serem realizados, deverão estar em sintonia com os interesses da cidade e seus cidadãos. A revitalização da área é antes de tudo, uma resposta ao que lá está, que não atende nem a cidade, nem aos gestores, bem como não honra os compromissos assumidos frente a comunidade internacional com vista aos jogos olímpicos de 2016.

É importante lembrar que o regime de concessão a qual a Marina da Glória está submetida acabará em 2036, e caberá à sociedade decidir pela destinação  da Marina, então, revitalizada.

As etapas vencidas são vitórias do diálogo e do bom senso dos órgãos públicos e do empreendedor. Ainda assim é só o ponto inicial do processo de desenvolvimento do projeto, uma vez que a sociedade agora está podendo se manifestar e diversas licenças ainda deverão ser concedidas para que o projeto siga em frente.

notas

NE
Veja a análise de Andréa Redondo ao projeto da Marina da Glória: REDONDO, Andréa Albuquerque Garcia. Marina da Glória: este projeto é impossível. Minha Cidade, São Paulo, 13.152, Vitruvius, mar 2013 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/13.152/4686>.

1
Inscrição nº 39 do Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, 28.7.1965, Iphan.

2
Projeto do arquiteto Amaro Machado

3
Decreto federal nº 83.661 (02/07/1979). Contrato assinado pelo presidente da República em 22/03/1984.

4
Relatório da Câmara Técnica de Arquitetura, Urbanismo e Cidades do Conselho Consultivo do Iphan sobre o projeto de Revitalização da Marina da Glória.

5
Projeto do Centro Cultural da Glória, de Amaro Machado e Roberto Burle Marx.

sobre o autor

Luiz Eduardo Indio da Costa é arquiteto formado pela FNA –UFRJ, em 1960. É fundador e diretor administrativo da Indio da Costa AUDT (Arquitetura, Urbanismo, Design e Transportes). Foi diversas vezes premiado pelo IAB e pela AsBea, como na Comenda Oscar Niemeyer outorgada pelo Conselho Superior do IAB  no XVlll Congresso Brasileiro de Arquitetos , “pela  exemplar contribuição para a produção da melhor arquitetura no Brasil” e pelo Grande Premio Roberto Claudio Afflalo, outorgado pela AsBea em  2010 , pelo conjunto da obra arquitetônica. Projetou a sede do Inmetro  (Instituto Nacional de Metrologia), o Centro de Atividades do Sesc Madureira, o Rio Cidade Leblon, a Escola de Ensino Médio do Sesc Nacional e, atualmente, é responsável pela revitalização da Marina da Glória.

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