“É a partir da Ordem que se pode alcançar uma força criativa e um poder crítico capazes de originar o desconhecido. (…) Esse é o princípio da Forma: algo que diferencie uma existência da outra através da harmonia de seus sistemas. Assim, revelar-se-á a Beleza”
Louis I. Kahn
Arquitetura, Cidade e Bem-Estar: a nova Sede Administrativa da Câmara Municipal de Porto Alegre se apresenta como uma oportunidade de unirmos estes fundamentos urbanos. Mais do que um complexo arquitetônico, o que este projeto propõe é um diálogo entre tempos e espaços – naturais e artificiais, modernos e contemporâneos – de modo a construirmos um novo lugar de encontro para seus cidadãos.
Através de um ato preciso, buscou-se uma unidade integradora dos principais elementos de seu contexto: a arquitetura do Palácio Aloísio Filho, a paisagem do Parque Mauricio Sirotsky Sobrinho e o significado da Câmara ali abrigada. Assim, uma ordem fundamental se fez presente em todos os âmbitos de sua concepção: o espacial, o estético e o tectônico. Uma arquitetura simples e confortável que visa, sobretudo, o bem estar daqueles que a habitam. Uma expansão física e simbólica do Poder Legislativo do Município, apresentando-se respeitosamente à Cidade e à sua própria História.
Modernidade fundamental
Considerando a importância da arquitetura do Palácio Aloísio Filho e o valor de seus preceitos modernos, o projeto reflete diretamente sua racionalidade e austeridade – lições atemporais e de irrefutável coerência com a nova Sede Administrativa. A concepção do projeto se fundamenta por uma ordem modular rigorosamente estabelecida de modo a se harmonizar com o edifício principal e fazer da sua construção um sistema inteligente e harmônico em prol de seus servidores. Assim, sua arquitetura não busca significar mais do que a atual Câmara, mas sim respeitá-la em todos seus princípios, evidenciando-a de maneira complementar na paisagem e no dia-a-dia de seus usuários. Como uma forma que se expande do palácio por um eixo monumental, sua ordem estrutura cheios, vazios, alas, funções e linguagens. O percurso original é potencializado como um passeio exterior que exalta a presença do palácio e que, ao cruzar o novo edifício, culmina numa praça elevada estendida sobre o horizonte.

Diagrama do partido, Sede Administrativa da Câmara Municipal de Porto Alegre, 1º lugar, Corsi Hirano Arquitetos
Paisagem pública
O terreno da nova Sede possui a singularidade de poder acolher simultaneamente parte da instituição e da paisagem envolvente. Assumindo a Avenida Clébio Sória como o elemento ordenador do projeto, seu prolongamento passa a articular as atividades da Câmara e originar uma nova paisagem urbana de encontro e contemplação, tanto dos edifícios como do Parque vizinho. O pavimento térreo proveniente do edifício principal se preserva como espaço monumental, levando os usuários ao novo edifício cuja atmosfera neste ponto é idealizada como uma transição entre o construído e o natural. Por meio de vazios, jardins e visuais do Guaíbaé criado um espaço versátil tanto para o trabalho como para a cultura, além da ampliação das áreas verdes da cidade. Um volume aéreo se acomoda sobre esta base pública cuja leve graduação espacial entre parque e construção é protegida por sua própria sombra. Através de sucessivas atmosferas de luz e sombra é criada uma pausa para as atividades e um desfecho para o expressivo percurso moderno existente. Este mesmo volume superior também estabelece sua relação com a paisagem evidenciando-se como um novo marco no horizonte. Um prisma horizontal de luz sobre a natureza cuja expressão também é trabalhada de modo a revelar sua presença no entorno de modo sóbrio e expressivo. Em seu interior, as áreas de trabalho contemplam as visuais e fazem com que a Câmara se estenda simbolicamente pela paisagem.

Diagramas gerais, Sede Administrativa da Câmara Municipal de Porto Alegre, 1º lugar, Corsi Hirano Arquitetos
Arquitetura institucional
Derivando do eixo do Palácio Aloísio Filho, o novo edifício se organiza de modo igualmente claro e dividido em duas alas. É este seu principal nível de entrada, tendo no inferior aquele destinado aos acessos de serviço. Como no edifício principal, seu volume é balizado por um vazio vertical que integra todos os seus pavimentos e articula espaços multiuso e de integração ao exterior. Nos níveis inferiores a Ala Leste abriga todas as áreas técnicas e de serviço enquanto a Ala Oeste é definida por um desenho aberto e paisagístico das áreas de convivência e uso comum. Nos pavimentos superiores, dedicados cada um a uma diretoria, temos na Ala Leste os escritórios e apoios enquanto na Ala Oeste os Diretores e as salas de reuniões, estrategicamente locadas entre ambos e voltadas para o vazio principal como ponto de encontro. Nestes níveis a paisagem também se faz presente em vazios, jardins e pátios internos que buscam potencializar as vistas e o conforto interno dos escritórios. Enquanto sua base se caracteriza por uma construção mais sólida e bruta relacionada com a atmosfera do parque, o volume de trabalho é dotado da máxima flexibilidade necessária para um programa como, seja no presente ou futuro. Organizado por um núcleo central onde se concentram todas as infraestruturas de circulações, instalações e serviços, todo o perímetro do edifício se vê livre para diferentes ocupações. Estes espaços são permeados por ambientes integradores e acessíveis, sempre em contato com o exterior, cujas superfícies das fachadas são protegidas gradualmente em função de sua orientação. É esta uma menção clara à arquitetura moderna do uso dos brises e proteções, contemporizada pela tecnologia atual.
Matéria ordenada
A racionalidade moderna é aspecto primário nos aspectos construtivos do projeto através do uso de materiais e sistemas construtivos inteligentes, visando agilidade, durabilidade, baixa manutenção e segurança. A ordem presente no espaço e na linguagem se encontra aqui regulando todos os parâmetros geométricos do edifício por meio de uma malha estruturadora clara e eficiente de 1.25m que define estrutura, divisórias, fachadas, espaços, instalações, circulações, etc. Sua estrutura possui o núcleo central de concreto armado, lajes de concreto alveolar pré-fabricadas, pilares e vigas metálicas – dispostos a 5m e 7,50m – configurando vãos econômicos e dimensionados para proporcionar espaços abertos e flexíveis. No embasamento a estrutura se faz integralmente em concreto. As soluções buscam a máxima eficiência e alcance dos parâmetros de luz e ventilação, compatibilizados com as instalações e garantindo um pé-direito confortável. Organizadas como um conjunto central, as instalações prediais poderão ser sempre facilmente acessadas para manutenção, prevendo um conjunto de shafts horizontais e verticais. Nas fachadas estão previstos o uso de caixilhos de alumínio anodizado, vidros laminados e elementos de proteção solar metálicos.
Bem-estar operativo
A habitabilidade dos ambientes de trabalho tem prioridade neste edifício. Todas estão providas pelos adequados fatores de temperatura, luz e ventilação, otimizando o uso de recursos energéticos e garantindo o conforto de seus usuários. Inovação, tecnologia sustentável e acessibilidade universal são critérios mínimos para um edifício que, desde a sua concepção espacial com soluções integradas e compatibilizadas, busca a máxima eficiência de seu desempenho. Para isso, foram previstas as seguintes soluções: Fachadas (definidas como proteções indispensáveis contra insolação e radiação excessivas, mas que preservam os índices ideais de iluminação e ventilação naturais. Suas superfícies de vidro de baixa transmissão de calor aumentam a eficiência térmica do edifício e reduzem o uso do ar condicionado. Está prevista a abertura das janelas para aproveitamento da ventilação favorecida pela orientação nas épocas mais temperadas do ano e/ou dia); Pátios e Jardins (integram parte dos espaços de trabalho e tem proporções generosas, garantindo boa climatização e contato constante com as áreas externas); Águas pluviais (captação nas coberturas verdes e áreas impermeabilizadas para reuso como água cinza de irrigação automática dos vasos sanitários); Paisagismo (envolver o edifício com a recomposição da vegetação nativa do sítio economizando significativamente o consumo de água para irrigação, melhorando escoamento natural das águas pluviais e índices de temperatura e umidade); Materiais reciclados (seleção de materiais de origem reciclada ou certificada: madeira de reflorestamento, tinta à base de água, carpetes em fibras naturais, vidros, forro em fibra mineral, brises em alumínio, placas recicladas das embalagens e resíduos plásticos para divisórias); Geração de energias renováveis (previsão de painéis fotovoltaicos e solares para geração de energia elétrica e/ou água quente).



Detalhe construtivo, Sede Administrativa da Câmara Municipal de Porto Alegre, 1º lugar, Corsi Hirano Arquitetos
ficha técnica
projeto
Sede Administrativa da Câmara Municipal de Porto Alegre
1º prêmio
Concurso Público Nacional de Arquitetura
Organização IAB-RS
localização
Porto Alegre, RS, Brasil
ano projeto
2014
área do terreno
3.931m²
área do projeto
8.000m²
autores
Daniel Corsi, Dani Hirano, André Biselli Sauaia e Laura Paes Barretto Pardo
colaboradores
Fábio Carneiro e Thiago Maurelio
orçamento
Ricardo Zulques