Estudo Júlio Prestes
A área central da Cidade de São Paulo apresenta significativos desafios a qualquer tipo intervenção. Ações convencionais praticadas pelo mercado imobiliário não se aplicam. Não se trata de um lote urbano convencional, onde a estratégia estaria restrita a buscar eficiência na implantação de torres isoladas sob a norma da legislação.
Aqui, o projeto deve considerar prioritariamente uma abordagem urbanística e contextual.
Isto significa que "o lugar faz o Projeto". O que vem a ser isto?
Basicamente fazer arquitetura responder a estes 2 aspectos:
1. Considerar os espaços públicos como prioridade, estabelecendo também os espaços semi públicos e espaços privados com total segurança e privacidade. Cuidar da necessária permeabilidade urbana no nível térreo, implicando que neste nível os edifícios possam ser atravessados como extensão das calçadas.
2. Observar eixos urbanos e faixas visuais para monumentos, edifícios históricos e edifícios de reconhecido valor arquitetônico. Projetar as quadras urbanas objetivando compor o conjunto arquitetônico de cada uma, respondendo às empenas cegas dos edifícios existentes e, quando possível, desenhando os "miolos" de quadra como praças internas (os chamados espaços semi públicos)
O projeto
Nosso projeto observa de início a oportunidade de estabelecer no território um âmbito cultural, através da implantação da Escola de Música em frontalidade direta com a antiga Estação de trens – atual Sala São Paulo – convenientemente desfrutando da presença da Praça Júlio Prestes como espaço intermediário entre os dois.
A Escola de Música apresenta-se com uma arquitetura muito especial, não obstante sua simplicidade construtiva.
É composta de modo a expressar seus volumes conforme a função e importância. Assim, uma barra linear – abrigando funções diversas de apoio e salas de aula – dá o suporte para 4 expressivos volumes destinados principalmente às grandes salas de ensaio. Estes volumes foram concebidos segundo recomendações elementares da boa acústica, evitando-se o paralelismo das paredes. O restante do território é destinado ao âmbito residencial, onde a demanda de habitações se desenvolve em torres de escalas diversas segundo a condição de cada quadra. A formidável demanda de unidades habitacionais e as dimensões do território em questão nos conduzem a conceber o projeto como uma pequena cidade. Todo o complexo arquitetônico se desenvolve principalmente ao longo de um eixo verde, desenhado como uma praça de dimensões adequadas à escala do complexo.
Como resultado temos um conjunto arquitetônico equilibrado e em harmonia com seu contexto. Entretanto, as maiores virtudes do projeto se verificam na escala do pedestre, através de seus espaços públicos, suas praças com desenho paisagístico esmerado, seus pavimentos térreos permeáveis e acessos diversificados, tanto públicos como privados.
O projeto assim se insere no gigantesco e importantíssimo esforço de requalificação do centro de São Paulo, respondendo à demanda por habitação e apoiando a ação do poder público quanto à dotação do território de equipamentos culturais.