O saber / o saber fazer.
A prancheta / o canteiro.
A síntese necessária e difícil.
De um lado, o “jogo sábio das formas debaixo da luz”,
história -memória presentes em cada traço, muro, esboçado desenho mágico.
De outro, a lenta e medida acumulação de gestos, economia feita história, também, do homem construtor, no desafio amoroso ao material, no “jogo sábio” com o tempo desejo lógico.
A “história como amiga”.
O “canteiro como escola”.
Duas belas utopias para a nova modernidade.
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Residência dos Padres Claretianos, Batatais SP Brasil, 1984. Arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira
Foto divulgação
Pensar uma casa para padres, hoje, usando exaustivamente as possibilidades do tijolo (paredes, estrutura, tetos). Facilitar condições para uma participação criativa dos operários no canteiro de obras. Revisitar velhas técnicas construtivas buscando novos espaços. Essas foram ideias que nortearam o projeto de Batatais.
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Residência dos Padres Claretianos, Batatais SP Brasil, 1984. Arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira
Foto divulgação
Como nos antigos conventos, organizamos a construção ao redor de um jardim central, quadrado, com uma galeria – claustro – para onde se abrem os diversos espaços. Dois lados contêm os dormitórios, abóbadas parabólicas de tijolo levantadas sem nenhuma fôrma ou cimbramento. Articulando esses dois lados estão a estrutura com as placas coletoras de energia solar e a torre de água. Dela partem duas paredes perpendiculares às abóbadas, separando quartos de banheiros que, como aquedutos, levam os encanamentos hidráulicos. Na terceira ala, as áreas de serviço, cozinha e refeitório têm abóbadas semicirculares construídas à velha maneira romana, com cambotas de madeira deslocadas ao longo das paredes. Quatro abóbadas cobrem o refeitório, organizadas como um “catavento” e se encontrando no centro, no pilar monolítico de granito.
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Residência dos Padres Claretianos, Batatais SP Brasil, 1984. Arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira
Foto divulgação
O quarto lado, o da entrada, tem os espaços de estar e encontro, cilindros cobertos por cúpulas de tijolo, construídas também sem o auxílio de fôrmas e com aberturas de iluminação zenital. Por essa ala se tem acesso à capela, único volume a invadir o espaço do jardim central, com sua parábola cerâmica contínua – chão, parede, teto – fechada nos dois lados por vitrais coloridos.
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Residência dos Padres Claretianos, Batatais SP Brasil, 1984. Arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira
Foto divulgação
Na cobertura do claustro utilizamos uma técnica já quase esquecida: a construção de lajes planas feitas com tijolos de barro. Na galeria da entrada esse teto se apoia em generosos arcos e se abre para a luz através de vários rasgos zenitais circulares.
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Residência dos Padres Claretianos, Batatais SP Brasil, 1984. Arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira
Foto divulgação
Foi intensa a participação do pessoal da obra na tomada de decisões de muitos elementos e operações da construção: desenhos variados na amarração dos tijolos, quase a assinatura de cada operário nas paredes, aprimoramento e transformação de técnicas, elaboração carinhosa dos detalhes. Assim, por exemplo, as chaminés “gaudianas” e as paredes de elementos vazados do mestre Benedito Brunherotti, o chefe da obra; a cruz em rebaixo modulado de tijolos com que nos surpreendeu, ainda, mestre Benedito quando da desforma da capela: o detalhe que faltava na abóbada que cobre o altar.
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Residência dos Padres Claretianos, Batatais SP Brasil, 1984. Arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira
Foto divulgação
Outras mãos inspiradas trabalharam madeira, ferro, pedra, vidro.
A “história como amiga”, no dizer de Louis Kahn, foi o tema gerador desses espaços.
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Residência dos Padres Claretianos, Batatais SP Brasil, 1984. Arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira
Foto Wagner Abrahão Jr, 2011
notas
Prêmio Rino Levi – Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB-SP, 1983
Prêmio Destaque – 2ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo – BIA, 1993
ficha técnica
projeto
Residência dos Padres Claretianos
local
Batatais SP Brasil
datas
Projeto: 1981/82
Construção: 1983/84
arquitetura
Arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira
colaboração
Renato Kaida
estrutura
Engenheiros Ugo Tedeschi e Haruo Hashimoto
obra
Engenheiro Luiz Alberto Fantacini
mestre de obra
Benedito Brunherotti
luminotecnia
Arquitetos Esther Stiller e Gilberto Franco
paisagismo
Engenheiro Rodolfo Geiser
vitrais
Affonso Risi
execução
Conrado Sorgenicht
fotos
Graça Aguiar e José Carlos Fioretto (1985)
José Mario Nogueira (obra) e Júlia Risi (2007)
Wagner Abrahão Junior e José Lucas Viccari (2011)