Com a reverência de quem admira uma das mais expressivas obras de Arquitetura do século XX e a inevitável informalidade que insiste em conduzir um comentário de quem esteve profissionalmente próximo do autor, atrevo-me a estas anotações sobre Joaquim Guedes, que estão de certo modo ampliadas e aprofundadas no consistente livro de Mônica Junqueira de Camargo e que as motivam.
Esse livro, o primeiro sobre o arquiteto, é parte da coleção Espaço da Arte Brasileira, coordenada por Rodrigo Naves. Trata-se de destacada iniciativa da editora Cosac & Naify, que dessa forma constrói um valioso painel de contribuições artísticas recentes.
Joaquim Guedes é autor de uma obra particularíssima, toda ela feita de uma visão de mundo e de um instigante método de trabalho que conduz cada projeto a um campo de “inventividade própria”. Não parte de formulações unitárias ou pré-concebidas, ou ainda da inércia da reprodução de modelos. Cada trabalho se abre em perspectivas, tirando o máximo de todos que dele participam, para encontrar uma saída diante das imposições da realidade.
Seus projetos são detalhados à exaustão. Não sei se é possível fazer Arquitetura desvinculada do detalhe, mas hoje lamento esse divórcio ou a falta desse conhecimento específico que acompanha muito do que se produz. Dizia ele que o construtor através do detalhe, deveria surpreender, compreendendo que todas as suas operações estão previamente pensadas e racionalizadas.Seus estudos para um projeto são representados por pequenos desenhos de traços suaves que passam e repassam pelas mesmas linhas, antevendo problemas, alguma solução e as tantas incertezas da própria vida.
Bem, acho que é preciso conferir. Boa leitura!
nota
Resenha publicada no Boletim 21 do IAB-SP, de jan./fev. 2001. Republicação autorizada pelo autor.
sobre o autor
Mario S. Pini é arquiteto e urbanista.