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GUIMARAENS, Cêça. O desenho do Sobre a cidade. Resenhas Online, São Paulo, ano 01, n. 007.01, Vitruvius, jul. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/01.007/3238>.


De pronto, e porque a arquitetura do modernismo não morrerá, este Sobre a cidade radicaliza o pensamento de, pelo menos, duas gerações de arquitetos. O livro de Sérgio Magalhães trata de habitação e democracia no Rio de Janeiro, mas é na possibilidade da existência de uma cidade democrática que nele se expressam as idéias de quem nasceu no tempo do após-segunda-guerra-mundial. Sendo assim, suas palavras densas e frases curtas desenham um retrato do trajeto de mais de meio século. Esse desenho condiz com a ação de interesses rigorosamente iluministas de uma categoria profissional – a dos arquitetos sobre o lugar que a sociedade escolheu para viver. Se este lugar é, hoje, a cidade esquizofrênica, seus irrestritos efeitos devem ser mais que antes, harmonizados.

Este livro é o produto do simples intervalo que o arquiteto Sérgio Magalhães se permitiu fazer no seu percurso técnico-político. Nessa perspectiva, organizando pequenos textos gerou um livro que é, ao mesmo tempo, oriundo de e dirigido a grupos que possuem uma agenda positiva.

Para expor suas idéias a respeito dos eventos que a ocupação urbana criou, o autor, apesar de procurar ser realista, diferentemente traduz em alegria a expectativa um pouco sombria dos urbanóides da atualidade. E o faz de maneira oportuna quando apresenta, não apenas aos doutores-em-pedras, mas ao público-em-geral, um Rio de Janeiro livremente construído sobre as diferentes verdades que enquadram os temas da cidade, espaço da comunicação e da retórica.

O livro reflete a experiência do autor que conduziu, durante oito anos, os programas da política habitacional do Rio, em especial o conhecido Favela-Bairro. No prefácio, o nosso reitor, o economista Carlos Lessa, registra que o autor “vê na solução da favela uma das chaves para um Rio pós-moderno civilizado e integrado”. Embora o século XXI insista em dar continuidade à ambígua condição do após permanecendo no território do pós-qualquer-coisa, admito que, contrariamente, a favela de Sérgio Magalhães brota de puro veio modernista. Digo isto porque, neste livro, o nosso Rio se torna todas as cidades e, oh!, em nenhuma outra cidade.

Porém, buscando não desprezar a cicatriz geracional, Sérgio Magalhães revela onde transitam as angústias e aonde se dirigiram as esperanças da gente que se acostumou a acreditar no traço que mudaria o mundo. E, procurando conferir nova substância conceitual e crítica à herança utópica, Sérgio Magalhães transmuda o discurso do lugar-comum, tão próprio da maioria dos urbanistas.

Neste livro constituído de três partes, o autor edita uma estrutura que possibilita conhecer o organismo cidade; e mais, em notas de trabalho e entrevistas, faz com que possamos reconhecer a produção e reprodução das formas quase espontâneas do espaço urbano, seja ele carioca ou não.

O gerenciamento compreensivo que promoveu alguns equívocos na ocupação de geografias físicas e humanas singulares, serve de cenário para as críticas e propostas de Sérgio Magalhães. Dentre as oportunidades com que os assuntos se oferecem para o arquiteto demonstrar enfoques de aparência original, destacam-se os princípios.

Sérgio Magalhães afirma três princípios em apoio à promoção de uma cidade democrática: o da urbanicidade, o da construção compartilhada e o da contigüidade. É nesses princípios que, à maneira do mais clássico modernista, expõe com simplicidade e singeleza os conceitos que implicou e integrou na lida cotidiana com os problemas urbanos. Certamente o autor gerou esse discurso – em que todo cidadão se reedita – na atividade responsável que exerceu na prefeitura, onde a sua prática projetual se revelou importante ferramenta.

Para pleitear a ampliação dos conceitos-chave da idéia de cidade, o escrever desse arquiteto-projetista dissimula a sua (dela, da cidade) construção em mais-que–perfeita e original retórica.

O texto claro e direto transfere a fé do arquiteto-autor na arquitetura e na, literariamente falando, boa técnica. É difícil ver um arquiteto expressar dessa maneira, tão no exato sentido, os padrões específicos do próprio fazer. É ler p’ra ver pois, neste livro, o lugar da cidade é a própria cidade.

sobre o autor

Cêça Guimaraens é arquiteta, doutora em Planejamento Urbano e Regional e professora-adjunta da FAU/UFRJ.

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