Remexer na implicação particular do pensamento em cada arquitetura supõe, desde uma aproximação alheia, tentar compreender uma posição ante a realidade e sua forma de assimilá-la, e manejá-la. Referir-se à idéia de “abertura mental” se transformou erroneamente num lugar comum que alude simplesmente à capacidade de aceitar e acolher idéias, desvinculando-a talvez da noção de criar e desenvolver as próprias idéias. Descobrir a presença da disciplina do pensamento a atividade do arquiteto induz a submergir-se e a desejar conhecer a especificidade latente em cada prática e em cada edifício. A arquitetura se propõe assim como provedor de estratégias e procedimentos mentais que operam paralelamente à materialização de um projeto arquitetônico. Como uma perspectiva através da qual entender e interpretar a realidade.

Em tempos de sensacionalismo, a partir de uma publicação simples e carente de ostentações titulada Circo, os arquitetos Luís Mansilla, Emilio Tuñón e Luís Rojo propuseram em 1993 uma serena luta de afirmação da importância do pensamento através da arquitetura. Em diferentes boletins totalmente abertos à participação, estes arquitetos trataram de colocar em manifesto – a quem quisesse estar com a mente aberta a isso – que a reflexão atual em arquitetura deve equilibrar-se em base às idéias de ordem e liberdade. Azar, linguagem metafórica e reflexão ensaística como sustentos para continuar o desenvolvimento do pensamento próprio e estimular ao estranho.

Por uma série de escritos cultos e sérios, cujo risco intelectual radica justamente na determinação de que os pensamentos escritos surjam de um honesto manejo da liberdade intelectual e criativa e se concentrem até a medula na profundidade do tema de reflexão, Mansilla, Tuñón e Rojo são responsáveis por uma reivindicação da sanidade do rigor na atividade do pensamento. Escritos Circenses compila uma seleção de alguns dos cento e vinte escritos publicados nesse boletim mensal constituído por um único texto, sólido e estimulante, desde o qual a vida se explica pela arquitetura.

[tradução ivana barossi garcia]

sobre o autor

Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, titulares do escritório ¿btbW, são autores do livro “Enric Miralles: Metamorfosi do paesaggio”, editora Testo & Immagine, 2004